terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Formato Campeonato Português



Pergunto-me se no curto/médio prazo não seria favorável adoptarmos um campeonato com um formato parecido com o da Bélgica.

O objectivo passaria por melhor a competitividade do futebol da primeira liga, fazer crescer os clubes médios, dar aos clubes maiores capacidades de disputarem jogos na Liga Europa e assim melhorar as condições para um crescimento do futebol português. Depois deste modelo estabilizado talvez fosse possível integrar mais equipas numa primeira liga com um nível superior ao actual.

Neste novo formato a Liga Portuguesa seria composta por 12 equipas e o último terço do calendário seria reservado para jogos de play-offs: campeão, despromoção e Europa. 

Na Bélgica os 6 primeiros classificados disputam uma liga com 10 jogos (casa e fora) para se encontrar o campeão. Cada clube começa esta liga com metade dos pontos que ficou no campeonato e assim assegura-se que os melhores partem à frente mas com uma distância reduzida a metade.

Um campeonato com Benfica, Porto, Sporting, Braga, Vitória de Guimarães, Estoril, Paços de Ferreira, Marítimo, Nacional, Rio Ave, Belenenses e um clube do Sul. Penso que seria o ideal.
Claro que também seriam hipótese os históricos Setúbal, Académica ou Boavista, tal como os competentes Arouca e Moreirense.
Todos os que ficassem de fora desta Liga a 12 clube iriam também acrescentar qualidade e competitividade à Segunda Liga e elevar a qualidade na luta pela promoção.

Neste caso antevia uma promoção imediata do campeão da Segunda Liga e uma disputa do 2º e 3º com os últimos dois da Primeira Liga, ou com o penúltimo e antepenúltimo.

É só uma ideia que gostaria de ver ponderada por quem manda no futebol em Portugal. 


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Campeonato Português à 22ª Jornada




Começa hoje a 5ª jornada da segunda volta.
Com 39 pontos por disputar é já possível confirmar que o alargamento, pelo menos no imediato, só podia vir aumentar o fosso no meio da tabela e que a qualidades dos treinadores não pode ser medida pelo seu nome.


Domingos Paciência e Paulo Sérgio chegaram ao Setúbal e à Académica não por aquilo que têm demonstrado, já foram os dois demitidos e deixaram os clubes pior do que estavam no final da época passada. O próprio Couceiro no Estoril não tem conseguido estar ao nível do trabalho do Marco Silva.

Como do Benfica falo diariamente irei neste texto focar-me nos restantes clubes.

Na luta pela manutenção temos os expectáveis Penafiel, Boavista e Gil Vicente, o Arouca e os já referidos Académica e Setúbal.

O Penafiel do Rui Quinta está no fundo da tabela e tem a pior defesa da liga – 42 golos sofridos. Não venceu qualquer jogo desde a abertura do mercado apesar da chegada de vários experientes, como o Michel e o Braga. Antes da deslocação a Alvalade precisa de evitar afundar-se definitivamente na ida a Setúbal e recepção ao Moreirense.

O P. Sérgio conduziu a Académica ao penúltimo lugar com 12 empates e só uma vitória no campeonato, tendo o pior ataque da liga – 12 golos. A chegada do avançado Cissé, do Esgaio e de um novo treinador pode alterar este panorama.

O Arouca é um clube que respeito e acredito que irá melhorar o seu desempenho nesta segunda volta com os jovens reforços de inverno: Kayembe, Iuri Medeiros e Fokobo.

Depois da saída do João de Deus e contratação do José Mota, o Gil era o clube de quem menos esperava. Tenho a pior opinião possível de J.Mota enquanto treinador mas depois de uma péssima primeira volta, sem qualquer vitória, conduziu o Gil a três vitórias e dois empates nos últimos seis jogos. Vão agora a Alvalade com duas vitórias consecutivas e com um calendário favorável a este bom momento nos jogos seguintes.

O mercado de Janeiro foi positivo para a equipa de Barcelos com a contratação dos centrais Cadu e Berger e do reforço do ataque com o Yazalde, Piqueti e R.Ribeiro.

O Bruno Ribeiro tenta dar a volta com um futebol mais atractivo à má imagem que o Setúbal deixou com o Domingos. No mercado reforçou o plantel ofensivamente com o Suk e o Dávilla e conseguiram uma série de três jogos sem derrotas antes da deslocação à Luz. A recepção ao Penafiel pode dar novo fôlego à equipa sadina.

Na luta pela manutenção o Boavista surpreende por ser o mais bem posicionado. Está em 13º a 6pts da linha de água. Em Janeiro a equipa do Petit reforçou-se com o M.Cech, conseguiu dois empates nos últimos dois jogos e recentemente venceu o Braga. Tem agora um calendário complicado que arranca com a recepção ao Porto.

Fora de qualquer luta aparecem o Estoril e Moreirense, ambos com 25pts.
O Moreirense do Miguel Leal fez uma impressionante primeira volta e conta agora com um registo de somente 22 golos sofridos.
Com um mau arranque nesta segunda volta, está no seu pior momento com 1pt em 4 jogos, o Moreirense vai agora receber o Benfica.

É crucial referir a saída dos médios Filipe Melo e Vítor Gomes na abertura do mercado.

O Estoril está a corresponder à sua dimensão mas a desiludir face às últimas épocas. Neste mês o Couceiro perdeu os três jogos e afastou-se da luta europeia. Os próximos três jogos caseiros, Académica, Gil e Penafiel, podem relançar a equipa.
Em Janeiro a equipa perdeu a sua estrela, o Kuca e contratou os atacantes Bonatini e Mattheus.


Na luta pela Liga Europa estão os clubes da Madeira, o Paços, o Rio Ave, o Belenenses e o Guimarães.

O Marítimo de Leonel Pontes teve como ponto alto a recente vitória caseira sobre o Porto. Vem de uma vitória em Penafiel e parte agora para um ciclo onde recebe o Belenenses, vai a Guimarães, recebe o Paços e o Sporting.
No mercado a equipa perdeu a sua referência ofensiva – Maazou.


O Nacional do M. Machado está em 9º e numa sequência de 5 vitórias e um empate. Vai aproveitar este momento para ir ao Axa tentar os 3pts.

Em Janeiro saiu o avançado Suk mas chegaram vários reforços, entre os quais o central Freire e os médios L.Aurélio e T.Rodrigues.

Em Paços o P.Fonseca volta a mostrar o seu valor. A equipa está em 8º em igualdade pontual com o Rio Ave. Contudo nos últimos 8 jogos só conseguiu um empate e duas vitórias, uma delas contra o Benfica. O calendário não é favorável com a recepção ao Guimarães e deslocação a Belém e ao Marítimo. No mercado saiu o Urreta e chegaram os benfiquistas F.Cardoso e R.Pinto e ainda o D.Rosado.

Em Vila do Conde o P.Martins dá continuação aos últimos bons anos do Rio Ave. A equipa conta com o 2º melhor marcador do campeonato – Hassan com 11 golos.

O mercado foi calmo. Saiu o avançado Esmael e entrou o médio Sow.
A equipa vem de uma vitória e dois empates e vai ter um ciclo de 5 jogos onde vai jogar com o Braga, Nacional e Benfica.


O Beleneses do Vidigal é a grande boa surpresa deste campeonato. Está em 6º, só sofreu 20 golos e nos últimos 5 jogos conseguiu dois empates e duas vitórias, vindo de uma vitória em Guimarães e de um empate no Restelo com o Sporting.
Em Janeiro perderam o goleador Deyverson e o Fredy mas contrataram o C.Martins, o R.Fonte e central Tikito.


Em 5º, na zona europeia, está o Guimarães do R.Vitória que com pouco continua a rivalizar com os grandes.
O Vitória leva uma vantagem de 5pts sobre o Belenenses mas começa a ver o Braga escapar-se. O André André tem-se destacado como o goleador de serviço, estando em 3º na tabela com 10 golos.
A equipa vem de um pior momento com só um ponto em 4 jogos. Foi talvez a equipa que mais se movimentou no mercado com a saída do Traoré, Defendi e Hernâni e as contratações do Sami, Ivo Rodrigues, Otávio, do central Kanu, lateral Breno e do extremo R.Valente.


Em Braga o S.Conceição parece ter finalmente feio carburar a sua equipa. Os bracarenses são uma equipa à imagem do seu treinador e mostram capacidade para fazer frente a qualquer equipa em Portugal. Com 13 golos sofridos apresentam uma defesa ao nível da do Benfica e Porto.
O mercado não foi significativo - saída do Custódio e contratação do D.Menga.

Com 3 vitória consecutivas irão agora entrar num ciclo complicado – Nacional casa, Rio Ave fora, Porto casa e Benfica fora.

Nos lugares de Champions estão os três grandes.

O Sporting começou a época a viver um sonho mas já entrou em choque com a sua realidade. Está em 3º, vê o Braga a 4pts e vê fugir os rivais – Porto a 5pts e Benfica a 9pts. A equipa do M.Silva é a única com só uma derrota mas apresenta 8 empates, cinco deles caseiros! Nos últimos jogos a equipa parecia estar rumo ao seu sonho mas com o baque dos 94 minutos e o estrondo no Restelo parece ficar fora da luta pelo título.

Montero e Slimani são os dois marcadores de serviço da equipa, com 7 golos cada.

Quando o maior problema parecia ser a jovem dupla de centrais, é a capacidade de criar situações de golo que tem falhado. O meio-campo é compacto mas sem profundidade tanto o Nani como o Carrilo aparecem sem inspiração.
O mercado trouxe mudanças no centro da defesa com a saída do Maurício e promoção do Tobias. Também chegou o indisponível central Ewerton. 


O Porto de Lopetegui, apesar da recente derrota com o Marítimo, parece ter finalmente encontrado o seu ritmo e já se começa a perceber quem é o quê nesta equipa.

No mercado de Inverno só há a realçar a chegada do Hernâni.

Encontra-se a 4pts do Benfica, tendo recuperado de uma potencial desvantagem de 9pts. Tem o melhor ataque do campeonato com 50 golos marcados, a segunda melhor defesa com 10 sofridos e o melhor goal-average.
O Jackson lidera destacado a lista de melhores marcadores – 16 golos.
Vem de três vitórias consecutivas e irá agora ser colocado à prova com a deslocação ao Bessa, recepção do Sporting e deslocação a Braga. Isto sem o lesionado Oliver.

Finalmente há estabilidade no centro da defesa com o Marcano a relegar o inconstante Martins Indi. O Casemiro ainda não me convenceu. O Jackson está em grande forma, ao contrário do Tello e Quaresma. O regresso do Brahimi pode assim fazer a diferença.

O próximo passo será a titularidade do Helton que além de qualidade também traz maior liderança e identidade à equipa.

Resumindo. Estimo uma manutenção muito complicada tanto para o Penafiel, como para a Académica, como para o Setúbal e até para o Boavista. O bom momento do Gil e a competência do Arouca deverão ser suficientes para saírem desta luta.
Estimo que o Moreirense, o Marítimo e o Estoril vão ficar perto do terceiro terço da tabela, com o Estoril a poder vir a tentar algo mais ambicioso.
Estimo que o Rio Ave, Paços e Belenenses vão disputar entre si um lugar no top 7.
Estimo que Nacional irá subir na tabela e disputar o lugar europeu do Guimarães.

Estimo que o Braga vai fugir ao Guimarães e disputar o terceiro lugar com o Sporting.
Estimo que o Sporting terá de parar de olhar para cima e se preocupar em olhar para baixo.
Estimo que só o Porto e Benfica lutarão pelo título e que as próximas três jornadas serão definitivas nas pretensões portistas.



Paços de Ferreira – Vitória de Guimarães
Braga – Nacional
Moreirense – Benfica
Marítimo – Belenenses
Sporting – Gil Vicente
Boavista – Porto

Setúbal – Penafiel
Arouca – Rio Ave
Estoril – Académica

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Paulo Sousa - o génio maldito

Ameaças de morte, um Vice-Presidente a ir perguntar por mim ao local de trabalho, insultos, ódios, calúnias, mentiras, ataques soezes por parte de vários blogues ao Ontem - em 6 anos e tal de blogue já quase tudo nos aconteceu. E, no entanto, nada ou quase nada é justificado. Na verdade, somos atacados por defender o Benfica do ÚNICO PRESIDENTE ILEGÍTIMO DA HISTÓRIA DO CLUBE.

Pensem um pouco nisso: o Presidente actual não ganhou legitimamente o poder; antes o roubou, forjando um número de sócio que não tinha e assim adulterando os estatutos que ele próprio havia criado para se manter no poder. Voltem a reler as últimas frases e questionem-se: será que um benfiquista vertical, sério e profundamente apaixonado pelo seu clube pode aceitar uma situação deste tipo sem recorrentemente lutar contra tal? Podem (devem) discordar de nós, não vejam é outras motivações que não as naturais, legítimas e altamente compreensíveis: queremos defender o Benfica. Nem mais nem menos. É o Benfica que nos guia. Os seus valores, a sua histórica democraticidade, o seu emblema livre e desapegado de caciques. É esse que defendemos todos os dias. Se tiverem a fórmula mágica para fingir que isto não aconteceu numas eleições, por favor expliquem-me como se faz porque eu não consigo olhar para o lado. O Benfica não mo permite.

Portanto, e para que nos odeiem legitimamente e não de forma injusta, vou agora escrever um texto sobre outro odiado do Benfica. A partir de hoje os vossos insultos, ameaças, calúnias, ódios e perseguições por parte de Vice-Presidentes a quem critica a forma como o clube é desgovernado já poderão ser aceitáveis. Vou escrever sobre Paulo Sousa.

Comecei a ver este extraordinário jogador quando a Luz ainda era vista por mim como um gigante de betão com relva dentro. Ligava mais para a cor das camisolas, para a cara das pessoas, para a águia a dar a volta ao Estádio antes dos jogos, para as queijadas de Sintra, para as 4 torres de iluminação a anunciar «BENFICA CAMPEÃO NACIONAL 90/91», para os painéis de publicidade, para as almofadinhas de sentar o traseiro, para as bandeiras ao vento, para os milhares de rolos de papel higiénico que caiam por cima de nós quando a equipa entrava em campo, para a equipa a entrar em campo, para o golo, o golo, o golo do Benfica. Os abraços entre estranhos no golo do Benfica, o olhar do meu Pai no golo do Benfica, o olhar das pessoas no golo do Benfica. Era dentro do golo do Benfica que eu via o Benfica todo, assim todo inteiro, popular, feliz.

Mas houve um jogo em que passei a ver com mais atenção o que ia acontecendo dentro de campo para além do golo do Benfica. Enquanto eu olhava maravilhado para 120.000 almas sob um sol glorioso, o meu Pai disse-me para esquecer as bancadas, esquecer a bola, esquecer as balizas: «fica só a ver aquele miúdo ali no centro do campo». No meio-campo passeava-se com elegância um jovem da nossa formação. Cabelos grandes, passada lenta, olhos abertos sobre o jogo, cabeça levantada, pezinhos de ouro. Paulo Sousa não caminhava sobre o relvado; deslizava. Quando o víamos correr junto de um adversário tínhamos a sensação de que o outro usava chuteiras e ele patins para o gelo - era como se a terra não sentisse os seus passos ou se os seus passos nada pesassem sobre o mundo; gravidade zero, uns pés com asas acima do relvado.

Paulo Sousa é o responsável por ter sido criada a expressão «falso-lento» porque os comentadores não sabiam o que dizer de um rapaz que parecia estar em todo o lado ao mesmo tempo, a dobrar laterais e centrais, a antecipar os lances, a desarmar o adversário, a movimentar-se antes do futuro acontecer. Chamaram-lhe «falso-lento» porque em pique não era rápido mas por alguma razão parecia sempre mais rápido do que os outros. Na verdade, Paulo Sousa não era um falso-lento, era mesmo lento. Não tinha velocidade de ponta, se o puséssemos a correr os 100 metros barreiras com os outros 21 jogadores iria ficar em último, atrás dos guarda-redes. O que ele tinha era a supersónica rapidez de pensamento, que lhe dava a capacidade de ver a jogada antes dela acontecer. E por isso chegava primeiro à bola, por isso desmarcava em passes de 30 ou 40 metros o Paneira na ala direita, o Isaías pelo meio, o João Pinto pela esquerda.

Fazia tudo como se nem suasse. Olhávamos os outros jogadores e todos com um ar desgastado, língua de fora, suor na testa, meias sujas de relva e terra, camisola para fora dos calções, peito aos soluços, costas arqueadas para o relvado. Na disputa do meio-campo daquele princípio de anos 90, tão repleto de equipas com médios sarrafeiros prontos a levar as pernas dos adversários para casa, Paulo Sousa ficava com a bola só com um ligeiro toque. Na «dividida» não usava o corpo para bater de frente; usava-o antes para fingir ir para um lado e logo sair pelo outro. O corpo era assim uma distracção, não um tractor. Com um movimento mentiroso, tirava o jogador do caminho e depois ficava com o terreno todo, com o tempo todo, com a magia toda para entregar de bandeja mais um passe que era três quartos do golo.

Antes de Pirlo, houve Paulo Sousa. Da família genético-genial de Guardiola ou Redondo, coordenava a equipa desde perto dos centrais. Sempre em elegância, suavidade, ternura. A bola procurava-o como refúgio de 90 minutos a ser maltratada. Chegava aos seus pés e ganhava outra cor, outro brilho, outra chama. Era nos pés de Paulo Sousa que ela ganhava fôlego para ir outra vez ser pontapeada por um Celestino, violada por um Paulinho Santos, caluniada por um Bobó. Como este génio pensava muitos segundos antes dos outros, quando a bola ia perdida aos saltinhos para o meio-campo depois de um ressalto qualquer, parecia mesmo que o adversário, que estava mais perto dela a ia ganhar, mas já Paulo Sousa a sabia de cor. Vemos agora o lance em câmara-lenta: o vento passa sobre o corpo dos dois jogadores, a bola vai no meio deles, o público parou todo a tentar perceber quem vai ficar com ela. O adversário estava mais perto mas partiu depois porque não percebeu o futuro que ela levava e assim Paulo Sousa, meio-segundo antes de passarem uns pitons em riste na zona onde estava a bola, só com a pontinha da bota já a desviou do massacre a que iria estar sujeita. Um toque, um pormenor, um samba de uma nota só.

No passe, parecia uma máquina de atirar bolas de ténis. Era só dirigir a mira para onde queria e lá ia ela direitinha cair no espaço atrás das costas da defesa contrária; lá sobrevoava ela todo o campo na horizontal para mudar um flanco que desequilibrava o adversário e deixava um dos extremos com o relvado da Luz todo inteiro para fazer a assistência ou para ir directo para o golo. No futebol, a mania da estatística fura os planos da análise que deve ser feita. A preponderância está em quem marca; às vezes em quem dá. Mas ninguém fala do gajo que faz as assistências para as assistências que dão golo. E é esse, normalmente, aquele que criou o golo, aquele que o potenciou ao expoente máximo de golo que é. 

A assistência para a assistência é o que define o desequilíbrio. Quando a assistência para a assistência ocorre já o golo está para nascer ou se calhar até já nasceu - nós é que ainda não o vimos. Mas Paulo Sousa já o havia visto quando ainda no seu meio-campo deixou de rastos um médio adversário. O resto já está feito e vemo-lo agora: Paneira faz a diagonal da direita para o centro, vai aparecer no espaço entre o central e o lateral, vai cruzar para trás, rasteiro, e o João Pinto já atirou para o golo do Benfica. As bancadas saltaram todas ao mesmo tempo, a Luz está toda cheia de abraços, beijos bandeiras, fumos e vermelho no vermelho. 

No centro do campo, Paulo Sousa com as duas mãos mete o cabelo por trás das orelhas para ouvir melhor o grito de 120.000 almas a gritar: BENFICA, BENFICA, BENFICA, BENFICA, BENFICA!


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Sagres Fora de Contexto



O que dizer sobre mais esta polémica de palha?
Nesta discussão não vejo espaço para falar em decência. Isto nem é uma questão de Futebol mas sim Empresarial. A discussão possível é do foro da Gestão, de estratégia da Sagres.

A Sagres decidiu nesta sua parceria com a Liga aparecer com uma publicidade diferente. Quis ter impacto e acrescentar uma nova dinâmica na sua relação com o futebol português.

Pelo que se vai discutindo parece que a estratégia era ridicularizar o Sporting ou o Patrício. Alguém que pense mais de dois segundos nisto consegue mesmo acreditar nesta possibilidade?

A Sagres imaginou o que seria todas as jornadas fazer um vídeo caricato sobre um (ou mais) dos jogos realizados. A Sagres imaginou o que seria no final de Domingo ter os adeptos à espera de saber qual seria o vídeo que a marca ia lançar, sobre que jogo seria e como seria. A Sagres imaginou ter os adeptos de futebol também a ansiar pelo input da marca nas jornadas do campeonato português

Isto é uma imagem forte. É um marketing poderoso. A Sagres quis ter impacto.

Não vejo qualquer problema no vídeo. Não vejo qualquer problema na ideia. Não vejo qualquer problema na mensagem.

Um resumo em forma de caricatura de um jogo de futebol onde se foca na falha do Patrício e no tombo do Belenenses no último minuto tem sido divulgado como um simples ataque ao Patrício.

Não vejo porque discutir o conteúdo ou qualidade do vídeo mas sim a estratégia da Sagres. Terá sido devidamente analisado o contexto do futebol português? Terá sido bem analisado o timing de lançamento desta propaganda?

Em Portugal já se sabe que há pouco espaço para o que é diferente. Se apontam à nossa “dama” são recebidos à pedrada.
A ideia da Sagres foi boa mas estava praticamente condenada ao falhanço devido ao tipo de adeptos que há no futebol português. Estamos sempre em modo defensivo, em modo guerrilha. 

Mas além desta postura constante era também importante ter em atenção o momento que se vive entre o Benfica e o Sporting. Não era o timing ideal para lançar aquele vídeo. O Sporting de Corte-de-Relações/Sporting-de-Bruno-de-Carvalho não ajuda a possibilitar este tipo de iniciativas. 

A Sagres falhou. Falhou a analisar o futebol português e o momento do mesmo. 

Mesmo já estando previamente definida a data de lançamento, a comunicação da marca deveria ter optado por uma mudança de estratégia, por um adiamento deste.
 
Neste momento um vídeo daqueles sobre um empate do Sporting com o frango do Patrício era lançar lenha para uma fogueira que já está a arder faz algum tempo.
 

A Sagres não tem culpa das limitações do adepto de futebol. A Sagres tem culpa na sua análise de mercado.

Esta iniciativa merecia ter começado noutro jogo e bem distante das susceptibilidades leoninas.
A reacção ao vídeo foi a esperada, as virgens andam muito ofendidas e a Sagres tinha obrigação de estar preparada para isso. Ao retirar o vídeo mostrou não estar.


Quero só acrescentar que não vejo motivo para falar em hipocrisia evocando a questão Je Suis Charlie. A menos que alguém faça ameaças de terrorismo ou realize mesmo um atentado terrorista contra os escritórios da Sagres não há qualquer ligação entre os casos.
Liberdade de expressão não é só para falar mas também para responder.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Samaris, o perfeito exemplo da teimosia de Jesus



Já é mais que sabido que Samaris é um número 8, um jogador forte no transporte, posse e na aproximação à área. Também já é mais que sabido que chegou à Luz para ser o novo número 6 de Jorge Jesus. 

Chegou em Setembro e estamos agora em Fevereiro. Ainda não conseguiu assumir-se como o 6 que o Benfica exige. Naquela posição tem alternado entre jogos maus e jogos medianos. Naquela posição tem cometido erros que não podem ser aceitáveis a este nível.
Estamos longe de ver o melhor Samaris, estamos longe de poder avaliar a real qualidade deste jogador. E com Jorge Jesus duvido muito que um dia Samaris possa finalmente mostrar aquilo que é capaz.
Provavelmente o melhor jogo do grego pelo Benfica foi no fim-de-semana de Alvalade. Curiosamente foi num jogo em que tinha outro médio defensivo ao seu lado.

Foi no referido jogo que vi que Jorge Jesus levará a sua teimosia até ao limite. 

André Almeida é um trinco que tem jogado competentemente adaptado a lateral. Aliás, até o prefiro como lateral do que no meio-campo.
No jogo com o Sporting o treinador do Benfica optou por prescindir de um médio de progressão (Talisca) e por reforçar defensivamente o meio campo com a integração do trinco André Almeida. Com Samaris e o André no miolo de jogo era esperado que o grego assumisse mais a bola e a ligação ao ataque e que o português jogasse mais fixo nas compensações defensivas.
Mas a teimosia de Jorge Jesus em definir o Samaris como o seu 6 fez com que nem neste jogo e nem nestas condições este avançasse ligeiramente no terreno.
Foi o André Almeida o médio mais ofensivo destes dois defensivos.
 

Depois do Derby fiquei com a certeza que mesmo com Fejsa operacional para competir ao mais alto nível o Samaris continuaria naquela posição. 

Ofereçam a Jorge Jesus um Gattuso, um Busquets, um Petit ou o Javi Garcia e ele os colocará a jogar à frente do Samaris como médios mais ofensivos e criativos.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Actualidade no Benfica



O que tenho visto é um plantel do Benfica com qualidade para o campeonato mas não para voos mais altos.
Esta época não estivemos à altura em nenhum dos jogos mais exigentes. Os dois jogos com o Mónaco foram os mais bem conseguidos mas longe de impressionarem.

Muito se tem falado que no inicio da época ninguém pensaria que à vigésima jornada estaríamos com mais 4pts que o Porto e 7pts que o Sporting. É verdade mas é redutor.
Vimos de uma época de imenso sucesso desportivo com a conquista dos 4 troféus nacionais com presença em uma final da Liga Europa, contudo arrancamos este Fevereiro eliminados da Europa e da Taça de Portugal.
Não trocaria de lugar com o Sporting mas provavelmente com o Porto sim.
O plantel não tem qualidade para grandes ambições e o treinador não faz milagres e também não é tão fantástico como muitos acreditam. 

A direcção permitiu (ou foi forçada por obrigações e necessidades financeiras desmentidas) que os melhores jogadores do saíssem e agora é ver a equipa muito dependente do génio do Gaitán para fazer a diferença.
O Jorge Jesus aplica uma enorme intensidade nos seus jogadores, trabalha muito e ensina muito. Infelizmente não aprende. Não se sabe adaptar ao plantel que tem nem à exigência dos jogos. A sua leitura do jogo parece sempre muito condicionada pelo seu ego e necessidade defender as suas ideias. Talvez por aqui se explique porque as substituições de Jorge Jesus só para si façam sentido.

Com 14 jornadas para disputar resta-nos saber manter a liderança no campeonato e ganhar a Taça da Liga.
Teoricamente a próxima jornada, recepção ao Setúbal, será o jogo ideal para fazer a transição do Derby e organizar as hostes para o resto do campeonato.
Depois segue-se um ciclo crucial de 5 jogos complicados: fora com o Moreirense, casa com o Estoril, fora com o Arouca, casa com o Braga e fora com o Rio Ave.

Portanto disputaremos os dois jogos caseiros mais complicados do que resta da competição, à excepção da recepção ao Porto, e ainda teremos deslocações a terrenos propícios ao empate ou a vitória pela margem mínima. 

Para o que resta da época projecto 4 grandes objectivos:
1º Bi-Campeonato
2º Vencer a da Taça da Liga
3º Finalmente derrotar o Braga esta época.
4º Receber o Porto com uma vitória e exibição ao nível da última recepção.
 

Infelizmente terminaremos a época sem uma vitória sobre o Sporting.


Não saias da frente Guedes!



Belo jogo que fez o “nosso” menino ontem. Mais que o penalti que conquistou, mais do que a bola que fez explodir na trave, gostei sobretudo da sobriedade com que jogou. Nunca quis provar numa jogada o que tem para mostrar durante a vida.

Jogou, fez jogar e, mais que tudo, demonstrou bons momentos de jogo sem bola. Isto tudo em 60 minutos de um menino com idade júnior, nunca é demais lembrar e é imperioso nunca esquecer.

O jogo de ontem correu bem, outros existirão que correrão menos bem, o importante é manter presente a idade que tem e a margem de evolução que isso representa. O imprescindível é entender que para evoluir terá de fazer do erro uma componente do seu jogar.

A certeza que me fica do jogo de ontem é a de que Gonçalo Guedes, no mínimo, deve entrar nas equações dos jogos que temos pela frente, porque o que pode acontecer de pior? Vê-lo errar, porque outros há mais velhos que erram de igual forma ou, no limite, de forma ainda mais gritante.

Pouco importa quem, do 11 base, deverá sair, em determinado momento, para dar lugar ao miúdo, o importante mesmo é que ele possa ter minutos importantes com os melhores. E qualidade para ir tendo esses minutos, já demonstrou que a tem.

Vamos com calma, mas não deixemos de ir… Agora!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Porque não gosto de JJ



Ao longo dos tempos tenho sido muito crítico de JJ, ainda que também não me coíba de lhe elogiar as competências evidentes, que as tem.

Raramente sou compreendido e facilmente apelidado de “não benfiquista” ou retorquido com a frase “deves querer o Quique de volta”.

Lamento, mas sou Benfiquista desde que me conheço por gente, e não, não acho que nos últimos anos tenhamos exemplos de melhores treinadores que JJ a comandar o Benfica. Tão só não gosto da personagem que JJ representa (mas isso é quase irrelevante), mas sobretudo não gosto da sua ideia ofensiva do jogo (e esta é a parte realmente importante.

O jogo de domingo último, bem como quase todos os jogos de grau de dificuldade elevado, são o melhor exemplo para explicar as razões pelas quais acho JJ um treinador que não me enche as medidas.

No domingo, é inegável, o Benfica apresentou uma qualidade defensiva ao alcance de muito poucas equipas na Europa. Sim, eu disse mesmo da Europa, e posso estender ao panorama Mundial sem qualquer esforço ou simpatia.

De facto, vejo pouquíssimas equipas no mundo com a qualidade defensiva que o Benfica apresenta. Linhas compactas, profundidade (espaço nas costas da linha defensiva) muito bem controlada, e espaço interior bem fechado. Prova desta qualidade, foi a inoperância ofensiva que o Sporting apresentou durante todo o jogo. A equipa leonina, pouco mais fez que colocar bolas nos corredores e, a partir daí, efectuar cruzamentos, calmamente resolvidos pelos nossos centrais, que nunca foram apanhados e/ou obrigados a grandes desposicionamentos.

Neste momento do jogo, o Benfica foi absolutamente imperial e perfeito, sendo que o único lance em que a equipa aparece realmente descompensada defensivamente (o do golo do Sporting), nasce por erro individual de Samaris e não por acção individual ou colectiva do adversário.

Acreditem, acompanho vários jogos de vários campeonatos ao longo da semana e não encontro muitas equipas com esta qualidade de comportamentos colectivos defensivos.

O que me leva a não gostar de JJ, ou a não achar, se quiserem, que estamos na presença de um treinador top a todos os níveis é a sua ideia de jogo no momento ofensivo do jogo.

Como também vimos em Alvalade, raramente o Benfica foi capaz de sair das zonas de pressão com critério e a bola controlada. À excepção dos momentos em que a equipa encontrava Jonas em zona de construção, o Benfica não conseguiu construir uma jogada com cabeça tronco e membros desde trás, e porquê? Porque, na minha opinião, a saída de bola do Benfica baseia-se muito na condução da mesma que os seus jogadores sejam capazes de fazer. Ora, com um Sálvio muito complicativo (como sempre, mas mais notório frente a equipas e jogadores melhores), com um Ola John ausente do jogo, pese embora todo o talento que tem, sem um jogador de transporte de bola em espaço interior, onde A. Almeida e Samaris se mostraram curtos no momento ofensivo, o Benfica basicamente não existiu nesse momento do jogo.

Há quem diga, e eu concordo, que o Benfica de Alvalade, foi o mesmo Benfica do Dragão, mas sem Enzo e Gaitan. E a ausência destes dois jogadores fez toda a diferença relativamente ao jogo disputado no Porto. Qualquer um deles era/é altamente capaz de sair de zonas de pressão com a bola controlada, para depois entregar em zonas de finalização. Sem estes, o Benfica ficou amputado do seu momento ofensivo.

E é por esta ideia de construção que não gosto de JJ. Porque esta ideia de construção exige jogadores de características muito específicas e que sem eles condena a equipa ao momento defensivo do jogo, como se viu no Domingo.

Gosto de uma ideia que passe por uma saída mais apoiada e baseada em passes do que em condução. Podem dizer “o que tu queres é o Barcelona ou Bayern” ou frases do género, o que vos digo é que nem só o Barcelona ou Bayern vivem desta ideia (ainda que seja quem melhor a interpretem no mundo), nem JJ será um treinador completo e vencedor se não tiver jogadores que sejam capazes de cumprir os seus requisitos à risca.

Basicamente, o que acho é que esta ideia de jogo ofensivo é pouco maleável e está muito vulnerável à capacidade individual de cada jogador, logo, muito dependente das ausências e/ou presenças de determinados jogadores.