Só se surpreendem os ingénuos, os sonhadores e os inconscientes. A esses, a realidade atinge-os de chofre, sem qualquer espécie de aviso, qual comboio desfrenado e desgovernado. Quando nos preparamos para o pior, a dor é atenuada. Não por fatalismo, não por acomodamento, resignação ou qualquer outro sentimento. A análise fria e racional de tudo o que se tem passado nos últimos dez meses no Benfica leva a essas conclusões. Poderão dizer que falar depois desta derrota é fácil. Será, certamente. Mas não sejam desonestos ao ponto de se esquecerem do que as Pitonisas de Delfos que por aqui escrevem vinham alertando desde o início da temporada.
Três lances com erros individuais, três golos sofridos: no primeiro, Luisão com um corte deficiente, Almeida com perda de bola em zona proibida, Sílvio a colocar meio mundo em jogo e Júlio César a não ser assertivo na saída da baliza; no segundo, Sílvio sem baixar para encurtar o espaço entre o lateral e o central e Luisão com uma abordagem desastrosa, a permitir que Slimani tivesse tempo e espaço para se posicionar na perfeição e para cabecear sem dificuldades; no terceiro, uma vez mais Sílvio, que parte na frente de Ruiz no meio-campo leonino para só conseguir chegar depois do costa-riquenho, e Almeida, que não compreende que tem todos os companheiros de olhos postos no portador da bola e que se esquece da ameaça no espaço vazio onde viria a aparecer Ruiz. Assim se decidiu o derby.
Seria no entanto redutor resumir o jogo a esses três erros. Sé é certo que contribuíram para o resultado, não podemos encobrir o facto de esses mesmos erros surgirem também por questões que não estão exclusivamente relacionadas com as individualidades, com os intérpretes do jogo. Há todo um erro neste Benfica chamado “organização defensiva”. Se Jorge Jesus não era, ao contrário do que alguma imprensa e um ou outro internauta que se acha especializado queriam transparecer, um génio da organização defensiva, Rui Vitória ainda menos será. E com a escassez de qualidade das individualidades, essas carências realçam-se. A ausência de pressão na primeira fase de construção do adversário, o alheamento defensivo dos avançados e dos extremos em vários momentos defensivos do jogo, o espaço entre-linhas que se abre entre o meio-campo e a defesa e a incapacidade de fechar o corredor central tanto em lances de ataque organizado como em transições são só alguns dos problemas que um leigo com alguns anos de futebol a passar-lhe pelos olhos consegue descortinar.
Urge portanto rectificar os erros. Não com a precipitação de despedir o treinador e contratar dezenas de jogadores de forma a constituir um novo plantel, mas com a celeridade necessária para que o Benfica se apresente mais competitivo e com reais possibilidades de lutar por títulos. E se o treinador, quanto a mim, ainda tem espaço de manobra para mostrar o que vale até final da época, o mesmo não se poderá dizer de alguns (muitos) jogadores: é que entre jogadores em início de ciclo, jogadores em fim de ciclo e jogadores cujo ciclo nunca deveria ter começado num clube com a grandeza e com as responsabilidades do Benfica, são poucos os que sobram. Mas isso são contas de outro rosário e que a seu tempo serão analisadas.
O que se vê hoje no Benfica é o resultado de um desinvestimento que se vem observando há quase dois anos mas com uma agudização e vertigem ainda maior desde o verão passado. Já disse anteriormente que não sou contra esse desinvestimento, especialmente por ser um “mal” necessário face ao endividamento em que os actuais dirigentes colocaram o clube e por o Benfica se ter dotado de um conjunto de infraestruturas e de profissionais competentes na área da formação do futebol jovem que poderão (e deverão) recatapultar o nosso clube para o sucesso a médio-prazo. Tem é de haver essa assumpção por parte de quem nos dirige. Tem de haver essa frontalidade e honestidade para com os sócios.
O que aconteceu no domingo na Luz dificilmente voltará a suceder em circunstâncias semelhantes. O Sporting chegou a uma vantagem dilatada de uma forma dificilmente repetível, naquele que terá sido provavelmente o jogo mais fácil da temporada para a equipa de Jorge Jesus. Não se pense, contudo, que a vitória dos verde-e-brancos é injusta ou está aqui a ser menorizada. Não está. O maior erro será, por ventura, pensar que o jogo caiu para o lado do Sporting por acaso. Não, não e não. O Sporting foi mais organizado, soube tirar proveito dos momentos do jogo, foi mais adulto, maduro, trabalhado e, virando as palavras contra o próprio Rui Vitória, foi mais (a única) equipa. Vimo-lo na Supertaça e voltámos a vê-lo na Luz. O Sporting não vencerá o Benfica nem por 0-3 nem com facilidade em todos os jogos. Mas da forma como estão as coisas, seria surpreendente que o Sporting, em dez jogos com o Benfica, não ganhasse pelo menos sete ou oito, alguns deles com facilidade. Por questões que se prendem com as individualidades e com o colectivo. E quem não acredita nisto terá a realidade a entrar novamente de chofre pela cara adentro já no próximo dia 22 de Novembro.
Finalmente alguém vermelho, a pensar as palavras e a fazer a correta analise da partida! O SPORTING foi mais em tudo, o resto são conversas de café!
ResponderEliminarPs: so descordo que o jesus não é um mestre da organização defensiva pois, acredita que é! Facil defender como Simeone ou Mourinho que defendem com 10, difícil é ser das melhores defesas a defender com 4/5..
Tanta palavra quando podias ter dito só isto: O treinador deles é 1000x melhor que o nosso!!!! Ponto.
ResponderEliminarConcordo em absoluto. Acho que o Benfica tem neste momento 3 problemas no futebol.
ResponderEliminarO Facto de ter um treinador que não vive descansado é o primeiro problema. O Rui chegou ao Benfica e ninguém lhe deu descanso, nos dias em que a "estrutura" devia estar a apoiar o nosso treinador estava a atacar o Maxi e o Jesus. Colocou-se sempre em Rui Vitória a pressão de ser o Jesus. Ora, é o velho dilema da namorada que só pensa no ex. Juntamos a isso as digressões sem nexo, as obrigações de meter a jogar Ola John e as pressões sobre se iam ou não contratar.
Depois temos o problema de com os melhores jogadores dos 3 grandes ter já 3 derrotas e duas com adversários directos. Esta analise possivelmente perde por ser feita ainda com o jogo com os do lumiar presente, mas Júlio César não é pior guarda-redes técnicamente que casillas, se houvesse uma outra rigidez defensiva não consigo encontrar no Campeonato melhor dupla de centrais que a do Benfica, faltam-nos laterais, mas no meio campo e na frente temos o melhor conjunto. O que nos falta? Equipa.
Por fim falta-nos estrutura. O Benfica não pode ser um bando de arruaceiros, nem pode ser o menino a quem lhe batem na escola e não responde com medo de levar mais. O acéfalo que dirige os do Lumiar ataca o Benfica todos os dias, começou com o treinador, as caixas, as descidas de divisão e o Benfica só se coloca em patétadas quando responde sem nível. Nem a comunicação do Benfica, nem os fazedores de opinião do Benfica deviam ter esta postura. A defesa do Benfica é feita pela direcção, se a mesma tiver coragem de a fazer.
Por fim 2 ideias:
A direcção do Benfica está em fim de ciclo. Vieira teve visão (sabe-se lá em troca do quê) para dotar o Benfica das melhores infra-estruturas desportivas, assim como do melhor centro de estágios e desenvolvimento que existem em Portugal. Neste momento é um homem sem ideias que recuperou uma má-fase do Benfica, que trouxe o Benfica para as vitórias, que juntou a família Benfiquista de novo em torno da chama imensa. Mas organizou à volta dele um séquito que só tem prejudicado o Benfica nos tempos recentes.
Depois a questão Jesus. Jesus pode ser o melhor treinador em Portugal neste momento (a meu ver é). Chegou ao Benfica como chegou o Rui, mas chegou sem pressão e com ganas de ganhar e de se tornar o que hoje é e só é porque o Benfica assim o fez. Mas não esqueço que Jesus perdeu tudo com a melhor equipa que vi nos últimos anos no Benfica, Artur, Garay, Jardel, Javi, Gaítan, Enzo, Matic, Aimar, Salvio, Witsel, Lima, Cardozo, Saviola, Rodrigo.