Foi
com alguma curiosidade com que li/vi as 3 entrevistas dadas por Rui Vitória no
dia de ontem (Jornal A Bola, BTV e RTP). Num tom muito seu, algo monocórdico,
mas sereno, diria que as 3 entrevistas se poderiam ter resumido a uma, porque o
que disse foi basicamente o mesmo, até as analogias que ia fazendo eram as
mesmas. De Rui Vitória não podemos esperar grandes rasgos linguísticos, com
frases de aberturas de jornais, mas também não é expectável que seja deselegante
para com os seus adversários. Ou seja, é em tudo radicalmente diferente do seu
antecessor.
De tudo o que foi dito, saliento a
ideia que Rui Vitória se esforçou por passar do trabalho de campo que foi feito
durante a época. Com efeito, no balanço do 35, muito se falou da união e
vontade de vencer do grupo, face ao que foi sendo dito ao longo do ano. Sendo
esta uma verdade que me parece inabalável, e que Vitória não contraria e até
confirma, também não deixa de ser verdade que esta ideia fez-se sobrepor a uma
eventual competência técnica do treinador do Benfica.
Por isso, parece-me justo e inteligente
da parte do nosso treinador, evidenciar o muito trabalho tático que deu a
conquista deste título. Nenhum facto concorre isolado para a conquista de algo,
mas subvalorizar a capacidade e competência de trabalho de treino de Vitória e
a sua equipa, parece-me tremendamente injusto.
Aquando do anúncio de RV como treinador
do Benfica, o nome esteve muito longe de me entusiasmar, como aqui o escrevi. E
ao ver o nosso início de temporada, todos os meus receios se adensaram e não
pensei ser possível acabar a época da forma que o fizemos.
Defensivamente, a equipa apresentava
comportamentos absolutamente equivocados, com má organização, má reacção à
perda e um péssimo controlo da profundidade. Algo a que já não estávamos habituados
nas nossas equipas, e algo que não via sequer em grande parte das equipas da
primeira liga.
Ofensivamente, vivíamos de rasgos
individuais e de bolas despejadas para área em cruzamentos sucessivos e sem
nexo.
Porém, se eram justas as criticas que
se faziam na altura a RV, também é justo realçar a evolução que a equipa foi evidenciando
ao longo da temporada, sobretudo nos aspectos defensivos. Aos poucos, e com a
entrada de Fejsa na equipa, a reacção à perda de bola foi melhorando e, há que
o admitir, a saída por lesão de Luisão, ajudou a uma melhoria significativa ao
controlo da profundidade. A eliminatória da LC contra o Bayern é o exemplo
acabado da evolução incrível que a equipa obteve nos aspectos defensivos.
Ofensivamente, a equipa também começou
a apresentar melhores comportamentos, com melhor posicionamento para o jogo
interior, ainda que aqui pense haver ainda muito por onde caminhar do ponto de
vista colectivo. Ainda me parece que, no aspecto ofensivo do jogo, a equipa
ainda vive demasiado agarrada ao que a criatividade individual consegue fazer,
não obstante de ser claramente muito melhor na jornada 34 do que era na jornada
10.
Com a possível saída dos jogadores mais
criativos (Gaitan e Jonas), esta necessidade de se trabalhar melhor estes
comportamentos colectivos é ainda maior, sendo certo que este ano RV
beneficiará de uma pré-época sem digressões milionárias, mas incompatíveis com períodos
de trabalho profícuos.
Para mim, ainda que não seja o melhor
do mundo ou tão pouco de Portugal, RV surpreendeu-me pela positiva e dá muito
mais gosto ter um homem que para lá de competente e benfiquista é um homem decente
e conhecedor dos valores do clube que representa, à frente dos nossos destinos futebolísticos.
Um grande treinador (espanta-me que ainda haja dúvidas entre os benfiquistas)! E um grande senhor! Os «doutores» da bola que o apoucaram, estão agora rendidos à competência e à estaleca do homem. Depois de ter saído vencedor, respeita os vencidos e não se vinga, continuando com a postura de classe que sempre teve, mesmo quando era achincalhado por benfiquistas, pela chusma de comentadores avençados e nada isentos, e pelo exército de labregos e cobardes de Alvalade. Não é para todos. É de homem com H.
ResponderEliminarRui Vitória é o treinador de que o Benfica necessitava para se afirmar definitivamente no contexto do futebol nacional e europeu. Vêm aí muitas vitórias para o Glorioso e muitas alegrias para a nação benfiquista. Longos anos no Glorioso, Rui.
Grande post :)
ResponderEliminar"Porém, se eram justas as criticas que se faziam na altura a RV"
ResponderEliminarAlgumas eram justas mas muitas eram injustas, prematuras e num tom muitas vezes insultuoso.
(não estou a dizer que era ou deixava de ser o caso deste blog)