sábado, 12 de janeiro de 2013

Cura contra o mal

Quando eu deixar de acreditar na vitória do Benfica, seja contra que adversário for, atirem-me para a frente de um comboio ou, se não quiserem sangue mas o mesmo efeito, façam-me sócio do Sporting.

 

O racional pode dizer muitas coisas, mas há um lado em mim (imagino que em todos nós) que não deixa nenhum espaço para a coisa pensada e reflectida. E ainda bem. Foi por esse tubo fino de bestialidade ancestral que, submergido nos anos 90, respirei quando em campo entrava o cabelo do Paulo Madeira ou essa avestruz escandinava de nome Martin Pringle. 
  
Hoje tudo é substancialmente diferente. Mesmo a necessária fé irracional que pode aparecer nos momentos em que vemos uma equipa sem aquela luzinha mágica dos campeões tem um espaço próprio e muito mais cómodo: hoje, a um dia do mais importante das nossas vidas, respiro por uma mangueira larga de regadio. Consigo até produzir sons tubulares: Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaimar, Liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiima, Nooooooooooooooolito, Cardoooooooooooozo, Maaaaaaaaaaaaaaaaaaatic, Rodriiiiiiiiiiiiiiiiigo, Artuuuuuuuuuuuuuuuuur, Luuuuuuuuuuuuuisão, Gaaaaaaaaaaaaaaray e todos eles soltam para o mundo mas também para dentro de mim aquela crença que me faz saber - já não só acreditar, saber - que amanhã, com o apoio de gente grande (falo de cantar e gritar e levantar o cu do asfalto em vez da pose de quem está a assistir a um velório), iremos sair do Estádio da Luz com 4 pontos de vantagem (3+1 com vitória expressiva). E que nunca mais sairemos da liderança. 
 
Neste momento, após demorado luto e introspecção, esqueci os anos anteriores, as incompetências contínuas de treinador e presidente. Já não me recordo de onde viemos, o que podia ter sido ou o que acabou por acontecer. Já só penso em Domingo e na vontade que tenho que o Benfica comece a jogar o seu destino. Sem medos nem hesitações. Contra o temor idiossincrático dos últimos 20 anos, tenho fé num Benfica que, além de acreditar em si, tem vontade de subjugar o Porto, de o humilhar, de o deixar no chão. Não por ódio nem por outro qualquer sentimento demasiadamente fútil - deixemos esses sentires para os outros -, mas por querer o seu lugar natural na cadeia das grandezas. 
 
O Benfica precisa - e é urgente, é para ontem - de demonstrar que a cultura de vitória chegou para, definitivamente, ficar. Não como um rasgo que logo desaparece no ano seguinte; não como um momento esporádico na época que se esvai quando se perdem pontos em jogos consecutivos; mas sim como um clube que aceita a sua dimensão, a respeita e faz dela o veículo para o sucesso desportivo recorrente e consecutivo.
 
Chega de medos, de temores, de hesitações. Somos melhores em tudo: adeptos, jogadores e treinador. Jogamos em casa, a família estará toda unida. Não há desculpas nem meias palavras. Nem sequer árbitros que possam mudar o nosso destino se entrarmos em campo com o coração à Benfica. Somos tantos, somos muitos, somos melhores, somos gloriosos, somos o Sport Lisboa e Benfica. 
 
A distância do título não está a 16 jogos, está a 1 - este. Se vencermos, ficaremos com 4 pontos de vantagem. Com o calendário mais apertado para o Porto (especialmente se passar os oitavos da Champions e nós formos eliminados na Liga Europa), restar-nos-á (não sem dificuldades) cumprir as nossas obrigações mais básicas para que sejamos campeões. Não há volta a dar, companheiros: um jogo que vale 4 pontos não pode ter outro desfecho que não a vitória. Conhecendo a mentalidade de uns e de outros, um empate favorecerá os lá de cima. Não pode ser, não tem de ser e não será. Basta que para isso os jogadores saibam o que é o Benfica. Expliquem-lhes, façam vídeos, montagens, apresentações bonitas em powerpoint, saiam à rua, levem os jogadores à conversa com sócios e adeptos, entendam o que é o sentir e pulsar deste clube, compreendam o que nos move e descubram quem queremos derrotar de todas as formas possíveis. 
 
O Porto de Pinto da Costa é o anti-desporto. Representa a podridão do futebol. A maldade, a tirania, a corrupção, a mentira, a falcatrua, a falsidade, a pobreza de espírito. Ganhem pela vontade de vencer, ganhem pela génese da liberdade que sempre respirou no Benfica, ganhem pela verdade, pela bondade, pela amizade e ganhem pelas outras ades todas que andam por aí e são muitas. Ganhem por vós, que merecem este título. Ganhem pelo Jesus, que merece este título. Ganhem por nós, que merecemos e queremos poder ir à festa com a nossa grande família de milhões e milhões de almas num caos vermelho e branco. Ganhem pelos que estão no 4ª anel a ver os jogos numa nuvem-plasma com ligação directa aos nosso corações.

5 comentários:

  1. Que Aimar te oiça, irmão. Que Kardec partilhe um copo contigo na festança que se seguirá, Bruno César uma fatia de picanha e Maxi um gelado.

    Espero que, no Estádio, não sejamos 61000. Sejamos 1. O 12º jogador. Que sejamos felizes.

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  2. vamos ganhar , nem que seja gaitam a marcar com os colhoes , mas vamos ganhar .
    os jodores tem e entrar fortes e mostrar logo aos corrupos que estao ali pra serem derrotados pelo benfica e se marcarmos cedo melhor , que os jogadores sejam espontaneos e sempre que a bolinha esteja a jeito estoirem a **** em direcçao à baliza dos corruptos .
    entrem decididos e sem hesitaçoes .

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  3. só uma coisita aparte da nossa esperada vitoria , porque que os deixam dormir em paz ? eles dormem em lisboa nao ? porque que nao lhes partem os vidros da camioneta no caminho para o estadio ? secalhar eles ja entravam em campo com o sitema nervoso laterado nao ? com uma concentraçao diferente ? secalhar nao é bonito fazer isso , mas afinal é isso que acontece sempre que o benfica joga no porto e tá visto que dá bons resultados pra eles , que tal combater com as mesmas armas ? por mim ate podiam mandar um rocket contra a merda da camioneta e que se safa se ia jogar coxo , odeio aqueles filhos da puta .

    jose cruz

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  4. Meu caro Ricardo

    Aplaudo de pé este texto como os outros dois que escreveste nestes últimos dias e onde provas que o Amor, Paixão e "Romantismo" que sentes pelo nosso Benfica não é ou será compatível com qualquer tipo de desistência.

    No final de contas, nem o Pedro Proença vai apitar hoje, nem o teu bilhete vai ser entregue a mais ninguém.

    Dizias tu que o davas a quem te escrevesse o melhor poema.

    A tua resposta apareceu em forma de prosa!

    Parabéns! Grandes textos!

    Força Benfica

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Vai ao Estádio, larga a internet.