quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

You´re lost, little girl, you´re lost

O Sporting está mesmo a sair da equação. Dei por mim a pensar no próximo jogo do campeonato e lembrei-me, quase de enfado, enquanto abria a boca de sono, "ah é verdade, é em Alvalade", assim como podia ter pensado que era em Coimbra, em Aveiro ou em Paços de Ferreira.
Não nasceu aquele nervoso miudinho que antes nascia, sempre que pensava num Benfica-Sporting, em que passava a semana toda a fazer jogos no pátio e em que cada jogo dava um resultado diferente - depois decidia que o resultado que acontecesse em mais jogos seria o resultado verdadeiro. Escusado será dizer que eu era os onze do Benfica e onze do Sporting, logo o resultado não estava assim tão sujeito à ordem aleatória das coisas, mas do meu pé direito em slice para dentro do espaço entre dois potes de barro, quando o rematador era o Magnusson, e um remate ridículo de trivela, que fazia a bola sair pela lateral (que era uma valeta funda em que a bola galgava metros e metros e era uma chatice para a ir recuperar), quando fazia de Paulinho Cascavel.
Depois disso, já sem bolas no pátio e menos fulgor imaginativo, eu continuava a imaginar resultados na semana antes do jogo. Ou sonhava com eles ou ficava, ali naqueles instantezinhos antes do sono, a fazer equipas e a inventar formas de golos do Benfica. E o jogo chegava e era uma nervoseira, e era uma emoção.
Agora, não. Penso no jogo e nada em mim se distingue, nada sobressai por entre o pensamento. É mais um jogo. Para ganhar. Mas esta falta de coração deixa-me preocupado. Quero que os jogadores do Benfica encarem o dérbi como um jogo de grande componente emocional e não apenas como um jogo igual aos outros.
É que, do outro lado, o sentimento é precisamente o contrário: à quase indiferença que o Benfica sente neste momento em relação a este jogo, do Sporting está a visão da salvação de uma época, de um momento glorioso que os faça sair do pântano em que têm estado metidos.
Por isso, meus caros, vamos a eles como fomos aos vitorianos: massacre. Massacre mas massacre vindo da humildade, do trabalho, do saber que, se lutarmos o mesmo, ganhamos porque somos melhores. O resto do trabalho deixem comigo. Hoje à noite tenho planeado deitar-me e imaginar três golos de bandeira, dois mais fracos (para os árbitros anularem), e uma choradeira épica em Alvalade, com lenços de papel incorporados nas cadeiras castanhas e laranjas e um vale-euforia a ser entregue a todos os sportinguistas no final do jogo, como forma de compensação, que poderá ser usado na casa do Bettencourt, entre maracas, danças africanas e um conjunto extraordinário "bondage" de umas coleiras giríssimas azuis e brancas para os leões porem ao pescoço.



You're lost little girl
You're lost little girl
You're lost
Tell me who
Are you?


I think that you know what to do
Impossible? Yes, but it's true
I think that you know what to do, yeah
I'm sure that you know what to do


You're lost little girl
You're lost little girl
You're lost
Tell me who
Are you?


I think that you know what to do
Impossible? Yes, but it's true
I think that you know what to do, girl
I'm sure that you know what to do


You're lost little girl
You're lost little girl
You're lost


You´re lost little girl - Doors

5 comentários:

  1. O pior é que nesses jogos do pátio o teu onze do Sporting não era ajudado por um Soares Dias!!!


    P.S. Foi bom recordar Jim Morrisson

    ResponderEliminar
  2. Também sinto o mesmo em relação à ida a Alvalade. É lá como poderia ser em Olhão, Paços de Ferreira ou nos Barreiros, é só mais um sítio, já não é a casa do maior inimigo.

    ResponderEliminar
  3. Carlos, é sempre bom recordar o Jimbo.

    Por acaso, tive o meu Soares Dias, tive. A minha mãe. Quando gritava "anda jantaaaaaaar" e me tirava a bola dos pés, impedia sempre jogadas de golo iminente. Uma vergonha autêntica.

    JNF, nunca foi um inimigo. Um adversário, vá. O maior de todos até há uns anos atrás.

    ResponderEliminar
  4. Esse sentimento vai desaparecer em breve. Quando começares a sentir o ambiente do jogo vais ver que há coisas que não mudam: os adeptos. E esses têm-nos um pó que impede que o jogo seja chato. O jogo é de tripla, por muito que estejamos melhor (e estamos claramente). Não me espanta que o Porto preveja festejar o título 2ª feira.
    Também fazia esses jogos, tanto no pátio como em casa, com o Subbuteo :)
    E quando o Benfica perdia chegava à escola com tanta raiva de ter perdido com aqueles parolos que organizava logo um Benfica-Sporting no campo da escola, para verem que o resultado da véspera tinha sido um engano :)

    ResponderEliminar
  5. O Subbuteo... Ainda joguei uns tempos mas confesso que nunca fui muito fascinado. Até aos meus 10 anos não parei em casa. A única coisa que me motivava no Subbuteo eram os livres, pôr o dedinho no ângulo perfeito para meter a chicha lá dentro.

    Quanto à emoção que virá, talvez venha, aos bochechos. Mas se ainda não veio, já não será a mesma coisa. Mas, também, já nada será a mesma coisa. Até porque a memória pinta o quadro com outras cores.

    Quase de partida para a nova Luz para ir ver alemães serem trucidados. E que saudades da velha Luz...

    ResponderEliminar

Vai ao Estádio, larga a internet.