Missão Fenerbahçe parte 2

Insatisfeito com os epítetos de pé-frio que ouvi por causa de ter presenciado a derrota em Istambul, decidi que tinha de ir receber os turcos à Luz ... Não me convinha, em termos profissionais, em termos monetários, pois a vida está cara para todos, até mesmo em termos pessoais e físicos ... Mas pelo Benfica, tudo !!!

Assim sendo comecei a pensar nisso e a ver as alternativas. Entretanto surgiram uns imponderáveis e pensei mesmo que a minha ida à Luz não passaria de uma fantasia. Depois parei. Reflecti. E decidi. Pelo Benfica tudo ...

O futuro logo se verá, mas acima de tudo, não posso ficar na garganta com as desilusões da Pedreira e de Istambul. Se quando o Benfica jogou com o Anderlech ainda era um chavalinho novo, lembro-me bem das épicas meias-finais com o Steaua, vivida no antigo terceiro anel e do Marselha, onde estava por detrás da baliza onde o Manuatu carimbou a passagem. 15 dias antes, estava eu na Suiça, a ouvir o relato num autocarro e a vibrar com o golo do Benfica. Infelizmente os franceses virariam o resultado e na Europa (quem não se lembra daquelas latas com caravelas da Sagres) encontrei o refúgio para não aturar o massacre dos aziados verdes que nunca souberam o que isso era (meias-finais da Taça dos Campeões).

Arrancámos pois de bus para cima esta tarde com um misto de esperança, receio e confiança. Pode parece contraditório mas não o é.  Umas horas depois já estava no Manelito a malhar uma bifana e uma imperial, Sagres pois claro. Descendo mais uns passos e encontrei uns amigos e estacionámos perto do pavilhão a malhar mais umas bifanas e umas jolas. Os turcos, cheios de si irrompiam protegidos com cordões policiais, mas bastava uns cântigos pelo Gala para os meter em sentido. Depois de bem aviado e já a meia hora do jogo lá entrei para o meu sector de sempre.

O estádio estava bem composto, mas não estava cheio. Foda-se !!! Eu fiz umas centenas de quilómetros para apoiar o Benfica e esta gente continua a não ir ao estádio ??? Bem sei que o Sr. Orelhas carregou nos preços (Carrega Vieira nas promessas), mas tratava-se de uma meia-final europeia, bem sei que é só da Liga Europa, mas mesmo assim não deixa de ser um momento daqueles que se guarda para a vida.

Como já esperava os turcos estavam tudo menos intimidados, os adeptos claro está, pois em todas as bancadas havia turcos e turcas passeando as suas cores no meio do vermelho e branco sem que nada lhes acontecesse. Deviam ter estado mais portugueses na Turquia para perceberem do que os turcos são capazes. Como também já esperava a divisão das claques permitia aos turcos fazerem-se ouvir, com aquela musiquinha irritante com que nos martelaram a cabeça no Surku Surkoglu. O Inferno da Luz nunca voltará a ser o mesmo, enquanto estivermos divididos.

Na minha bancada gastei as minhas cordas vocais à exaustão, em especial depois do 1-1, que era quando o Benfica mais precisava. Era preciso acordar a malta e eu e mais uns quantos bem puxámos pelos benfiquistas. A verdade é que não há nada que puxe pelos benfiquistas como os golos do Benfica. Na adversidade resignamo-nos demasiado, claques incluídas. É nesses momentos que a equipa mais precisa, é nesses momentos que temos que apoiar, não é a dizer merdas na net, é a gritar no estádio até que a voz nos doa, pois é isso que a equipa verdadeiramente sente. Gritar pelo Benfica na adversidade é apoiar o Benfica, como o Benfica precisa de ser apoiado.

Do jogo pouco há a dizer, senão exaltar o avançado que mesmo assim continua a ser vilipendiado nas bancadas, o médio que rouba bolas e carrega verdadeiramente a equipa às costas apoiado pelo menino da mamã que tem provado ser um grande jogador. Salvio e Gaitán estão nas lonas. quem os vê ao vivo percebe isso perfeitamente. Lima é um dínamo estando sempre em actividade e sendo o complemento perfeito no nosso ataque. Para os que passam a vida a insultar os árbitros portugueses vejam bem a merda que a UEFA nos tem mandado antes de se porem com tretas.

O nervosismo dos últimos minutos, perfeitamente desnecessário, senão dos jogadores, pelo menos o que transmitiram para os adeptos, atenção que o meu coração não aguenta tamanho sofrimento em doses cavalares, originou uma descarga de adrenalina equivalente à abertura das comportas duma barragem. A felicidade do apuramento, a concretização de uma promessa (Carrega Vieira), a volta ao lugar onde merecemos - as finais europeias - foram o alimento que nos guiou de volta à casa da partida às 3 da matina.

É certo que nada está ganho. O jogo mais importante do ano é já segunda-feira contra o Estoril. Amesterdão está longe, mas este bigode provavelmente vai tentar passear-se no Red Light District, não das putas velhas, mas dos apoiantes do glorioso SLB daqui a 12 dias. Este bigode que irá ao Jamor, com ou sem bilhete, este bigode que pelo Benfica dá o que tem e o que não tem. Este bigode gostaria de ver o título nas Antas, mas sabe que podendo ganhá-lo antes ou depois, há uma final Europeia para disputar 3 ou 4 dias depois e um jogo do campeonato 4 dias depois da final.

Segunda-feira há Estoril e este bigode não poderá estar presente, apenas o fará em espírito. No entanto este bigode apela a que pelo menos 60.000 bigodes ocupem os seus lugares e ajudem uma equipa que precisa da nossa ajuda a chegar ao título. Não penses que não fazes falta bigode. Quando os teus pelos começarem a cantar, os jogadores sentir-se-ão reconfortados, com um tónico extra, de forma a que descubram forças que não imaginam ter. Tu, fazes falta ao Benfica, bigode. Não fiques a esfregar-te nos pelos do sofá enquanto olhas para um stream manhoso. Bigode, não te lambuzes nas jolas do café onde vês os jogos habitualmente.

Mexe esse bigode até à Luz e vai apoiar o Benfica como ele precisa.