terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Indiana Jonas - Em busca da baliza perdida


A expressão que faz o título deste texto é do Nuno Matos e não podia ser a melhor forma de começar a falar em Jonas porque o brasileiro é, ao mesmo tempo, um aventureiro pelos relvados e um descobridor de segredos perdidos. Às vezes parece que só ele tem o mapa que nos levará à baliza; a chave que abrirá a porta sagrada do golo.

Jonas é elegância em estado puro. Veja-se o porte altivo, pescoço estendido, cabelo arrumado, olhar aquilino. Movimenta-se pelo campo como se seguisse uma rota só sua, diferente dos demais - aquela que sabe poder chegar às redes adversárias. Jonas encontra o caminho da baliza por estradas invisíveis aos olhos dos mortais, rotas silenciosas, troços da realidade que só ele vê, que só ele sente, que só ele conhece.

O golo acontece a um determinado minuto mas na verdade o golo já aconteceu muitos segundos antes, quando Jonas correu para a bola e a recebeu e desenhou mentalmente o futuro da jogada e o presente da bola nas redes. Jonas joga futebol de 11 como se estivesse num pavilhão a jogar futsal. Trocas simples de bola, em movimento vertical recua ou sobe consoante a harmonia da harmónica colectiva. Faz de pivot, de placa giratória que tudo mete em movimento.

Nené com sotaque, nunca se despenteia, não se suja, não perde tempo com ninharias estatísticas - está ali para jogar futebol, não para fazer a maratona. Parece até alheado do jogo. Julgamos que Jonas estará pensando no que fará a seguir, se comerá peixe ou carne, que filme ver, qual a série que estará a dar na televisão. Quando a bola está em Luisão ou em Júlio César, é possível que Jonas, enfiado entre os centrais, vá dissertando sobre a maravilhosa poética na escrita de Guimarães Rosa, lembrando o não menos maravilhoso «Manuelzão e Miguilim» sob o olhar surpreendido de uma dupla de defesas que ainda não se apercebeu que a bola vai estar dentro da baliza exactamente daqui a 37 segundos.

Jonas já sabe que vai ser golo. Por isso vemo-lo agora a dizer as últimas palavras sobre o escritor brasileiro e a dirigir-se tranquilamente para a linha lateral, onde vai tabelar com o extremo, voltar para a grande área, dar um toque de calcanhar que vai isolar o médio em frente ao guarda-redes e depois simplesmente, já com a baliza perdida finalmente encontrada, agarrar na arca cheia de golos de ouro e distribuí-los pelo público. Vemos Jonas lançar para cada adepto um golo como se todos os adeptos de futebol merecessem um golo só seu. É esse o grande destino do nosso herói: inventar todos os dias um golo novo para oferecer aos benfiquistas. Porque é ele o centro do Universo do golo do Benfica.


7 comentários:

  1. moleculasdeamor, simples e certeiro!!!

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  2. Não é fácil, legitimamente, concordar com três posts consecutivos escritos por alguém, seja quem for, principalmente quando se trata de temas pouco consensuais.
    Desta vez, aconteceu, Ricardo.

    MvB

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  3. Muito bom Ricardo, que tal enviar isto ao Jonas?
    Ele decertto gostaria

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Vai ao Estádio, larga a internet.