domingo, 3 de abril de 2016
OS ELOGIOS DE PEP À LINHA DEFENSIVA DO BENFICA
Ponto prévio: estamos em 2016, convém começar a respeitar as opiniões que saem da norma. É inacreditável a forma como a generalidade dos adeptos insulta a opinião alheia. Não sei se já alguma vez experimentaram, mas deixo aqui a novidade: é possível debater futebol sem se achar que só a nossa opinião é a certa e que a outra, por ser diferente, é a errada. A não ser que estejamos a falar com alguém que acha que Jonas é medíocre e deve ir para o banco para "fortalecer o meio-campo". Nesse caso, podem insultar agressivamente porque isso é mesmo demasiado estúpido. Eu deixo.
As palavras de Guardiola caíram nos bolsos dos defensores do mister Vitória como duas granadas prontas a usar. E foram imediatamente usadas contra esses malandros que acham que o técnico, apesar da sua alegria, da sua motivação, do seu benfiquismo, revela falhas que não são aceitáveis para um clube como o nosso. É uma opinião, apenas. Aceitem-na tal como eu aceito a vossa. Ou já me viram insultar-vos ou fazer piadinhas por ver a vossa complacência com a pouca qualidade técnica do mister? Querem debater, falar de futebol? Cá estarei. E sempre defendendo as minhas ideias com argumentos, ao contrário da maior parte das pessoas que nem fala das suas ideias nem argumenta o que quer que seja - limita-se a ir ao sabor das marés dos resultados e a atacar a opinião alheia.
Guardiola disse o que pensa ou pensou no que disse? Evidentemente, pensou no que disse. Por várias razões, a primeira das quais a mais evidente: a linha defensiva da nossa equipa não é tudo aquilo de espectacular. Como isto é tão óbvio, ficam à partida aniquiladas as motivações de Pep. Esta a dar música, o catalão, e a malta gloriosa está a dançar. Alguns porque acreditam, outros porque querem acreditar e ainda há os que, não acreditando, usam a informação para tentar detonar quem pense diferente. Mas... será horrível a actuação da linha defensiva do Benfica?
É clarinho: não é. Consegue até ter momentos de grande qualidade. Depende dos jogadores que estiverem em campo. Se forem jogadores que estão no Benfica há uns anos, a qualidade sobe. Dos que estão disponíveis, Jardel é de longe o que melhor entende o que deve fazer em cada situação. O pior é Samaris, que quando joga a central empresta qualidade na saída mas não está rotinado a entender o harmónico que deve tocar para que a linha se mantenha coerente e nos salve de desgraças. Lindelof só agora começou a jogar, mas já entende melhor o conceito do que Eliseu alguma vez vai compreender.
Mas pensar na actuação da linha defensiva resume-se a analisar a movimentação colectiva dos 4 defesas? Claro que não. O futebol não é curling. As acções encadeiam-se de forma orgânica. Se na frente a pressão é individual ou se define mal as zonas de pressão que quer provocar; se os médios permitem constantemente incursões do adversário pelo espaço interior; se os extremos não participam no apoio aos laterais em organização defensiva; se se deixa acontecerem recorrentemente diagonais dos alas adversários para a possibilidade de um passe de ruptura, é lógico falar em boa ou má organização da linha defensiva? Não é. É apenas uma parte de todo o processo.
A nossa equipa, se estiver balanceada, permite espaços vários entre os laterais e os centrais, permite bolas medidas nas costas, tem dificuldade na perda, mas sabe ser coesa se for obrigada a defender. Não é especialmente competente, mas tem feito algumas exibições interessantes contra adversários de alguma valia. O maior problema é quando do outro lado está quem em 90 minutos consegue meter dezenas de vezes a bola dentro do nosso bloco. Os desequilíbrios acontecem, nascem os passes que forçam a reacção rápida da tal linha tão elogiada por Pep. No centro, há que apostar em Lindelof e Jardel por duas razões: entendem o conceito colectivo (sobretudo, Jardel, que tem anos de formação e formatação) e garantem o controlo da profundidade. Por outro lado, Jardel é péssimo a sair, um defeito que aqui terá de ser colmatado pela preferência pelo sueco na hora de arriscar uma saída menos evidente e directa. Eliseu é defensivamente um problema grave porque é recorrente não entender o movimento colectivo dos colegas, deixando jogadores em jogo. Sobre isso, nada a fazer. Não temos alternativa.
Rui Vitória tem pela frente uma montanha monstruosa para subir. Mas somos Benfica e neste clube, com mais ou menos qualidade, tudo pode sempre acontecer. Convém é que não sejamos anjinhos. Se o ataque de Jesus à qualidade de Vitória serviu para unir o grupo e vencer com humildade, que a defesa de Guardiola sobre a qualidade da defesa do Benfica não sirva para o engano fatal. Rui, grande benfiquista, eu se fosse a ti subia em bloco e deixava os elogios do Pep em fora-de-jogo.
O que Guardiola diz é a minha opinião há muito tempo e percebo tanto de futebol como tu. E a opinião dele é também a opinião de alguns estrangeiros que vêm futebol há muitos anos assim como os nossos jogos e até os comentam nas suas TV´s. É que eu não me limito a ver TV´s tugas.
ResponderEliminarO que Guardiola afirma é com certeza na grande maioria o que ele pensa mesmo. Eu não me lembro de ele ter dito o mesmo antes do jogo com o Porto ou com a Juventus.
Concordo. Eu jogaria com o bloco subido e em 4-4-2... com o Jonas sempre em cima do Xabi e o Renato com o Vidal. O Porto foi para lá jogar com bloco baixo e em 4-6-0(!) em contra ataque e levou 5 na primeira parte... Quanto menos espaço o Bayern tiver para jogar, mais complicado fica para eles.
ResponderEliminarBruno de Carvalho, discordo pelas razões apontadas no texto mas, assumindo que tens razão, de que vale a Vitória levar a sério as palavras de Guardiola? Não, humildade, noção da nossa estratégia, concentração. Fórmulas para tentar sair de Munique com a eliminatória em aberto.
ResponderEliminarShadow, certíssimo. Jogar com o melhor 11, nas rotinas habituais, naquilo que os jogadores melhor conhecem. Não se defende melhor por ter menos avançados.
A Juventus mostrou o que acontece quando se baixam as linhas contra o Bayern. É ter Mitroglo a fixar os centrais deles, Jonas nos espaços entre linhas, e extremos interiores, e temos hipóteses de segurar o resultado. Se formos só defender, a organização ofensiva deles é muito forte.
ResponderEliminarNem mais, Tiago. Estaremos sempre mais próximos de um bom resultado se não abdicarmos de nós. E, mesmo assim, será tarefa hercúlea. Mas todos acreditamos no Benfica.
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