domingo, 7 de outubro de 2012

O futebol é resultados


Eu ia fazer um apanhado das sensações e dissertar muito sobre as coisas. Mas antes li o Religião Nacional e achei que estava tudo dito:

"«O futebol é resultados»


Daqui a um mês chegaremos ao ponto em que os benfiquistas discutem penáltis e frangos como factos determinantes do sucesso ou do insucesso da época desportiva.

Daqui a dois meses estaremos no ponto em que os benfiquistas discutirão o treinador como factor de sucesso ou insucesso da época desportiva. Por alturas do Natal, reeleito e com a época perdida, o Vieira, encostado à parede, vai chegar a acordo com o Jesus para a rescisão amigável do contrato, contrata o Scolari e inicia aquele que será o seu «último projecto» como presidente do Benfica.

Nessa altura, o fracasso desportivo de Vieira, então já indisfarçável, será utilizado para endeusar Pinto da Costa, e os adeptos do Benfica, indefesos, serão confrontados com a costumeira «falta de liderança» como factor de sucesso ou de insucesso da época desportiva.

E depois começa tudo outra vez.

Se não for nestes prazos, é noutros, se não for em Dezembro é em Maio, mas a lógica é a mesma.

O que é que está errado neste ciclo vicioso?

É a falta de qualidade de alguns jogadores, treinadores ou dirigentes, ocultada pela dimensão do clube? Não.

É uma deficiência estrutural do clube? Não.

É a «cultura»? Sim, mas não no sentido que se lhe quer dar. Nem se compra cultura no mercado de Inverno, nem se acorda, um dia, com cultura de vitória, nem a cultura é coisa que se tem quando se ganha e não se tem quando se perde.

O que está errado, neste ciclo vicioso, é o momento em que se pensa em termos de «sucesso ou insucesso da época desportiva».

O momento em que se divide a existência de um clube como o Benfica em «épocas desportivas» é o momento em que se inicia o fracasso, porque é pensar ao contrário. O momento em que se começa a pensar o resultado como centro da razão que tudo move é o momento da vulnerabilidade. Isto é assim no Benfica, no Sporting do Godinho ou no Porto do Pinto da Costa, que ficará igualmente vulnerável no momento em que perder (como o Godinho muito bem lembrou). Num sistema limpo, e com competição à altura, a «cultura do dragão» já faria parte do museu do clube há 20 anos. Não teria chegado, sequer, ao Mourinho.

O sucesso não se divide em épocas, e dificilmente se mede, a longo prazo, em resultados. Estranhamente, todos sabemos que, contra-intuitivamente, o sucesso se mede de forma emocional, subjectiva e, ao mesmo tempo, colectiva.

Qual é a melhor forma de explicar isto? Talvez assim: todos teríamos conseguido perceber se, hoje, os jogadores do Benfica tivessem feito o seu melhor frente ao Beira-Mar. Isto não significa jogar bem, acertar mais ou menos passes, tomar mais opções certas, correr mais. Toda a gente que sabe ver futebol percebe que há uma diferença entre cansaço e falta de entusiasmo, entre um mau passe feito por falta de técnica e um mau passe feito por falta de concentração, entre uma movimentação errada por desatenção momentânea e uma movimentação errada por falta de trabalho diário.

O Benfica ganhou, hoje? Ouso perguntar: o quê?

Admito que sou deficiente. Tenho um handicap de realismo. Mas, como atrasado mental que sou, também admito que teria saído mais satisfeito se tivesse visto o Benfica a perder ou a empatar mostrando um estado de espírito «grande» do que ao vê-lo a ganhar sem mostrar mais que mediocridade.

Não sei por quanto tempo é que o Benfica resistiria a estes «lirismos» da chamadas «vitórias morais», mas sei onde é que o outro caminho vai dar. Ao mesmo lugar de sempre. A este sítio onde, precisamente agora, nos encontramos, órfãos de uma grandeza que todas as semanas esperamos sentir ao olhar para o Benfica e nunca encontramos, defraudados, sentindo-nos traídos pela nossa própria leadade.

Vai dar a lado nenhum.

Dizem vocês: «Para te pores com estas merdas, ao fim de uma semana sem dar sinal de vida, mais valia teres ficado calado mais um mês!». Tudo bem. É legítimo.

Mas estou a ouvir o Jesus a dizer que na primeira parte o Benfica «teve muita qualidade», que «o futebol é resultados», que «estamos em primeiro», estou a ver o pessoal a acenar que sim com a tola e respondo: «Vocês são gajos porreiros, não fazem por mal, amam o clube, defendem-no, defendem-se, mas, no fundo, no fundo, até merecem chegar ao fim e não chegar a lado nenhum. Com campeonato ou sem campeonato. Porque não devíamos ter direito àquilo que não desejamos. E, como somos todos por um, o destino colectivo é ditado por esta grande parte que prefere negar a grandeza.»

Tudo bem. Sem ressentimentos. Sem esta dimensão humana, quase inconciliável, ser do Benfica significaria o mesmo que ser do Avintes. Estou disposto a esperar mais vinte anos. Ser do Benfica é acreditar.

Porque, depois, olho para o Barcelona, e penso assim: «Caramba, aquilo que ali está só existe porque, um dia, alguém acreditou que tinha direito à grandeza e ousou fazer diferente.»"

12 comentários:

  1. Está visto. Querem é que o Benfica perca. Porquê? Porque nao são verdadeiros benfiquistas.

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  2. Francisco: Querem? Isto é assinado pelo Ricardo, e por isso não podes vir aqui generalizar. Acho que é um erro muito grave não dar ouvidos a quem se exprime assim e que vive tão intensamente o seu benfiquismo.
    Pessoalmente gostei bastante do texto, mesmo que duvide ainda da palavra do Senhor Ricardo, sabe-me sempre bem ouvir esta voz messiânica e excessiva. Votava nele para presidente, e já mais que uma vez lhe lancei esse repto.

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  3. Acho que nem adiantava uma derrota, duvido que os fiéis seguidores acordassem, mais facilmente para manifestar o seu incondicional apoio faziam uma tatoo do tipo:

    (LFV)o(J J)

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  4. Pessoal, por favor interpretem o que está escrito, o Ricardo fez o copy do texto do Hugo do Religião Nacionaç e não foi ele a escrever o texto, apenas se revê nele, pois tal como eu e o escriba já vimos este filme demasiadas vezes para não sabermos como acaba

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  5. mas tambem agora nao adianta muito mais estar sempre a bater no ceguinho,ja esta tudo mais que informado,ja tudo conhece a realidade das coisas,ja tudo ou quase tudo esta insatisfeito com a direçao e a gestão do clube,so que.......Oposiçao onde andas?

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  6. Tal como existem vitorias morais, também existem derrotas morais e é isto que tenho sentido regularmente no Benfica. Se o Francisco interpreta isto como desejo que o Benfica perca aconselho-o a comprar dois neuronios e como suplemento uma ligação entre eles.

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  7. Está tudo dito sim... porque eu e todos nós já percebemos que afinal esta "equipa" está presa por arames!
    falta-lhe essa cultura e classe que distingue os melhores, ou os que querem ser melhores!

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  8. Respondendo ao Rui... pergunto-lhe: Algum tipo com dois dedos de testa, com uma vida tranquila, que não queira comer à custa do Benfica se vai enterrar num clube com um passivo de 500 milhões??? Só se fosse doido! Se não gostasse dele próprio! Estou mesmo a ver um Bagão com uma vida arrumadinha, que gosta de passar tempo com as suas flores a entrar em depressão e a perder a sua paz de espírito com uma COISA DESTAS!

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  9. Francisco,

    Que clarividência, que genialidade revelada em tão poucos palavras! Camarada, bora nisso, de vitória em vitória até à derrota final! Mais uma vez!

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  10. oh Ricardo, tu e o Hugo podiam fazer uma parelha e candidatarem-se à presidência... ainda que saiba que não deve ser esta a forma de um benfiquista pensar, digo, e com convicção: pior não ficamos!

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  11. Concordo, obviamente, com o texto do Hugo. Agora, penso que a questão fulclal em relação ao jogo de ontem é tentar perceber o que vai na cabeça daquelas daqueles senhores que equiparam de vermelho e que nos presentearam com aquele (mau) futebol. Esta é que é para a mim a pergunta que eu gostava de ver explicada e que me fez vir ontem do estádio com azia e o coração apertado. Estão desmotivados? Mas não têm os ordenados em dia? Ah, já sei: se calhar acham que ganham pouco e querem ir todos para o Zenit. Mas que merda! Não estão em 1º lugar do campeonato? O baile de bola que levámos do Barça na 3ª feira pode explicar uma parte mas certamente não tudo. Porra, já vimos estes mesmos jogadores fazeram exibições brilhantes. Curiosamente, ou talvez não, os jogadores que mais gostei de ver jogar ontem foram os acabados de chegar Lima e Melgarejo. Sinceramente não percebo. Desde o nervosismo constante do Artur ao penalty borrado de medo do Rodrigo (que saltinho paneleiro foi aquele antes de arrancar para a bola?!), passando pela não existência em campo do Sálvio e das bolas paradas mal batidas do Gaitán, foi uma exibição a roçar o nojo. E depois ainda acham pouco assistências de 28.000 pessoas. Tenho a certeza que se o Benfica jogasse hoje só lá estariam 15.000 e eu não era uma delas.

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Vai ao Estádio, larga a internet.