Não consigo livrar o meu corpo do Benfica. Carrego-o para os confins do mundo, vou no ar para o Brasil, volteio no Matogrosso, esqueço-me de mim na estrada da morte que chega a La Paz ou então enterro os dedos na terra perto de uma fonte de água ali tão perto de um sítio que é perto e quase longe de Abrantes. Mergulho por cima de uma pedra e a cabeça vai em voo rasante ao Benfica até à água e depois até ao fundo do poço onde descubro colares cheios de lima e de tempo. Pego neles como tesouros e as limas que vão soltando a nhanha milenar dizem coisas estranhas, como se estivéssemos todos jacarés.
Hei-de afastar-me do Benfica num sítio qualquer. Falta-me a Ásia e sua cavalgadura de cheiros e aromas, nomes sem aviso e questões. Perguntarei a alguém com boa cara: "é aqui a Ásia?" e alguém responderá com solavancos-soluços, no seu idioma de guitarra eléctrica: "é, sim senhor, é sempre em frente". Comerei vertigens de molhos e lugares desconhecidos, ventos diferentes e luas, rios cheios de estranheza. Hei-de procurar Portugal naquilo tudo e sentirei vergonha e também orgulho, não sei bem porquê nem como, achando que vivo para além do Benfica.
E depois isto: esta lama em que rodopio em transe por tudo, estas luzes sobre o Tejo, milhares (milhões?) de ligações que se entretelam nos poros e nos assustam e provam que somos muito menos distanciados da origem do que supomos. Não, eu quero afastar-me do Benfica, ir descobrir conventos e túmulos, passagens subterrâneas para o esquecimento clubístico. Basta isto: apanhar o avião para o próximo Bosão de Higgs.
Gosto de pensar o Benfica também dessa maneira... simbiose de emoções humanas, cruas - carne viva!
ResponderEliminarQdo parares ficas 20 anos sem ir ao estádio. A sofrer em silêncio.
ResponderEliminarUm dia o teu filho diz q é do Benfica e tu confessas q és simpatizante.
Andas a dar demasiada importância a isto.
Eu só dou importância qdo subo para o alto dos moinhos. Tenho medo da overdose de Benfica.
O Benfica é como o casal ventoso: uma pessoa pode sair do Benfica... mas o Benfica nunca sai dessa pessoa. Sei que é uma doença e o que vou dizer pode parecer politicamente incorrecto, mas... fico feliz por saber que não sou o único a padecer do mal. Não sei como fazes, mas normalmente quando tenho violentos ataques de Benfiquite em dias sem jogo, normalmente resolvo a coisa com 2 colheres de golos em Liverpool ou 6 gotas de bailinho de alvalade, isto claro, depois de limpar a espuma dos cantos da boca.
ResponderEliminarAbraço
fumas umas coisas potentes!
ResponderEliminarAinda que seja uma coisa maravilhosa, descurti bué esta posta.
ResponderEliminarPorque por mais que eu descurta o teu tom, a esmagadora maioria das vezes dizes exatamente aquilo que eu penso.
Porque por cada verdade que dizes aqui, eu sinto-me like a virgin, touched for the very first time (e a não gostar...). Ou seja, sou daqueles que não tem problemas em varrer para baixo da cama.
Por isso te odeio, e por isso te venero.
Uma coisa é certa: tu já és uma instituição e já perdeste o direito de escolha - tu já és o Benfica também.
Vais ter que partilhar isso connosco o resto da vida.
Perdoa-me a parvoice, a fezada, mas há noites que correm muita bem :)
Grande abraço ribatexano