domingo, 25 de agosto de 2013

O regresso do Oráculo

Oráculo Ontiano tem andado desaparecido, entregue à contemplação das estrelas, à lenta e parcimoniosa arte da profundíssima introspecção, dedicado ao exercício sublime do pensar em coisa nenhuma. A medo, quase terror, visitei-o na sua gruta milenar, entre a serra e o céu, um lugar despido de artefactos, bibelots e tapetes de Arraiolos. Só uma camita pequena - Oráculo mede o que os homens medievas mediam -, um pote de barro cheio de arroz e uma fonte por onde brotam, além da água cristalina, brilhos de rochas e luzes de estranhos reflexos. Toquei-lhe ao de leve no ombro.

- Oráculo...
- Já sei ao que vens. Deixa-me só colocar este pirilampo no chão.
- Venho ao de sempre, já sabe.
- Alegra-te, filho, hoje é um dia bom.
- Vamos ganhar, Oráculo?
- Não só isso. Hoje será à antiga.
- Como assim?
- 7-0, rapaz. 7-0!
- Tem a certeza, senhor? Isto não tem andado famoso...
- Não há mentiras nas estrelas.
- Mas, se já morreram, não podem estar enganadas?
- Precisamente por já estarem mortas é que estão correctas.
- Não compreendo, Oráculo, mas confio nas suas palavras.
- Agora vai, que me tapas o céu.

Deixei-o de meia-cara inundada de lua e a outra na total escuridão da gruta. Desci a serra a correr em direcção ao Estádio. Tenho de alegrar o meu povo. Senhores, sem mais nem menos: 7-0!

2 comentários:

  1. Ricardo apaga o que ias a escrever e pensa noutra coisa qualquer.

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  2. Este também se chama Ricardo:
    https://www.youtube.com/watch?v=jhO4XMvChqA

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Vai ao Estádio, larga a internet.