«Porque é que o Benfica não ganha ao Porto?
A pergunta também vale ao contrário: porque é que o FC Porto dificilmente perde com o Benfica, mesmo na Luz? Há três tipos de respostas possíveis: de circunstância, subjetivas e concretas. Só acredito nestas e começo com uma nota prévia: em quatro anos no Benfica, Jesus ganhou algumas vezes ao FC Porto mas não ganhou tantas quanto parecia provável, nem sequer quando parecia por cima em termos de rendimento, opções disponíveis e motivação. Como agora. E só ganhou uma vez no Dragão, para a Taça, perdendo três vezes na Luz.
As causas de circunstâncias são as que se referem às arbitragens, a uma ausência, a erros ou grandes exibições individuais. Proença, Hulk, Roberto, Emerson ou Artur explicam um jogo, não uma tendência. As subjetivas são as que se refugiam nos chavões, tão difíceis de confirmar como de desmentir, de um bloqueio anímico ante o rival, de menor maturidade competitiva, blá-blá-blá. Tretas.
Chegamos ao essencial: a forma de jogar do que chamei "gémeos falsos", candidatos com idêntico rendimento pontual mas identidades marcadamente distintas. Onde o Benfica é emoção, o FC Porto é razão, que se o Benfica faz de cada posse de bola um ataque, o FC Porto quase faz de cada ataque uma posse de bola. O Benfica só se sente confortável quando domina, o FC Porto sente-se sempre cómodo quando controla, mesmo não dominando.
Nestes jogos, o FC Porto é mais igual a si próprio, que o seu modelo não é tão arrasador contra equipas mais pequenas mas, pelo equilíbrio, adapta-se facilmente a jogos de maior exigência. O Benfica sai da zona de conforto quando não tem a iniciativa permanente e os jogadores acusam a mudança de chip se lhes pede que reparem na cara do adversário, para "marcar" Xavi ou Messi, Moutinho ou Lucho, habituados que estão a ignorar anónimos do Moreirense ou do Olhanense. Em suma, o FC Porto mantém o modelo, os princípios de jogo, mesmo quando altera o sistema, enquanto o Benfica mantém o sistema mas acaba, forçado ou deliberado, a jogar segundo princípios diferentes.
PS 1- Para ser justo e coerente: antes de Jesus, o desnível era incomensuravelmente maior e só com ele o Benfica voltou a discutir provas com o FC Porto. Não é de somenos, após a década mais negra da história do clube.
PS 2 - Vítor Pereira esteve muito bem no campo, na gestão do resultado que lhe interessava mas deplorável depois. As palavras de desvalorização do adversário não se justificavam mas pior do que o conteúdo foi o tom. Já há ódio que chegue.»
A pergunta também vale ao contrário: porque é que o FC Porto dificilmente perde com o Benfica, mesmo na Luz? Há três tipos de respostas possíveis: de circunstância, subjetivas e concretas. Só acredito nestas e começo com uma nota prévia: em quatro anos no Benfica, Jesus ganhou algumas vezes ao FC Porto mas não ganhou tantas quanto parecia provável, nem sequer quando parecia por cima em termos de rendimento, opções disponíveis e motivação. Como agora. E só ganhou uma vez no Dragão, para a Taça, perdendo três vezes na Luz.
As causas de circunstâncias são as que se referem às arbitragens, a uma ausência, a erros ou grandes exibições individuais. Proença, Hulk, Roberto, Emerson ou Artur explicam um jogo, não uma tendência. As subjetivas são as que se refugiam nos chavões, tão difíceis de confirmar como de desmentir, de um bloqueio anímico ante o rival, de menor maturidade competitiva, blá-blá-blá. Tretas.
Chegamos ao essencial: a forma de jogar do que chamei "gémeos falsos", candidatos com idêntico rendimento pontual mas identidades marcadamente distintas. Onde o Benfica é emoção, o FC Porto é razão, que se o Benfica faz de cada posse de bola um ataque, o FC Porto quase faz de cada ataque uma posse de bola. O Benfica só se sente confortável quando domina, o FC Porto sente-se sempre cómodo quando controla, mesmo não dominando.
Nestes jogos, o FC Porto é mais igual a si próprio, que o seu modelo não é tão arrasador contra equipas mais pequenas mas, pelo equilíbrio, adapta-se facilmente a jogos de maior exigência. O Benfica sai da zona de conforto quando não tem a iniciativa permanente e os jogadores acusam a mudança de chip se lhes pede que reparem na cara do adversário, para "marcar" Xavi ou Messi, Moutinho ou Lucho, habituados que estão a ignorar anónimos do Moreirense ou do Olhanense. Em suma, o FC Porto mantém o modelo, os princípios de jogo, mesmo quando altera o sistema, enquanto o Benfica mantém o sistema mas acaba, forçado ou deliberado, a jogar segundo princípios diferentes.
PS 1- Para ser justo e coerente: antes de Jesus, o desnível era incomensuravelmente maior e só com ele o Benfica voltou a discutir provas com o FC Porto. Não é de somenos, após a década mais negra da história do clube.
PS 2 - Vítor Pereira esteve muito bem no campo, na gestão do resultado que lhe interessava mas deplorável depois. As palavras de desvalorização do adversário não se justificavam mas pior do que o conteúdo foi o tom. Já há ódio que chegue.»
Carlos Daniel, de muito longe o melhor comentador de futebol que por aí anda. Pena ser a excepção num universo de frases feitas, banalidades e ignorância sobre o jogo. Os sublinhados são meus.
Consta que é dos nossos. Se calhar é por isso que não tem o destaque que outros têm.
ResponderEliminar"Nestes jogos, o FC Porto é mais igual a si próprio, que o seu modelo não é tão arrasador contra equipas mais pequenas mas, pelo equilíbrio, adapta-se facilmente a jogos de maior exigência. O Benfica sai da zona de conforto quando não tem a iniciativa permanente e os jogadores acusam a mudança de chip se lhes pede que reparem na cara do adversário, para "marcar" Xavi ou Messi, Moutinho ou Lucho, habituados que estão a ignorar anónimos do Moreirense ou do Olhanense. Em suma, o FC Porto mantém o modelo, os princípios de jogo, mesmo quando altera o sistema, enquanto o Benfica mantém o sistema mas acaba, forçado ou deliberado, a jogar segundo princípios diferentes."
ResponderEliminar"Proença, Hulk, Roberto, Emerson ou Artur explicam um jogo, não uma tendência"
ResponderEliminarEntão se calhar é melhor falarmos de tendencia quando o Benfica marcar um golo irregular ao Porto (e só peço um!)
Formatted e que tal o penalti inventado na taça que terminou 3-1 para o Porto? E que tal o golo em fora-de-jogo do Saviola que vos deu a vitória por 1-0? E que tal o golo na sequência de um livre inventado onde Djalma só toca na bola? E que tal o golo de livre na sequÊncia de um autêntico tackle a um defesa do Porto na taça da liga?
ResponderEliminarChega de golos irregulares?
Já agora, se o Carlos Daniel não tem destaque pergunto como é o director de desporto da RTPN.
Formatted e anónimo portista, este post pretende explorar a análise ao jogo e elogiar a opinião inteligente e detalhada, muito para além das quezílias da arbitragem. Se preferem enveredar pelo "Dia Seguinte" em vez do "Grande Área", têm bom remédio. Aqui é que não, se fazem favor.
ResponderEliminarGNR, o Carlos tem o perfil exacto dos homens que quero a trabalhar no e pelo Benfica.
ResponderEliminarPedro, esse parágrafo diz tudo.
É gente desta que eu quero ver dentro do Benfica. E há por aí mais Carlos Danieis com capacidade para darem muito ao nosso clube. Cheguem-se à frente de uma vez por todas, caralho.
ResponderEliminarFala-se nele...falam-se noutros nomes para a BTV. Eu aposto mais num nome vindo da TVI.
ResponderEliminarGNR, o Carlos Daniel é um assumidissimo Benfiquista e um distinto profissional.
ResponderEliminarTenho um livro do Benfica com um texto dele. Logo posso transcreve-lo.
Ricardo, desculpa mas não posso deixar passar:
ResponderEliminar"Formatted e que tal o penalti inventado na taça que terminou 3-1 para o Porto?"
A sério? Estás a falar naquele jogo em que o Hulk marca um golo em claríssimo fora de jogo?
Há gente de muita qualidade, JC. É só ver, ver!, como diz o gajo da Liga dos últimos. É PRECISO VER!
ResponderEliminarOu então, mais intelectualmente, da entrada do "Ensaio sobre a cegueira": "Se olhas, vê; se vês, procura".
Shadows, isso sim seria um upgrade. Mas não acredito.
Marta, se puderes fazer esse favorzinho... :)
Porque é que o Benfica não tem um "Paulinho Santos" a pressionar o fiscal de linha como neste ultimo jogo?
ResponderEliminarNão é só o facto do Paulinho ter pressionado o fiscal.
É o facto do Porto ter lá pessoal que gosta do clube, que pressiona pela clube, que dá a cara pelos jogadores.
Para quando um Mozer, um Hélder Cristóvão ou Abel Xavier dentro do balneário para transmitir a mística?
Para quando isto? Ou ficamo-nos pelos mercenários?
Ricardo,
ResponderEliminarVamos a um post sobre isso, aproveitando o desafio que deixei, ainda que em Offtopic, num post anterior.
Porquê pragais colaços, jorges gomes, ricardos palacins, pedros guerras, quando podemos ter carlos danieis...?
Excelente. Carlos Daniel muito claro, como sempre. Também gosto muito de o ouvir e poderia, sem dúvida nenhuma, exercer uma função importante na estrutura do Benfica. Ele e o Hélder Cristóvão, que fala menos, mas sempre com acerto, e que é, dos nossos ex-jogadores, um dos que mais sente o Benfica.
ResponderEliminarCaro Ricardo,
ResponderEliminarJá tinha lido o artigo do Carlos Daniel, mas penso que está repleto de algumas críticas visíveis, mas que regra geral não são tão construtivas quanto isso.
"o Benfica mantém o sistema mas acaba, forçado ou deliberado, a jogar segundo princípios diferentes"
Se calhar não foi bem assim.
Convido-vos a todos a lerem o que escrevi sobre a nossa prestação frente ao Porto, aqui:
http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2013/01/epa-calma-isso-nao-e-bem-assim.html
Eu mesmo não sendo um fan incondicional do Jesus, tenho de reconhecer que ele neste jogo esteve bem... mas leiam e já agora deixem a vossa opinião.