Um dos problemas mais óbvios no Benfica é facilmente detectável se observarmos atentamente os discursos de Jorge Jesus. Não, não me refiro aos pontapés gramaticais ou ao cabelo à cantor romântico; esses são sinais que não só não deslustram como seguem uma tradição que vem de há 20 anos para cá - quem não se lembra dos excelentíssimos bigodes de Jesualdo Ferreira ou Toni? Do "perfeitamente normal" e farfalhudo de Artur Jorge (Obrigado, Sá Pinto)? Dos ares boçais de Souness ou Heynckes? Da profícua diarreia verbal de Manuel José? Do ar de estivador de Camacho? Não, esses são acessórios que o Benfica, como clube popular que é, não deve renegar embora não esteja certo que deva promover. Digamos que, se o resto estiver bem, são distracções saudáveis e formas positivas de rirmos de nós próprios.
O problema está não na forma mas no conteúdo, um chorrilho de ideias pré-fabricadas, pouco originais mas, acima de tudo, nefastas para os objectivos da equipa e indiciadoras do que pensa não só o treinador como toda a estrutura do futebol do Benfica.
Com o título de há um ano, o clube não cerrou fileiras, não se fechou em si mesmo para uma reflexão e um projecto comum baseado na humildade e na noção de sucesso sustentado num ideal de muito trabalho e pouca conversa; pelo contrário: reiventou-se pelo avesso, discursando por megafones a todo o mundo um ideal megalómano, demagógico e pouco humilde, dispersando-se em fait-divers inúteis e em anúncios globais de uma superioridade óbvia, não pelo trabalho a fazer mas pelo trabalho que estava feito. Os resultados, esses, são bem conhecidos. Aliados a decisões estratégicas desastrosas por parte da Direcção - tanto ao nível das estruturas do futebol, em que um incompreensível apoio a Fernando Gomes para a Presidência da Liga teve os resultados na arbitragem deste campeonato que todos conhecemos, quanto ao nível da própria organização interna, em que pululam seres estranhos e adeptos de outros clubes, em que a maior aberração, e a que no fundo resume bem as incongruências de quem dirige o Benfica, passa por termos como prospector para a América do Sul um tal de Jorge Gomes para quem o Porto "é uma religião" e através do qual perdemos, por exemplo, Falcao e James Rodriguez.
Por isso não espanta que na Benfica TV, após a vitória no Dragão por 2-0, tenhamos ouvido durante 3 meses falar numa presença assegurada no Jamor ou que Jesus e Vieira tenham em Agosto falado em conquistar a Champions. Todo o processo ideológico de quem nos dirige está errado e voltado apenas para um sucesso pontual, que logo se dilui em discursos imbecis e em estratégias falhadas: de repente, de uma posição altamente favorável pelo título conquistado e pela excelente equipa rotinada que tínhamos, o Benfica desbaratou a sua superioridade com a falta de humildade e estupidez habituais e bem conhecidas de Vieira.
O objectivo parece claro: vender sonhos absurdos e vender jogadores. Deixámos de ser um clube de futebol para passarmos a um projecto empresarial que acumula empréstimos sobre empréstimos (quem vier a seguir, que pague), sendo que para os ir pagando vamos vendendo as melhores peças - já foram Di Maria, Ramires e David Luiz; estão na calha Coentrão, Cardozo, Javi e outros se chegarem propostas a que muito pomposamente os nossos dirigentes chamam de "irrecusáveis", mesmo que para isso tenham eles próprios de se deslocar às cidades dos clubes compradores, numa lógica negocial só ao alcance dos predestinados.
Entretanto, vão-se comprando autocarros de jogadores, uns para os juniores, outros para o plantel principal, outros ainda para serem emprestados e outros que não sabemos bem para que servem, a não ser para aumentarem exponencialmente a folha salarial no orçamento.
Já não me iludo em projectar pré-épocas organizadas e com critério, porque os exemplos da última década servem de farol para o futuro. Já não surpreende nem quase machuca, enquanto vou lendo notícias referentes ao planeamento da próxima época aceito-o com a resignação própria de quem deixou de lutar - assim como decidi abdicar de ver provas em que participem simultaneamente Porto e árbitros portugueses, também a minha descrença em que algo verdadeiramente mude nas acções e no discurso (que apenas reflecte e antecipa as primeiras) é uma realidade.
E, por isso, não me espantei quando hoje fui ao site do Benfica ver a conferência de imprensa de Jorge Jesus. Ouvi-lo, naquele seu tom de fanfarrão de Alfama, desenrolar as suas qualidades, os seus méritos, as suas mais-valias, não sem antes dizer que "os outros é que deviam falar sobre mim", foi ouvir o mesmo Jorge Jesus em Agosto da época passada e foi ouvir Vieira durante 10 anos. Estão bem um para o outro na fanfarronice, na falta de humildade e no desrespeito pela qualidade dos adversários. E, por isso, o sucesso é pontual e rapidamente desbaratado.
É que... Jesus não acha que vai fazer mal ao Aimar não jogar hoje nem Quinta (por estar suspenso). Porquê? Porque o Aimar vai poder entrar fresquinho para a final em Dublin.
És o maior da tua rua, pá.
Aimar tem de ser gerido com pinças. Para Dublin será Aimar + 10. Eu metia-o no congelador e só o tirava a 17 de Maio.
ResponderEliminarClaro, concordo. Acho bem que nem sequer entre hoje. Mas não era esse o ponto. O problema das declarações do Jesus está na assumpção de que haverá final para o Aimar jogar. Mais moderação, se fazem favor. Depois de tantas declarações imbecis ainda não aprenderam?
ResponderEliminarJesus disse que ia sentir falta do Aimar contra o Braga... mas ele pode fazer alguma coisa agora contra isso?
ResponderEliminarSerá que este blogue está escrito em mandarim?
ResponderEliminarConcordo com a parte do JJ. Também acho que ele devia deixar de falar tanto se si próprio. E pensar que já está em Dublin, e falar sobre isso, vai sair-lhe caro, muito caro.
ResponderEliminarAlém disso, será que ele tem de responder a todas as perguntas idiotas dos jornalistas? Devia responder que só responde a perguntas sobre o jogo e mais nada.
Enfim, alguém que tenha uma conversa com ele para que não esteja sempre a cair nas armadilhas dos jornalistas. A inteligência também se vê nisso.
JJ e Vieira são uns fanfarrões. O problema é que são uma amostra fidedigna da esmagadora maioria dos benfiquistas. Esta ideia de que mesmo com o Rojas, o Escalona e o King vamos ser campeões porque somos o Benfica é a génese das grandes derrotas. Se ainda por cima viermos de um título, mais intocável parece essa superioridade.
ResponderEliminarPosto isto, continuo a achar que o Jesus é a solução para os próximos anos.
Eh pá, deixem o pessoal de Alfama em paz. Não existe local no país com tanto benfiquista por m2.
ResponderEliminarJJ muitas vezes rima com idiota. E ultimamente cada vez mais.
Esperemos que as férias após o final de época lhe façam bem.
Concordo com o Shankly. Apesar de tudo ainda acredito no gajo. No entanto conhecendo o futebol português posso até fazer futurologia: não ganhando a liga Europa é despedido por aquela espécie de presidente que temos. De seguida é anunciado com pompa e circunstância o salvador do clube e com ele "chegaremos às glórias passadas". Entretanto no Porto aparece uma proposta irrecusável dos tubarões a Vilas Boas. Este sai, vai para lá Jesuss que ganha tudo e mais uma coisa.
ResponderEliminarDe Vieira a Jesus toda esta estrutura está desacreditada aos olhos dos adeptos e se Rui Costa se mantém incólume é porque tem sabido resguardar-se (ou esconder-se para ser mais preciso).
ResponderEliminarEm caso de uma hipotética mas muito pouco provável vitória na liga europa, Vieira e Jesus poderiam salvar a face se soubessem gerir esse sucesso. Caso contrário, ficamos muito mais próximos de conhecer a extensão dos estragos feitos com os negócios tresloucados de Vieira. A continuação da debandada dos melhores jogadores a troco de uma dezena de novas ilusões servirá para abrir os olhos aos mais fanáticos.