Pobre Sporting.

Ao contrário do que possa parecer pelo último post, imagino o Benfica com relações de cordialidade e estratégias comuns com os dirigentes do Sporting. Num mundo perfeito, essa seria a natural sequência dos dois maiores clubes nacionais, que nasceram e cresceram, apesar das rivalidades e alguns bizarros episódios, em constante e mútuo respeito.

Mas o mundo, malandro, não é perfeito e gerou na generalidade dos sportinguistas um sentimento tão estranho quanto nefasto para o próprio clube: odeiam mais o Benfica do que amam o Sporting. Mas não é só ódio; há ali inveja, dor de segundo filho que tem de levar para a escola os livros ratados do irmão mais velho; há ali choro, mágoa, uma raiva contida e amordaçada que depois desagua em pura maldade, em puro veneno, em violento desespero.

Para eles nada mais importa do que o dia em que recebem o Benfica em Alvalade. A equipa estraçalhada, pior arranque de sempre da história do clube, já eliminados da europa e da Taça, a meio da tabela, um caos organizativo, treinadores sucedem-se a cada 3 meses, em falência técnica, com pedidos de insolvência da sad, rumo a um provável cenário de abismo desportivo e financeiro - há o sério risco de ser comprado por elementos alheios ao clubismo -, e o que tem esta gente discutido nos últimos dois meses, quase desde que começou a época? Claro, o jogo com o Benfica.

Dirigentes, conselheiros leoninos, ex-candidatos anunciam que pode ser a salvação da época! Nas redes sociais debate-se: será, não será? O treinador ainda não percebeu a demência e dá um passo em falso, perguntando sobre a importância de uma vitória sobre o Benfica se na semana seguinte houver nova derrota; logo alguém resolve aquele passo em falso do ingénuo belga e manda viola, esse especialista da causa leonina, anunciar ao país: é o jogo do ano para o Sporting!

De modo que não espanta que, tendo visto o seu jogo da Liga Europa adiado para hoje, aquelas cabecinhas tontas tenham entrado em efervescência: ao natural medo de perder, juntou-se a oportunidade de adiar o acontecimento futebolístico da época na esperança de encontrar o momento ideal - que nunca existe, mas que, como uma ida ao dentista, há-de ser um dia, hoje é que não.

Nem amanhã, muito menos no Domingo, nem pensar em Segunda-feira! O Sporting - informa-nos Pedro Sousa, um apaixonado relatador que acabou a fazer figuras tristes (o coração nem sempre tem razão, Pedro) -, ao abrigo de uma imaginária lei, não se apresentará a jogo. Repare-se na pesporrência de tudo isto: além de já terem jogado por 3 vezes esta época em igual situação (2 contra Porto e Braga, jogos sem importância), ainda se acham no direito de inventar uma lei e - choro supremo - não pedir, não procurar um entendimento, não tentar apelar à sensibilidade benfiquista, não, o Sporting, como filho menos amado de um mundo cruel e injusto, com as roupas usadas e largas do primogénito, faz birra e diz que não joga se não lhe comprarem um Noddy novo.

Compete ao ventoinha lembrar ao rapaz que ainda tem de pagar o que deve e que, se não for brincar, a gente ganha sem sujar os calções. À Nené.