quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Bernardo

Mais de um ano se passou sobre o dia em que um amigo Benfiquista me pediu que escrevesse umas linhas sobre futebol romântico Que fazia falta na página, que ali cerravam fileiras e clamavam contra o que estava mal no nosso Benfica, e era muito, e que esqueciam um pouco desse romantismo de que o futebol é feito. Acedi, honrado. Nunca me faltou romantismo no que ao Benfica diz respeito, pelo contrário, sempre me sobrou paixão, que partilhei, com amigos, com conhecidos, com a minha filha. Assim, foi, e acabei por escrever palavras sentidas, sobre Eusébio, Coluna ou Cardozo. Depois a vida. E a vida entendeu colocar 7000km entre mim e Luísa, minha filha e companheira de paixão, companheira de futebol, desse que se joga com o coração aberto. E o romantismo deu lugar à saudade. À mágoa, até. E as palavras foram-se tornando escassas. O silêncio foi-se assumindo, pese embora os sucessos desportivos. Saiu Cardozo e calei-me. Saiu Rodrigo e nem palavra me saiu. Garay e Enzo. Silêncio. Agora Bernardo. Mas vender Bernardo não é simplesmente vender Bernardo. Vender Bernardo, agora, é crime lesa-Benfica. Bernardo é aquele rapaz a quem foi permitido cumprir um sonho, a Bernardo não o vemos como um fora-de-série, não como uma estrela, Bernardo é um de nós. Bernardo Silva é nosso conhecido, amigo e até primo distante. Bernardo somos nós e Bernardo é o nosso Benfiquismo personificado. Bernardo é a secreta certeza de que, tivéssemos sido bafejados pela sorte, e poderia ser nossa a fotografia da criança com a camisola do Benfica que cumpriu um sonho. Vendê-lo, vender Bernardo é vender o nosso Benfiquismo. Vendê-lo é matar irremediavelmente uma parte da paixão que nos une ao Benfica. Que é infinita, bem sei, mas que se sente substancialmente diminuída com este rude golpe. Vendê-lo, por quinze, trinta ou duzentos milhões, é tornar o Benfica mais pobre, mais triste, mais cinzento. É tornar-nos, a nós, menos Benfica. É apagar um pouco a chama imensa. Tristes, estes dias. Para nós. E para Bernardo, certamente.

Duvidar do Duvidoso



Promessas. Afirmações. Manifestação de desejos. Anuncio de estratégias. Declarações.

Mentiras e mais mentiras e mentiras e mais mentiras. Ano após ano. Mês após mês.


Mentiras e mais mentiras.


Isto não vos faz pensar? Não vos faz questionar? Não vos faz duvidar?


Não percebo esse processo mental. Esse processo que consiste em eliminação de memórias e adaptação constante a novas realidades de modo a estar sempre a defender aqueles senhor e aquelas pessoas.


A conclusão já está formulada desde sempre. A partir daí é ir adaptando opiniões e memórias e argumentos de modo a justificar sempre a conclusão há muito determinada. Não estará o processo a ser feito de modo inverso?


Vender nesta altura o Bernardo por 16 milhões? Valor vs rendimento é claramente um bom negócio. E em termos desportivos? E em termos de identidade? E em termos de aposta? E em termos de todas as palavras e promessas ditas? Será que é normal assumir-se à partida que tudo o que o presidente diz é para ser ignorado?


E sobre o valor? O que dizer sobre o real valor? Sobre estes 16 milhões tudo o que sei é que foi o que se anunciou ontem à CMVM.


Com o tempo, olhando para tudo o que se vai passando neste Benfica dirigido por estas pessoas, tive de aprender a duvidar dos valores dos negócios. Tive de aprender a duvidar e a acreditar que todo o tipo de maroscas é possível.


Por isso sim, duvido deste valor e deste negócio. Como será o pagamento? Receberá o Benfica 100%? Quando foi feito o acordo? Porque foi anunciado só agora? Em que condições foi feito o acordo? Que negócios paralelos estarão envolvidos?
Vou pensando nisto. Vão pensando nisto.


Quando alguém nos mente constantemente devemos aprender a duvidar e não a ignorar.


Por agora só tenho de desejar o melhor ao Bernardo, esperar um dia vê-lo jogar no Benfica e acompanhar a sua carreira lá fora.

Que mais logo ganhemos ao Moreirense.


Copo meio cheio ou meio vazio?



As vendas de Bernardo Silva e André Gomes são negócios com valores, no mínimo, surpreendentes e deixam-me um enorme vazio, por ver sair do clube dois jogadores de altíssima rentabilidade financeira, mas ínfima ou inexistente rentabilidade desportiva.

Perante tais negócios, há sempre dois tipos de visão: 1 – A dos que atentam ao aspecto meramente objectivo, valorando exclusivamente o lado financeiro do negócio; 2 – A dos que valorizam a qualidade dos jogadores e apresentam o seu amargo de boca pela inexistente valorização desportiva do jogador entreportas.

Eu, talvez por ser um entusiasta da formação em geral e profundo admirador destes dois em particular, talvez por não gostar de Vieira, talvez por não ser fã de Jorge Jesus, encontro-me completamente no 2º grupo de opinião, no grupo do copo meio vazio.

Porém, até podemos ser contra a aposta na formação, podemos ser ainda cegos defensores de Vieira, sermos “apaixonados” pela competência e pessoa de Jorge Jesus ou, no cúmulo, ser tudo isto ao mesmo tempo, mas mal estará o Benfica, pior estará Jorge Jesus, no dia em que não conseguir retirar dividendos desportivos de jogadores que valham 15M€… E já lá vão dois.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

INDIANA JONAS - Em busca da baliza perdida


A expressão que faz o título deste texto é do Nuno Matos e não podia ser a melhor forma de começar a falar em Jonas porque o brasileiro é, ao mesmo tempo, um aventureiro pelos relvados e um descobridor de segredos perdidos. Às vezes parece que só ele tem o mapa que nos levará à baliza; a chave que abrirá a porta sagrada do golo.

Jonas é elegância em estado puro. Veja-se o porte altivo, pescoço estendido, cabelo arrumado, olhar aquilino. Movimenta-se pelo campo como se seguisse uma rota só sua, diferente dos demais - aquela que sabe poder chegar às redes adversárias. Jonas encontra o caminho da baliza por estradas invisíveis aos olhos dos mortais, rotas silenciosas, troços da realidade que só ele vê, que só ele sente, que só ele conhece.

O golo acontece a um determinado minuto mas na verdade o golo já aconteceu muitos segundos antes, quando Jonas correu para a bola e a recebeu e desenhou mentalmente o futuro da jogada e o presente da bola nas redes. Jonas joga futebol de 11 como se estivesse num pavilhão a jogar futsal. Trocas simples de bola, em movimento vertical recua ou sobe consoante a harmonia da harmónica colectiva. Faz de pivot, de placa giratória que tudo mete em movimento.

Nené com sotaque, nunca se despenteia, não se suja, não perde tempo com ninharias estatísticas - está ali para jogar futebol, não para fazer a maratona. Parece até alheado do jogo. Julgamos que Jonas estará pensando no que fará a seguir, se comerá peixe ou carne, que filme ver, qual a série que estará a dar na televisão. Quando a bola está em Luisão ou em Júlio César, é possível que Jonas, enfiado entre os centrais, vá dissertando sobre a maravilhosa poética na escrita de Guimarães Rosa, lembrando o não menos maravilhoso «Manuelzão e Miguilim» sob o olhar surpreendido de uma dupla de defesas que ainda não se apercebeu que a bola vai estar dentro da baliza exactamente daqui a 37 segundos.

Jonas já sabe que vai ser golo. Por isso vemo-lo agora a dizer as últimas palavras sobre o escritor brasileiro e a dirigir-se tranquilamente para a linha lateral, onde vai tabelar com o extremo, voltar para a grande área, dar um toque de calcanhar que vai isolar o médio em frente ao guarda-redes e depois simplesmente, já com a baliza perdida finalmente encontrada, agarrar na arca cheia de golos de ouro e distribuí-los pelo público. Vemos Jonas lançar para cada adepto um golo como se todos os adeptos de futebol merecessem um golo só seu. É esse o grande destino do nosso herói: inventar todos os dias um golo novo para oferecer aos benfiquistas. Porque é ele o centro do Universo do golo do Benfica.


Goleada nos Barreiros Rumo ao Bi

Vitória importantíssima, por números excessivos mas bem demonstrativa da diferença de qualidade entre as duas equipas.

Defensivamente o Marítimo esteve longe de corresponder à classe do Jonas e à energia do Salvio. Dois jogadores com demasiado talento para a defesa madeirense. Aquele buraco entre o lateral foi uma fraqueza que os nossos jogadores souberam explorar com toda a qualidade.

Ofensivamente só depois do 0-3 é que a equipa da casa conseguiu mostrar capacidade para criar perigo. Claro que a presença do Luisão no 11 não pode ser ignorada ao analisarmos a capacidade ofensiva do Marítimo.

O resultado é bem elucidativo sobre a justiça do vencedor. Independentemente de tudo o resto.
Os nossos rivais provavelmente vão andar obcecados com a não expulsão do Talisca quando o resultado estava ainda 0-1. É verdade que a expulsão era evidente e foi um grave erro do árbitro. Na minha opinião faltou coragem para se expulsar um jogador de um dos 3 grandes tão cedo no jogo. Também é verdade que passar a jogar com 10 naquela altura poderia ter alterado muito do jogo.

No Benfica de ontem foram titulares 2 jogadores que continuo a achar que estão longe de corresponder às exigências de um Benfica, da posição em que actuam e do modelo de Jorge Jesus: Eliseu e Samaris. O primeiro comete demasiadas falhas defensivas e sinceramente pouco mais espero dele. O grego não se impõe naquela posição e não domina os espaços defensivos. Não é uma figura que ocupe o meio-campo com a sua presença mas apesar disso ainda o considero um bom jogador que gostava de ver jogar a 8.

Outro jogador que está longe de me convencer é o Talisca. Alterna constantemente entre jogos inconsequentes e jogos com dois ou três bons pormenores. Tão depressa o vemos a fazer um passe a rasgar a defesa ou uma boa tabela ou um bom remate como o vemos a protagonizar vários maus passes e perdas de bola. É jovem, tem por onde evoluir mas não acredito que dê muito mais do que o que já se viu. Em Janeiro ainda não justificou a titularidade que tem auferido desde o arranque do campeonato. Nenhuma grande exibição e somente duas boas exibições. Ao minuto 44 podia ter prejudicado gravemente a equipa.

Ontem foi excelente ver o Luisão e o Salvio de volta à titularidade. Ontem, mais uma vez, foi delicioso ver a classe do Jonas. O Lima em boa ou má forma vai sempre confirmando a sua utilidade. O Ola John tem muita qualidade mas tem demorado a demonstrar capacidade para ser uma peça importante neste Benfica. Somente à esquerda mostra poder corresponder mas já teve oportunidades mais que suficientes para o fazer.

3-0 ao Vitória com uma boa exibição e 0-4 nos Barreiros com uma exibição muito personalizada. Claros sinais que a equipa está preparada para se manter na frente rumo ao Bi.
Os próximos 4 jogos irão confirmar ou desmentir estes bons sinais. Quarta disputamos em Moreira dos Cónegos a presença nas meias-finais da Taça da Liga. O empate serve para a qualificação mas só a vitória serve para alimentar o Benfica. Nos próximos 3 fins-de-semana teremos 2 deslocações complicadas e intervaladas por um jogo caseiro acessível frente ao Boavista. Paços de Ferreira será um grande teste à nossa capacidade de dependermos só de nós para sermos campeões. Alvalade será isto e muito mais. Afinal de contas é o Derby que queremos sempre vencer. Sair desta fase sem perder pontos seria uma enorme demonstração de força deste Benfica.

No meio disto tudo a péssima noticia é a lesão do Nico. Uma semana? Duas semanas? Pelo que parece só voltará a tempo do Sporting. Sem ele a equipa perde em capacidade para ganhar mas principalmente em qualidade de jogo. A última vez que o Nico teve uma destas ficou mais de um ano desaparecido. Espero vê-lo a brilhar em pleno Estádio de Alvalade.

E se me é permitida uma picardiazita… Ontem com o Eliseu confirmou-se, finalmente, a aposta na formação.

Ps: Grande jogada a do 0-4. É possível estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo? É que começo a sentir-me dividido entre o Nico e o Jonas.


domingo, 18 de janeiro de 2015

Jonas



A única lamentação possível na contratação de Jonas prende-se com o facto de ter chegado já em Setembro e para lá do período de inscrição nas provas europeias, pois com Jonas na equipa, a Liga dos Campeões podia ter sido, pelo menos, ligeiramente diferente.

Jonas é a prova provada de que um avançado pode ser determinante num jogo sem fazer qualquer golo. A forma como lê o que o jogo lhe oferece, a forma como entende as necessidades colectivas em todos os momentos, a forma como executa e decide é simplesmente deliciosa.

A sua intervenção no 3º e 4º golos não é só decisiva, é absolutamente genial. Hoje, como noutros jogos, o Benfica vence embalado na classe do Brasileiro.

Ver Jonas jogar vale o bilhete de qualquer jogo.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Empréstimos



Nos últimos dias foram confirmados os empréstimos de Rúben Pinto e Fábio Cardoso ao Paços de Ferreira até final da presente época.

Tendo em conta a valia dos jogadores e o que podem ganhar com este empréstimo, diria que é uma medida que só peca por tardia, pois considero que ambos já nada ganham em competir na 2ª liga pela nossa equipa B.

Sobre o médio, acho que já não irá a tempo de se poder afirmar como opção para JJ, já sobre Fábio Cardoso penso que pode haver ainda uma janela de oportunidade para crescer ao ponto de, pelo menos, vir a fazer parte do plantel principal do Benfica.

O Paços de Ferreira é ainda um clube com uma ideia de jogo algo semelhante à do Benfica e tem no seu comando técnico alguém minimamente competente, pelo que, reforço, são empréstimos que fazem toda a lógica, quer no plano individual de cada jogador, quer no local para onde foram enviados.

Empréstimos como estes, serão sempre medidas que se saúdam, então se forem concretizados no inicio de cada época em vez de o serem a meio, tanto melhor.

Coisa diferente se passará caso os empréstimos de Lindelof e Hélder Costa ao Gil Vicente se confirmarem. Muito mal estará a formação do Benfica no dia em que os seus jogadores tenham algo de positivo a aprender com um treinador como José Mota.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Outra década, outros tempos








Andavam para aqui perdidas nas recordações de uma visita a San Siro em 2008

Que talento!



Ao intervalo, e já com o resultado em 2-0 frente a um adversário que jogava com 10, JJ decide calar de vez os críticos e fazer uma aposta arrojada na partida: Retira os consagradíssimos Guedes e Fonte, lançando na partida as mais recentes pérolas da formação Benfiquista: Sálvio e Jonas.

Esta é a resposta de Jorge Jesus ao presidente que tem passado as últimas 1439 entrevistas a pedir/anunciar mais aposta na formação, e foi uma resposta em grande, diga-se. Sálvio demonstrou uma capacidade impressionante no 1x1 e Jonas uma leitura de jogo e maturidade táctica invulgares para um jovem da sua idade.

Diziam que JJ tinha algo contra os jogadores da formação? Então tomem lá esta aposta inequívoca. Genial o nosso “mister”. É que para além de lançar esta duas pepitas na equipa principal, ainda evitou que alguma lesão indesejável aparecesse em Guedes e Fonte, num jogo que estava completamente resolvido.