Do Restelo, com vista para o rio e com vista para o título

Tinha três idas ao Restelo. A proximidade com a nossa casa, a Luz, sempre fez com que uma deslocação a Belém fosse um passeio natural. A primeira ida foi em 2003, numa vitória por 2-4, aquando da primeira passagem de José Antonio Camacho. A segunda em 2007, na noite em que Weldon, ao serviço dos azuis, deu um nó em Luisão e fez o único golo dessa noite. A terceira foi na época seguinte, com Quique ao leme, poucos dias após aquela noite fatídica na Trofa e o episódio da PlayStation de Jorge Jesus.

Gil, Paços e Belenenses. Encerrou-se assim um ciclo de três jogos fora teoricamente acessíveis com duas vitórias e um empate. Não sendo brilhante, é bom. É bom porque nos deixa mais líderes do que à entrada para este microciclo. Dois relvados pesados (Gil e Belém), outro bem apertadinho (Paços) e muitas dificuldades em todos esses jogos depois, o Benfica alargou a vantagem pontual para o Porto para uns confortáveis 9 pontos.

Desengane-se, no entanto, quem pensar que "está ganho". Não está. Nos últimos dois anos vimos de tudo um pouco: perder 4 pontos nas últimas 3 jornadas, passar de uma vantagem de 5 pontos para uma desvantagem de 3 em 3 jogos, enfim, coisas tristes do passado que nem quero estar aqui a relembrar mas que importam não esquecer. Serão os 9 pontos sobre o Porto suficientes?

Talvez. Mas não é o Porto a nossa principal ameaça. É o Sporting.

Sim, o Sporting. Morto e renascido em menos de um ano. Da falência ao lucro. Do caos organizativo a uma estrutura que vive o clube e que lhe quer bem. "Ah, mas ainda assim são 5 pontos!". "Ah, mas não é o Porto, é o Sporting!". Errado. São "só" 5 pontos e ainda assim "é" o Sporting.

O Sporting joga sem pressão. Joga jogo a jogo, sem preocupações quanto a Taça da Portugal, Taça da Liga ou Liga Europa. Joga com a certeza de que pode virar qualquer resultado, como mostram as reviravoltas de 0-1 para 2-1 nos últimos 25 minutos nas duas últimas jornadas, contra Rio Ave e Sporting de Braga. Está numa fase de lua de mel com a imprensa e fazem-se de coitadinhos e pobrezinhos que não são. E, last but not least, o Porto, quando se vê fora da corrida pelo título, costuma apostar noutro cavalo. Lembram-se do que aconteceu em 2009/2010, com o Braga? Arbitragens a roçar o surreal. Acham que foi obra de quem? Lembrem-se disso. Era menino para apostar que o Porto dava o resultado em Alvalade só para manter o Sporting na corrida. O nosso campeonato é, em primeiro lugar, connosco mesmos. E só temos direito a uma escorregadela, a um empate. Dando de barato que na 30ª jornada já sabemos o que vai acontecer, tendo de chegar a esse dia com tudo já resolvido. Caso contrário… mais do mesmo.