domingo, 27 de março de 2016

A melhor frase de Rui Vitória desde que chegou ao Benfica.


"Se tivesse falado apenas de futebol a estes jogadores, nunca teria ganho a taça"


sexta-feira, 25 de março de 2016

Daqui a pouco há Selecção



Reconheço o desinteresse crescente que há na nossa Selecção Nacional. Não existe uma ligação entre a equipa nacional e os portugueses.

É evidente o que cada vez os adeptos ignoram mais a Selecção e focam mais nos seus clubes e muitos são aqueles que vibram mais com o Cristiano Ronaldo do que com a equipa nacional.
“Que se fod* a Selecção, eu sou do Benfica”

Eu afasto-me muito desta cultura. Sempre vibrei muito com a Selecção, sempre vivi os jogos da selecção, já gritei, pulei, cantei e chorei muito com a nossa Selecção.
Sou um romântico no que toca à Selecção Nacional. Gosto que os jogadores do meu clube sejam convocados para as suas selecções e que joguem. Gosto de ver a Selecção Nacional recheada de jogadores do Benfica.
Percebo a preocupação com o cansaço e com as lesões mas do mesmo modo que acredito que uma equipa beneficia no campeonato pelo facto de ir ganhando na Europa, também acredito que o rendimento dos jogadores no clube sai beneficiado pelas suas internacionalizações.

E atenção, não estou nem vou criticar quem olha para a Selecção e para o Futebol de forma diferente da minha.
Simplesmente acho que o gostar e viver a Selecção não me reduz em nada a paixão pelo Benfica.

Os responsáveis pela Selecção Nacional andam perdidos deste os tempos do Humberto Coelho. Scolari foi um tiro de sorte. Contrataram um motivador a pensar que estavam a contratar um treinador. Com a equipa que tínhamos, com os jogadores que tínhamos e com um Europeu a ser realizado em Portugal, um excelente motivador foi o necessário tanto para 2004 como para 2006.

Carlos Queiroz foi um erro e Paulo Bento, ao não ter saído logo em Julho de 2012, rebentou com tudo o que é uma Selecção Nacional.

As convocatórias inexplicáveis juntamente com exibições deprimentes e uma clara falta de liderança, tem criado esta nuvem cinzenta à volta da Selecção das Quinas.

Cristiano Ronaldo é um falhanço enquanto capitão e quem o escolheu e manteve também o são. Um jogador não pode ser capitão só porque é o mais famoso e galardoado.

O Fernando Santos tem agora de atravessar este deserto para se livrar da sombra do antigo seleccionador.
Os jogos foram ganhos, novos jogadores apareceram e Portugal está no Euro e aponta para bem alto.

Agora falta Futebol. É crucial melhorar muito as exibições, não fazer a equipa depender da inspiração de um só jogador e saber deixar cair jogadores que estão a mais nas convocatórias há muito tempo.

E hoje é o dia em que se tem de dar este passo.
Não há motivo para sermos uma Selecção de mentalidade pequena e de futebol pequeno.

Não temos Figo, nem Rui Costa. Não temos Paulo Sousa nem Deco. Não temos Fernando Couto nem Miguel. Mas temos muito talento e muita qualidade que não podem mais ser ignorados.

Esta convocatória já é uma evolução relativamente ao passado recente mas ainda está longe de ser a ideal.

Quero uma equipa com uma dupla de centrais entrosada e de qualidade. Ser alto e forte não pode ser prioritário ao saber ler os lances, fazer as coberturas e ter qualidade na bola no pé. Os laterais têm de ter uma excelente combinação com os extremos, coragem para atacar competência para defender. O meio-campo tem de se equilibrar nos desequilíbrios. Homogeneidade não é equilíbrio. É essencial um trio de rasgo, velocidade, drible, leitura de jogo e capacidade de passe. Quero três jogadores diferentes com funções diferentes e que criem um entrosamento e não 3 jogadores iguais a jogar no mesmo espaço e a insistir na pasmaceira da segurança. Quero ver um ataque móvel, com bola no é e alegria pelo jogo. Chega do jogo directo para o jogador do costume na esperança que surja o espaço para finalizar.

O meu 11 para defrontar a Bulgária:

Patrício ou Anthony Lopes.
Ambos têm qualidade para a Selecção. O Patrício é o titular mas há ainda o jogo com a Bélgica.

Vieirinha, Pepe, José Fonte e Eliseu.
Há muitas ausências para este jogo – Coentrão, Ricardo Carvalho e Nélson Semedo por exemplo. Quero ver mais do Vieirinha. O Raphael Guerreiro conheço pouco e parece-me menos preparado que o Eliseu.

Danilo Pereira, João Mário e João Moutinho.
Sempre vi o William Carvalho como o nosso 6 titular mas neste momento o Danilo está muito melhor. Gosto muito do André Gomes mas a dupla Moutinho e João Mário parece-me dar mais colectivamente à equipa.

Rafa, Bernardo Silva e Ronaldo.
Este é o trio dinâmico que quero ver jogar. O Nani e o Danny são também opções mas ambos andam longe das grandes performances. Estes três tanto podem dar largura, profundidade e jogo interior ao nosso ataque. A convocatória não me permite ponderar um ponta de lança – o Nélson Oliveira seria o que melhor se encaixaria. Este trio exige grande dinâmica de outros sectores. Vieirinha, Moutinho e principalmente o João Mário são essenciais neste processo.

Cruyff




"Todos los entrenadores hablan sobre movimiento, sobre correr mucho, sobre velocidad.
Yo digo que no es necesario correr tanto.
El fútbol es un juego que se juega con el cerebro.
Debes estar en el lugar adecuado, en el momento adecuado, ni demasiado pronto ni demasiado tarde."

quarta-feira, 23 de março de 2016

Simão, o botão "ON" do Benfica


Simão Sabrosa. Dizemos este nome em voz alta e o espírito glorioso voa directamente para o seu pé direito amanteigado, para a sua chuteira feita de queijo da serra. Era um pontapé em colher que arredondava as arestas do jogo. Em remate aveludado, a bola seguia para o golo largando no ar pozinhos de açúcar, deixava nas redes o creme de um pastel de nata a cair lento para o relvado.

Dizemos o nome Simão Sabrosa, um nome que evoca dentro de nós a ressurreição do Benfica. O homem que, de bola no pé, lá em baixo, no relvado, lentamente nos foi acordando do nosso autismo cheio de tristeza e mágoa. Foi assim: adormecidos desde 95, íamos ver o Benfica porque não podíamos abandonar o Benfica. Seguíamos, zombies, pelas estradas do país; mortos-vivos, bebíamos nas barracas, em frente a fogareiros e repastos; falávamos uns com os outros, fingíamos que ainda era a mesma coisa. Mas não era. Foram anos, demasiados anos, a ver o Benfica definhar. A ser outra coisa.  Eram mau jogadores, eram maus treinadores, maus presidentes,  mas era mais do que isso: era um Benfica envergonhado de ser Benfica. Um Benfica que se tinha esquecido de ser Benfica.

Desde 1995, o nosso ritual religioso: íamos ao estádio rezar preces, ter esperanças, cumprir o dever benfiquista. O João Pinto espalhava génio sem piano a acompanhar. O maravilhoso Michel, o irreverente Karel, a doce ternura de uma quase-vitória. Apresentávamo-nos na Catedral, cumpríamos. Tínhamos o amor - temos sempre o amor - mas faltava-nos a loucura de uma paixão feita de aventuras, viagens e sonhos. Não tínhamos sonhos, tudo era assim-assim. Os anos foram passando e nada. Comprávamos A Bola à espera de um milagre. Vieram novos Presidentes, veio o ano 2000, novos treinadores, novas promessas. Mas nada. Continuava tudo assim-assim. Assim sem fim. No relvado, nos tribunais, nas rulotes e nos céus, o Benfica chorava. Nos novos empreiteiros do Benfica, nas obras, nas estruturas, o Benfica chorava.

Até que alguém no Terceiro Anel acordou o benfiquista do lado:

"Olha lá, vê lá se eu estou a delirar. Parece-me que há ali Benfica"

O Simão corria por uma ala. Fazia um compasso de espera, olhava o adversário, com a parte de fora da chuteira cheia de açúcar metia para dentro.  Rematava para um golo que era a alma toda do Benfica. Depois marcou outro igual. Depois, em vez de ir para dentro, foi para fora e cruzou. Depois marcou livres, marcou cantos, cabeceou, rematou de esquerda, fez tabelinhas, abraçou os jogadores, pediu-lhes a glória porque "isto é o Benfica!".

Quando demos por isso, já o Simão era o motor que fez vibrar 2005. O botão ON de um grito que esperava desde 94 dentro das malhas dos nossos cachecóis, das camisolas dentro de gavetas, das bandeiras que guardamos na bagageira, dos bibelôs, das  canecas, das mantas do Benfica que aquecem os Invernos. Simão Sabrosa carregou no interruptor, abriu as águas de uma barragem sem força para aguentar 11 anos de pressão desesperada sobre o betão.  O povo benfiquista saiu enlouquecido às ruas. Finalmente, o Benfica espalhava-se pela alegria.

2005 foi o grito que libertou o Benfica para a sua magia de Benfica e mostrou que um pé cheio de açúcar, em colher, "nesta curva tão terna e lancinante" pode fazer o milagre de ressuscitar um clube. O Simão foi o botão ON da electricidade mística.  


sábado, 19 de março de 2016

AQUELE ABRAÇO DO GOLO (PARA O MEU PAI)



Quando o Simão recebe a bola no meio, a ajeita com um afago e remata para a baliza de Reina, a sala ficou por uns momentos parada, comigo, o meu Pai e a Joplin - a cadela - todos no ar à espera do golo.

Se pudéssemos voltar a esse momento e o congelássemos em pause, notaríamos os nossos joelhos flectidos, as bocas num princípio de entoação e os braços a crescerem para o tecto. A cadela em salto do sofá para o chão, apanhada a meio da viagem, em voo, as patinhas da frente esticadas, o pêlo todo para trás e as orelhas distorcidas. Na televisão, ver-se-ia a bola na zona do penálti, pelo ar e Reina num gesto horizontal de desespero.

Atente-se nos copos de cerveja em diagonal, gotas de líquido paradas na atmosfera, pratos de amendoins oblíquos e ervilhas de salada russa pulando acima da linha da mesa, tapando metade do ecrã entre o poste esquerdo e a cabeça de um defesa do Liverpool. O fumo dos cigarros verticalíssimo e também em ondas, congelado no tempo como uma pintura abstracta - com detalhe, ainda é possível ver figuras imaginárias que o fumo faz. Os cabelos do meu Pai soltos e para trás e a minha mão num gesto de movimento que faz desfocá-la.

Como se estivéssemos empurrando a bola para o golo, há dois pés - um do meu Pai, outro meu - que a chutam no ar por debaixo da camilha e a cadela salta para o cabeceamento oportuno. Vêem-se ainda, se bem observado, os nossos braços em trânsito um para o outro, como se o golo fosse apenas a desculpa para um abraço.

Não há forma possível de voltar a esse lugar. Ainda o mundo nos não permite a congelação em arca frigorífica dos lugares mágicos, junto aos hamburgueres e bifes de peru. Talvez um dia alguém muito mais novo que nós - porque nascido num mundo mais velho que este - invente a propriedade essencial com que se constroem as máquinas de refrigeração dos segundos antes do golo. Por ora, e sem tecnologias adequadas, coloquemos o dedo no play e vejamos o que acontece.

Explode a bola nas redes! Caem amendois, pedaços de chouriço, o pão voa na direcção da lareira, todas as cervejas inundam a mesa e, como cascata, vão descendo numa visão surreal de quotidiano mal explicado. O golo é cantado com mil gargantas dentro de duas, eu e o meu Pai abraçamo-nos, a cadela assusta-se e foge para debaixo do móvel. Na televisão, os jogadores do Benfica vão de cinzento em direcção a uma câmara. Até Beto e seu cabelo amarelo faz parte da trupe.

Nada disto vimos, envoltos num abraço milenar povoado de sonhos e alegria. Quando mais tarde virarmos os olhos para o ecrã, já o Liverpool ganhou um fora na direita ofensiva. Mas nada disso conta para esta história. Nada importa que não seja já sabido - Miccoli faria mais tarde, bem mais tarde, uma bicicleta que o faria correr que nem um louco para os olhos do próprio Pai, no meio do apocalipse benfiquista de Anfield Road.

Hoje não haverá Pai nem haverá Joplin. Estão os dois parados no meu tempo e na minha memória, como entidades que sobrevivem ao passar dos minutos e horas e dias. Congelei-os dentro do coração, sem máquinas avançadas nem ciências transcendentais.

Para hoje peço que muitos joelhos flectidos e muitos abraços no abismo do abraço aconteçam. Com amigos, entre amigos, em família. Um estádio todo suspenso no ar e as bolas em trânsito mortal para o golo.


RELATÓRIO DO ADEPTO PARA O MISTER VITÓRIA - BAYERN DE MUNIQUE




- Na saída de bola, se for pressionada logo na sua área, a equipa alemã sente algumas dificuldades, especialmente quando está impedida de jogar com os seus melhores centrais,  Os erros são recorrentes, originando várias ocasiões de golo e golos ao adversário. O Porto o ano passado beneficiou de dois lances desse tipo para marcar dois golos na primeira mão; a Juve este ano voltou a optar por deixar 3 numa pressão mais alta e outros 3 nas costas, não tendo medo de partir o jogo. Resultado: 1 golo e 2 situações claras para marcar.  Claro que esta é uma opção de risco porque, se a equipa não se souber posicionar correctamente, bastará um passe vertical para criar uma superioridade numérica no nosso meio-campo com todo o perigo que daí advirá.

- uma forma de tentar condicionar as rotinas da equipa de Guardiola passa por não ter medo de partir o jogo, podendo subir em pressão com 2 ou 3 jogadores e deixá-los à frente da linha de disputa da bola. Criada a situação de transição rápida,  será preciso ter 3 elementos cruciais: criatividade, decisão,  velocidade. Jonas e Pizzi para os dois primeiros, Gaitán para o primeiro e terceiro, Jiménez para os dois últimos. Estes 4 jogadores, podendo ter apoios de Sanches e/ou de um lateral, podem criar situações de perigo na baliza alemã se a equipa estiver posicionada em campo sempre preparada para assumir uma movimentação mais corajosa do ponto de vista defensivo.

- o pior que pode acontecer é aceitar o plano de Guardiola,  que passa por remeter os nossos 11 jogadores a um bloco escondido na nossa grande área. A qualidade com que o Bayern desposiciona o adversário, criando pequenas farsas numa ala para depois sair rápido pelo centro ou na mudança do flanco serão letais para uma equipa com pouca qualidades nos laterais e centrais. Fejsa, esperemos que esteja apto, pode ser fundamental na liderança de posicionamento no miolo. Luisão infelizmente não está, o que é uma péssima noticia. Nem Jardel nem Lindelof têm capacidades motivacionais nem estatuto para liderar a movimentação colectiva da linha defensiva.

- Jiménez em vez de Mitroglou. Se o grego tem mais golo, o mexicano decide muito melhor. Se o grego "prende" os centrais adversários, Raul desprende-os das zonas onde se sentem confortáveis.  Contra Guardiola é preciso forçar o desposicionamento, crucial enganar o conforto das rotinas que a sua equipa tem. Além disso, para saídas rápidas e mesmo na necessidade de compensar a subida de um colega é um jogador que tem mais qualidade para entender o espaço que deve ocupar.

- Os cruzamentos do Bayern. É importante não confundir os cruzamentos de uma equipa que, em 10, em 8 vezes tem um objectivo claro e só cruza tendo criado a situação ideal para os mesmos e uma equipa que, em 10, só por 1 ou 2 vezes não atirou um balão sem nexo para a molhada. O Bayern quando opta por esta solução geralmente já criou as condições de desequilíbrio que lhe permitem apostar numa bola alta, mudando o flanco, para aparecer alguém a assistir para o meio. Ou então directamente para um jogador que está sozinho e bem posicionado para o golo (não está metido entre 10 mecos). Achar que  qualquer bola alta enviada para a grande área é um cruzamento é como dizer que Guardiola e Graeme Souness são treinadores de futebol: não deixa de ser verdade, mas não contém verdade nenhuma dentro.

- Renato Sanches, uma esperança e um perigo. Se na progressão com bola pode ser o factor de rasgo de que precisamos, a forma anárquica como se movimenta, não raramente perseguindo um jogador (indicações de Vitória?) e deixando a zona central desprotegida, pode ser a chave para o jogo interior dos alemães. Sem mexer nos princípios gerais da equipa, diria que Vitória deveria trabalhar alguma contenção do puto. Isto de ser "selvagem" é muito giro, mas em futebol é preciso mais do que força, técnica e velocidade. Compreensão do jogo, capacidade de antecipação mental dos lances, decisão. Tudo elementos que que o jovem Sanches ainda está por compreender.

- Evitar o apelo das marcações individuais. A equipa deve funcionar defensivamente de forma harmónica,  em coberturas e apoios, sem elementos saindo do palco em busca de uma sandocha de presunto nos camarins. Defender a zona, defender a baliza. É a bola e o espaço que importam, não é preciso assediar o jogador.

- Ter bola. Para ter bola é preciso ter em campo quem sabe ter bola. É por isso que Jonas, Gaitán,  Pizzi, Jiménez, Sanches e Lindelof são obrigatórios.

- Para passarmos a eliminatória vamos ter de ser perfeitos, o Bayern muito imperfeito e termos alguma sorte. Difícil? Muito. Impossível? Qualquer benfiquista sabe que neste clube não há impossíveis.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Champions Empolga-me

Liga dos Campeões

Quartos de Final

Benfica europeu

Bayern vs Benfica

Pep Guardiola vs Rui Vitória

Ver o Benfica na Champions ao vivo.

Ver o melhor treinador do mundo na Luz ao vivo.

Ver este Bayern ao vivo na Luz.

Até tremo

Não de medo

Mas sim de um misto de ansiedade e entusiasmo.

"Se fosse fácil não era para nós."

Road to Milano até ao 35


Azar e o sonho

Em 20 jogos, a equipa do Bayern ganhará 18 ou 19 à equipa do Benfica. Mas há 1 ou 2 jogos, por razões em que o futebol é rico, que podem cair para o nosso lado. É essa luz de um sonho lindo que devemos perseguir, sem perder a noção da realidade e de que o campeonato é o sonho mais palpável.


TOLERÂNCIA ZERO PARA A ESTUPIDEZ

"Para os sócios do Boavista há ainda bilhetes a 5 euros para a Bancada Sul e a possibilidade de adquirirem por 15 euros um bilhete de acompanhante, tendo este de entrar com um adereço alusivo ao clube local. Não serão permitidos para os acompanhantes adereços relativos ao Benfica."

Uma das coisas que adoro no meu clube, no meu estádio e na maioria dos nossos sócios ou simpatizantes é a sua superior tolerância face aos adeptos dos clubes rivais. A título de exemplo, lembro-me dos dois jogos que perdemos este ano em casa, com sporting e porto. No jogo com o sporting o estádio tinha imensa gente de verde, fora dos lugares destinados ao clube visitante. Todos em festa. Os camarotes estavam cheios de gente com cachecóis do sporting, a festejar como se não houvesse amanhã. O mesmo se passou com o porto, pelo menos à minha frente. Estava um grupo de atletas, talvez uns 50, com convites. Alguns deles manifestaram-se bem alto, nos golos do porto. Idem noutro jogo, cheio adeptos do Atletico de Madrid. Ninguém lhes disse ou fez nada. E é assim que deve ser, que sejamos civilizados e tolerantes. Isto não acontece em alvalade nem no dragão, normalmente. Sobretudo relativamente a adeptos do Benfica. É certo que nem tudo é perfeito, no reino da Luz, mas somos, de longe, o melhor anfitrião entre todos os grandes e os "meio grandes". Talvez mesmo entre todos os clubes da primeira liga.

É claro que preferia que os senhores do "corporate club" dessem os seus bilhetes a benfiquistas. Aliás, preferia que os lugares nobres do estádio só pudessem ser adquiridos por benfiquistas sócios. É o que me faz mais sentido. E que em jogos grandes deixassem lá a merda dos convites de lado, aliás, metessem mesmo a merda dos convites bem fundo no real traseiro, e passassem a vender os bilhetes aos sócios. Se os sócios não os esgotarem, então convidem.
Mas aquilo que nunca aceitaria é que um atrasado mental qualquer me viesse dizer que eu até podia comprar bilhetes de acompanhantes mas que não podia trazer acompanhantes que não fossem do Benfica. Qual pulha pidesco, se algum filho de uma grandessíssima e rebarbadérrima rameira me viesse dizer que, no meu estádio, no nosso estádio, no estádio do Sport Lisboa e Benfica, as pessoas não são livres de escolher por quem querem torcer, nem tão pouco serão livres de escolher a roupa que usam, eu mandava-o fazer meninos consigo mesmo.

Sabemos que este é um país com dois clubes, o Benfica e o anti-benfica. As instituições, no entanto, mereciam mais respeito. Se eu fosse sócio deste próximo clube visitado, com tanta história, não podia deixar de dizer à direção que não passam de uma cambada de energúmenos, pequeninos e ridículos. E, já que estamos nesse registo, diria também que estas situações só têm servido para fortalecer o Benfica, os benfiquistas e, sobretudo, o balneário.
Rui, mostra lá isto aos jogadores, como um bom professor, e pede-lhes para festejarem com os adeptos no final daquela que, esperemos, seja mais uma vitória rumo ao tri.

http://www.sabado.pt/ultima_hora/detalhe/boavista_benfica_dois_niveis_ja_esgotados.html

terça-feira, 15 de março de 2016

A BOLA É MINHA

https://www.youtube.com/watch?v=6d7TZlbReAE

 CRÓNICA EM TORNO DO SEGUNDO GOLO DO BENFICA-TONDELA

A história deste golo já foi amplamente contada. Em imagens, com ou sem relatos, e até por posts e mensagens.

Mas, para mim, há um momento particularmente nostálgico, e muito bonito, que é digno, pelo menos, de referência. E apetece-me honrá-lo.

Uma grande jogada de entendimento, quase toda ao primeiro toque, é sempre memorável. Sobretudo quando culmina em golo.

Pizzi dirige-se para a baliza, depois do remate de jonas. Ainda estica o dedo, para o passe, mas Jonas marca, magistral. A bola bate nas redes pouco depois de Pizzi passar a linha da grande área, e este, ao aperceber-se do golo, abre os braços em voo de festejo. Mas continua a correr para a baliza!?! Já era golo! Estava feito o 2-0 e até se antevia uma possível goleada. Não havia pressa nenhuma para repor a bola em jogo. E, no entanto, ele agarra a bola em acto quase solene, e mete-a debaixo do braço. E é-me tão familiar, este abraço. Corre depois para Gaitan, aliás, todos correm para Gaitan, como se soubessem que esteve ali o centro de gravidade daquele momento mágico. Reconheceram-lhe automaticamente, e de imediato, o mérito de orquestrador-mor nesta obra prima. E agora são todos putos, a jogar futebol de rua.
Era assim, quando estávamos dentro de um jogo. Percebíamos praticamente todas as nuances, e os protagonistas dos momentos especiais ficavam identificados quase instintivamente. Pizzi foi aquele que ficou encarregue de trazer a bola abraçada, para fazer parte dos festejos.

A bola é uma coisa muito importante, quando se ama o jogo. Este amor pelo objecto é um amor puro, muito bonito, que nada tem a ver com o dinheiro. Era assim que jogávamos à bola, quando éramos putos. Num qualquer quintal, num passeio, nos mil campos improvisados algures pelos recreios de todas as escolas.

A bola é muito importante, e só quem a joga é que sabe muito bem disso. Adoramos também o objecto, não apenas pela sua utilidade, mas por todo o significado. Lembro-me de dormir agarrado à minha “bola de cautchu”, quando era novinha em folha. No dia seguinte, enquanto combinávamos o jogo de domingo de manhã, o meu amigo Tiago perguntou quem é que trazia a bola. Adiantei-me imediatamente. “E é de cautchu?”, perguntaram-me, quase em uníssono. “Sim, é de Cautchu. E é novinha!”, respondi, orgulhoso. Sabia que, depois do jogo, já não poderia dormir mais com ela. Mas uma bola sem uso é pouco mais do que a hipótese de um sonho. É precisamente depois do primeiro uso que a bola ganha toda a transcendência essencial. Riscos e sujidade, marcas de vários percursos que oscilam entre a tristeza e a glória, momentos gravados à lei do chuto. Com essas inscrições colectivas, deixava de ser só minha e passava  ser de todos. E era mesmo assim, suja e estafada, que, depois de um golo, vinha enrolada debaixo de um dos nossos braços, resgatada do "fundo" de uma qualquer baliza improvisada, para festejarmos todos com o Nico do momento.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O pontapé de canto é um aristocrata falido


O perigo num pontapé de canto é sobrevalorizado. Por a bola estar parada, acha-se que o lance é mais perigoso do que um qualquer cruzamento em bola corrida quando tanto um como outro são geralmente lances desinteressantes do ponto de vista ofensivo. É evidente que se tivermos superioridade numérica na área adversária ou especificamente um jogador da nossa equipa sozinho em zona de finalização não será má solução assisti-lo através de cruzamento mas, regra geral, estar a atirar balões para uma catrefada de jogadores é deixar o destino não às mãos de uma maior probabilidade de êxito mas apenas à sorte (um ressalto,  um mau posicionamento adversário, um erro individual). É mais religião e menos futebol.

O canto pode ser interessante se usarmos o facto de ele ser desinteressante para nós mas interessante para a equipa adversária.  Ou seja, jogar com o facto de o adversário levar muito a sério isto dos cantos. E então surpreendê-lo com saídas de bola estudadas e organizadas para usar o posicionamento da outra equipa. O Barcelona, por exemplo, despreza constantemente a bola alta só porque é canto; sai com 3 e 4 jogadores pelo chão, entrando na área adversária pela surpresa de movimentos, criando novos perigos, novos caminhos para o golo. Contra o Benfica, Jesus também tentou este tipo de solução, conseguindo várias vezes superioridades numéricas na zona lateral (3 e 4 contra apenas 2 jogadores na zona entre a linha lateral e a entrada da grande área).

Ora, ter o adversário todo enfiado à frente da baliza pode ser uma vantagem crucial para criar desequilíbrios assim que se procure a zona da bola. São jogadores que estão com espaço,  com algum tempo e sobretudo de frente para a baliza, observando todo o movimento das partículas dentro da área adversária. As soluções aparecem, diagonais, mudança de flanco, passe de ruptura, até o remate. Mas, antes do perigo, o essencial: não atirando uma bola para o acaso da maralha, a posse continua nossa. A bolinha, a pelota, continua jogada pelos nossos pés. Com ela poderemos fazer o que bem entendermos em vez de a desprezarmos pelos céus; se a atiramos assim dessa forma tão leviana sabe-se lá o que o destino lhe terá reservado. Pelo sim pelo não, melhor tentar ir pela relva. É no chão que a redonda gosta de rolar.


O dia do jogo do Benfica




O dia do jogo do Benfica é sempre um dia especial. Podem vir anunciados meteoros nos telejornais, tempestades medonhas, uma crise de pão e leite, eleições, mais uma manifestação, greve dos trabalhadores, a sogra que vem almoçar. Nada interessa muito. Fingimos para o mundo que é mais um dia, cumprimos o ritual de acordar e fingir viver como se nada fosse.

Cumprimentamos a sogra, preocupamo-nos com as notícias das televisões, dizemos «se este meteoro chega a cair, é o fim», mas no fundo o único fim que há é o do final do jogo do Benfica.

Podemos estar a dois passos do Estádio ou no outro lado do mundo, quando o Benfica joga nós paramos a vê-lo. Antecipamos o jogo. Sonhamos com o jogo. Dormimos agarrados ao jogo. Na noite anterior fazemos os onzes, o que em princípio vai entrar em campo e o que nós preferimos. Deitamos na cama, começamos a contar peças, a escolher posições, os jogadores que queremos no relvado, os jogadores que não queremos mas aceitamos - afinal, o mister é que sabe, é ele que treina com eles durante a semana. Olhos no tecto, noite cerrada, falamos baixinho para não acordar a pessoa ao lado. «Devíamos começar assim» e depois dissertamos no cérebro toda uma lógica táctica ou só uma vontade que temos para a vitória. Queremos que o Benfica ganhe, não é?

No dia do jogo fazemos coisas. Temos de fingir que há coisas a fazer. E fazemo-las com todo o denodo e devoção, as outras pessoas não podem perceber que o único pensamento que nos sobrevive é o de esperar religiosamente por ver o Benfica. Somos bons a disfarçar. Quem olhasse para nós e não nos conhecesse, diria até que nem ligamos para futebol, que parecemos sãos, que um dia seremos gente importante. Mas há indícios que os outros não vêem, ou fingem não ver, que nos denunciam. Há um qualquer nervosismo que nos denuncia; comemos mais rápido, não comemos de todo, falamos muito ou calamo-nos num olhar no vazio.

O almoço de família vai animado, dizem-se graçolas com os dentes na tarte de maçã, bebem-se cafés, sorvem-se digestivos. O que se passa, então, com aquele benfiquista que nervosamente olha o relógio, não ri do que é dito, se esquece de brindar? Que tem dois olhos estáticos na eternidade, as mãos inertes, a boca sem graça?

O benfiquista acha que finge bem. Que não dá barraca. Abre um sorriso para o mundo e pensa enganar quem o rodeia. «Estou adoentado», diz. «Um uísque agora...», enquanto volta a fazer o onze e diz que sim a toda a gente com a cabeça, não ouvindo nada. Come a sobremesa, dá um shot de café, ri-se muito do que as pessoas dizem. «Vai jogar o Mitroglou ou o Jiménez?», coisas que vai pensando embora já haja gente a desconfiar daquele olhar submerso. O benfiquista ia dizer «brindemos!», mas saiu-lhe um «VIVÓ BENFICA!», que espantou toda a gente na mesa, cães incluídos, paredes e sofás incluídos, quadros na parede mudando esgares de sorrisos.

Já vi o Benfica em todo os lugares do mundo. Vi o Benfica no estádio, nos cafés deste e de outros países, em casa de amigos, na rua ouvindo o relato, no carro, em comboios, no trabalho - aconteceu-me trabalhar num restaurante, ter de servir sozinho 70 pessoas e ver o Benfica não vendo, naquela cozinha aonde ia esperar pratos e suplicar ao cozinheiro «Zé, diz-me que estamos a ganhar» e estávamos ou quase estávamos, porque, como bem disse o Grande Artur, o Benfica nunca perde, às vezes não ganha.

Lembro-me agora da América do Sul. Andava pela Bolívia no Agosto de 2007, Santa Cruz e a descoberta da civilização indígena sobre esta falácia que é a religiosidade católica. O Benfica fazia um jogo de pré-época, Fernando Santos ao leme. Entrei num cyber, escolhi o meu cubículo (devidamente contornado lateralmente por contraplacado e tapado por uma manta inca), pus os auriculares e vi, aos soluços, um jogo em que entrou o Adu e foi uma grande alegria. O Rui Costa terá marcado um golo de longe, é possível que tenha sido isto. 90 minutos a ver o Benfica na Bolívia, enquanto a minha companheira brasileira esperava o final do desfecho, perscrutando as ruas, provavelmente percebendo a doença que me alucina.

O dia do jogo do Benfica é sempre um dia especial. É um dia de doentes. Que nunca ninguém encontre a cura para nós.

Renato San quê?

Bom dia. Senhores Jornalistas, caros comentadores, ilustres paineleiros, há uma linha que separa um Sanchez de um Sanches. Não se lêem da mesma forma. O rapaz chama-se Renato SANCHES. SAN-CHES. Não Sanchez, SanCHES. Vejam lá isso, não custa nada.


sexta-feira, 11 de março de 2016

Não há mais nenhum tão lindo: eis o Glorioso!




Antes de mais, um agradecimento ao blogue «Benfiquistas desde pequeninos» por ter recuperado esta verdadeira pérola da História Benfiquista. 20 anos após a final perdida com o Manchester United, voltávamos a mais uma final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, cumprindo aquela que foi a gloriosa bandeira de João Santos: o Benfica Europeu. 2 anos depois, voltaríamos a estar presentes na grande decisão, voltando a perder o caneco - é incrível e dolorosa a quantidade de finais europeias perdidas que temos no nosso historial.

Nesta noite de loucos, em que eu com 8 anos e o meu Pai ainda sem ter voado para o 4º anel nos juntámos a mais 130.000 gloriosos em apoio à nossa equipa, houve muito Benfica - houve o Benfica todo! Foi como se estivéssemos dentro de uma super-nave que abanava por todos os lados; cada parafuso, cada milímetro de betão, cada bandeira, cada cachecol, cada cadeira, cada pedaço de relva, cada átomo - uma imensa vibração em sintonia. Como se o mundo todo tivesse ficado congelado e só houvesse movimento dentro da Catedral da Luz. Uma noite que foi mais noite do que todas as noites. Um grito secular de todo este clube, de todos os seus atletas, dirigentes, adeptos a ecoar galgando as bancadas do céu ao relvado; do relvado até ao céu.

E depois esta mensagem linda do Presidente João Santos - sem dúvida, um Presidente à Benfica! Estes tão distintos cheiro, sabor e som a Benfica. Uma forma de estar, uma forma de sentir, de ser mais alto, melhor, ser mais digno, maior, ser mais bonito, mais decente, mais festivo, mais Glorioso. Talvez tenha faltado viver isto a muitos adeptos; talvez tenham nascido depois e não respiraram este Benfica; talvez tenham até nascido antes mas não o viveram: talvez até o tenham vivido e já o tenham esquecido. Talvez então entendessem, se dentro levassem este Benfica no coração, a missão que aqui cumprimos diariamente como gloriosa bandeira: nunca esquecer o que é o Benfica.

O Benfica é isto: é esta noite de sonho e glória, e é esta mensagem depois de uma noite de glória e sonho. É este o meu Benfica. O Benfica do meu Pai. O nosso Benfica. O Benfica do Povo do Benfica! O Benfica Campeão! O Benfica Honesto! O Benfica Europeu! O Benfica Digno! O Benfica Mundial! O Benfica Cívico! O Benfica Universal! O Benfica Solidário! O Benfica Louco! O Louco Benfica! O Benfica de Todos os Tempos! É este o Benfica pelo qual luto, sinto, respiro, vivo e morro. Não há mais nenhum tão lindo: eis o Glorioso!

quinta-feira, 10 de março de 2016

O animal Benfica




Jesus continua a ter influência no sucesso do Benfica. A forma ordinária como falou de Vitória fez sobressair o melhor do benfiquismo: união, amizade, solidariedade, garra, luta, amor. O Benfica é um animal bondoso que, quando é desafiado, é capaz de devorar o mundo.

terça-feira, 8 de março de 2016

Mergulhar no louco cérebro de Jonas #1


O puto Guedes vem rodeado, dou apoio directo, de frente. Ainda não passou, está sem ângulo, dou uns passos ao lado e peço já enquadrado com a linha defensiva do Paços. Recebo, tenho espaço, já vi o guarda-redes adiantado, vou virar a cabeça, fingir que estou à procura de um colega e logo a seguir desenhar um balão em direcção àquele lugar na baliza que me parece inevitável.  É por ali que ela vai entrar e vai já de esquerda. Já entrou. Correr para o público, festejar. Que golo. Aqui no Benfica consigo fazer tudo o que o meu louco cérebro sempre quis fazer. Sou feliz aqui. Obrigado, Benfica.

A SEARA E O ENCARNADO

CRÓNICA DA MINHA GESTALT FUTEBOLISTICA



Durante muitos anos desejei que o meu benfiquismo tivesse sido passado por veia familiar. Sócio desde o nascimento! Que bom que teria sido, poder contar com este registo. Hoje tenho orgulho em dizer que sou um benfiquista de geração espontânea. E é precisamente um pouco do início dessa estória que quero partilhar.

Nasci longe de Lisboa, na terra do rei. Quando vim para Portugal continental tinha cerca de cinco anos, mais coisa menos coisa. A minha família ligava zero ao futebol. Zero mesmo, zero absoluto. Não me lembro de ter, na infância, uma única conversa que fosse sobre futebol. Nem com o meu pai, nem com a minha mãe, avós, tios ou tios avós. A minha família era um caso raro de afutebolose aguda.
Vivi com a minha mãe em Évora até 1979, numa época intensa de luta política, rodeado por gente activa, reivindicativa e praticante da descentralização teatral. No meio destas pessoas incríveis, que tocavam, cantavam, dançavam e representavam, ouvi falar do Brecht e do Ibsen, do Marivaux, do Molière, do Gil Vicente, do Peter Brook e do Giorgio Strehler… Foram estes os meus primeiros cromos. Muita música também, muita literatura. Mas de bola, nada! E, acreditem ou não, nem na escola eu ouvia falar de futebol. Sabia o nome de alguns clubes, obviamente, estava consciente da existência do jogo. Claro que eu tinha ouvido falar do Benfica, algures. E do Lusitano e do Juventude. Mas o espaço de imaginário ocupado pelo tema era diminuto.
Com o meu avô paterno era a ciência, a natureza e a biologia (obrigado meu querido avô Bastos). Já quando ia para o meu pai, de fim de semana, era o jornalismo e os jornalistas, era a literatura, a pintura e também a política. Mas… e a bola, caralho?

Não me interpretem mal, eu adoro ter nascido e crescido num meio de intelectuais e de artistas. Não fiquei apolitizado nem indiferente às grandes questões sociais. Mas é-me por demais evidente, hoje, que  havia algo de profundamente errado na minha formação. Faltava-me a bola. Faltava-me o meu clube! E eu nem sabia o quanto.

Vim viver para Lisboa com nove anos, para perto de Sete Rios. Mudei de escola, obviamente, e de colegas também, e fui fazer a quarta classe num colégio pequeno, que ficava mesmo ao lado de minha casa, na Professor Lima Basto. A Seara. É verdade, foi um trocadilho em forma de figura de estilo. Saí da terra das searas a perder de vista para uma seara figurada. E tenho ótimas recordações do tempo que passei nesta escola, porque foi nela que se revelou o meu grande amor pelo Glorioso.

A Seara era uma escola de ideologia de esquerda, com ambiente simpático e voluntarioso, mas a orientação pedagógica tinha contornos de um verdadeiro tiro no pé. Na segunda feira fazíamos uma composição sobre o 25 de Abril e na terça um desenho sobre o 1º de Maio. Na quarta feira, tudo ao refeitório para um testemunho vivo de alguns sobreviventes do Tarrafal. Instalava-se um cenário dantesco ao penitenciarem-nos, inadvertidamente, com uma culpa que tinha outro pai. Criancinhas a chorar baba e ranho com a tragédia (real) destes senhores, desde a infantil até à quarta classe, passando pelas auxiliares de educação e pelos professores. Foram meses de pesadelos com a puta da “fritadeira”. E depois, na quinta feira, era dia de ouvir músicas revolucionárias, fechando a semana com uma visita ao conselho da revolução. Para que se entenda a intensidade, as férias da páscoa eram passadas numa cooperativa alentejana, em plena reforma agrária. Leite com nata, vómito, estrume, feno, terra, muito calor e um ataque de asma dos antigos. Nunca aprendi tão pouco na minha vida, admito, no que aos temas canónicos da escola se refere. No entanto, relativamente ao futebol, aprendi o principal.

“És de que clube?”, perguntou-me  o João Pedro logo no meu primeiro dia de escola. Sou de que clube?, pensei. Mas eu não tenho um clube. Nunca tinha pensado nisso de ter um clube. Nunca me tinha passado pela cabeça que precisava de ter um clube! pelo menos não com toda aquela assertividade do João Pedro. Outros colegas olhavam para mim, curiosos. “Então? Qual é o teu clube?” Eu percebi que era uma coisa muito importante, esta de se ter um clube. Era o aluno novo, e havia uma certa expectativa sobre o meu enquadramento. Ele adiantou-me que a terceira (classe) era do Sporting e que a quarta era do Benfica. Agora que penso melhor nisso, é um fenómeno estatisticamente improvável, no mínimo, haver uma (quase) unanimidade clubística definida por ano de escolaridade. Mas, com uma ou outra excepção, era este o estado das coisas na Seara, naquele ano lectivo de 79/80. E se alguma coisa me falava alto nessa altura era mesmo a questão da solidariedade. Em retrospectiva, este foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Disse, pela primeira vez, eu sou do Benfica. Eu sou do Benfica, é claro. Sou do Benfica. E de cada vez que o dizia, de cada vez que, pelo verbo, renovava a existência destes votos de amor eterno, algo de grandioso me foi crescendo dentro do peito. Um sentimento de pertença, de glória e de amor incondicional, que me inundou a alma. Sou benfiquista, rematei triunfante. Boa!, disse o João Pedro. Toma lá estes cromos.
Passou-me uma série de cromos repetidos de uma colecção com desenhos de jogadores da primeira divisão, em caricatura. Que beleza de objectos. O meu coração aqueceu ainda mais. Cromos? Eu adorava cromos. Eu ainda adoro cromos, porra!!! E estes eram incríveis. Apresentavam-me uma série de homens com bigode e fartas cabeleiras, vestidos de equipamento. A pena que tenho, de já não ter esta caderneta. Shéu, Bento, Bastos Lopes, Alhinho, Alberto. O Humberto Coelho, um senhor central de veia goleadora, com sete golos nessa época. Carlos Manuel, Toni e Pietra. O Chalana e o Diamantino, ainda muito novos.  O Reinaldo, “das Doce”. O Nené, com os seus trinta golos! Maravilhoso Nené. Todos queríamos ser Nené na hora do recreio. Mítico, este plantel de sonho.

Julgo que toda a gente estará familiarizada com as figuras associadas à psicologia da Gestalt. Um dos exemplos clássicos é a imagem que ilustra esta crónica. Vemos, ao início, apenas uma das representações, por exemplo, a da cara da velha. Mas depois, quando vemos a figura da mulher mais jovem (se começarmos por ver a velha) nunca mais conseguimos deixar de a ver, sempre que quisermos, certo?

Pois foi assim comigo e com o futebol. De repente, de certa maneira, a realidade enriqueceu. Quase tudo tinha a ver com o Benfica, direta ou indiretamente. Instalou-se, até hoje, uma profunda identificação com o encarnado, que passou, desde logo, a ser a minha cor favorita. Até então, se me perguntassem qual era a minha cor preferida, acho que teria dito a “cor de pele”, sem hesitar. Apenas por um critério de raridade. A caneta “cor de pele” era a mais valiosa das canetas, porque dava uma certa verosimilhança às caras e as mãos. Um conjunto com 24 ou 36 canetas de feltro tinha sempre uma ou duas cores que cabiam neste critério. Tudo isso desapareceu. Nem foi preciso rever a minha bolsa de valores cromáticos. Tal como Lorca, preferindo a prata ao ouro, o meu mundo passou a ser imediatamente dominado pelo encarnado, que é a mais bela das cores. A partir daí, se jogo ao monopólio, ou a qualquer outro jogo de tabuleiro, reclamo rapidamente, antes de todos, o peão “do Benfica”. Os carros vermelhos ganharam outro encanto. Um mero apontamento vermelho num dos equipamentos, em jogos entre equipas estrangeiras, era suficiente para determinar o meu favorito.

E em casa, ao almoço e ao jantar, só falava do Benfica. Sem o querer, parte da minha família ficou mais consciente do futebol.Passei a ver jogos com o meu pai. Os meus irmãos continuam a não gostar de bola, mas, se lhes perguntarem de que clube são, dir-vos-ão que são do Benfica. A Renata, filha da minha madrasta, é benfiquista também. Trabalha em Paris, há muitos anos, e é casada com um francês. Um dia diz-me que o meu sobrinho Sebastião é do Benfica. E que é por minha “culpa” que ela ficou benfiquista, e ele também. Que toda a gente lhe diz “Ah, ok, porque a tua mãe é portuguesa, mas em França torces por quem? PSG?”, ao que o Sebas responde que só tem um clube. O Benfica!!! 
Além do orgulho, este jovem sócio do Glorioso facilitou-me também os natais.


Regressando àquele ano de 1980, a primeira coisa que fiz quando regressei a Évora de férias, depois de ser agraciado com o dom do benfiquismo, foi perguntar ao meu melhor amigo se ele tinha clube. Claro, respondeu-me o Jojó, eu sou do Benfica. Nem queria acreditar. Anos e anos a saltar muros e a brincar aos exploradores, nunca tínhamos falado de bola. E afinal, ele era do Benfica. Continuei a indagar pelos outros elementos do meu grupo de amigos. Eram quase todos do Benfica. Ora bolas, eu nunca tinha reparado nisso antes. Alguns colegas da minha mãe, actores? Benfica, Benfica, Benfica. Afinal, a bola esteve sempre lá. Era eu quem não a via. Não deixei de ver a velha, obviamente, nunca neguei educação nem valores. Mas esta Gestalt absolutamente fundamental na minha vida, este complemento essencial da bela figura jovem e glamorosa que me acalma os olhos e alma, tinha vindo para ficar. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Leonor Pinhão e o Ontem

A Leonor Pinhão decidiu presentear-nos com palavras bonitas na sua crónica do jornal "Record":

"No último sábado, nesta mesma página, recordando aquele marketing primordial de uma inventiva campanha de recolha de fundos e a origem coeva do termo "lagartos" - uma ideia do próprio Sporting que chamou "lagartos" aos títulos de subscrição pública que lançou em prol da construção do Estádio José Alvalade - terá ficado, no entanto, por dizer que os documentos que suportaram a nota biográfica do epíteto nascido na década de 50 foram divulgados pelo blogue 'Ontem vi-te no Estádio da Luz' que, só por si e cá para nós, é uma das mais belas frases da língua portuguesa. O blogue de Ricardo Silveirinha abriu atividade em 2008 e, para além do amor ao Benfica, trata também com desvelo a dita língua portuguesa, o que, por ser raro, é sempre empolgante."

Tanto elogio vindo de quem é quem é e de quem é filha de quem é só pode ser motivo para continuarmos a tentar dar o melhor Benfica possível a todos os que gostam do blogue. Só uma pequena correcção, Leonor: o blogue não é meu, é de todos os que aqui escrevem e sobretudo de todos os benfiquistas que se identificam com um Benfica simultaneamente glorioso e digno. E é por isso que o Ontem vi-te no Estádio da Luz é também teu.


domingo, 6 de março de 2016

Jonas, claro.




Quando Jonas partiu os rins a Coates, como a imagem tão bem ilustra, criando o desequilíbrio que gerou a jogada do golo, explicou aos pinheiristas uma das várias razões pelas quais o brasileiro é o melhor jogador do Benfica. Ora, o melhor jogador de uma equipa tem de jogar. É simples, eficaz e ainda dá vitórias que podem dar campeonatos.

sábado, 5 de março de 2016

Classificação após a 25a jornada

1° Sporting - 59 pontos
2° Porto - 55 pontos
35° Benfica - 61 pontos

Hoje é um dia para ser Benfica




Eles são favoritos. Jogam em casa, têm melhor equipa, melhor treinador, têm sede (uma sede de quase 15 anos). Mas nós somos o Benfica. Às vezes, muitas vezes, esse facto maravilhoso e simples de sermos o Benfica chega para ir ganhar a Alvalade. Vivó dérbi!


quinta-feira, 3 de março de 2016

Vata




A 18 de Abril de 1990 estava na Catedral dos Sonhos com o meu Pai, os dois engalfinhados nos braços um do outro. No abraço glorioso de 130.000 almas em delírio.