Guttman, "O Feiticeiro"
Completam-se
hoje 31 sobre a morte de um “Feiticeiro Húngaro” que conduziu o Benfica ao
Olimpo entre 1959 e 1962. O Senhor que até hoje conseguiu, por via de palavras, marcar
para a posteridade a descrição do que é a “Mística Benfiquista” :
"Chove? Está frio? Está calor? O que importa? Nem que o jogo seja no
fim do Mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno. Seja
pela terra, pelo mar ou pelo ar eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da sua
equipa... Grande, incomparável e extraordinária massa associativa!”
Bela Guttman de Seu nome. O “Feiticeiro” como ficou conhecido, graças aos
seus métodos inovadores – tácticos e psicológicos - que aplicou na altura, aliados
a uma arrogância ímpar. Extremo defensor
do futebol de ataque bem como de jogadores jovens, foi graças à “ratice” de
Guttman que o Benfica eleva na Sua
história um Rei próprio de Seu nome Eusébio da Silva Ferreira. Mais importante
que qualquer Presidente da República! O meu Pai costuma dizer: “a 1ª Dama deste
País é e será a Flora”..
E eu, ao que constato, tem toda a razão!
Foi e é pelos relatos do meu Pai que vou assimilando e saboreando esta
Gloriosa etapa da vida do Nosso Benfica. Diz-me ele que a base já lá estava
quando Guttman tomou conta dos destinos da Equipa de futebol, havia sido formada
pelo não menos grandioso Otto Glória, o que “O Feiticeiro” fez foi elevar o Benfica, com a Sua mentalidade muito
própria e com os seus métodos revolucionários, ao patamar seguinte… O Olimpo.
Mas do Olimpo fez o Benfica descer ao inferno quando, após se sagrar bicampeão
europeu e não vêr as suas pretensões de aumento salarial correspondidas pelo
Benfica – que não tinha dinheiro para tal – bate a porta e profere uma frase
que até hoje vinga e ficou conhecida como “a maldição de Guttman”:
"Nem daqui a cem anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o
Benfica sem mim jamais ganhará uma Taça dos Campeões."
Eu não acredito em bruxas nem sou supersticiosa mas já lá vão 50 anos.. Já vi o
Benfica em 5 finais europeias… Ainda que tente não me lembrar desta “maldição”,
é inevitável.. E nem sob as lágrimas do pedido do Rei sobre a campa do “Mestre”
(como lhe chamava), em 1990, antes da Final contra o Milan que o Benfica viria
a disputar na cidade onde o “Feiticeiro” se encontra sepultado, o feitiço se
quebrou..
Dou várias vezes por mim a imaginar o que diria Guttman ao ouvir frases
como: “Dentro de 3 anos o Benfica será o maior do mundo” (2003) ou “Vamos arrasar pela Europa fora” (2005)… Onde quer que ele
esteja.
Deixem-me sonhar e acreditar que não poderia haver
melhor sítio para o “feitiço” ser quebrado do que na Luz, em Casa. Na Nossa
Casa. Nossa e Dele, onde pegou nas Estrelas e pintou o Céu.
Terminando por onde comecei..
Se Guttman fosse vivo, adaptaria com toda a certeza a definição que deu da
Mística Benfiquista aos tempos modernos. Viajando por algumas experiências
pessoais de há uns anitos a esta data, alterações climatéricas comparadas com
cadeiras pelo ar, apedrejamentos, cargas policiais, e Praças Públicas que se
assemelham a zonas de guerra, são como, e perdoem-me a expressão.. “limpar o
rabinho a meninos”!
Sacrifício não é…
- estar debaixo de um autêntico diluvio durante quase 3 horas em pleno mês de
Dezembro e vêr o Benfica ser eliminado na última grande penalidade que lhe dava
acesso aos oitavos de final da Taça de Portugal;
- sair de casa para ir vêr o Benfica com alerta vermelho comunicado pelo
Instituto de Meteorologia – se é vermelho nenhuma desgraça pode acontecer, só
se o Benfica perder. O que não foi o caso, o único furacão que passou naquele
campo, sim CAMPO, chamou-se Di Maria;
- estar a destilar debaixo de 35 graus durante 90 ou 120 minutos;
sacrifício não é fazer 320 kms com 39 de febre para estar presente num
Benfica-Barcelona e vir com “50” para fazer outros 320..
Sacrifício é....
- é estar numa final da Taça da Liga, sob protesto e amargurada mas não deixar
de lá estar e gritar golo e deixar correr uma lágrima.. Afinal, é um troféu.
Apesar de tudo, é um troféu. Uma contradição de sentimentos que acaba por ser
suplantada, por breves instantes, na altura em que se ergue a Taça e os
papelinhos vermelhos e brancos vão cortando o céu;
- é sair com uma derrota debaixo de uma chuveirada de cadeiras e pedras no
Minho sob a banda sonora de insultos durante 90 minutos mais os descontos;
- é saber que graças à polícia de intervenção a camisola que trago
orgulhosamente vestida passa incólume a mãos indignas e baixinho, para comigo e
para que os meus ouvidos não ouçam o barulho de fundo, canto
fervorosamente “ser Benfiquista, é ter na alma a chama imensa..” ;
- é estar numa jornada em que perdemos o título, em que mais ninguém está, com
aqueles que saem de cabeça baixa do relvado…
Podia continuar mas sei que, tal como eu, a maioria dos que me vão lêr, saberão
que há sacrifícios que Bela Guttman não sabia, nem imaginava, que viriam a
fazer parte do Almanaque da Nossa Mística. E estes que acabei de citar são os
que menos custam.. comparados com outros muito mais profundos que afectam a
essência do ser-se Benfiquista. Se ele os imaginasse duvido que tivesse
proferido a “frase maldita”. Saberia que seríamos fustigados o suficiente para
ter coragem de a proferir.
Por isso reforço: se Bela Guttman vivesse nos tempos de hoje, a sua descrição
de “Mística” não seria tão melodicamente poética como foi há mais de 40 anos.
Mas ainda bem que não vive nos tempos de hoje. O Benfica também é poesia mas a
dos tempos de hoje não é tão melodiosa como o era no Seu tempo.
Não há poetas como os de antigamente.
Bravo. Alma de Benfiquista! Palavras que saem do coração!
ResponderEliminarTivéssemos hoje um Eusébio e era suplente do Melgarejo a defesa esquerdo.
ResponderEliminarÉ possível termos saudades de um tempo que não vivemos? É. Eu tenho.
Excelente, Marta.
Vamos ser campeões esta época e preparar a próxima para ganharmos em casa. Esse é um desígnio que devemos ambicionar, deixarmos a modorra e a mediocridade em que nos afundamos e ambicionar novamente tocar o céu, sem promessas, mas com convicções.
ResponderEliminarVamos quebrar a maldição que carregamos há tantos anos.
Muito bom texto.
Apenas mais 2 exemplos:
Sacrifício é ver apagar a luz e ligar a água para dar outra dimensão à festa de outros em nossa casa, isso sim é um grande sacrifício.
Sacrifício é ir a uma cidade anteriormente acolhedora e agora maldita perder com um bando de arruaceiros a hipótese de ir a mais uma final europeia.
É altura dessa profecia ser enterrada!
ResponderEliminarEpá, o Porto, por muito que nos custe, já quebrou 50% da profecia, uma vez que é bi-campeão europeu. Ou só conta em anos seguidos.
ResponderEliminarSeja como for, falta a parte mais importante, o Benfica voltar a ganhar. Não será fácil, mas impossível não é certamente.
Bom texto. Boa aquisição Ricardo. Parabéns aos 2.
Abraço
Germano, só é considerado com 2 títulos consecutivos, à semelhança dos nacionais.
ResponderEliminarObrigada. A todos.
A prospecção deste blogue é qualquer coisa. Se fôssemos nós a escolher, já tínhamos lateral-esquerdo de luxo.
ResponderEliminarMuito bom, Marta. Dá-nos mais que é para isso que não te pagamos.
Foi a primeira vez que vi televisão.
ResponderEliminarFoi a primeira vez que um jogo do Benfica.
Foi a primeira vez e a ultima que vi Bella Gutman:
Foi no dia que nos sagramos Bi-Campeões Europeus.
O jogo do qual saí mais constrangido foi o que fizemos com o Celta de Vigo e não foi por aquela derrota surreal em que o Benfica até teve dominio do jgo mas cada vez que os gaijos vinham cá abaixo marcava.
Nesse gogo com um estádio superlotado onde o apoio às equipas estava dividido pela invasão que fizemos a Vigo amargurou-me ver dois jovens na casa dos 20 anos, com o publico Benfiquista quase todo de pé devido a sobrelotação e esses dois jovens sentados no cimento com a a cara entre a mãos
entre a cara.
Também pela minha desilusão mas principalmente por eles deixei cair algumas lágrimas.
Marta, brutal, arrasadormas ao mesmo tempo terno, este post merece moldura.
Parabens.
OFF ((Peço desculpa mas acho que devo fazer este esclarecimento))
Já que falamos de treinadores queria comentar a resposta ao meu comentário do Fernando Tomás.
Dizer-lhe que a saída do Toni do Benfica nada teve a ver com os seus gostos, que não passam de besteiras nem com alguma insubordinação, verdadeira, dos russos Yuran e Kulkov que até foras doa grandes obreiros do titulo bem como da eliminação do Leverkusen.
Nem foi culpa de Gaspar Ramos nem de Damásio mas sim de Abilio Rodrigues que era o homem forte dessa direcção sobrepondo-se inclusivé a Damásio.
Também Vieira o despediu como a um cão, ficando ainda por cima a arder com muito, quando ele om elevado sentido Benfiquista se opôs a que Vilarinho despedisse Mourinho porque na sua opinião o Benfica estava a ser bem conduzido. Tivesse Vilrinho ouvido o conselho e hoje falariamos de coisas bem mais alegres.
Isto que lhe digo sei-o de fonte limpa e por respeito ao Toni não devo ser mais explicito.
Pois é Marta, isto de maldições já encheu o saco há muito tempo.
ResponderEliminarFoi Veloso a falhar o penalty, o Hernani a ouvir o som de um apito...
Sacrificios... felizmente nunca tive grandes problemas... Talvez por uma ocasião em Coimbra onde, trajado e no meio da MN, só gritei golo quando o Bryan Deane fez o 1-2.
Mas nessa altura já o estádio era todo do Benfica. Houve vozes discordantes, alguns invectivaram os jogadores quando as coisas não funcionaram... a culpa passou para Souness, depois para Vale e Azevedo... Mas no fim a família reparou que a mesa era a mesma, e que só havia um Benfica.
Estádio a abarrotar com um mar de vermelho branco e preto a cantar uma só melodia... Ser Benfiquista....
Excelente texto, parabéns.
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarObrigado Marta, já me deste ânimo para este dia de trabalho, no mais, já estou revigorado e com vontade para Domingo!
Cumprimentos,
Pedro
Marta Mesquita, se assim o é, não vai ser fácil a nenhum clube ser Bi-Campeão Europeu. Nem mesmo falando de colossos. Se este Barça não o conseguiu ainda, não estou a ver tão cedo alguém conseguir.
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecimento.