terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lagarta? Não, sportinguista (ainda existem, embora estejam em perigo de extinção)

 «De ontem. o fim

O jogo acabou, festa do Benfica, jogadores a agradecer, meu ric’Capel, meu ric’Wolfswinkel sempre o último e a fazer questão de o ser. Fraquezas minhas que me pelo por estas coisas, e a equipa de há dois anos era bem mais antipática nestes cumprimentos. Avancemos, que não é disso que se fala aqui hoje.
Fiquei no lugar, já sabia que teria de esperar para sair. Não me preocupei, estava sentada e tinha o twitter para me entreter. Não estranhei estoiros, nem as primeiras cadeiras a partir ou a arder. Não, não aprovo nem quero dizer “faz parte”, mas faz e eu não estranho. Tanto que embora não aprove, ri-me quando ouvi “e salta bombeiro, e salta bombeiro”, há coisas que comigo funcionarão sempre. No caso é o “bombeiro”, o não haver um nome, é quase uma coisa noddyesca, cartoonesca e infantil “o bombeiro”. Não sei explicar melhor, mas fez-me rir. Nesta altura – do bombeiro e o extintor – já eu estava também de carapuço enfiado e cachecol a tapar a cara, com um ar perigosíssimo, aposto.
Tudo tranquilo até aqui. Sentou-se ao meu lado uma rapariga mais nova que eu, lívida, “ai meu Deus” e tapava a cabeça. Estive para a tranquilizar, mas o namorado apareceu e não me meti. Devia, porque o querido só a soube mandar calar, estava enervadissimo com a figura dela, claramente. Os homens de amanhã, enfim.
Continuava a haver uma cadeira a arder aqui, outra ali. A polícia ou não via quem as ateava ou não tinha ordens para intervir, não sei. Sei que nada fez, mas também não sei o que poderia fazer sem os ânimos se exaltarem. Os bombeiros, pacientes, subiam de extintor, apagavam e voltavam a descer. E eu continuava entre o twitter e o facebook, tranquila.
Minutos depois, novo fogo. Dei por ele antes de o ver porque as pessoas se afastaram para os lados. O espaço não era muito para todos que lá estávamos e foi aqui que começou a minha preocupação. Eu estava à direita dessas cadeiras (de quem está nessa bancada), o espaço entre isso e a parede acrílica não era muito e as pessoas chegaram-se para esse lado, ou seja, ficámos o dobro no espaço de metade.
O “ver a Luz a arder” para mim nunca foi literal, mas tinha miúdos em volta a cantar isso. Peguei num que estava logo ali e disse-lhe “não queremos, não. a esta altura já não queremos, calem-se com isso”. Havia outros que viam o fumo como eu via, o tecto e sei lá mais o que me passou pela cabeça, e começou a falar-se finalmente em descer (nós, a polícia ainda não tinha decidido, pareceu-me). Labaredas enormes, foi o que eu vi e não achei graça nenhuma. Não me interessa sequer saber como ou quem foi, só quis sair dali.
Fomos descendo pelas cadeiras. Deixei-me ficar para trás, por causa das confusões. Tenho horror a multidões em pânico, prefiro ser a última a cair no chão e ser pisada. Fiquei para trás então e fui descendo pelas cadeiras (porque as escadas ainda tinham muita gente) com um grupo de rapazes. Quando vi as escadas mais livres, desisti das cadeiras e mesmo com um polícia a gritar para as escadas que descessemos, saí desse caminho e fui para as escadas. Senti-me fazer um ar amuado, um ar de quem “só quis vir à bola”. A polícia e um rapaz foram-me dizendo “desça, desça com calma. venha por aqui. deixa passar” e cheguei ao corredor de acesso à bancada.
O corredor estava cheio, claro. Andava-se lentamente, mas andava-se. Ouvi miúdas eufóricas com o fogo. Metidas num corredor cheio de gente, num estádio a arder, com polícia por todo o lado, e estavam contentes. Eu sei que há idades para tudo, mas eu felizmente com aquela idade já tinha um cérebro. Passámos por um caixote do lixo a arder e eu em stress. Cada pessoa que passava pelo caixote só queria avançar naturalmente, e começaram os empurrões. Mais uma vez fui acolhida por um rapaz que protegia a namorada e me chamou para junto deles. Estávamos nisto quando o grupo pára e recua. Medo. “é a polícia?” perguntei (sim, não via nada, não tenho propriamente 1,70 que já me ajudaria a ver, e não levei saltos) ao que me respondeu que sim, e nesse momento o grupo abriu em círculo para fugir à polícia. Ficámos assim uns minutos, em círculo e parados. Eu e a outra rapariga mantivemo-nos no lugar e ficámos à frente do nosso lado do bloco. Ele dizia “mantenham-se aqui, fiquem aqui” e eu também achei que só tinhamos a ganhar em ficar ali à frente. Sei lá coisas que se pensam na altura. A polícia tirou um dos miúdos do grupo, nem percebi porquê, e um minutos depois, não mais, estávamos a descer as escadas.
Já cá fora, tive de estar um bocado ainda dentro do recinto em que tinham estado todos à chegada e depois de escoltados para fora das imediações tresmalhei e vim-me embora.
Nunca tive medo de ir ao futebol e ontem assustei-me. Morro de medo de multidões em pânico. Mas isto não são Sportings nem Benficas. São pessoas que não pensam vs pessoas que gostavam de ir ver o seu clube, na bancada dos seus semelhantes, sem correr perigo. São pessoas inconsequentes que me farão dar razão a quem uma próxima vez me disser “Mas vais? Não é perigoso?” e eu tiver de responder “pois, tens razão” em vez de “não, já fui e correu sempre bem. E isso não tem graça nenhuma. Sempre houve inconsequentes, bem sei, mas antes havia quem pusesse mão nisto, havia os que a certa altura diriam “Já chega” agora os inconsequentes parecem-me em maior número. Ou não, não vi nada, não vi quem fez o quê ou como, nem me interessa.
Isto fica aqui para me lembrar uma próxima vez que os miúdos estão loucos e eu já não tenho idade para isto. Quando quiser ver o meu clube fora, penso melhor no lugar que escolho. Há quinze anos rosnava a quem me dissesse que eu faria tal coisa. Parece que cresci mais um bocadinho.»

Marta

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Para definitivamente terminar o assunto Sporting (e depois deixá-lo em rezas na Madalena)

Tenho assistido às manobras da Direcção do Sporting com um misto de regozijo e preocupação.

Regozijo porque, enfim, há muito que este grande clube deixou de verdadeiramente sê-lo para dar lugar a uma agremiação que apenas fomenta o anti-desportivismo, mais especificamente: o anti-benfiquismo. Nesta sua cruzada ideológica, dá-se ao ridículo de todas as formas possíveis, na esperança de que alguém lhe dê a mão e lhe ampare as dores de uma inveja e uma sobranceria que são, as duas, prejudiciais à manutenção do próprio estatuto de grandeza que ainda acredita ter. 

O Sporting Clube de Portugal - clube de glórias, valores éticos, grandeza, desportivismo, ecletismo, dimensão europeia - há muito que acabou. Hoje o que há é esta pobre e patética coisa: um clube que, de tanto odiar outro, se torna patético e não tem vergonha de fazer figuras tristes. Na linha de Jorge Gonçalves, Sousa Cintra, Santana Lopes, Soares Franco e Bettencourt, Godinho Lopes continua a sua epopeia da palhaçada, destruindo o próprio clube e envergonhando quem ainda, sendo sportinguista, resiste a tanta estultícia junta. Os outros, os que baixam a cabeça e dizem que "sim" a tudo - desde que o "sim" seja dizer mal do Benfica -, merecem o clube que têm. Um clube gerido por pobres de espírito para pobres de espírito. E rimos, rimos muito. Eu sempre gostei de fantoches.

 

Por outro lado, preocupo-me. Com tudo isto. Com o futebol português. Com a dimensão da farsa que isto tudo significa. Seja por corrupção e ódio (Porto), seja por imitação aos corruptos e ódio (Sporting e Braga), a verdade é que os dirigentes destes clubes sentem que a melhor estratégia para chegar ao sucesso passa por aniquilar o Benfica. Um, por saber o que faz, ganha mesmo. Outros, não ganham nada e mancham de forma indelével o nome e a honra dos próprios clubes. O que é óbvio, e sempre o foi, é que a desavença entre Benfica e Sporting favorece sempre o mesmo, e não é nenhum destes. 

Fica a pergunta: o Sporting entra nestas palhaçadas exactamente por saber que, no fim, ganha o mesmo - cumprindo a sua já histórica condição de submisso do sistema - ou acredita verdadeiramente que o alvo a abater é o Benfica? Qualquer que seja a resposta, deixa-nos perante uma certeza: há gente muito estúpida. 




Pssssst, não vás já ver pornografia, que eu ainda tenho uma coisa a dizer: a forma como, pelo estádio, se espalhavam sportinguistas é que é o desporto, é que é bonito em futebol. Na Luz, um sportinguista pode entrar no Estádio e ir para perto dos sócios e adeptos do Benfica e não lhe acontecer nada. Em Alvalade, pode-se? Farei o teste daqui a uns meses. Se nunca mais virem textos meus aqui, têm a vossa resposta.

domingo, 27 de novembro de 2011

Nós não gostamos de sapatos de vela


1) Sexta vitória consecutiva.


2) Não jogámos um caralho (na primeira parte; na segunda, o árbitro não deixou).

3) A lebre continua a ser empurrada pela arbitragem.


4) Os viscondes, mais uma vez, demonstraram toda a sua cagança aristocrática: foderam o sector com tochas, sapatos de vela e pólos Lacoste inflamáveis.

5) O Artur. Quantos pontos terá dado o Artur ao Benfica? Onde andam os gajos do "vamos dar tempo ao Roberto"? Por esses, ainda hoje estávamos a dar tempo ao Roberto e a ouvir que os grandes guarda-redes custam muito dinheiro. O Artur veio a custo zero.

6) Somos a única equipa invicta em toda a Europa. Não sendo um troféu para o museu, não deixa de ser um sinal muito positivo.


7) O Aimar é um génio.

8) Defendemos o resultado de forma brilhante. Numa parte inteira em desvantagem numérica contra uma equipa bem organizada e dinâmica do meio-campo para a frente, não demos espaços e evitámos quase sempre situações claras de golo. Quando não evitámos, Artur evitou.

9) Uma bola no poste, outra na trave, um árbitro que não queria ver o seu Sporting sair da Luz com uma goleada. Merecíamos ter ganho por mais.

10) O público está melhor mas ainda é muito dependente do que a equipa joga. Temos de puxar mais por eles.

11) Alguém notou jaulas ou gaiolas? Eu estava a 3 sectores dos gajos e aquilo pareceu-me normalíssimo. Não há pachorra para mentecaptos.

12) O Sporting continua a ser um cliente de qualidade. Nos últimos 6 jogos, 6 vitórias; 13-2 em golos. Lá teremos de ir a Alvalade buscar a 7ª. 

13) Agora é que o campeonato começou a sério para o Sporting. Em Janeiro, estão em 5º lugar. Mesmo levados ao colo como vêm sendo consecutivamente de há 2 meses para cá.

14) O Witsel e o Javi foram heróis.

15) Finalmente, um canto de jeito! O Benfica tem uma quantidade astronómica de cantos por jogo. Convém começar a marcá-los bem. É uma vantagem grande sobre os adversários.

16) O Capel é burro. O Carrilho é craque. O Elias é craque, o Schaars é estúpido. O Rui Patrício é medíocre.

17) O vigarista Godinho Lopes é ladrão, vigarista, corrupto, vigarista, burro, vigarista, estúpido, vigarista, parvo, vigarista, totó, vigarista e não gostou de ir para o pé do povo. E o fogo que os mentecaptos causaram, vigarista? Que pequeno imbecilóide. 


18) O Aimar é um génio.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vamos à 6ª consecutiva?


 


Artur
Maxi, M. Vítor, Garay, Capdevila
Javi
Amorim, Witsel, Gaitán
Aimar
Cardozo











quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Benfica-Sporting: o jogo dos jogos.

Para eles. 

Para nós, é mais um jogo, contra um bom adversário. Como não odiamos ninguém, nem passamos meia-hora de um jogo da Taça contra o Braga a insultar o Sporting, como amamos o nosso clube e é para ele que canalizamos todas as nossas energias, o jogo de Sábado será igual a tantos outros: um jogo para ganhar. E o Sporting até tem sido boa clientela ao longo da História - geralmente, sai vergastado da Luz, de cauda murcha, para baixo, em prantos. 

O jogo dos jogos, no fundo, só tem uma via: a de Alvalade para a Catedral. O sportinguista tem três dias importantes no ano: o primeiro, ainda em férias na praia de Carcavelos, enquanto se banha nas águas límpidas de preservativos e dejectos humanos, quando vai comprar o "Record" logo pela manhã e avisa a mulher "querida, hoje vou sair mais cedo, não consigo pensar noutra coisa" e só descansa quando vê o calendário da Liga Portuguesa, em que vê, nervoso, os dias em que o seu clube irá defrontar o Benfica. Chegado a casa, avisa logo: "estive a fazer umas contas: no fim-de-semana X deste ano e no fim-de-semana Y do próximo não contes comigo, tenho ódio a cumprir". Liga aos amigos, prepara um jantar na Ericeira em que discutirá os detalhes e passará o resto dos dias a pensar no jogo, o grande jogo, o dérbi, o clássico dos clássicos. Acabado esse segundo dia mais importante do ano - em que normalmente sai com uma cabeçorra maior que a estupidez cancerígena de Eduardo Barroso -, logo o sportinguista ganha novos ódios e novas esperanças. Até desaguar no fim-de-semana Y, em que, mais uma vez, acaba trucidado mas não perde nem a esperança de odiar mais um bocadinho nem o ódio de não ter esperança de coisa nenhuma. 
 
Desta vez, o sportinguista não tem razões de queixa. Arranjaram-lhe uma boa jaula no Estádio da Luz, terá a companhia dos seus dirigentes, poderá vociferar sem que lhe oiçam as asneiras (que ficam sempre mal em homens decentes), visto que, como defende o cérebro Salema Garção, uma rede tem essa poderosíssima capacidade de abafar o som. Ideia de tal forma genial, que é pena não ter sido descoberta pelos grandes ditadores do século passado. 

 Teríamos evitado muito mal-estar e noites mal-dormidas se, em vez de colocarmos os presos em salas obscuras, os tivéssemos posto em pleno Marquês de Pombal, com uma rede a cair dos dentes dos leões até à calçada. Com o suplemento extra: poderíamos observar os animais a céu aberto, com as consequências favoráveis que daí adviriam para o sucesso panfletário do próprio país. Ah António de Oliveira, António de Oliveira, quanta estratégia bélica que ficou por cumprir!

Ao que parece, a ASAE já deu o aval: é uma jaula com condições nível A, bons acabamentos, excelentes condições higiénicas e respeitadora dos direitos mais primitivos das bestas. O próprio Victor Hugo Cardinalli já veio a público orgulhar-se do relatório de que a sua estrutura foi alvo, respondendo inclusivamente que pensa ir passar férias à jaula num futuro próximo, como prova de que, e cito, "para os meus leões, tudo! só não tiro da minha própria boca e meto na deles porque aqui há um ano tive um problema com o tranquilizador do Jubas e acabei sem braço". 

 Exceptuando este pequeno incidente, Victor Hugo garante estar de boas relações com os animais e só pede que "o Benfica não marque muitos golos, que é para eles não chegarem à Malveira [local da próxima apresentação do circo] com instintos suicidas", pedido que não sabemos se terá eco nos corações dos benfiquistas mas que - não custa pensar -, dadas as boas relações entre os dois clubes, será tido em linha de conta.




terça-feira, 22 de novembro de 2011

BENFICA

Antes de tudo, ouvir isto:








depois, uma coisa simples: tanto orgulho neste Benfica. Mas tanto orgulho neste Benfica! isto é Benfica, sem mais, é só BENFICA, é O BENFICA, ganha, perde, ganha, perde, GANHA! Golos contra em fora-de-jogo. O que é que esta gente faz? Caga e marca golos. Aimar. Pois, Aimar. E vamos todos atrás da ideia: Aimar. Não é por acaso. Não é por acaso. O Benfica é tão monstruoso. O meu Pai ia gostar deste número, o meu Pai ia gostar de mais esta viagem do BENFICA. Somos BENFICA. Que puta de viagem. Ah... AMO-TE, BENFICA!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Faz-me falta o Estádio da Luz

Não sei o que é, ao certo; se o crescendo

"Sou dooooo Beeenfiiiiica"
 
se é o orgulho que aquela voz transporta, como que carregando nas sílabas todos os momentos gloriosos que este clube viveu

"e iiiiiiiiiiisso m´envaideeeece"

ou talvez a voz radiofónica dos grandes tenores do século passado misturada com as acentuações perfeitas em português-veludo das personagens dos filmes a preto e branco de filmes de Leitão de Barros, Perdigão Queiroga ou Arthur Duarte
 
"tenho aaaaaaaaaaa geniiiiica que a qualquer engrandeeeeeeeeeeeece"

parece que vejo a casa da minha avó, a sala ampla, portadas para a luz branca-transparente das paredes solares do Alentejo, na mesa um bordado minucioso, fotografias gastas, um terço, um rosário e o barbudo-mártir ao lado dos pratinhos de pássaros, de mãos e braços abertos para a eternidade. As asas de anjinhos de loiça querendo voar sobre os livros e algo ou alguém, de dentro das histórias fechadas em lombadas a couro vermelho e letras a ouro, que sai e anuncia

 "Sooooou de um cluuuuube lutadoooooooooooooooor"

e parece que vejo a sala, depois a casa toda, a rua, a vila e todas as salas, ruas e vilas encostadas de ouvidos à escuta junto à telefonia, enquanto Artur Agostinho canta "É goooooooooooooolo do Benfica, é gooooooooooooolo de Eusébio" e os pássaros dos pratos aterram nos ombros de famílias inteiras em silêncio, escutando golos e passes e defesas, imaginando os lances, criando novos movimentos, inventando as cores que não vêem nos botões do aparelho que lhes sopra que o Benfica está a voar sobre o Real Madrid, que é Cavém, Coluna, de novo para Cavém, abre para Águas, levanta de primeira para a área, Eusébio amortece, remate de Cavém, golo

 "que na luuuuta com fervoooooooooooooooooooooooooor nuuuuuuuuuuuunca encontrou rrrrrrrivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal"

e o país explode vindo de um soturno silêncio de damas-de-companhia, medos, fomes, gabardinas e chapéus nos balcões dos cafés, para um grito que faz levantar as saias da donzela tímida que esperava no banco de jardim o seu prometido, que faz ouvir a voz daquele velho sisudo que não dava palavras ao mundo, faz abrir de alegria a cara do pai-de-família que, todo metido no ar, prometeu bebidas, comidas e o que se quisesse a metade do povo que se abraçava, se beijava, se aleijava, se atirava contra as amarguras do tempo enquanto as portas se partiam, mesas eram mergulhadas na intempérie de pernas, braços, cabeças, gente aos pulos, gente aos gritos, gente aos beijos, o padeiro a agarrar na jarra de flores e a levantá-la no ar, em gesto de vitória: "é nossa", e as crianças, espantadas, aos gritos histéricos, a mãe "cuidado com o deus-menino" e o deus-menino estatelado no soalho, embebido em aguardente e ferido de morte pelas vidraças da garrafa, dos copos, das loiças, pés atrás de pés, espezinhado o filho de Nosso Senhor e, na parede, o barbudo parecendo rir de sangue

"neeeeeeste nooooooooooooooosso Poooooooooooooooooooortugaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal"
 
não posso dizer, não sei dizer, o que é, que me faz levantar no Estádio, emocionar-me, ter amor desta maneira por uma ideia que não tem corpo nem precisa de ter, por um ideal, um voo, um sentimento, uma dor e uma alegria tamanhas sempre que oiço

"Seeeeeeeer Beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenfiquista"

e transporto dentro de mim todas as memórias misturadas numa só, passado, futuro, presente tudo numa amálgama de tempo em que vejo slides difusos, pequenos momentos, grandes momentos, vêm-me à alma aqueles instantes e o Estádio, aquele ecoar do golo que parecia que começava por debaixo da relva e ia espraiando a voz, subindo lentamente pelas escadas e pelos corpos das pessoas, era um língua de som que, quando a bola tocava as redes, nos afundava como onda, goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooolo e nós morríamos uns nos outros, engalfinhávamo-nos uns nos outros, já sem saber se as pernas e os braços eram nossos ou dos outros, uma massa compacta de gente e cachecóis, bandeiras, chapéus, camisolas, sapatos, fumo, papelinhos e o ritmo que subia, pulsava, o chão tremia, o ar vibrava e começava a dança

"é ter na aaaaalma a chama imensa, que nos conquiiiiiiiiista e leva à palma a luz inteeeeeeensa"

e o Sol vinha mesmo, risonho, beijar-nos, em tardes que pareciam infinitas, tardes que amoleciam o betão e se prolongavam para lá do possível

"com orgulho muito seeeeeeeeu, as camisolas berrantes, que nos campos a vibraaaaaaaaaaaaaaaaaaar"

e os velhos lembravam-se de ter erguido com as mãos as vitórias e o Estádio, os novos ouviam e queriam fazer parte, os Pais levantavam os filhos, mostravam-lhes o que era aquilo, queriam-nos ali para toda a vida, e os filhos mostravam orgulho e gratidão por poderem vibrar, e pais, filhos, avôs, netos, estranhos, conhecidos, amigos, amantes, namorados olhavam-se dentro do golo e cantavam

"são papooooooilas saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaltitanteeeeees"

e então calava-se tudo um instante, um pequeno instante em que 120.000 pessoas não faziam um único ruído, jogadores e adeptos numa espécie de comunhão do silêncio, os holofotes como templos antigos, os placards electrónicos gigantes anunciavam 00:00, cheirava a relva e a terra molhadas, a fumos inebriantes, sentia-se um pulsar que era a própria respiração do Estádio, tum tum tum tum tum tum, e era de dentro dele, por osmose do betão para os pés, depois pelo corpo, até ao céu, que se iniciava o estrondo da batucada

"Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica!"



sábado, 19 de novembro de 2011

Números que explicam muita coisa

- Fez esta semana 1000 dias que o Benfica não perde com o Sporting. Neste período de quase 3 anos, jogaram-se 7 jogos - 4 para a Liga, 3 para a Taça da Liga -, com o pecúlio a nosso favor de 1 empate e 6 vitórias (5 consecutivas, que podem passar a 6 já daqui a 7 dias). Marcámos 13 golos e sofremos 3, sendo que se destaca, de entre estes, os 4 golos da goleada com que brindámos os nossos rivais em Alvalade, mesmo tendo ido jogar com uma equipa de segunda linha. O Sporting tem sido, nas últimas épocas, um dos nossos melhores clientes. Sábado que vem, espera-se nova lição.

- Nos últimos 4 jogos, todos os 5 golos foram marcados por Rodrigo - 2 ao Olhanense, 1 ao Basileia, 1 ao Braga e 1 à Naval. Bis em Manchester e hat-trick ao Sporting, Rodrigo?

- O Benfica persiste como uma das duas únicas equipas - que participam nas provas nacionais e europeias - invictas na Europa. São 20 jogos oficiais, 13 vitórias e 7 empates. O feito termina já esta semana, em Inglaterra, ou vamos manter o estatuto até final de época?

- São 955.700 os fãs no facebook do Sport Lisboa e Benfica. Número curto para a dimensão do clube (basta comparar com outros gigantes mundiais), mas avassalador em termos nacionais. Bem mais do que o dobro em relação ao Porto e mais do que o quádruplo (!) em relação ao Sporting. Tenho uma pergunta, Senhor Elias: que tal oferecer, a mim e à minha namorada, dois bilhetes para Manchester, com tudo pago (incluindo, obviamente, além da viagem e da estadia, um tacho na Benfica TV)? Prometo só dizer bem do grande líder e avisar as pessoas de que o homem está a fazer um sacrifício imenso e dizer todos os dias que tem mulher e filhos em casa a pedir-lhe que volte.

- 32. O número de penalties que ficaram por marcar a favor do Benfica deste que se iniciou a época. Ontem foram mais dois.

- 4. São as modalidades nas quais o Benfica tem títulos europeus. Atletismo, Hóquei, Futsal e Futebol. Só Barcelona, Sporting, CSKA Moscovo e mais 3 clubes (vão investigar, mentirosos) o conseguiram. Sendo que, nas provas rainhas, Barcelona e Benfica dominam. O Sporting, que de forma muito louvável tem vários títulos europeus, só em 2 conseguiu conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os onze da minha vida (peço, desde já, desculpa aos que ficaram no banco de luxo: Artur, Luisão, Aldair, Miguel, Schwarz, Thern, Kulkov, Ramires, Isaías, Paneira, Simão, Diamantino, Saviola, Magnusson, Cardozo)

Ninguém me convence de que o melhor sítio para pensar não é a casa-de-banho. É lá que, entre nevoeiros, cheiros fétidos, manchas de humidade, roupa suja e cemitérios de champôs, a magia acontece. Pode ser sentado - em prantos ou em desvarios - ou em pé, olhando os ladrilhos – mas o sonho, a ideia, o pensamento, esses alimentam-se do espaço contíguo e desfazem tectos e soalhos, ultrapassam os telhados e só acabam lá longe, onde o céu acaba, o mar recomeça e o silêncio sepulcra novos mundos. 

Quantas vezes não dei por mim, entre vociferantes ondas gástricas, a ser irradiado pela luz cerebral? Ou de olhos fechados, chuva caindo aos bochechos pelo corpo, pensando e dirimindo geniais tratados de coisa alguma? Que o sonho ou a ideia não se concretizem para lá das paredes do espaço contíguo não será culpa de quem os idealizou mas da passagem irreflectida para o hall da casa, onde, como todos sabemos, ninguém pode reflectir decentemente, visto que as zonas de passagem fazem transbordar os pensamentos pelas frestas da porta, prédio acima, até à cozinha da velha rabugenta que logo atrai o mau karma, despedaça no chão as palavras e as varre lentamente para um canto onde as apanha, em cacos, e as mete no lixo. 

A culpa máxima de tudo isto – está bem de ver – não é desse sagrado lugar de peregrinação, recolhimento e meditação que é o lavabo, mas o facto de existirem outras partes da casa. Não houvesse nada mais e o mundo seria um reluzente jardim de espelhos de onde saíam, em jorros, constantes e alucinantes sonhos, ideias, utopias que nenhum homem poderia não alcançar. 

Seria assim: uma porta e uma casa-de-banho. A pessoa entrava – já descalça para não pisar os poemas -, sentava-se, libertava o que tinha a libertar e, nos entretantos, resolvia a fome em África e o conflito israelo-palestiniano. Depois levantava-se, limpava meticulosamente as arestas do texto, deitava as palavras que não interessavam, puxava o autoclismo e a água filtrava-se por dentro das paredes até surgir, qual imaculada fonte de frescura, nas casas dos outros e assim sucessivamente e assim sucessivamente e assim sucessivamente. 

Não havia nada mais para além disto: cagar e pensar. E às vezes, mais raramente, pensar e cagar! Tudo o resto, sem relevo. Tudo o resto, couves. Das quais, umas, se faziam cérebros e, de outras, alimento para o intestino. Num mundo destes, haveria alguma vez lugar para Fátimas Felgueiras ou Isaltinos Morais?

De modo que, num destes procedimentos quotidianos – imaginemos que o seriam -, dei por mim a reflectir sobre um post para este blogue. Foi um dia em que havia esgotado todas as Magalis e os Cascões, não me apetecia Chicos Bentos e nunca tive pachorra para o Cebolinha, que me lembrei de fazer um texto sobre o melhor 11 do Benfica que eu vi jogar. Bem sei: o Visão de Mercado é que tem essas ideias. Mas, caramba, eu não pretendo clicks na puta da publicidade nem tenho quase 3 milhões de leitores. Acho que me posso dar ao luxo de, dignamente, cagar as minhas ideias. Ou não?

E ele é muito simples, não requer explicações nem meias medidas. É tão evidente que nem precisei de ganir sentado. Talvez nem tenha chegado a mijar decentemente e já os 11 do Benfica vinham-se-me ao espírito de forma inatacável. E reza assim:






                               




























quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O meu avô era sportinguista. Ensinou-nos, a mim e ao meu Pai, o valor do respeito entre os dois clubes rivais. Mostrou-me os feitos do seu clube, fez-me compreender a grandeza do Sporting Clube de Portugal. Aprendi, com ele, a noção de generosidade. Pelas palavras e pelos actos: fez do meu Pai um Benfiquista porque o levava ao Estádio da Luz para ver o Eusébio. O meu avô gostava de ver o Eusébio e levava o filho com ele. Fez do filho Benfiquista, sem o querer. Isto é muito importante e às vezes esquecemos estes pormaiores em função da boçalidade com que lidamos diariamente. Por isso, hoje trago outro exemplo de sportinguismo - não lagartismo - que acho fundamental que fique bem explícito. A inteligência, vinda de quem vier (e de que clube for), tem de permanecer sobre as outras coisas. Esta é a ideia do MM, do Sporting Autêntico, sobre toda a novela em torno do Pantera Negra:


Chamo a este post dois nomes, três instituições, e um tema triste. Os nomes, são: Eusébio da Silva Ferreira e José Eugénio Dias Ferreira.

O segundo chamo para citá-lo,
"É assim o "fair - play" dos Sportinguistas.
Parabéns. Saudações Leoninas"
23/01/2010, 01:15 da madrugada.

Sportinguistas reforço, e não adeptos do Sporting. Muitos, entre nós, somos uma e a mesma coisa - jamais me convencerei do contrário, outros, adeptos do clube, importantes e indispensáveis adeptos do clube.
Sportinguista, é um conceito que vai muito além da filiação ou preferência clubística.
É um conceito que tem origem na palavra escolhida por José Alvalade para baptizar o clube que fundou, Sporting, um (forasteiro, link) nome que tem significados. Muito me orgulha tê-lo José Alvalade escolhido. Se me perguntarem, não poderia ter escolhido um melhor, e vou a Oxford e aos seus dicionários ver o que estes me dizem sobre ele:

Sporting, [attributive]
1. connected with or interested in sport.
2. fair and generous in one's behaviour or treatment of others, especially in a contest.
Justo e generoso no comportamento próprio ou tratamento de outros, especialmente em disputa. Parece-me claro sobre aquilo que Sporting(uista) significa(m).

Adepto do Sporting, aquilo que os termos sugerem.
Coisas muito diferentes.

Cito Dias Ferreira por uma razão: não existe Sportinguismo sem fair-play, e não existe fair-play sem respeito. Não existe, então, Sportinguismo sem respeito, e é aqui que entra Eusébio da Silva Ferreira e duas das instituições para este post chamadas: o Sport Lisboa e (o) Benfica. O tema é sobejamente conhecido, infelizmente. O trato que lhe foi dado, reconhecidamente infeliz. Já lá vamos.

Quem é leitor deste espaço já se apercebeu certamente de cinco coisas:

. Não são toleradas faltas de respeito pelo Sporting CP
. Não falamos necessariamente daquilo que outros falam
. Não existem regras outras que não derivem do bom-senso
. Cada um fala por si, e ninguém compromete alguém
. Todos, comprometemos o Sporting Clube de Portugal

Nesta linha se insere o post, e mantenham atenção sobre as duas últimas das cinco supra-mencionadas: falo em meu nome; não falo em nome do Pedro e do Álamo, e vou dizer aquilo que em seguida direi porque sinto necessidade de bem desenhar um compromisso entre o Sporting CP e a infeliz questão da entrevista que Eusébio concedeu ao "Expresso", compromisso esse que não vi ser feito.

Não li ainda a entrevista. Nem irei lê-la: não tenho interesse.
Como tive oportunidade de dizer há dias, não sei porque teria interesse em ler uma entrevista do Eusébio, e quem diz Eusébio poderia dizer Humberto Coelho, Fernando Gomes, ou outros. É uma entrevista que embora mencione o Sporting CP, fomentará interesse (imagino) junto dos benfiquistas - adeptos do(s) clube(s) ao qual Eusébio se associa. Pessoalmente, não me desperta qualquer curiosidade. Despertá-la-ia caso tivesse sido oferecida por Mário Coluna, como exemplo.
São questões de gostos pessoais, evidentemente.
Falo em meu nome, repito, e nada de certo ou errado. É o que existe.

O compromisso serão, então: provar quão errado Eusébio está naquilo que as letras gordas e títulos da entrevista sugerem [que nao são, necessariamente, aquilo que (ele) disse], e provando-o da forma que me parece a mais correcta de todas:
Manifestar compreensão pelas suas palavras; ele não desgostará do Sporting mais do que aquilo que eu, como exemplo, desgosto do Benfica. Pelo contrário.
Presumir como verdadeiras as afirmações caucionadas ao Sporting de Lourenço Marques, e presumi-las desse modo porque nada têm que ver com o Sporting Clube de Portugal e não me parecem afirmações chocantes ou pouco plausíveis de conterem verdade.
Pequena nota: há dias assistia no "Yesterday" a (um género de "Canal História", mas pior) um programa muito bom que olhou para a problemática Nazi associada ao Desporto. Nele, imagens estranhas (a posteriori) da comitiva Britânica nos Jogos Olímpicos de Berlim, 1936, executando a saudação Nazi a Adolf Hitler e seus camaradas, aquando da cerimónia de abertura. Ilações? Muitas. Nenhuma, seguramente, que sugira descuido da Grã-Bretanha na forma rápida e clara como chamou e perdeu centenas de milhar dos seus (civis e militares), viu dizimadas históricas cidades Inglesas ou, viu Londres endurar o brutal Blitz, quando durante largo tempo manteve-se isolada na guerra que levou a Hitler e ao regime Nazi, por essa Europa fora, quando nem fazia parte dos planos de Hitler, ou do regime Nazi, invadir ou pretender subjugar territorialmente essa mesma Grã-Bretanha.
Pequena nota que serve para dizer algo muito óbvio: porque motivo se sentem os adeptos do Sporting chocados pela declaração de que o Sporting de Lourenço Marques era um clube "da polícia, da elite e dos racistas"?. Alguém prova o Eusébio errado? Gentes de Lourenço Marques e que viveram no tempo de Eusébio podem fazê-lo. Os outros todos, o máximo que podem é adivinhar ou inventar. O Eusébio até poderia ter dito que o Sol não é amarelo e o Céu vive abaixo da terra. E depois? São coisas que só comprometem o Eusébio e, em última análise, o Benfica.
E foi isso que ele fez, de resto. Nada mais.
Ao passo que muita gente olha para esta fotografia e nela vê não sei o quê, eu vejo algo bastante evidente e que cola (talvez) com aquilo que Eusébio afirmou: 3, ou 4, não consigo distinguir muito bem, jogadores de côr. Os restantes, brancos.

Novamente, não li nem irei ler. Também, porque não preciso. Pego antes numa entrevista de 02/02/2002. Uma bem melhor do que aquela dada ao jornal Português, escusando-me assim de fazer mais publicidade a quem não merece. Entrevista onde Eusébio fala novamente (tempo passado, 09 anos), entre outras coisas, do Sporting de Lourenço Marques. Revista "Africa Today" (link), e uma maravilhosa entrevista onde pode ver-se Eusébio, entre outras coisas, afirmar (link):

O hino do meu clube [no telemóvel] (...) eu gosto deste hino, porque há vários. Gosto deste porque ao mesmo tempo faço uma homenagem a um grande homem do Benfica, que está aqui no coração [Luís Piçarra]. Era amigo dele, quando estamos aqui a almoçar, é sempre no balcão, peço para me ligarem de propósito para ouvir o hino, porque tenho aqui os meus amigos sportinguistas.

Jogar à bola não é para qualquer pessoa. Há uns que dão pontapés na bola, há outros que jogam à bola! Falo de mim e dos meus amigos de coração e colegas, Pelé, Bobby Charlton, Cruyff: esses são jogadores da bola! Hoje também há, mas não se pode fazer comparações. Tenho orgulho de estar neste grupo, porque é uma geração que não vai ser esquecida. É bonito recordar isto, porque quando vou com o meu primo e com outros amigos treinar com a minha equipa, os Brasileiros de Mafalala [bairro de Maputo, Moçambique], vamos treinar no Desportivo [Grupo Desportivo de Maputo], filial do Benfica. E não existia muito o Sporting [Sporting Clube de Lourenço Marques], que era de elite [filial do português Sporting Clube de Portugal]. O branco estava ali, o preto não era aceite. “Como eles não te querem ali eu agora vou assinar para tu jogares”, disse a minha mãe. “Mãe não faça isso, mano diga à mãe para não assinar”, respondi. Ela de futebol era zero.

"O branco estava ali, o preto não era aceite"

Não faço ideia de como as palavras de Eusébio foram expostas no jornal Português - o título, esse, é uma vergonha - mas reparem como lidas no contexto de quem ouve o Eusébio ... rigorosamente nada têm de chocante. Foi de resto esta, a primeira sensação que tive quando há dois dias - sem ler nada do que Eusébio havia dito - senti-me profundamente incomodado quando vi adeptos do Sporting em vários sítios diferentes tratar o Eusébio por "preto lampião" e "racista" ou "javardo". Tenho a certeza que mais Sportinguistas se sentiram incomodados. É esse o objectivo deste post, oficializar (passe a expressão) esse incómodo, e deixar claro o nojo que as palavras de alguns adeptos do meu clube escreveram.

O meu falecido pai, malangino [da província de Malange], não, jogou na selecção e foi transferido para os Caminhos-de-Ferro de Moçambique. Tinha sete, oito anos quando ele morreu, com tétano. Ele e o meu sogro eram amigos e jogaram na mesma equipa, o Ferroviário. Em África, onde há comboios há uma equipa do Ferroviário. Lá trabalhava-se e depois jogava-se, o meu pai era médio (...) Estamos a falar nisso e estou a puxar o princípio da conversa, o facto de o treinador não aceitar ficar com um jogador sem saber [Grupo Desportivo de Maputo, filial do Benfica]. Os colegas diziam que eu era o melhor do bairro… “Quero lá saber”, dizia ele. Arrependeu-se, porque marquei três golos ao meu clube, o Desportivo, e todos os meus colegas sabiam que era do Desportivo. Sempre disse que não sou do Sporting. Pagam [o Benfica] 250 contos, a minha mãe assina uma declaração a dizer que se o seu filho não se adaptasse o dinheiro estava depositado no Banco Nacional Ultramarino e tinha passagem ida e volta e tudo. Acabei por ganhar um prémio de 100 contos, muito dinheiro na altura. O outro treinador é que ficou mal visto, está vivo e somos amigos, vive em Carcavelos [arredores de Lisboa].

Primeira vez que leio tal coisa escrita e explicada. Já o sabia, de resto, a título privado: nunca o Eusébio se comprometeu ou apalavrou com o Sporting Clube de Portugal. Insinuar tal coisa é um disparate, inventar, para mais quando dito como forma de maltratar o carácter do Eusébio. A história como a conheço, e uma que é verdadeira, acrescenta a esta somente um pormenor: os dirigentes do Sporting CP tentaram junto da Mãe de Eusébio que ela assinasse um compromisso com o nosso clube. Porém, os do Benfica levaram na bagagem dinheiro. Os do Sporting, uma letra (título de crédito endossável). Seja como for, o dinheiro (mesmo que não tivesse cheiro ou côr) do Benfica, superava o montante da letra do Sporting. Mas mais, o Eusébio nunca quis jogar ou ser do Sporting. Tal é claro.

... e vou continuar a dizer, com muito respeito que tenho pelo Sporting enquanto clube e pelos grandes jogadores que por lá passaram. O Hilário, que é mais velho que eu três, quatro anos e somos do mesmo bairro, sabia disso (...) e como ele me conhece bem falou comigo para ver se ...
Mas eu disse que não, que não valia a pena. Assinei contrato com a autorização da minha mãe, aliás, ela é que assinou. (...) As equipas de África sempre jogaram como os brasileiros, é festa, o prazer no futebol (risos). Empatámos 2-2. Houve uma equipa que forçou a minha vinda para o Benfica, o Ferroviário de Araraquara. O senhor José Carlos Bauer, o treinador, foi jogador do Béla Guttmann no São Paulo, que na altura treinava o Benfica. Joguei contra eles e perdemos 3-1, mas marquei o golo. Ele é que foi falar com o Guttmann. “Mister está lá um menino espectacular, é contratar já”, disse. O processo acelerou assim. Foi quando o Benfica pagou logo 250 contos, e o Sporting, isso é que é triste, quis que viesse à experiência. Epá, não pode. A minha mãe e o meu irmão não eram malucos ...

O que tem isto de extraordinário? E o que terão as palavras de Eusébio ao "Expresso" de extraordinário? Alguém duvida que o Eusébio respeita o Sporting Clube de Portugal, ou alguém duvida que o Eusébio tem alguns dos seus melhores amigos no Sporting Clube de Portugal? Alguém julga que o Eusébio vê o Sporting Clube de Portugal como um clube da elite ou de racistas? Cuidado, por favor, porque o desrespeito é uma coisa muito feia. Toda a gente sabe, como exemplo, que odeio o Benfica. Odeio-o, ponto final. E sem hipocrisias de nenhuma espécie (ao contrário de outros) assumo o meu natural anti-benfiquismo, um de que me orgulho. Repito, orgulho, porque não reconheço ao Benfica e nos benfiquistas valores que são parte da génese de um clube como o Sporting. Isto, é uma coisa. Enfiará a carapuça quem quiser. Outra ... algo que jamais faria, desrespeitar um símbolo do SLB. Não é o dizermos "o Benfica é isto ou aquilo ou os benfiquistas são isto e acoloutro", antes, insultarmos em concreto o carácter de um pessoa que é um símbolo vivo daquele clube, sem que tenha ela feito qualquer coisa que o mereça. E fazê-lo com socorro a tons racistas, ou tons degradantes que pegam nas capacidades oratórias do Eusébio ou que falam sobre a sua inteligência ... tons que nada têm que ver com o Sporting Clube de Portugal e com aquilo que ele é há 106 anos.

É só isto aquilo que me importa afirmar.

Regresso a José Eugénio Dias Ferreira, e às palavras que numa madrugada escreveu a propósito de uma visita muito especial ... a visita de Eusébio da Silva Ferreira a um núcleo. Núcleo do Sporting Clube de Portugal na terra onde está sediada a filial Sporting de Lourenço Marques, Maputo.
Caros amigos, é assim o fair-play dos Sportinguistas e é assim o Sporting.
Disso não tenham grandes dúvidas, independentemente da força que uma mensagem entre muitas possa conter. No mais pequeno dos cenários, é a minha mensagem, e uma que me vincula a mim.»
  


terça-feira, 15 de novembro de 2011

O astronauta Vieira

É importante dar as boas-vindas a Luís Filipe Vieira, neste seu regresso ao planeta Terra após dez longos e extenuantes anos pelo espaço sideral. Desejar-lhe um bom resto de mandato e, se possível, que seja campeão já em andamento para a reforma do Benfica, porque certamente tem mulher, filhos, cães, papagaios, abutres e dinossauros à espera no alpendre de sua casa. 

Como é sabido, entre asteróides, planetas anões, estrelas, cometas e buracos negros, o cérebro tem tendência a mirrar de espanto perante tamanha grandiosidade universal; não raras vezes - pelos relatos a que temos tido acesso -, acaba mesmo por explodir, devido à compressão do ar, o que o faz, primeiro, expandir-se dentro do crânio, depois soltar-se aos jorros de sangue e, por fim, já em plena comunhão com o espaço, gravitar em milhares de pedacinhos para todo o sempre. 

Ao de Vieira, valha-nos nossa senhora!, esta tragédia não ocorreu mas, pelas declarações feitas ao sair da nave, penso ser da mais elementar evidência afirmarmos que se encontra num estado quase fetal - um cérebro ao nível de um rebento em gestação com duas semanas de vida umbilical.

Por outro lado, tenhamos a decência de dar um contributo positivo a tudo isto: haja compreensão. O que se terá passado - relatará a agência "LUSA" nos próximos dias - terá sido aquilo a que os especialistas consideram como um "salto no tempo", dimensão já por todos sabida ser de grande volatilidade aquando de uma massa cinzenta sem chão gravitacional. Vieira e o seu cérebro mirrado encontram-se hoje, em 2011, num loop que advém de terem parado há 10 anos atrás na vida terrestre, altura em que, vestido a preceito, subiu as escadas da nave enfiado numa máscara de carnaval muito parecida ao boneco Michelin com um penico na cabeça e esvaiu-se verticalmente num peido astrológico, furando, criando mazelas e destruindo a fina camada que protege o planeta do obscuro mundo infinito que o rodeia. 

Importa, portanto, nesta altura do campeonato, relativizar. O que pensa e, sobretudo, o que diz. Importa, numa primeira instância, ensinar-lhe a doença que tem - que é uma junção de amnésia com nescidade - e depois, já ciente da labareda que o afronta, pedir-lhe que feche os lábios muito devagarinho e que assim os mantenha até ao fim dos seus dias. 

Conceitos como "credibilidade", "competitividade", "estabilidade", são ideias muito interessantes para o ano 2000. Fazem sentido, imperam num Benfica destroçado por uma conjugação de factores, tractores e detractores e são obrigatórios para que o futuro comece a ser construído. O problema - para Vieira e, em consequência, para nós - é que o ano não é o de 2000, mas o de 2011, com novos desafios, novas metas e, acima de tudo, novas e astronómicas (não astrológicas) dívidas. Enquanto Vieira, da distância sideral, falava aos terráqueos benfiquistas durante estes 11 anos, o clube - pasmemo-nos todos! - existiu e foi transportado para ínvios caminhos alicerçado nos discursos e acções do nosso astronauta moribundo.  

Agora é, talvez, tarde para tão meritório discurso. Os avisos de alguns, ao longo desta longa caminhada no deserto - pontuada com breves momentos de chuva, que logo terminavam em seca profunda -, nunca chegaram devidamente catapultados pela força da tecnologia aos ouvidos - largos - do viajante do espaço e, gradualmente, enquanto a doença crepitava silenciosa por entre os pneus intergalácticos, adormeceram e extinguiram-se. 

Alguns dos que aqui permaneceram, poucos, foram avisando para o perigo de serem comandados do espaço por um líder eufórico - não de alegria, mas pelos ares opiáceos da grande mancha infinita. Levantaram-se problemáticas, indicaram-se novos caminhos, houve medo, preocupação, angústia. A tudo, o astronauta respondeu com a sabedoria dos pouco sábios: não ouviu. Imerso na alucinante janela da velocidade astral, o astronauta afundou o clube e afundou os que patrocinaram a sua epopeia além-planeta. Hoje, como ontem, o que permanece, o que verdadeiramente sobrevive aos actos grotescos de quem nunca amou o Benfica - porque nunca o chorou - é a capacidade regenerativa que nos faz, terrestres sem bilhetes de ida, preservar o nosso mundo. 
 
Ao astronauta enfermo, resta-nos reservar-lhe a nossa profunda e sentida mágoa, quase piedade. E enchermos o peito de ar, semearmos na terra um novo horizonte e esperar. Devagar, sem pressas, esperar. Pode ser que um dia acabemos por gostar de nós.



domingo, 13 de novembro de 2011

O sangue verde caqui-cacique

Este Sábado de manhã tinha tudo para ter sido um dia igual aos outros, não fosse ter aparecido nas mesas do café "O cacifo do Paulinho", ali como quem vira à esquina depois do "Sangue Leonino", uma bomba: Eusébio na capa a chamar racista ao clube de Telheiras!

O povo pôs-se em sentido, caíram cinzas de charuto no maple acolchoado do Senhor Telles Menezes que se levantou de súbito da mesa e gritou: ó Memé, dá cá o jornal que eu quero ler o que esse nhurra anda a dizer do meu querido Sporting!

Lidas as parangonas, Menezes não se conteve e dissertou assim, para toda a plateia ouvir (ver não podiam porque tinham o cabelo à frente):

"Como é que esta merda de Preto pode ser embaixador do futebol português, andar a mamar à custa da Seleção quando esta joga fora, se não tem respeito pela Instituição SPORTING? Devia calar a boca e mesmo que o sentisse, não o dizia! Só espero que quando a Selecção jogar em Alvalade, o atinjam com impropérios que o ofendam a sério. Preto do caralho!",

ao que se seguiu uma enorme e sentida salva de palmas, particularmente de Zacarias Ramalhosa y Mello (de nascença apenas Zacarias Ramiro mas que, entre viagens a Badajoz e uma conquista, mais tarde casamento, com Madalena Lopez Mello, acabou não só com distintos apelidos como com aquele "y" no meio, que tantas portas lhe abririam, mormente na famosa casa de concubinato "Veludo e Primavera", onde passava os serões a injectar heroína e a receber carícias de donzelas altamente qualificadas): "Brilhante, Chico Diogo, brilhante! É pô-lo no espeto, como fazíamos no Ultramar, caralho!". Aqui subiu ao ambiente um ligeiro mal-estar, especialmente na mesa dos Tomaz Britto, que prontamente se apressaram a responder ao bigode extremamente bem cuidado do antigo Zacarias Ramiro, hoje Ramalhosa y Mello: "Ó Ramalhosa, não diga essas coisas. Sabe perfeitamente que nós não dizemos "caralho". No máximo, um "apre" ou um "fosga-se"! Agora um "caralho", Ramalhosa y Mello? Francamente, nem parece seu!"

"Tem toda a razão, Manuel, mas o que é que quer? Quando me falam do meu querido Sporting, sobe-me a gravata ao pescoço!", respondeu Ramalhosa y Mello (antigo Zacarias Ramiro), com a cara intumescida, quase vermelha - o que o irritava duplamente porque, dizia ele, pior do que o objecto da fúria, só a imagem da mesma - tão visceralmente encarnada, cor dos pobres e dos trabalhadores.

Por esta altura, já uma vozearia ecoava por todo o café, sem que se percebesse, no meio dos escombros, palavras definidas ou sons perceptíveis - uma imensa mancha de ruídos alarvemente infectando o brandy do Senhor Leão de Campo de Ourique, que, num salto atlético, caiu em cima do balcão de mogno polido e botou discurso:

"Não diria melhor, Ramiro y Ramalhosa!" (era usual o Senhor Leão de Campo de Ourique, especialmente nos dias em que acordava a torradas e conhaque francês, deixar cair "acidentalmente" o berço de cheiro a sopa dos pobres de Zacarias Ramiro, numa luta intensa pela pureza da raça que já lhe havia custado dois dentes, um prato do Alandroal que muito estimava e uma pequena cadelita rafeira que, na emoção da contenda, acabou debaixo de um cd da Mafalda Veiga). "Embaixador do nosso futebol? Ouve lá ó cabrão: A primeira vez que ouviste um hino português nos jogos olímpicos, não foi ninguém do teu clube galináceo, besta quadrada. Porco preto!"

"Porco preto não, ó Campo de Ourique! Não se ofendem assim os porcos pretos! Tenha lá isso em consideração e continue, se fizer o obséquio...", exclamou Tobias Barbosa Vaz, enquanto dilacerava dois pedaços de gordura de presunto pata negra e fazia por esquecer a afronta a tão distinto animal que ele, com tanto cuidado, criava e assassinava à queima-roupa num terreno baldio numa terra esconsa da Andaluzia.

"Pronto, está bem, retiro o porco preto. É apenas e só um macaco gorila, um preto calcinha. As saudades que eu tenho de degolar-lhes os ventres, as tripas dos animais a saírem-lhes pela boca, aquelas bestas aos gritos a sangrar pelo cu!"

"É isso mesmo", gritava Biba Parvalheira, "ainda me lembro do meu Pai a trazer para a nossa casa de Sá da Bandeira os crânios dos nhurras atados uns aos outros que a gente desfazia o nó e usava como bola de futebol! Ah, bons tempos... as saudades que eu tenho de África...",

Ficaram nisto uma boa meia-hora, entre gritos histéricos, rememorações de genocídios belíssimos e sovas monumentais, quando entrou pelo café um senhor de tez escura.

"É aqui que se discute o sportinguismo?", perguntou, bebendo um carioca de gole.

"É, sim", disse Francisco Fernandes Fernandez , "e diz-se mal de pessoas como o macaia Eusébio, macaco apreciador do marisco tremoço, pessoa substancialmente diferente do que é o verdadeiro negro, como vosselência, que tem orgulho na sua raça!"

O senhor de tez escura olhou-o espantado, quase a rir, mas conteve-se. Virou-se para o resto das pessoas e disse ao que vinha:

"É só para avisar que, daqui em diante, os senhores vão passar a andar enjaulados".

sábado, 12 de novembro de 2011

Golos e assistências - 19 jogos oficiais


Golos
Cardozo
9
Nolito
8
Bruno César
6
Rodrigo
5
Saviola
3
Witsel
2
Gaitán
2
Luisão
2
Aimar
1


Assistências
Gaitán
7
Aimar
4
Saviola
3
Cardozo
2
Witsel
2
M. Pereira
2
Nolito
1
Bruno César
1
Rodrigo
1
R. Amorim
1
Luisão
1