É certo que, em futebol, não existe tal coisa como uma vitória moral. Mas... e depois, caralho? O que é que eu tenho a ver com isso? O que é que significa, exatamente, essa afirmação? Que não posso dizer que o meu clube jogou bem, dadas as circunstâncias? Que não posso afirma que podíamos ter ganho esta eliminatória? Mas é que podíamos mesmo!
Não é costume falarmos de arbitragens neste blog. Eu nem acho que estas duas arbitragens tenham sido demasiado tendenciosas. Foram apenas um pouco tendenciosas. O problema foi que a tendência revelou-se nos momentos chave. Um penalti por assinalar, um amarelo que não saiu na primeira mão para o jogador que nos marca o primeiro golo da segunda volta, uma falta à entrada da área por marcar, e, mais escandaloso, uma expulsão que não saiu. A expulsão é a prova que serve de mote para percebermos que estas arbitragens ajudaram conscientemente o Bayern. Ninguém, no seu perfeito juízo, deixa de mostrar uma cartolina vermelha naquela situação. Muito menos um árbitro que é tecnicamente muito bom.
Se o Bayern dominou o jogo? Teve muita posse de bola (normal nas equipas do Guardiola). Criou várias ocasiões de golo, mais do que o Benfica. Mas ao Benfica eu contei seis, duas deram golo e todas as outras poderiam ter dado golo também. Uma equipa que tem seis ótimas ocasiões de golo não esteve, propriamente, na mó de baixo. Pergunto-me sobre o que estariam a dizer agora os críticos se o Raul tivesse marcado o segundo golo, depois daquele centro do Salvio, e se o segundo livre do Talisca tivesse entrado. Sei que esta teoria dos "ses" é frequentemente mal vista. Se a minha avó não tivesse morrido ainda seria viva. Se tivéssemos marcado mais dois golos tínhamos passado. Se eu não fosse do Benfica não estaria a escrever neste blog nem seria tão feliz... Passemos então aos factos sobre os "mitos urbanos", essas máximas que me canso de ouvir, esses expoentes absolutos da vacuidade:
1. "Não se fala sobre arbitragem. Falar de arbitragem é uma desculpa de mau perdedor."
Pode ser, mas também pode não ser. Quem se queixa sistematicamente dos erros de arbitragem contra a sua equipa e depois olha para o lado naqueles que nos favorecem é pouco mais do que um cretino. É pouco mais que cretino aquele que não consegue fazer uma estatística séria, no final de um campeonato, no final de vários campeonatos, e perceber para onde pendem as tendências. Os grandes são sempre favorecidos. A razão? É por demais óbvia, nem discuto. Mas será que não o posso referir, no final de um jogo como este? Posso e devo, tanto como qualquer equipa "pequena" em Portugal poderá fazer no final de um jogo em que tenha sido prejudicada contra Sporting, Porto ou Benfica. Porquê? Porque é tendencioso. Porque é viciado. Porque é nojento. Será que os mais de vinte anos de roubos absolutamente asquerosos do FCP no nosso campeonato não podem ser referidos? Podem. Em qualquer ocasião, qualquer dia da semana e a qualquer hora. Para a eternidade. Mas isso não tira o mérito do PdC e dos títulos do Porto? Tira, claro, ajudas sistemáticas num campeonato nacional melhoram moral e forma física, essenciais nas provas europeias. Então e as más presidências do Benfica não terão algum peso nos nossos maus resultados nesses anos? Sim, mas falar delas sem falar na javardeira é idiota. Há uma correlação clara, e a omissão de um fato tão importante como esse é tosca e serve mal a história. Assim sendo, por esta mesma ordem de ideias, o Bayern foi favorecido nos dois jogos da eliminatória. Não perdemos por causa disso, dizem algumas vozes? Nostradâmicas, com certeza. Eu não consigo fazer esta afirmação em consciência. Penalti e (muito) possível 1-1 lá, Vidal de fora, expulsão neste jogo, que não saiu... quem é que é capaz de afirmar que isto não seria mais do que suficiente?
2. "O Benfica tem sempre que jogar para ganhar, de igual para igual."
Ora bem, outra falácia, para não lhe chamar de cretinice absoluta. Se vocês forem ver um combate entre o Wladimir Klitschko e o Mayweather o que é que acham que iria acontecer? É que foi praticamente aquilo que se passou aqui. A diferença está no futebol ser um desporto coletivo e podermos potenciar o comportamento coletivo em detrimento do individual. O Bayern é um peso pesado, talvez uma das duas melhores equipas da actualidade. Uma equipa mítica, como o Benfica dos anos sessenta, o Madrid do Di Stefano, o Milan do final dos oitenta ou este Barça. O Benfica portou-se maravilhosamente bem nas duas mãos contra o Bayern. Soube potenciar muito bem todos os seus jogadores, coletivamente. Ponto final.
Os três ordenados mais altos do bayern dão para pagar todos os ordenados do Benfica, do Benfica B e das respectivas equipas técnicas. Acho que ainda deve sobrar para os roupeiros e para o pessoal da limpeza, algum secretariado... mas estamos a gozar? Todas as equipas que jogaram com o Munique levaram na real peida, como gente grande, e agora andamos a falar do quê???
Achar que o poderio do futebol nada tem a ver com dinheiro é ser-se, no mínimo, muito tosco. Achar que o benfica tem que jogar de igual para igual com o Bayern é de loucos. Eu amo o meu clube, até ao limite. Mas não consigo olhar para isto de forma irracional. O Rui Vitória fez o que podia fazer. E, na prática, podia ter ganho esta eliminatória, queiram ou não queiram.
3. "O Bayern estava desfalcado. O Bayern está a jogar mal. O Ederson defendeu quase tudo"
Ora mais três cagalhões. O Benfica também estava desfalcado. Querem equipa europeia mais desfalcada do que o Benfica, desde o início da época? Tiro o chapéu a Vitória. Não sou fã, mas ele tem muitas qualidades e muito mérito.
O Bayern não sabe jogar mal, é só ver o histórico deste ano, para a liga dos campeões. Levaram todos na pá, praticamente. E, quanto ao Ederson, o que é que acham que um guarda redes está lá a fazer? A gastar a relva da pequena área?
4. " Se tivéssemos Gaitan e Mitro e Jonas e blá blá blá"
Bom, a equipa que entrou em campo foi muito bem escolhida. Não consigo afirmar que, com qualquer um destes três jogadores, o jogo tivesse corrido melhor. Ganhavam-se umas coisas, perdiam-se outras. A única coisa que teria feito seria o Guedes em vez do Salvio, que foi menos um elemento em campo. De resto, Gaitan anda a jogar lesionado há que tempos. Enquanto não se curar de vez, não fará a diferença como era costume. Raul foi, seguramente, melhor escolha do que Mitro para este tipo de jogo. E acho que Mitro também estará meio tocado. E Jonas... Jonas é Jonas, é o maior. Mas não sei se teria feito diferença, a sério. O jogo do Bayern é demasiado intenso, demasiado pressionante, demasiado físico. O que sei, de facto, é que, mesmo sem estes três jogadores essenciais, demos uma réplica que ninguém previa. Foi quase David e Golias. Faltou acertar-lhes com a pedra em cheio nos cornos, em vez de ser só de raspão. Mesmo assim, sangraram.
Se seria justo o Benfica ganhar esta eliminatória? É sempre justo, porque é o Benfica e o Benfica é o maior. Não é só o futebol que está cheio de Davids e Golias, é assim em quase todas as atividades. Não é assim tão frequente, de facto, mas acontece. E teria sido justo se tivesse acontecido connosco. Apenas porque sim.
Que se pense da mesma maneira quando o Benfica tiver dificuldades em ganhar à Academica!
ResponderEliminar!!!! É isso tudo!
ResponderEliminarMuito bem amigo Filipe
ResponderEliminarSam, eu refiro as nossas equipas pequenas no texto. Na verdade, elas até servem como armas de dois gumes, às vezes também são beneficiadas contra um grande específico, já todos vimos isso. A Académica com o Benfica foi disso exemplo clássico em alguns anos da era JJ. Talvez uma das maiores roubalheiras de que me lembro tenha sido nessa casa. Mas eu não vi nenhuma roubalheira neste último jogo. Vi uma equipa a estacionar o autocarro e a não jogar futebol. Já o Benfica teve seis oportunidades claras de golo ontem. Jogou o que pode e como pode para ganhar o jogo.
ResponderEliminarSem tirar nem pôr!
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