Quique Flores. Mais um nome que fez manchetes, que encheu de esperança a nação benfiquista. Após uma época ridícula em que tivemos 2 treinadores e o Chalana, o cargo de treinador do Benfica tinha algo de bom, era difícil fazer pior, talvez por isso se explique o inacreditável apoio que o Quique teve quase até ao final da época. Treinador espanhol, jovem, não tinha grandes feitos no seu passado mas tinha conseguido resultados bastante razoáveis no Valência, o que a juntar à sua postura charmosa, ao seu bem falar, fizeram com que grande parte da nação benfiquista começasse ali a ver um potencial novo Mourinho. A mim confesso que desde o início a quantidade de vezes que ele repetiu a palavra “ilusión” me deixou na dúvida se teríamos o próximo Mourinho ou o próximo Luís de Matos, mas naturalmente que lá dei o benefício da dúvida como sempre.
Na pré-época houve coisas que me desagradaram logo. Todo o mundo teve oportunidade de treinar (até Edcarlos e Luís Filipe) mas houve pelo menos 3 que me pareceram um pouco postos de lado: Zoro, Petit e Adu. Se em relação ao primeiro nem me aqueceu nem arrefeceu, os outros 2 eram dos meus favoritos, e por isso a facilidade com que Petit saiu, e a vontade de despachar Adu não me agradaram nada. Claro que fica por saber se foi decisão sua ou superior, mas se um treinador aceita tudo sem se impor é um banana e não serve, se foi decisão sua ter que ver com os seus próprios olhos cepos como os que viu e nem sequer exigir uns treinos para o Adu, então é um nabo. Também decidiu não contar com Diamantino e Chalana. Decisão legítima, mas tem que abarcar com as consequências. Se eu for trabalhar para a China, se a empresa me colocar um tradutor à disposição e eu recusar, a partir daí não me posso desculpar por não perceber chinês. Infelizmente, por alguns banhos tácticos que Quique levou, deu para perceber que ele não fazia a mínima ideia de como o adversário jogava, ao contrário deles que conheciam o nosso futebol previsível de trás para a frente. Como se isto não fosse suficiente, veio a guerra com o Maradoninha, outro dos meus preferidos. Logo aí, se eu mandasse, entre Quique e Léo eu sei bem quem escolhia…
Passando ao futebol, apesar de alguns lampejos contra a lagartada e o Nápoles, o futebol apresentado não me entusiasmou. Começava-se a ver que seria um futebol razoavelmente eficaz contra equipas que assumissem o jogo, mas inconsequente contra quem não o fizesse, ou seja quase todas as equipas em Portugal. E mesmo algumas equipas que o assumiam conseguiam vulgarizar completamente a nossa equipa, como foram os casos do Gala e do Olympiakos. Entre os milhentos pecados que foi cometendo, vou tentar lembrar-me dos que lhe fui apontando, e resumi-los aqui:
- Filosofia de jogo muito à base da contenção e de transições rápidas, completamente contra-natura com o que o Benfica tem de ser;
- Total ineficácia na gestão da baliza, conseguiu passar a época sem dar confiança a nenhum dos GR;
- A dispensa de Leo conjugada com a titularidade primeiro do Jorge Ribeiro e depois do David Luíz fizeram com que passássemos grande parte da época debilitados no flanco esquerdo com a agravante de sacrificarmos o que podia (e pode) vir a ser um grande central;
- A aposta em Amorim na direita foi uma imbecilidade que nos custou o nosso melhor médio centro, e como se viu pelos jogos do Urreta tínhamos uma solução. Aliás, até teríamos outras, num Benfica mais atacante podiam jogar o Reyes ou o Di Maria no flanco direito. E goste-se ou não, houve um reforço escolhido por ele para esse lugar, se esse jogador falhou então ele será muito culpado;
- O duplo pivot para funcionar tem de ter 2 jogadores muito completos. Para mim só havia 2 no plantel (ou 3, no máximo) que podiam desempenhar bem o lugar: Amorim e Katsouranis. O 3º que me parece ter características para o lugar é o Felipe Bastos. Yebda é limitadíssimo no passe e no remate, Carlos Martins é fraquíssimo na ocupação de espaços, e Bynia está ao nível do Yebda. Perderam-se meses em que não se rotinou a melhor dupla, e isso podia-nos ter trazido mais pontos. E em certos jogos, certos momentos em que tínhamos de arriscar tudo por tudo, acredito que Aimar também podia ocupar uma das posições;
- As declarações sobre Reyes foram completamente inoportunas e a partir daí o rendimento do nosso jogador mais decisivo foi uma sombra do que vinha sendo. Reyes apesar de alguns alheamentos fez uma primeira metade da época em que se mostrou batalhador, motivado, o que conjugado ao seu incrível talento resolveu alguns jogos. Mas Quique é capaz de ter tido inveja de algum jogador aparecer mais nas capas do que ele, e com aquelas declarações parvas no Restelo perdeu um jogador, e que jogador;
- Aimar. Incrível como um ex-nº10 da Selecção Argentina pode ser um problema, mas Quique conseguiu. No seu esquema de 4-4-2 parece-me que Aimar só poderá funcionar num dos lugares do duplo pivot (perdendo-se alguma capacidade defensiva) ou numa das alas, desde que tenha alguma liberdade para flectir para o centro e exista um lateral com muita qualidade ofensiva. Mas Quique fiel ao seu esquema e à sua teimosia insistiu com Aimar a avançado. Foi triste ver o argentino no meio de jogadores corpulentos que o neutralizaram com alguma facilidade, vê-lo a finalizar mais (e mal) que a construir, conseguiu não tirar rendimento dele e queimar um lugar que tanto jeito teria dado a Cardozo;
- Suazo. O que disse a Aimar aplica-se a Suazo, se bem que por motivos diferentes. Este jogador podia ter feito uma dupla de sonho com Cardozo, mas Quique decidiu quase sempre jogar com ele e Aimar, fazendo com que Suazo tivesse que suportar quase todas as despesas de área. Quando nos víamos a ganhar era frequente ver Aimar recuar no terreno e a táctica era biqueiro para a frente para a corrida do Suazo, era deprimente ver o hondurenho completamente rebentado por andar o jogo todo a correr quase meio campo sozinho. E depois já se sabia, estivesse a 100% ou a 30%, ele era a primeira opção, Cardozo a segunda, o que tendo em conta que um é nosso o outro é do Inter, ainda se torna mais estúpido;
- Cardozo. Mesmo com todos os equívocos já referidos de Quique, uma coisa ficou provada neste final de época: com o Tacuara em campo as possibilidades de marcarmos golos e consequentemente ganharmos aumentam exponencialmente. Infelizmente Quique não descobriu isso, a lesão de Suazo é que o possibilitou. Nem quando foi assobiado por substituí-lo percebeu que era para ele;
- Mantorras. É coxo, não aguenta os 90 minutos, blá, blá, blá. Como o Trap percebeu mesmo com estas condicionantes todas Mantorras ainda pode valer ouro. Ou alguém duvida que em meia dúzia daqueles finais complicados de jogos com ele em campo havia sempre a hipótese de golo? Viu-se que Quique ficou surpreendido no último jogo da época, isso diz tudo.
Ainda podia falar do total desaproveitamento de Felipe Bastos e Urreta, mas o post já vai longo. E escusam de vir com a lenga-lenga de “no fim é fácil apontar os erros” porque quem me conhece e segue os meus comentários sabe que eu fazia estas críticas quando ainda liderávamos a Liga, não fui na “ilusión” tão publicitada.
Resumindo, quanto do descalabro foi culpa de Quique? Deve ele continuar?
Respondendo à primeira pergunta, muito. Apesar de reconhecer que hoje em dia no Benfica qualquer técnico se arrisca a ser queimado e não campeão, há uma série de erros de Quique que não têm nada a ver com as (in)competências de LFV e do Rui. Cometeu uma série de erros inadmissíveis, e mesmo num clube extremamente bem organizado corria o sério risco de fazer uma má época. E fez, aliás fez uma péssima época, a “sorte” dele foi como já referi entrar após uma época que roçou o ridículo, logo não era difícil melhorar um bocadinho, se bem que ele se esforçou. E não podemos esquecer que ele não sofreu com a saída de nenhum titular da época anterior, e ainda viu entrarem 10 jogadores que custaram mais de 2 dezenas de milhões de euros ao clube.
Quanto à segunda pergunta, defendo há muitos meses que as eleições deviam ser em Junho/Julho. Se fossem e tivéssemos um novo Presidente, defendi sempre que o Rui e o Quique deviam pôr o lugar à disposição, para que o novo Presidente pudesse escolher sem pressões financeiras. Caso fosse decidido dar um segundo ano a Quique por iniciativa do novo Presidente e o do Rui, tentando mostrar que os problemas do nosso futebol derivavam todos do LFV, eu iria aceitar respeitosamente a posição apesar de achar sinceramente que não ia funcionar. Acho Quique um fraco treinador, com graves problemas em termos motivacionais, e que revelou total ignorância sobre o futebol português, daí preferir a sua saída.
Por mim “vaya com dios” fazer companhia ao Nélson, não deixa nenhumas saudades.
nem mais...
ResponderEliminarExcelente.
ResponderEliminarFutebol altamente previsivel. Jogadores fora das posicoes, falta de estudo dos adversarios....houve de tudo.
O que mee ccustou mais no meio disto tudo foi a humilhacao europeia, sobretudo porque era um papel que tinhamos conseguido inverter nestes ultimos anos.
Mostrar à europa inteira o estado em que o Benfica se encontra....foi mau demais.
Americano, desculpa lá mas estás a ser tendencioso.
ResponderEliminarPrimeiro uma crítica não é só enumerar os aspectos negativos. Também tens que por os positivos. Se achas que não os houve, então a tua opinião está errada.
Depois estás a insinuar que o Rodriguez não era titular? E o Rui também não? E o Petit? E o Nelson?
John, houve aspectos positivos, naturalmente, mas foram poucos e não os referi.
ResponderEliminarPetit e Nélson saíram com o aval deste treinador, quanto a Rui e Rodriguez tens toda a razão. Mas isso não altera as minhas conclusões, continuo a achar o seu desempenho péssimo.
Boa análise americano.
ResponderEliminarPara não falar dos tiros ao Reyes, nâo perceber que em Portugal tem de se meter um gajo 15 metros à frente da dupla de centrais, que não se pode dizer bem dos árbitros e por andar com um discurso que muitas das vezes não condizia com o discurso da direcção.
Abraço, Balentone.
Pois Balentone, como eu disse ao John esqueci-me de alguns aspectos positivos mas também de alguns negativos, como foi o discurso contra a corrente do clube. Acho que até eu já estava cansado de encontrar tantos defeitos e tentei parar :)
ResponderEliminarAbraço
Concordo com practicamente tudo e acrescento q não foram só as criticas a Reyes, foram tb as críticas a Cardozo qd, ao mesmo tempo, fazia elogios a Hulk e defendia Paulo Bento. Simplesmente não faz sentido.
ResponderEliminarExcelente comentário. Concordo quase integralmente.
ResponderEliminarSimplesmente acho que o crédito que os adeptos deram ao Quique, se deveu ao facto de ter sido uma escolha de Rui Costa.
O facto de ser estrangeiro ou os maus resultados de 2007/08 tiveram um peso menor.
Quanto ao resto, é uma refexão verdadeiramente notável.
"Simplesmente acho que o crédito que os adeptos deram ao Quique, se deveu ao facto de ter sido uma escolha de Rui Costa.
ResponderEliminarO facto de ser estrangeiro ou os maus resultados de 2007/08 tiveram um peso menor."
Tens toda a razão, até podia ser o Luís Campos, desde que fosse o Rui a escolher teria todo o apoio.
"illusión" em castelhano equivale à nossa "ambição".
ResponderEliminarAlgarviu, já tive essa discussão e garantiram-me que "ilusión" também corresponde a ilusão. E Quique mostrou-se um verdadeiro ilusionista desde a sua chegada.
ResponderEliminarAté prova em contrário, fornecida pelo próprio, o treinador do Glorioso é sempre o melhor e portanto o meu treinador.
ResponderEliminarComecei a embirrar com o Quique quando concedeu excessivas "férias" no natal e no regresso perdemos 0-2 com o Trofense que ia em último. Neste jogo a actuação do Quique foi patética com a rábula do Bynia que acabou expulso e a partir daí o crédito que me merecia foi-se diluindo.
Mesmo o carácter do senhor me parece estranho. Quando andava por baixo com derrotas contra Guimarães e Nacional e empate com o Trofense, havendo sérios riscos de irmos parar ao 5º lugar, dizia que nunca criava problemas aos clubes por onde andava e blá, blá, blá. Quando sente que a popularidade está em crescendo com a vitória em Braga e frente ao Belenenses, a atitude muda.
Que fazer com este empecilho?
PS. Não gosto do JJ mas se vier que remédio senão desejar-lhe boa sorte.
Pois Algarviu, mais um ponto que acho incrível, as longas férias e as constantes folgas de 2/3 dias a seguir às derrotas. Mas aí até culpo mais o Rui.
ResponderEliminarEstá aqui um retrato fiel e exaustivo daquilo que foi este enorme equívoco chamado quique! Apenas não estarei em total acordo no que respeita à constituição do duplo pivot...eu aliás, acho que aquilo nem nunca mereceu ser chamado assim, mas isso são contas de outro rosário. Quanto ao resto, como já disse, fiel e exaustivo. Que vaya con dios também!
ResponderEliminarAbraço
Americano, muito bem.
ResponderEliminarEntão chegámos todos a uma conclusão: Quique não serve.
Então, desculpem lá, mas se ele não quiser sair com acordo, que vá para os juvenis.
E temos de arranjar um treinador. Tempo também é dinheiro.
Hugo, se ele tiver no contrato claramente definido "técnico principal" duvido que se possa fazer essas jogadas, certamente que ele saía, o caso iria para tribunal e ele receberia tudinho.
ResponderEliminarQuem manda fez merda por isso agora ou aguenta ou paga, ou tem a sorte de aparecer um Bétis qualquer para nos salvar.
Com um bocado de bom senso seria possível (digo eu) uma solução tipo pagar o vencimento contratualizado até arranjar outro clube.
ResponderEliminarMas bom senso é um bem raro para as bandas da Luz.
Caro Americano,
ResponderEliminarGostei muito do artigo, no entanto cabe-me colocar algumas questões que me surgiram aquando da leitura:
1. O sistema 4-4-2 clássico é assim uma lástima tão grande? Se é "clássico" é por ser desactualizado ou por ser capaz de ter bons resultados no futebol moderno, apesar da sua longevidade?
2. Será que possuir um pivot defensivo (ou trinco) é garantia de bons processos de transição e de jogo defensivo? Lembro-me que até a esta época sempre tivemos esse jogador (Petit) e, no entanto, também jogamos mal e ficamos mal classificados.
3. Sendo o Benfica actual um cemitério de treinadores, porque não deixar Quique fazer os dois anos de contrato, mantendo estruturas como o LORD que vieram modernizar o clube?
4. Temo que Jorge Jesus, apesar da inegável qualidade e competência, caia com a pressão dos resultados do gigantismo do Benfica. Não basta jogar bem, tem de ganhar, e o Benfica parece-me condenado a passar alguns anos de restruturação (algo semelhante ao que se verifica no Hóquei Patins do Benfica, que após um longo marasmo está a reconstruir-se com base em jogadores portugueses).
Gostaria que fizesses um post a falar destas questões.
Um abraço.
Num mero exercício académico vamos colocar de lado a questão das indemnizações a pagar à equipa técnica de Quique e também ao Braga.
ResponderEliminarEstou dividido. Qual das opções vos parece melhor: Um Jesus de primeiro ano (necessita de tempo e de um plantel à sua medida) ou um Quique de segundo ano (já mais adaptado ao clube)?
Em Outubro, depois de ultrapassada a eliminatória do Nápoles, o ainda técnico do Benfica era enaltecido por todos, chegando ao ponto de se propor/exigir a prorrogação do vínculo contratual. Passados poucos meses passou a ser um dos alvos preferidos dos ataques dos adeptos. A questão é a seguinte: No caso em apreço a passagem do estado de bestial a besta deveria ter tido uma correspondente resposta da direcção? De que forma? A direcção deveria ter demitido Quique quando concluiu que não se atingiriam os objectivos inicialmente propostos?
Grande parte das razões por que não quero o Quique no Benfica na próxima época estão aqui escritas e descritas.
ResponderEliminarNunca foi capaz de evoluir ao longo do ano. Tivesse mostrado ambição, humildade e um trabalho sustentado, mesmo que com os mesmos resultados, e todos nós estávamos dispostos a acreditar. Assim... não.
Estabilidade num erro é instabilidade.