sábado, 10 de janeiro de 2009

Mais que um Clube

Eu gosto tanto do Benfica que se fosse gostar de um outro clube estrangeiro qualquer acho que rebentava pelas costuras as costuras do coração. Transbordava-se-lhe sangue pelas vísceras. Não é imaginável que, algum dia, num demente dia, eu possa afirmar, como vejo por aí, que, em Portugal, sou do Benfica, em Espanha, do Barcelona, em Itália, do Milan, em Inglaterra, do Liverpool, no Brasil, do Flamengo e na Letónia, do Skonto Riga. Para ser desses, ia ser menos do Benfica, e isso, claro, não está nos planos de ninguém, muito menos nos meus, que acho sempre que gosto mais do Benfica do que todos os outros benfiquistas, ainda que saiba, ou imagine, que o amor pelo Benfica é transversal a uns 4000 milhões de outros bípedes.
Dito isto, dizer que gosto do Barcelona. Não é um amor, não é uma paixão, é um fraquinho. Não ando por aí a dizer que, em Espanha, o meu clube é o Barcelona, porque, em Espanha, em França ou na Nova Zelândia, o meu clube é o Benfica, vírgula e, agora, ponto final. Mas há algo no Barcelona que eu reconheço como Benfica ou qualquer coisa no Benfica que eu identifico no Barcelona, não sei reconhecer qual das duas a mais correcta, provavelmente nenhuma. Sempre que oiço o hino tocado e cantado no Nou Camp, parece que imagino o Estádio da Luz antigo nas décadas de 60 e 70, sinto que é a mesma coisa, sendo uma coisa diferente. No fundo, assistir aos jogos do Barcelona e ver o público catalão é como se fosse a minha única oportunidade de cheirar as bancadas da Luz, quando entravam Eusébio e a companhia vermelha toda por aquele relvado preto, branco e cinzento, que é como eu vejo as imagens desses tempos, ainda que saiba, ou imagine, que, na realidade, o relvado era verde e as pessoas não estavam todas como se fossem figurantes de um filme de Chaplin. Anacronica e esquizofrenicamente, amo o Benfica antigo no Barcelona contemporâneo, acho que é isto, e talvez pudesse seguir esta comparação, para alguns absurda, por mais umas linhas, mas acho que já está tudo dito, ou quase.
Veio-me esta ideia à cabeça enquanto via imagens de um Messi a destroçar um Atlético de Madrid no Calderón e, no fim, coisa tão linda, o público colchonero, de pé, a aplaudir o argentino. São coisas que comovem, não dá para explicar além disto. E a ideia que chegou logo a seguir, de mãos dadas com a comoção das imagens, de que, no Barcelona, há uma fonte inesgotável de talento para recuperar continuamente aquilo que o clube é e faz por ser: um clube de triunfos. Ao longo dos anos vimos assistindo a grandes equipas barcelonistas sucedidas por desaires que parecem levar o clube para o mais fundo dos buracos fundos mas, logo a seguir, há qualquer coisa, uma força, um momento, uma mística?, que os faz levantarem-se do chão, arranjar a camisola, sacudir os bocados de relva dos calções e continuar a correr. Sempre para as vitórias.
O que eu gostava, gostava mesmo, era de poder reconhecer o Benfica antigo quando estivesse num estádio cheio a ouvir o hino dessa equipa e reconhecesse nessa equipa a equipa e o clube que eu amo e que revejo no Camp Nou. Eu gostava que, um dia, essa equipa anacrónica deixasse de ser anacrónica. Eu gostava, gostava mesmo, de rever o Benfica no Benfica.

9 comentários:

  1. Excelente post amigo Ricardo.
    Dos melhoores que li pelo menos nos ultimos dias.

    Um grande abraço Benfiquista

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  2. Mais um grande texto sim senhor!

    Eu também vi o Messi e não me ocorreu grande coisa, talvez uma lágrima que não chegou a sair...

    A ti deu-te para escrever isto e ainda bem que está, agora, partilhado porque merece ser lido.

    E pronto já tenho uma assinatura nova! :)

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  3. Abraço, Maestro!

    E que tal "o melhor que leste nos últimos minutos"? :)


    JAM (A AZUL!!!),

    foi bonito, não foi? Quando a beleza do futebol supera rivalidades. E o ar do gajo, meio envergonhado, meio orgulhoso? Lindo!

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  4. É pá...eu detesto o Barcelona. Detesto aquele clube. É o porto de espanha...

    Agora o Messi..ui ui

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  5. O texto está brilhante e o sentido do mesmo está muito bem conseguido. Com uma única ressalva: o Benfica de Espanha é o Real de Madrid.

    Abraço.

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  6. Também sou da opinião que o Benfica de Espanha é o Real Madrid.
    Qualquer culé tem exactamente os mesmos complexos que os corruptos.

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  7. Ricardo, Pedro e John,

    não acho que possamos fazer paralelismos desse tipo em relação a Espanha, sinceramente. Tanto Barcelona como Real Madrid são grandes clubes europeus e desde sempre, ao contrário, por exemplo, do Porto cá em Portugal que, antes de 80, era um clube com uma dimensão reduzida na Europa.



    Abraço e obrigado pelas palavras.

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  8. Brilhante este post, daqueles que vale a pena guardares para mais tarde voltar a publicar.
    Grande sentimento benfiquista.

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  9. O texto está muito bom, de facto. E só por isso até vou deixar de lado tudo aquilo que tinha a apontar ao bar$a ;)

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Vai ao Estádio, larga a internet.