sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ontem li-te na Futebolista

Há quem nasça com o cu virado para a lua e quem nasça sujeito aos delírios laboriosos de sol a sol. Na blogosfera, não é diferente. Enquanto uns trabalham de forma séria, responsável, com qualidade, outros passeiam-se pelos textos, quais vagabundos, como cães vadios em busca das traseiras de um restaurante italiano.
É por isso que, quando a fama chega, chega só para alguns. Destaque-se uma Tertúlia Benfiquista - cujos membros discutem e bem o benfiquismo em directo e a cores na Benfica TV -, um Mágico SLB - que, além de ter sido considerado o "blogue da semana" no Jornal do Benfica, não raras vezes vê o seu nome escarrapachado no Jornal de Notícias -, uma Ilíada Benfiquista, um Eterno Benfica, eu sei lá mais quantos, todos bons e todos verdadeiros corredores de fundo. Autênticas máquinas de gerar comentários.
No nosso caso, a fama terá de ser sempre relativizada. Um comentário aqui, outro ali, e vemo-nos logo lançados no limite máximo a que este blogue aspirou (se aspirou a alguma coisa). Repare-se na forma espartana como a casa está construída, fracos acabamentos, materiais duvidosos, peças soltas, fios em perigo de matar alguém, torneiras que não fecham e, pior do que isto tudo, uma voz que fala muito pausada e intermitentemente. Este blogue não luta pelo título, é bem verdade, nem sei se luta pela Europa, mas é honesto, ah isso é, e, caso lhe chamem nomes, é até bem capaz de dizer "apre" e ficar chateado durante uns 2 minutos. Depois passa-lhe, porque não está para chatices.
Isto tudo vem a propósito de quê? Vem na sequência de termos lido a entrevista dada à Futebolista pelo companheiro Ricardo Cunha, do Catenaccio (já agora, mais um daqueles que merece todos os elogios possíveis), que, entre explicações justas e inteligentes sobre o blogue e sobre futebol, decidiu enlouquecer metendo-nos na sua lista diária de escolhas bloguísticas. Ora, agradecendo a referência, aconselhamos o companheiro Ricardo a procurar um terapeuta porque algo pode estar a falhar nos critérios decisórios do companheiro. Não merecemos tão grandes elogios e honras. Mas, como cães danados por um ravioli, aceitamo-los com um sorriso nos lábios.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Não digam que eu não avisei...

Assunto importante:

http://www.futebolfinance.com/novas-regras-para-transferencias-e-salarios-de-jogadores

Para quem não conseguir abrir a notícia, ou não estiver com paciência, destaco uma parte:
"De acordo com um alto responsável da UEFA, a proposta dos maiores clubes Europeus sugere que apenas seja permitido aos clubes gastar 51% das suas receitas na aquisição de novos jogadores e nos seus salários."

Agora, o que eu escrevi aqui, no dia 13 de Janeiro:

"A Deloitte fez um brilhante relatório que apresentou a solução para o futebol português, mas poucos lhe ligaram, porque entre outras coisas obrigava a uma drástica diminuição dos custos com pessoal, o que obrigaria por sua vez a apostar no formação e em jovens baratos, em vez de se poder fazer aquelas magníficas comprinhas de 3 milhões de euros em que rodam comissões para todos. Há um rácio que atrofia(va) quase todos os clubes portugueses que é custos com pessoal/proveitos totais, um rácio que tinha de se encurtar drasticamente para desafogar as finanças dos nossos clubes. O que é que se fez em 2008/2009 quando sabíamos de antemão que ia haver uma diminuição nas receitas correntes (devido à ausência da Champions)? Aumentou-se os custos com pessoal."

Andam a brincar, em breve o Benfica vai pagar e bem...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Os animais que nós somos OU Fora o árbitro, caralho!

Devia ter uns 7 anos quando me apercebi pela primeira vez de que os homens de preto que entravam no relvado não eram homens, mas animais. Seres repugnantes que serviam, quais touros em arenas, para o grande momento da tarde no Estádio: o assobio uníssono de 120.000 gargantas. Neste particular, destaco a excelente capacidade de alguns colegas de bancada para o som estridente, conseguido através de uma estrutura perfeita de dedos na goela, procurando, tacteando, entre o céu da boca e a língua o ângulo perfeito para o grito ensurdecedor que inundava o animal de apito de vergonha e os meus tímpanos de zumbidos até ao intervalo. Com o Sol sobre a minha cabeça, espantava-me aquela demonstração de ferocidade e dramatismo, em oposição à festa e pornografia de cachecóis, bandeiras, luzes e rolos de papel higiénico sempre que onze deuses entravam de manto vermelho sagrado vestido. Era como se assistisse, primeiro, à entrada do Touro e, depois, ao despontar pela arena de 11 toureiros, sedentos de tornear, humilhar e, finalmente, deixar cair no chão, de rastos, o animal que vinha de preto para o Estádio. Com o apito ao pescoço, o touro fazia a sua presença tilintar por todo o relvado, como se fosse uma vaca pelos campos abertos da Andaluzia. E eu, olhando o meu pai gritar obscenidades que me proibia em casa, imitava-lhe as palavras, naquilo que me parecia ser a única forma de tratar um animal como aquele (afinal, se o touro vinha à Luz, era com toda a certeza para nos fazer mal e nos dar uma cornada nas partes baixas do benfiquismo heróico!).
Com o tempo, fui desenvolvendo no aficionado que sou a herética ideia de que o touro, apesar de mauzão, era bem capaz de não ser o máximo culpado pela má preparação e técnica dos toureiros encarnados e, assim, afastando-me inequivocamente da grande maralha que me rodeava, cheguei a chatear-me com um outro aficionado quando, tendo o touro assinalado uma perfeita e justa marca na areia com as patas (contra a vontade dos nossos toureiros!), o benfiquista desatou aos gritinhos histéricos, querendo a morte do animal, sem julgamento nem direito a advogado, acusando a mãe do miura de todas as patifarias, putarias e pornografias jamais vistas nas lezírias do sul da Ibéria. Não era justo!, gritei, deixem o animal em paz!, pedi, e, vendo que o animal que podia ficar morto na arena era eu, decidi-me por defender o touro em silêncio, não fosse o meu benfiquismo jorrar-se-me directamente do pescoço e acabar ali a minha performance de aficionado.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Estatísticas

Alguns dados que tenho vindo a apontar sobre alguns jogadores do meio-campo e ataque do Benfica:

GOLOS/ASSISTÊNCIAS - TOTAIS (MIN. JOGADOS)

Suazo
5/0 - 5 (1262)

Cardozo
5/2 - 7 (1024)

N. Gomes
6/4 - 10 (1051)

Aimar
0/5 - 5 (770)

Reyes
3/4 - 7 (1357)

C. Martins
1/7 - 8 (1020)


É curioso verificar que os menos utilizados (Cardozo, Nuno Gomes e Carlos Martins), para além de Aimar, têm números iguais ou superiores a Suazo e reyes. Nuno Gomes, então, é um caso de estudo. Com 6 golos marcados e 4 assistências - e tendo em conta que, além de menos minutos, tem sido quase sempre suplente utilizado (ou seja, mais difícil é de entrar no jogo) - é o mais produtivo jogador do meio-campo para a frente, se olharmos friamente para a totalidade dos números (10). Suazo, com muitos minutos, apenas 5 golos e nenhuma assistência, não deixa de constituir, ainda que muito útil à equipa, uma semi-desilusão.
Uma referência especial para o C. Martins que, tendo jogado menos que outros, já fez 7 assistências.

Os números não explicam tudo, como é evidente, mas podem ser sinais a estudar por Quique Flores.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Finanças

Qual é o assunto que mais me preocupa no Benfica actual, perguntam vocês (ou pergunto eu, para o caso não interessa)?
- Será o facto de devido ao último jogo e à nojenta campanha feita pela imprensa eu saber que o Benfica vai passar o resto do ano a ser roubado?
- Será o facto de eu ver que a equipa em vez de evoluir vai regredindo e que em Janeiro joga um futebol que nem como adepto da Académica me agradaria?
- Será o facto de actualmente ir à Luz ver bola dar-me o mesmo prazer que ir ao dentista?
- Será o facto de eu reconhecer que é pouco provável ganhar o euromilhões esta semana (desculpem, esta não tem nada a ver com o Benfica, mas pode servir de introdução ao tema do post)?

Não, nenhuma das anteriores. O que mais me preocupa no Benfica é a ruinosa operação financeira aprovada ontem na AG dos accionistas. Vamos voltar atrás até Agosto de 2008:
Era o final dum lindo Verão e a nação benfiquista estava a ter orgasmos múltiplos. O Deus Rui finalmente mandava no nosso futebol, tinha contratado o Mourinho espanhol e o melhor preparador físico de todos os tempos, e era ver as vedetas a chegar de jacto a privado, desde Aimar a Balboa (não resisti à piadola fácil de considerar o estafeta uma vedeta), passando por Yebda e Suazo, estava-se a construir uma máquina de futebol e tudo o resto que se lixasse. Eu, por defeito de profissão pensava para mim: “Ora a economia mundial está em recessão, o futebol também, não temos Chamipons, não vendemos ninguém de jeito, será que há dinheiro para isto?”. Timidamente escrevia isto em alguns blogs, quase me batiam, chamavam-me de estúpido, infiltrado ou Jaco, diziam que “o Rui é que sabe”, quem era eu para duvidar da gestão financeira imaculada do Benfica. Mantive a minha e disse que antes do fim da época ou teríamos vendas extraordinárias ou não teríamos dinheiro. Alguns continuaram a rir a tentar perceber quem era a próxima estrela que aterrava em Tires, eu tentei esquecer convicto que podia estar a ser pessimista e que o futebol de luxo ia compensar esta despesa parva.
Nada disto aconteceu. O futebol é o que se sabe (nem vou analisar agora essa parte), e sendo assim chegados a Dezembro o que aconteceu: marca-se uma AG e endivida-se o clube em 40 milhões, pagável em 5 anos (quem vier que feche a porta, sff). Ainda apareceram alguns acéfalos a argumentar “epá isso é para uma bomba tipo museu ou Messi, o clube continua bem, ou então é mais uma genial jogada financeira renegociando os prazos do nosso passivo conseguindo taxas mais baixas, ou vamos rasgar o contrato com a Olivedesportos”. Pois. Era bom, não era? Mas aí valhe-se a clareza da informação, foi dito logo que 12 milhões era para gestão corrente, basicamente é o mesmo que vocês terem um empréstimo de 100.000 para pagar uma casa ao banco e passados uns anos em vez de terem amortizado a coisa irem pedir um novo empréstimo de 150.000, sendo que 50.000 são para novas despesas que vocês criaram entretanto e não conseguiram pagar.

Não é preciso ser um génio para perceber o que está a acontecer. Esta Direcção pode sair em breve e quer sair em grande, um pouco como aqueles políticos que constroem tudo no último ano de mandato e depois deixam a Câmara endividada até aos colhões para o seu sucessor. A Deloitte fez um brilhante relatório que apresentou a solução para o futebol português, mas poucos lhe ligaram, porque entre outras coisas obrigava a uma drástica diminuição dos custos com pessoal, o que obrigaria por sua vez a apostar no formação e em jovens baratos, em vez de se poder fazer aquelas magníficas comprinhas de 3 milhões de euros em que rodam comissões para todos. Há um rácio que atrofia(va) quase todos os clubes portugueses que é custos com pessoal/proveitos totais, um rácio que tinha de se encurtar drasticamente para desafogar as finanças dos nossos clubes. O que é que se fez em 2008/2009 quando sabíamos de antemão que ia haver uma diminuição nas receitas correntes (devido à ausência da Champions)? Aumentou-se os custos com pessoal. Quais as soluções? Enganar alguém com o Di Maria (até essa sorte tivemos mas não aproveitámos), ou endividar mais, já que o nosso plantel tem poucos jogadores que rendam milhões, a maior parte dos reforços já desta época estão desvalorizados.
Na minha opinião ontem foi o primeiro prego no nosso caixão, até porque ninguém explicou (nem vão explicar) quais as garantias que o Benfica deu para esta operação. Desconfio que mais receitas futuras poderão estar hipotecadas (já não seriam as primeiras), o que juntando ao facto de não podermos negociar transmissões durante alguns anos leva a que eu até tenha medo de ver as nossas contas se e quando mudarmos de Direcção.

Tenho dito.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Mais que um Clube

Eu gosto tanto do Benfica que se fosse gostar de um outro clube estrangeiro qualquer acho que rebentava pelas costuras as costuras do coração. Transbordava-se-lhe sangue pelas vísceras. Não é imaginável que, algum dia, num demente dia, eu possa afirmar, como vejo por aí, que, em Portugal, sou do Benfica, em Espanha, do Barcelona, em Itália, do Milan, em Inglaterra, do Liverpool, no Brasil, do Flamengo e na Letónia, do Skonto Riga. Para ser desses, ia ser menos do Benfica, e isso, claro, não está nos planos de ninguém, muito menos nos meus, que acho sempre que gosto mais do Benfica do que todos os outros benfiquistas, ainda que saiba, ou imagine, que o amor pelo Benfica é transversal a uns 4000 milhões de outros bípedes.
Dito isto, dizer que gosto do Barcelona. Não é um amor, não é uma paixão, é um fraquinho. Não ando por aí a dizer que, em Espanha, o meu clube é o Barcelona, porque, em Espanha, em França ou na Nova Zelândia, o meu clube é o Benfica, vírgula e, agora, ponto final. Mas há algo no Barcelona que eu reconheço como Benfica ou qualquer coisa no Benfica que eu identifico no Barcelona, não sei reconhecer qual das duas a mais correcta, provavelmente nenhuma. Sempre que oiço o hino tocado e cantado no Nou Camp, parece que imagino o Estádio da Luz antigo nas décadas de 60 e 70, sinto que é a mesma coisa, sendo uma coisa diferente. No fundo, assistir aos jogos do Barcelona e ver o público catalão é como se fosse a minha única oportunidade de cheirar as bancadas da Luz, quando entravam Eusébio e a companhia vermelha toda por aquele relvado preto, branco e cinzento, que é como eu vejo as imagens desses tempos, ainda que saiba, ou imagine, que, na realidade, o relvado era verde e as pessoas não estavam todas como se fossem figurantes de um filme de Chaplin. Anacronica e esquizofrenicamente, amo o Benfica antigo no Barcelona contemporâneo, acho que é isto, e talvez pudesse seguir esta comparação, para alguns absurda, por mais umas linhas, mas acho que já está tudo dito, ou quase.
Veio-me esta ideia à cabeça enquanto via imagens de um Messi a destroçar um Atlético de Madrid no Calderón e, no fim, coisa tão linda, o público colchonero, de pé, a aplaudir o argentino. São coisas que comovem, não dá para explicar além disto. E a ideia que chegou logo a seguir, de mãos dadas com a comoção das imagens, de que, no Barcelona, há uma fonte inesgotável de talento para recuperar continuamente aquilo que o clube é e faz por ser: um clube de triunfos. Ao longo dos anos vimos assistindo a grandes equipas barcelonistas sucedidas por desaires que parecem levar o clube para o mais fundo dos buracos fundos mas, logo a seguir, há qualquer coisa, uma força, um momento, uma mística?, que os faz levantarem-se do chão, arranjar a camisola, sacudir os bocados de relva dos calções e continuar a correr. Sempre para as vitórias.
O que eu gostava, gostava mesmo, era de poder reconhecer o Benfica antigo quando estivesse num estádio cheio a ouvir o hino dessa equipa e reconhecesse nessa equipa a equipa e o clube que eu amo e que revejo no Camp Nou. Eu gostava que, um dia, essa equipa anacrónica deixasse de ser anacrónica. Eu gostava, gostava mesmo, de rever o Benfica no Benfica.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Miguel Góis

«SOB PRESSÃO

Ontem, sentei-me à frente da televisão, algo contrariado por estar prestes a assistir ao V. Guimarães-Benfica e não a um treino no Seixal, que é onde o Quique diz que a equipa joga bom futebol. À partida, o esquema defensivo dos vimaranenses era simples. Suazo era vigiado por Gregory, Di María marcado por Andrezinho, e Aimar manietado pela pubalgia. Escusado será dizer que o púbis do número 10 encarnado foi eleito, no final da partida, como o melhor defesa dos minhotos, ainda que a espaços tenha permitido ao argentino um ou outro pormenor genial.

A grande novidade no onze acabou por ser a inclusão de Balboa, um jogador – ninguém me tira esta da cabeça - cujo rendimento aumentaria exponencialmente se entrasse em campo vivo. Penso até que seria pertinente, já que o jogador tem apelido de boxeur, dar-lhe a cheirar antes de entrar em campo aquela substância que os treinadores de boxe aproximam das narinas dos lutadores quando os querem espicaçar. Mas, em vez de um frasquinho, teria que se recorrer a um jerrican, porque o estado de espírito de Balboa é aquele que um monge budista deseja alcançar quando entra para um convento.

Por fim, eis que chegou aquela que ao longo da época (excepção feita às partidas com o Sporting e o Nápoles na Luz) tem sido invariavelmente a melhor parte dos jogos do Benfica: a conferência de imprensa de Quique Flores. Há umas semanas, ouvi pela primeira vez na minha vida um jornalista da TSF a dizer que iam prolongar um pouco mais a transmissão respeitante ao Benfica-Nacional uma vez que a conferência de imprensa de Quique estava a ser “espectacular”. De uma maneira ou de outra, acaba por haver espectáculo na Luz, isso é que é importante.»

Record

terça-feira, 6 de janeiro de 2009