terça-feira, 4 de abril de 2017

O futebol em Portugal

Aproxima-se um jogo que pode ser decisivo na luta pelo título de campeão nacional. Nas duas semanas antecedentes, os dois clubes participantes, desunham-se em comunicados e newsletters. Uns contra a federação, outros contra o antijogo do último adversário. Mais do que querer ganhar, os departamentos de comunicação preparam uma eventual falha. Porque se perderem o título, a culpa será dos processos disciplinares ou do da demora nas reposições de bola, mas nunca, em momento algum, serão culpas próprias ou, muito menos, méritos alheios.

Chega o dia de jogo. Centenas de Polícias são mobilizados para o evento, durante horas e horas a fio. Há ruas cortadas, a mobilidade de pessoas e bens é fortemente condicionada, tudo porque, tomados pelo ódio semeado durante anos, as pessoas não sabem conviver com a diferença, esquecendo-se até que não existiam uns sem os outros. Os da casa não aceitam a visita do inimigo (sim, é assim que se tratam), os de fora querem destruir o território alheio. Há insulto, petardos, pedras, bolas de golfe, copos de urina. Tudo serve para enxovalhar e agredir o adepto rival.

O jogo acaba. O treinador visitante diz-se revoltado com a demora na entrada dos seus adeptos. Ainda não se sabe contra quem é a revolta, se contra quem lhe disse terem sido 40min, quando foram metade, se contra a empresa de aluguer de autocarros que não soube prever a avaria dos seus veículos e que originou o atraso. Pouco importa, o que importa é que a revolta existe.

No dia seguinte, um dos clubes vasculha as milhares de imagens do jogo e lá encontra uma falta antes do golo rival. O outro, apesar de presidente e treinador terem falado diferente, afinal lá encontra desagrado nos amarelos e no encontrão. Pelos vistos, uma arbitragem que até tinha sido boa, passa a reles para ambos.

Dois dias depois, talvez farto de ver gritaria sem ter o que dizer e sem ver o seu nome no meio, um terceiro clube decide pedir castigos para jogadores que, num jogo que não o seu, segundo eles, tiveram condutas improprias para com jogadores e treinadores que não os seus.

Pelo meio, parece que houve 90min de futebol com um golo para cada lado.

Em Portugal não gostamos de futebol. Podemos gostar do folclore, da polémica ou da estupidez, mas do jogo? Não gostamos não.

10 comentários:

  1. Gosto de passar pelo Blog e ler o que por aqui se escreve e desta vez tenho mesmo que comentar pois estou 1000% de acordo! Muito bem escrito!

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  2. isso é tudo muito bonito....mas não foi o benfica que também foi fazer queixinhas contra o sporting sem ter nada que ver c o assunto....ou o vitinho pereira é trabalhador do benfica...ou o VSetubal pertence ao benfica...ou ou....engraçado que quando o benfica fazer queixas no passa nada...qd lhes respondem na mesma moeda já é chato né...

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  3. Caro Rf77, se fosse a elencar todas as situações estúpidas só desta época, não havia net que chegasse. Mas como pode comprovar pela leitura do post, o Benfica não deixa de merecer a mesma crítica que os dois rivais.

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  4. Ó Rf77, pelo menos lê o post. Se leste, pede a alguém que to explique. Tem sempre de haver um triste.

    Caro José Moreira, muito bom post, reflecte bem a loucura em que se tornou o futebol português.

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  5. O terceiro clube passou a estar inteometido a partir do momento que lhe bareram a porta, Nada disto beneficia o fútbol.... mas enquanto andarem criminosos a serem eleitos presidentes isto só tende a piorar. É lamentável toda esta corja a estragar o futebol que todos gostaríamos. Quem não tem grandes amigos de clubes rivais? Todos sem excepção, mas no palco, vemos comportamentos que nos remonta a primatas em luta pelo seu clã. Enfim...

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  6. Muito bom! Parabéns!
    Eu já não vejo os programas de debate/comentário/gritaria e, sinceramente, por este andar estou apensar seriamente cortar com as assinaturas da Sporttv e BTV.

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  7. 11. Porque desligados da realidade. Porque afectados no respectivo orgulho. Porque cheios de si mesmos. Porque olham, mas não vêem. Não percebem.

    12. Que não só o futebol é amor e alegria numa sociedade cada vez mais disso necessitada, como representa igualmente um fiel e acessível espelho dessa mesma nação e povo. Da própria condição humana.

    13. E a coisa não está famosa.

    14. Em muitos aspectos, o Benfica há muito ultrapassou o próprio país. Só Portugal podia produzir o Benfica: mas, a cobro do vil metal, andam a maltratá-lo em termos indecorosos. De mau gosto. Denunciadores de uma anarquia social instalada sob a premonição (senão mesmo promessa) de que mais desgraças, tão ou mais gravosas às até então registadas, irão ocorrer.

    15. Tudo perante uma apatia social, calculismo político e deleite mediático... agoniantes.

    16. Mais do que o azedume que destilam na sua direcção, muitos são aqueles que lhe deviam prestar a devida reverência: por constituir, a muitos níveis, a principal teta de onde mamam. Adversários directos incluídos. Ou alguém consegue imaginar um outro discurso que não o actualmente tido por parte dos actuais responsáveis da coligação Sporting Clube do Porto?

    17. Isto é tudo o que aqueles têm verdadeiramente a oferecer: destruição. Cinzas. O pó dos escombros.

    18. A reboque das habituais manobras de diversão e com único intuito do “agora ganhas tu, a seguir ganho eu”, beneficiam de tudo o que foi por outros criado no passado: propondo, em troca, somente uma política de terra queimada. Seja na forma de “Lisboa a arder”, de interditar o Estádio da Luz ou, qual cereja no topo do bolo, acabar com o Sport Lisboa e Benfica.

    19. Por muito menor pressão mediática, Governos houve que já caíram. Só algo como o Sport Lisboa e Benfica resistiria a tantos e tão vis ataques.

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  8. 20. Só que uma coisa é resistir; outra, totalmente diferente, é florescer neste meio. Crescer. Evoluir. Aumentar os padrões. Tornar-nos mutuamente melhores. A tudo isto mais respirável.

    21. Não é possível: não quando todos quantos têm responsabilidades na sua regulação, encontram-se somente nessas posições em estrito respeito aos serviços anteriormente prestados àqueles que, agora, supostamente regulam.

    22. Uma “pescadinha de rabo na boca” que redundará sempre neste triste fado.

    23. Pelo que, ao combate militante à presente insanidade, é-nos oferecido, ainda que por omissão, a alternativa de, de uma vez por todas, deixarmo-nos finalmente ir na actual maré. Juntarmo-nos a tudo aquilo a que, por acção ou omissão, todos parecem desejar para o futuro do futebol, do desporto e do país.

    24. E porque o Homem prosperou quando percebeu as vantagens inerentes a pertencer à horda, permitam-me que vos deixe com uma visão animadora de tudo aquilo a que, naqueles termos, poderemos aspirar.

    25. Certo de que, numa realidade onde todos nos comportemos assim… o céu é o limite.

    https://vimeo.com/9518258

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  9. 1. Às vezes vou no comboio a pensar. A maioria das viagens é feita somente de vazio: próprio de quem está, mas só na aparência. Como o futebol luso: feito de fachada, com letras minúsculas e ocas. Mas como dizia: às vezes vou no comboio a pensar. E lembrei-me desta:

    2. Reza a lenda que, encontrando-se o vocalista dos Melvins a assistir a uma das sessões de gravação do In Utero, deu, aterrado, com o Kurdt a um canto, num intervalo entre takes, a sacar malha atrás de malha. Com uma naturalidade e leveza similares às que, de há muito a esta parte, se utilizam para manipular e estupidificar a sociedade.

    3. - Meu, o que é que é isso? Tens de pôr isso tudo no disco! – como que implorando-lhe. Ao que recebeu como resposta:

    - Oh… Estava para aqui comigo mesmo… Só a atrofiar um bocado… Nada de especial…

    4. E parou. Largou tudo, saiu do “transe” em que se encontrava e foi fazer outra coisa qualquer. Nunca nada daquilo seria gravado, tendo-se perdido, naquele preciso momento, para sempre.

    5. Lembrei-me disto ao deparar-me, pela enésima vez, com o típico passageiro que, ao julgar ter sugado todos os prazeres da única realidade que lhe deveria interessar, incide a sua atenção exclusivamente numa virtualidade viciosa e viciante, que lhe produz uma falsa sensação de comunhão e intelectualidade.

    6. A geração mais bem preparada de todos os tempos… Peçam-lhes para fazer uma sopa de coentros e reparem no ar de confusão que se apodera das suas faces. Esta gente não tem as mais pequenas hipóteses… Pelo menos, não no mundo real: que é, para já, o único que se vai arranjando.

    7. O de emigrantes. Empregados de balcão. Párias. Mendigos. Alienados. Prostitutas. Cabides. Autómatos. Corruptos. Rebanhos. Tudo temperado com muita banha da cobra.

    8. Fui para fora há uns anos. Vida difícil e cara, aguentei-me uns 6 meses num quarto sem tv ou muitas das comodidades hoje tidas como garantidas. Durante esse período, fiquei entregue a alguns livros e discos. Livre da intoxicação pública diária, aquele período correspondeu, criativa e espiritualmente, ao período mais fértil da minha vida.

    9. O Kurdt dizia que nunca sentiu qualquer empatia com os rapazes da sua localidade e idade porque aqueles não se interessavam por nada artístico. Um dos bons hábitos que resultaram desse meu período foi o de reflectir. Por mim próprio. Sobre tudo. Benfica incluído.

    10. Acho giro o ar indisfarçavelmente enfadado com que muitos pseudo-intelectuais abordam as questões ligadas ao futebol. Nestes casos, a melhor literatura da Antiguidade Clássica de nada lhes serviu com vista a abater os pilares da obtusidade e do rancor: típicos de quem, vendo-se ultrapassado e ofuscado no protagonismo que entende ser-lhe merecido, opta por atribuir estas matérias “menores” à “carneirada”.

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Vai ao Estádio, larga a internet.