quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cuore rosso

Longe da vista, nunca do coração, nestas últimas três semanas vivi o Benfica pelas entranhas. Sem saber de resultados, sem ver jogos, desconhecendo os marcadores dos golos, se os houve, o clube atinge-nos onde dói e simultaneamente nos sabe melhor: na alma. Sem cores, som, olhos, resta-nos a redescoberta de um sentimento de infância: o clubismo sem explicação. Amo-te muito, Benfica.

As razões para tão grande afastamento são claras: a propositada ausência que me impus da modernidade tecnológica mais básica; um amigo que, tendo ficado encarregue da missão ultra-importante de mensageiro de golos, umas vezes se esqueceu, outras ficou sem saldo; a desesperante falta de interesse no futebol português além-fronteiras, facto mais que provado na inexistência de qualquer notícia, mesmo que de duas linhas, sobre este nosso campeonato no excelente Gazzetta dello Sport - Holanda, Rússia, Escócia, Roménia, até Hungria mereceram, mesmo que timidamente, uma ou outra referência na página sobre futebol internacional. De Portugal, zero. Fica para reflexão.

Por isso, podem adivinhar a sede de bola com que cheguei ontem à 11:10 ao Aeroporto de Lisboa. Pensei em ir ver um jogo qualquer de infantis, desde que uma das equipas envergasse camisolas vermelhas, só naquela de ficar mais próximo de assistir a uma bola pontapeada por jogadores vestidos à Benfica. Mas descobri, no café do Bairro, duas coisas: que tínhamos empatado no Dragão (o que, não sendo fenomenal, me deixou surpreendido - essencialmente, por aquilo que o Armando relata em posts anteriores, compreenda-se) e que havia jogo na Roménia. Estava, portanto, o dia preparado para uma ressaca de viagem em grande.

E, de facto, apesar de o resultado ter sido escasso, não pude ter melhor recepção: o Benfica está a jogar muito mas muito à bola. Falta-lhe só - e talvez tenha sido pontual, não sei, estive afastado - definir melhor os infinitos lances que cria de superioridade ofensiva. Não falo só do remate, mas dos dois, três passes anteriores à possibilidade de golo. De resto, uma delícia: segurança na defesa, circulação de bola exemplar, criação de espaços, apoios frontais, transversais, planetários, bola corrida, rápida, procura das laterais, mudança de flanco. Tudo. Esta equipa está muito bem trabalhada pelo nosso mister e, se continuar a evoluir, pode ser que o meu pessimismo com que parti para Itália se desvaneça e nasça em mim um homem novo, cheio de esperança. 

Ontem, admito, deliciei-me. E era só isso que eu queria quando chegasse a casa, após longo interregno. Ontem o Benfica recebeu-me com música, descalçou-me os ténis, massajou-me os ombros, fez-me um prato fabuloso, serviu-me um copo, acendeu-me um cigarro e aninhou-se-me nos ombros. A minha pátria é o Benfica.

9 comentários:

  1. Com o Benfica não se aplica o ditado "longe da vista, longe do coração".

    Passaste por Superga?

    ResponderEliminar
  2. Não, Éter. Andei pelo centro-norte do país. Um rectângulo entre Pisa-Veneza e, no sul, Roma-Ancona.

    Já lá foste?

    ResponderEliminar
  3. Và, desembucha que eu faço de guia turistico à posteriori.

    (sobre as ultimas semanas do Benfica falaremos depois)

    ResponderEliminar
  4. O que é que queres saber, LDP?

    O Porto está a levar 3 e, tendo em conta a quantidade de lances falhados pelos russos, podia estar com o saco cheio de 5 ou 6 batatas.

    Gosto deste Porto.

    ResponderEliminar
  5. Não, nunca fui a Turim. Só Roma e Florença.

    ResponderEliminar
  6. Florença é lindíssima....nice trip! :)

    ResponderEliminar
  7. Só conheço Milão (castelo Sforzeco, Duomo, Catedral e pouco mais) e o caminho para o Mont Blanc; a autoestrada que vai de Roma a Nápoles (em direcção ao sul) e passei uma semana a vadiar pela Basilicata-Sur (com uma breve ida à costa Sudeste). Muito bonito de se ver, apesar de ter visto Nápoles da perspectiva Norte-Sul e ficar com a ideia de ser a fachada mais feia de uma cidade à face da Terra (mas também não conheço assim tantas mega-cidades, sou do campo :P)...

    Infelizmente, na noite que passei em Milão, chovia a cântaros vai daí, gajas boas e as modelos que muito se fala... nem vê-las. :/

    ResponderEliminar
  8. Bem regressado sejas. Essa viagem é fabulosa.
    Estou de acordo contigo. Apesar de a oposição ser fraquinha (ou não, veremos), a nossa capacidade de manter a posse de bola foi excelente. Claro que há quem não goste: se temos muita bola é porque os outros são maus, logo devíamos ter goleado. O luis do sector tem uma visão oposta à minha (e à tua).

    ResponderEliminar
  9. Claro que as grandes cidades (Roma, Pisa, Florença, Veneza, Padova, Perugia...) fascinam, mas o que valeu mais nesta viagem foi o facto de percorrer 2.000 e tal quilómetros de carro pelas povoações, às vezes pequenas aldeias que nos surpreendem no meio do nada. E Itália tem tudo: mar, campo, montanha, parques naturais incríveis. Aconselho toda a gente a evitar andar de transportes e a alugar um carro. Não tem comparação. Com o Fiat Panda (carrinho tranquilo, que gasta pouco e está a fazer um sucesso do caraças em itália), deu para tudo: perdermo-nos no meio de estradas fechadas, encontrar burros num caminho de terras ao pé de conventos com quinhentos anos abandonados. Tanta coisa. Tudo o que, se fôssemos de autocarro ou comboio, não podíamos ver. E não foi caro: 350 euros por 18 dias. A dois, vale muito. A 3 ou 4, então, fica muito mais barato do que andar a cumprir horários de transportes públicos sem ver o essencial.

    Mas fiquei com o bichinho de fazer o mesmo mas para baixo de Roma: todo o Sul e a Sicília.

    Grande país, a Itália. Com estradas de merda e condutores completamente loucos. Com uma beleza e cultura que não acabam.

    Shankly, vi o texto do Luís. Acho que nunca discordei tanto de um texto de um benfiquista. Estou contigo.

    ResponderEliminar

Vai ao Estádio, larga a internet.