terça-feira, 30 de agosto de 2016

O Circo de Pina

O espectáculo de desonestidade intelectual de José de Pina é tão constrangedor que até nos deixa a ter de concordar com Manuel Serrão: é de facto uma exibição circense de grande monta.

A verdade é que 99 por cento dos adeptos, sejam de que clube for, são iguais a José de Pina: só superam a sua idiótica paranóia nas análises aos lances em que os seus clubes são prejudicados com a sua idiótica desculpabilização nas análises aos lances em que os seus clubes são beneficiados. Nada disto é novo. Só tem mais graça porque expõe ao total ridículo um adepto do Sporting, clube cuja grande maioria de adeptos acha genuinamente estar a ser perseguida por um invisível esquadrão vindo de Saturno que estabelece contacto com os árbitros através de uma linguagem cifrada com o maldoso intuito de prejudicar os sportinguistas.

E assim começa aqui, neste exacto post, uma rábula que perdurará por muitos anos e que, sendo eu um adepto intelectualmente honesto (uma raridade, bem sabemos), sinto ser minha obrigação criar: frases sobre José de Pina em vários contextos, sempre vendo o que mais ninguém vê e nunca vendo o que toda a gente vê.

Quando José de Pina pede um BigMac, queixa-se sempre que o hambúrguer tem chocolate a mais.


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Hummels indica o caminho




Hummels é um 10 que joga a central. Com o tempo, o futebol deixará de vez os conceitos físicos e passará a acolher os mais inteligentes em detrimento dos mais fortes, mais altos ou mais rápidos.

No entanto, ainda faltam cumprir muitos passos até que o jogo possa atingir o seu potencial máximo, esse dia em que os 10 jogadores de campo sejam simultaneamente defesas centrais, laterais, médios defensivos, médios organizadores, interiores, extremos, avançados móveis e ponta-de-lança.

E quando os 10 forem tudo isso, rodando por posições ao longo do jogo de forma natural, então deixarão de ser atacantes, médios e defesas e passarão a ser, apenas e na sua total plenitude, jogadores de futebol.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Empate na Luz com o Setúbal.

Dá para encarar este jogo e este resultado dos mais variadíssimos prismas.

Catástrofe? Azar? Incompetência? Injustiça? Arbitragem? Euforia? Mau Benfica? Bom Setúbal? Primeiro milho é para os pardais?

Para começar é importante realçar a equipa visitante. O Setúbal veio ao Estádio da Luz fazer o jogo, praticar um futebol positivo, procurar a baliza adversária e, sem ignorar a dimensão superior do Benfica, olhar olhos nos jogos contra os nossos.

A arbitragem é sempre parte do jogo. Tenho muita pena daqueles que passam a vida a apontar o dedo aos outros quando reclamam das arbitragens mas depois quando não estão a ganhar fazem o mesmo. É a hipocrisia do Futebol e existe às montanhas dentro do nosso Benfica, principalmente entre os que mais comunicam para o exterior.

Foi uma boa arbitragem? Não.
O árbitro errou, teve erros para os dois lados e aos 82 esteve bem ao assinalar um penalty claro a nosso favor.
Há um lance, um lance crucial, que pode levar ao debate. O golo do Setúbal pode ter sido conseguido em fora-de-jogo. É para análise académica.
Não me parece que tanta barulheira à volta da arbitragem se justifique.

Quanto ao nosso jogo não fiquei tão desiludido quanto muitos que tenho lido.
Não fizemos uma enorme exibição, não fomos dominadores nem massacrámos o Setúbal (e se calhar era isto que se exigia) mas fizemos um bom jogo que podíamos ter vencido com um ligeiro maior acerto.

Para mim o mais positivo na nossa exibição foi a confirmação que há ali muito futebol nos pezinhos daqueles jogadores. Ontem deu para ter um vislumbre daquilo que podem vir a ser as combinações entre os nossos jogadores mais ofensivos.

Horta, Pizzi, Cervi, Grimaldo, Jonas… Tanta magia que pode surgir ali.

Basicamente a minha opinião não mudou desde a Supertaça. Há qualidade, há potencial, há craques mas ainda falta muito trabalha táctico nesta equipa.

Defensivamente estamos muito mais permeáveis. O Cervi não defende como o Nico já defendia e o Horta não é o bicho que era o Renato. Sem esquecer que na direita está o vertiginoso Semedo e não o equilibrador Almeida.

Nunca gostei do processo defensivo que o Vitória colocou no Benfica mas nesta altura temos é menos gente a defender relativamente à época passada.

Ofensivamente jogar com o Pizzi na direita traz uma qualidade ao jogo interior que o Salvio não consegue dar. Achei o Salvio, como já é sua imagem, muito desligado do colectivo da equipa. Ainda por cima não acho que tenha deslumbrado nas suas iniciativas mais individuais.

E claro que não ter Jonas muda tudo ali.

O Cervi tem pés de craque mas está muito verdinho. Longe ainda da capacidade de decisão e da confiança que o Nico já tinha.

Adoro o Horta, estou cada vez mais fã dele mas ainda acho que não tem características para ser o nosso 8 titular. Para jogos teoricamente mais exigentes não o vejo a conseguir jogar num meio-campo a dois.

Ao contrário do que tenho ouvido não acho que o Vitória devesse ter entrado com o Raúl ao lado do Mitro. Para substituir Jonas só mesmo Jonas. Para jogar na posição do Jonas a escolha teria de ser entre o Fonte (lesionado), Pizzi, Guedes ou Rafa (não sei ainda o que esperar do Zivkovic).

Não gostei nada dos nossos últimos 25 minutos. A equipa entrou em desespero, muito jogo directo, pouca clarividência e más decisões.
Na minha opinião um dos momentos mais marcantes do jogo foi a decisão do Rui Vitória de colocar o Jiménez no lugar do Cervi. A equipa perdeu qualidade na construção de jogo e leu nessa substituição uma mensagem de desespero de “bola para a área” do treinador.

Ah e o Carrilo… Muito longe de estar em condições de jogar. Era baixar o preço do Rafa com o empréstimo do peruano por um ano.

Este resultado chateia-me mas ainda não me preocupa. Tal como não me preocupa (mais do que já estou há um ano) a exibição da equipa.

Esta recepção ao Setúbal foi a nosso vitória moral da época. Ganhou-se realismo, acalmou-se a euforia e serviu para a equipa crescer para o que falta da época.

Venham mais jogos que eu vivo é disto.
 

A minha equipa-tipo para este ano



Ederson
Almeida, Lindelof, Jardel, Grimaldo
Fejsa
Pizzi, Danilo (ou um médio de grande qualidade e experiência que chegue entretanto), Rafa
Jonas
Mitroglou

sábado, 20 de agosto de 2016

Rafa e a tragédia dos extremos



É já um clássico de Verão a imprensa arranjar um soundbite que morda os ouvidos dos adeptos até à exaustão. Até eles próprios começarem a debitar a mesma ideia, por mais estapafúrdia que seja. Calma, não vos fala o adepto que acha que os jornais, as televisões e as rádios estão contra o seu clube; não, o problema afecta os três grandes. Há sempre um conceito mais ou menos idiótico para cada plantel.

Este ano, no Benfica, fomos presenteados com um digníssimo "há excesso de extremos". Talvez deva levar muitos pontos de exclamação e letras garrafais para a tensão se acumular: "HÁ EXCESSO DE EXTREMOS!!!!!!" Depois de ler isto,  não vos apetece logo ir gritar histericamente que há excesso de extremos para o Chiado?

Por partes:

1) O Benfica tem estes extremos: Cervi, Zivkovic, Carrillo e Salvio. Carcela, que é verdade que é extremo, já se percebeu não contar para o treinador - está por isso em vias de sair, seja por empréstimo ou vendido. Guedes foi utilizado toda a pré-época como segundo avançado - das duas uma: ou fica no plantel e é aí que vai jogar (como jogou em Tondela) ou será emprestado para rodar.  Portanto, o Benfica tem, que verdadeiramente contem para o treinador, 4 extremos. 2 para a esquerda, 2 para a direita. Isto não é excesso de extremos, é um plantel equilibrado.

2) Imaginando que o Benfica tivesse 57 extremos no plantel (e já percebemos que afinal tem 4 - um exagero!), Rafa seria sempre uma excelente compra. Primeiro, porque é um óptimo jogador e os óptimos jogadores são sempre bem-vindos aos óptimos clubes; segundo, porque Rafa não é um extremo. Pode partir da ala, claro que pode. Como pode partir de uma posição mais avançada ou até jogar a 8. É um daqueles jogadores que, de tanta qualidade que têm, não são propriamente pertença de nenhum terreno específico. Rafa é de todo o relvado. Como Pizzi.

3) Não toda, mas grande parte da histeria à volta do número exagerado de extremos (que afinal, como percebemos, são 4 - uma tragédia!) traz dentro um certo ressabiamento. Ou seja, é uma opinião não tão preocupada com o número de extremos mas sobretudo inquieta perante a qualidade dos extremos. E agora ainda temos a lata de ir buscar o Rafa. Realmente, assim não se aguenta o coração.

- Meireles, pá, isto já me está a tirar do sério. Faz aí mais um título com letras grandes a dizer que o Benfica tem extremos a mais. Antunes, quando fores ao programa "Somos todos uns idiotas que nos insultamos e passamos 2 horas a falar de árbitros" vê se reforças este exagero de extremos que o Benfica tem, pá. Coutinho, quando fores à conferência de imprensa, insiste, pá, insiste na quantidade exagerada de extremos e pergunta com ar angelical: "Não serão extremos a mais?"

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Algumas ideias sobre André Gomes



- Não poderia ter ido para melhor clube. No Barcelona o seu jogo tecido a linho encontra o espaço e os apoios para se manter como um dos melhores médios do mundo na próxima década. Iniesta será o seu mentor.

- Dizer que Jesus não apostou nele não é só um exagero, é mentir. Apostou e fê-lo crescer como jogador. Mesmo no clubismo doentio ou no ódio irracional a um homem não pode valer tudo (embora pareça).

- É mais uma péssima venda de um jovem jogador com um talento fabuloso. Para perdermos jogadores desta classe temos de receber muitos milhões que compensem a perda. Mais uma vez, não foi o caso.

- Que tenha uma excelente carreira porque tem todo o talento para isso. Da minha parte, agradeço vários momentos mas sobretudo aqueles segundos em que fez magia na Luz e marcou o golo épico que nos viria a dar uma Taça de Portugal.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Futebol não cabe no quadrado da Estatística



Actualmente há um fenómeno bizarro no futebol português chamado GoalPoint. É uma empresa que, entre outras coisas, descobre o melhor em campo através de um sistema que soma várias estatísticas: desarmes, antecipações, remates, etc., como se o futebol fosse boxe em que o jogador vai ganhando pontos ao longo do jogo consoante as coisas que faz. No fim, a GoalPoint faz as continhas e lá proclama que certo jogador foi o melhor porque teve 7.9 e o outro a seguir só teve 7.8.

Ora, além de os dados apresentados não nos dizerem nada sobre o jogo (quando me dizem que o Grimaldo rematou 3 vezes, 1 delas enquadrado, o que é que eu fico a saber do jogo com essa informação? Nada, a não ser que o Grimaldo fez 3 remates, 1 delas enquadrado; fez x desarmes ? Que bom, mas em que circunstâncias? Não teria sido melhor manter a posição e não arriscar o desarme? Antecipou-se y vezes? E não terá deixado a equipa desequilibrada? Não sabemos porque do jogo só temos números), este tipo de "ciência" é nefasta porque transmite a falsa ideia de que a estatística pode resumir um jogo de futebol.

Não pode, nunca pôde, não poderá. O jogo é demasiado complexo. A maior parte das coisas que um jogador faz em campo não é quantificável nem resumível num gráfico ou numa tabela.

domingo, 14 de agosto de 2016

André Horta, um de nós no relvado



Quando Franco, “o Argentino sonhador” - que, dependendo dos desenhos animados que viu na manhã do jogo, umas vezes é Cervi e outras é Chuky -, correu para festejar o seu primeiro bombom oferecido aos benfiquistas, não contava ser atropelado por um adepto enlouquecido que, vindo de dentro do campo, o placou a uma velocidade gloriosamente supersónica e molhou o golo com uma onda de Mística.

O pequeno jogador, durante 30 segundos amolgado entre o chão e uma montanha de camisolas do Benfica, com as vértebras doridas e o espanto de não saber de onde viera aquela maluqueira, a custo e depois de muita relva comida conseguiu levantar-se e ver André Horta aos uivos loucos para a câmara, parecendo possuído.

- “Adeptos com acesso ao relvado e a festejar com os jogadores? Isto nem em Buenos Aires!”, pensou ainda preso de pensamentos, enquanto Pizzi o abraçava e lentamente o mareava na emoção benfiquista. O primeiro golo de águia ao peito tem direito à praxe feita de amassos e abraços desvairados. Fogo-de-artifício às cores vermelhas e brancas.

Mas Franco Chuky Cervi não deixava de ter a sua razão: as rigorosas medidas de segurança da Federação Portuguesa de Futebol não haviam conseguido evitar que André Horta, sócio do Sport Lisboa e Benfica, se tivesse intrometido entre os jogadores e festejasse como se o golo também fosse dele, abraçando e abalroando jogadores uns atrás dos outros, incluindo o pequeno mago que havia rematado para dentro da baliza comilona de bolas queimadas pelo sol de Agosto.

André Horta festeja golos como adepto e joga como craque. Quando não está a treinar ou a jogar, o craque vai ao SerBenfiquista acompanhar os comentários do faneca sobre o 20-13 que a equipa de vólei está a dar no pavilhão em Angra; e mete-se num carro com mais 1904 amigos e vai a cantar até  Tondela as músicas gloriosas; e comenta os blogues; e pede ao Pai para o levar à Luz; e viu dezenas de jogos em Casas do Benfica com uma senhora a servir os nossos golos em tachos a levantar fumos que se intrometem na visão dos clientes e alguém grita: “’tá a desanuviar”; e anda doido, lembra-se das finais europeias perdidas, confessa a uma namorada que o amor pelo Benfica justifica ir num Sábado a Olhão, num Domingo a Paços de Ferreira, numa Quinta a Londres, numa Quarta a Munique, numa Terça ao fim do mundo.

E depois, em outros dias iguais ou parecidos, compra a camisola na nova loja da Rua Augusta até alguém o lembrar de que já não precisa porque já é jogador e já tem um cacifo com o seu nome e já há quem compre a camisola de um craque chamado Horta, que é um de nós no relvado. Ele esquece-se porque está sempre entre uma margem e a outra: nunca sabe deixar de ser adepto. Chama amigos para casa, compra marisco e febras, decide-se por três grades de Sagres, vai ao YouTube ouvir o Nuno Matos a cantar os golos do Benfica e vai continuar a marcar golos como o de hoje porque é o um de nós dentro do relvado.



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Rui Vitória e o Benfiquês



As conferências de imprensa de Rui Vitória são autênticas lições de benfiquismo. Ali se encontram todos os valores da Mística: solidariedade, espírito construtivo, memória pelos que passaram pelo clube e o elevaram, humildade, ambição, respeito pelo adversário, amor pela glória. Independentemente da opinião que temos sobre as suas qualidades técnicas, julgo ser consensual que Rui Vitória transporta no peito a verdadeira chama imensa. Para mim, é, a par de Toni, o treinador que mais gosto de ouvir falar essa linguagem linda e universal que é o Benfiquês.

Eu iria sem Rui Vitória mas Carrego na mesma



Não seria digno da minha parte se eu, a umas horas do primeiro jogo oficial e tendo sido acérrimo crítico das competências técnicas do mister Vitória há um ano, não viesse falar um bocadinho das minhas ideias, agora que, um ano depois, vencemos o Campeonato e a Taça da Liga. Poderia usar o silêncio como arma que dispara hipocrisias mas prefiro antes ir pela verdade. É coisa que faz bem ensinar às crianças.

Aprendi no ano que passou que um treinador pode não ser extraordinariamente perspicaz nem muito competente na área do treino e ainda assim ter valências sociais que podem fazer a diferença. Creio que a boa índole de Rui Vitória, assim como as óptimas características de liderança desegoísta (inventei agora), acabaram por ser fundamentais na forma como foram ultrapassadas as críticas e os vis ataques por parte de elementos de outros clubes. Um técnico que consegue convencer os seus jogadores a ganhar 95 por cento dos jogos a partir de Novembro é alguém que, por mais defeitos que lhe vejamos, merece ser feliz. Não por tratado divino mas porque teve o talento inequívoco de manter acesa a chama imensa do sonho. Não é de somenos. Resta perguntar: isso chega para o futuro?

Não creio. Com isto não digo que não é possível sermos campeões. Num campeonato que se disputa a 3 e levando o nosso clube uma dinâmica vitoriosa - e, por que não admiti-lo?, mais organizado do que em anos anteriores -, neste momento é sempre possível ser campeão no Benfica (beijinho, Mário Wilson). Porém, a incapacidade clara como treinador (para mim, claro, que sou quem escreve esta crónica) faz-me concluir que o nosso querido treinador não é o treinador de que precisamos.  Será talvez curto de ideias, parco de talento, ineficaz como homem de treino. Porventura, deixará algo a desejar. Quase de certeza (para mim, para mim), é um tipo que não devia liderar a nossa equipa de futebol. Seguramente, eu procuraria outra solução.

"E agora, Ricardo?" Agora vamos em frente que nem Marcel Proust. Quem consegue escrever livros daqueles pode sempre servir de mote psicológico para um texto de análise futebolística. O tipo não é grande coisa, o futebol foi pobrezinho, as leituras durante os jogos quase sempre medíocres, mas, foda-se, fizemos mais pontos do que alguma vez alguém tinha feito. Isto deve valer alguma coisa, e é provável que valha, mas no jogo do título fomos claramente ultrapassados por um futebol evidentemente superior. Que nem toda a gente leve em conta a superioridade do Sporting em todos os jogos que com eles disputámos, acho justo. Deixem-me só ter opinião, se não vos fizer muito incómodo.

Dito isto, VIVÓ BENFICA! (E eu até ando a gostar do nosso futebol nesta pré-época)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Uma casa sem espelhos


O Vieirista acordou e leu no jornal que Clint Eastwood apoia Donald Trump. Pousou a caneca na mesa da cozinha de uma casa sem espelhos e disse, muito indignado para a esposa:

- Isto é uma vergonha! Esta gente não tem valores nenhuns!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ELEIÇÕES 2016



Sócio, em quem vais votar?

- No Vieira.
- No opositor, caso seja um benfiquista competente e sério.
- No opositor, independentemente do nome.
- Em branco.
- Não votarei.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O lendário Estádio da Luz desapareceu para todo o sempre

1. Não tenho quaisquer dúvidas de que, à luz do Benfica do século XXI, o termo “pragmático” será seguramente o rótulo mais lisonjeiro com que a actual corrente “encarnada” brindará os vulgos “abutres”, “garotões” ou “vale azevedistas”. Algo que, à luz das respectivas práticas e valores defendidos, orgulha-me particularmente.

2. A volatilidade dos adeptos encontra-se, actualmente, desfocada do seu verdadeiro centro e propósito: ao sabor da bola que entra ou sai, de aquisições ou renovações de produtos comerciais, de uma cegueira e castração seguidistas que redundam num benfiquismo artificial, corporativo, comodista, bacoco: em suma, morto e enterrado. E todas as pré-épocas e títulos do mundo não alterarão esta realidade.

3. O Benfica: de liberdade, espírito crítico, discussão, compromisso, sentimento… já não lá está. Ficou gravemente ferido com a destruição do antigo (e verdadeiro) Estádio da Luz, tendo entretanto perecido a sucessivas estocadas perpetradas sempre pelos mesmos: os seus. Seja na forma de uma direcção que as efectiva, seja na forma de adeptos que não só o permitem, mas inclusive aplaudem-nas.

4. Porque o mal sempre floresceu perante a fraqueza ou apatia do bem. Porque, se não és parte da solução, és parte do problema.

5. Claro que existirão sempre por aí umas quantas ovelhas tresmalhadas. A teimar pensar pela sua própria cabeça. A desconstruir práticas e propaganda. A repor a verdade acerca da verdadeira essência do benfiquismo: porque, essas sim, não têm memória fraca, conhecedoras que são do Benfica em toda a sua gloriosa história (e não somente do seu período mais negro, com o qual os mesmos habilidosos de sempre procuram amedrontar os sócios, única e exclusivamente tendo em vista perpetuarem-se no poder).

6. Gente que teima em recordar e suspirar por tempos cada vez mais idos, cada vez mais apagados da memória e da alma colectiva. Em suma: a pregar aos peixes.

7. Como João Santos, para quem, a ideia de destruir o Estádio da Luz, seria o equivalente a destruir o Partenon de Atenas, o Coliseu de Roma ou as Pirâmides do Egipto. De que nos valeu o testemunho de um ex-presidente cujo currículo conta, entre outros feitos, com 2 finais na Taça dos Campeões Europeus (a verdadeira competição europeia do clube) e um combate incessante e notável à podridão que já então assolava o futebol nacional?

8. De nada. Quem de direito sabia exactamente ao que vinha. E nem sequer foi necessário um passado relevante de benfiquismo, um carisma absorvente ou uma argumentação distinta: bastou dinheiro, as promessas estafadas de sempre, amedrontar os adeptos com o discurso do “ou eu ou o caos” e a dose certa de falta de vergonha que, por norma, os caracteriza.

9. Independentemente das beneficiações que Wembley ou Maracanã mereceram, era agora imperativo nacional destruir o maior património desportivo e sentimental de parte significativa de uma população e país: pertença de um clube, note-se a contradição, supostamente falido e à beira do fim. Empurrou-se tal desígnio pela garganta abaixo até o barro colar à parede e o lendário Estádio da Luz, edificado pelas mãos dos seus e integralmente pago aquando da sua inauguração, desapareceu para todo o sempre.

10. Era então tempo de dar lugar ao crédito, ao endividamento galopante, de avançar desalmadamente (entenda-se, em força e sem alma) para a primeira de muitas obras de cimento e betão: e sem a qual, não tenho dúvidas, LFV nunca sequer teria considerado candidatar-se ao cargo. Exemplo prático da aplicação do princípio do lucro pessoal. Da teia de relações alternativas. Do conluio interpares com vista a eliminar as alternativas que verdadeiramente deveriam interessar, enquanto símbolo de vitalidade e de defesa dos superiores interesses do clube.

11. Quando os padrões tidos para concorrer e desempenhar um cargo desta natureza e dimensão atingem tal grau de perversidade; quando os “notáveis” (quais “D. Sebastiões”), ao invés de combatê-la, integram-na; quando uma instituição se transforma numa massa seguidista que segue acriticamente ao som do medo ou da “promessa da semana”… deixo à consideração de cada um o verdadeiro grau de grandeza e de futuro dessa mesma instituição.

12. Uns verão nessa realidade um sinal inequívoco: não de apoio a um qualquer boneco da praça, mas de estabilidade, coesão, força – enquanto sinal mais óbvio da mais significativa das vitórias após tão conturbado período. Pessoalmente, apenas vislumbro estagnação, favorecimentos mútuos, desonestidade intelectual – toda uma mixórdia de conjugações que constituem prova cabal do inexorável definhamento dos mais elementares princípios que sempre nortearam o clube e os seus.

13. Foi assim que o Benfica entrou no século XXI. Foi desta forma que o actual paradigma teve o seu início: da ideia habilidosa de progresso à sua crescente e palpável desumanização. Quantidades intermináveis de tijolo, cimento e betão construídos sobre o cemitério de princípios e valores no qual outrora assentaram os alicerces do que verdadeiramente conta: a essência da alma benfiquisma.

14. Aqui e ali, ainda vou acompanhando o Benfica. Satisfeito por saber que ainda vai aportando alegria a tantos dela necessitados. Contudo, acabo por fazê-lo invariavelmente com indisfarçável desencanto: como o da óptica de um progenitor que viu um dos seus transformar-se em algo que estaria longe das suas intenções iniciais, não lhe suscitando particular orgulho. De quem sabe que, entre o que foi e o aquilo em que se tornou, muito de bom foi perdido.

15. Ciente que estou de que somente um significativo (e inevitável) trambolhão o fará acertar o passo. Uma válida aprendizagem somente passível de ser adquirida na adversidade: mãe do conhecimento da vida. Nos presentes termos, quiçá passível de ser administrada por terceiros, por aqueles que lhe querem pior – tal a sobranceria, cegueira e conspurcação que assola todos quantos dele deveriam cuidar.

16. Ou talvez seja somente necessário dar tempo ao tempo, aplicando-lhe a mesma lógica de leis como a da gravidade. Onde tudo o que sobe, tem de descer. De que é exemplo um passivo gigantesco, histórico e irresponsável. De que é exemplo a curiosidade factual em como, com vista a alcançar os mesmos saldos maquilhados e tangencialmente positivos de sempre, vai sendo necessário, a cada ano que passa, cada vez mais, mais, mais… Mesmo contando com toda a parafernália de acordos, transferências e lucros tão propagandeados.

17. Mais, mais, mais… Como aquele que, não sendo hábil nadador, vai dando aos braços o melhor que pode e sabe… mas que, invariavelmente, não sai praticamente do mesmo sítio. O tempo vai passando. As suas reservas vão diminuindo. Sem o devido auxílio, irá invariavelmente afundar-se.

18. Ano após ano: oportunidades irremediavelmente perdidas. Essas, já não voltam mais. E quando o filão se esgotar? O que restará para proteger? Quem ficará para apanhar os cacos e fazer deles o que seja? Que será de todos aqueles que acreditaram? Que depositaram as respectivas carreiras, o destino das famílias, o seu dinheiro suado e a boa-fé inerente a um coração que se abriu à crença na decência humana?

19. Um dia, muitos compreenderão, em toda a sua extensão, a distância que separa o genuíno sacrifício pessoal do mais puro egoísmo. Do bacoco culto de personalidade. Da lucrativa desonestidade intelectual. Da irresponsável e inenarrável política “agregadora”. Do atestado estatutário de ignorância passado àqueles que, ano após ano, os louvam.

20. Até lá, venha mais um canal propagandístico directivo: desta feita, na forma de rádio. Venham mais jogadores e transacções milionárias. Mais betão e cimento onde houver pinga de solo virgem. Mais acordos com nações desrespeitadoras dos mais elementares direitos humanos. Mais bajuladores. Mais vendidos. Mais robôs. Mais copinhos de leite. Mais banha da cobra. Mais areia para os olhos. Mais, mais, mais… que é disso que este povo gosta.

21. Que enquanto a chibata vai e vem, folgam as costas. Pelo menos, até ao dia em que a factura chegue – não a que é para ir sendo gerida, mas a que terá irremediavelmente de ser paga (assim o cinto aperte verdadeiramente e esta bandalheira complacente cesse de uma vez por todas). E tudo aquilo em que se empanturraram não sirva senão para lhes provocar uma indigestão. Não será como a que teve início na segunda metade dos anos 90. Será pior: muito pior. E a troco de quê verdadeiramente?

22. O Benfica está a perder: não para o FCP ou para o SCP, mas contra si mesmo. Está a perder para o egoísmo pessoal. Para o culto da personalidade. Para a mediocridade: por deixar-se manietar por tão pouco e, assim, recusar aspirar ao melhor de si mesmo. O Benfica está a perder… e por muitos. Resta saber se ainda tem o que é preciso para dar a volta ao resultado.

RedMist