Segundo os nossos caríssimos leitores, o Benfica não está em primeiro porque o Quique "percebe tanto disto como o Homer de cerveja sem álcool" - escolha que passou pela meta em primeiro, embora logo atrás (a um voto de distância) viessem as usuais desculpas de mau pagador, "fomos escandalosamente roubados".
Esta escolha é curiosa e releva bem os pontos deixados em cima da mesa há uns tempos atrás. Lembro o texto de Novembro em que, baseado na feroz votação em apoio a Quique Flores, neste poiso se pedia alguma paciência e disponibilidade para aceitar algum insucesso que chegasse no decorrer da época. Desde então ficámos sem Taça de Portugal e sem UEFA, continuamos na Taça da Liga e, no campeonato, perseguimos o Porto por um ponto e mantemos intactas as hipóteses de sermos campeões.
Olhando para a realidade actual, parece-me que a votação se baseia, mais do que na desilusão de vermos duas competições fugirem-nos, na bipolaridade, esquizofrenia e, muitas vezes, numa acentuada teimosia que Quique Flores demonstra ter nas opções que faz. O espanhol não parece querer abdicar da sua busca incessante por rotinar o 442 (que é, na prática, um 424), não vendo (ou não querendo ver) que, seguindo esse caminho, estará sempre mais perto do insucesso. Por altura desse texto, Quique emendou a mão e procurou dar solidez ao sistema, tornando-o num não-sistema. Quando se coloca Amorim à direita, dificilmente poderemos chamar aquilo de 442 clássico pelo simples facto de que aquilo não é um 442 clássico. Esta opção, elogiada por todos nós e, antes, pedida à exaustão por todos nós, deu frutos e tornou a equipa mais sólida, menos permissiva às ofensivas adversárias mas, e aqui está tudo na mesma, muito pouco capaz de desequilibrar nas áreas contrárias. Quando as duas únicas soluções do Benfica são o passe longo do Luisão para os avançados ou o passe para o Reyes e ele que se desemerde, constatamos facilmente que ao Benfica, muito mais do que um treinador, bons jogadores ou árbitros competentes, falta uma ideia. Ela simplesmente não existe, não se vêem jogadas recorrentes, movimentações repetidas, espaços procurados, triangulações ensaiadas, rotinas, dinâmicas - aquilo a que, nos anos 90, o Toni chamava de "automatismos". Não há automatismos nesta equipa, Toni. Em 9-1, 8-1-1, 7-2-1, 1-9, 1-1-8, 1-2-7 ou 442 clássico, é preciso ter automatismos.
Não é, no entanto, impossível que eles apareçam. Não sei se esta época, que está mais direccionada para um contínuo sofrimento e necessidade de títulos, mas nas próximas. Esquecendo por uns segundos a questão da importância ou não de sermos campeões, é importante, a meu ver, que não esqueçamos o passado recente e que não entremos (como a votação perigosamente parece anunciar) mais uma vez na espiral louca da mudança de treinador. Dar ao espanhol o benefício da dúvida e esperar pelo final da época parecem-me opções bastante mais razoáveis do que, de repente, pormos tudo em causa e, então aí sim, definitivamente perdermos a hipótese (que é muito real) de renovarmos o título de 2005.
No texto de Novembro pedia que o 80 não se tornasse em 8. Ainda não se tornou. Mas temo que.
Esta escolha é curiosa e releva bem os pontos deixados em cima da mesa há uns tempos atrás. Lembro o texto de Novembro em que, baseado na feroz votação em apoio a Quique Flores, neste poiso se pedia alguma paciência e disponibilidade para aceitar algum insucesso que chegasse no decorrer da época. Desde então ficámos sem Taça de Portugal e sem UEFA, continuamos na Taça da Liga e, no campeonato, perseguimos o Porto por um ponto e mantemos intactas as hipóteses de sermos campeões.
Olhando para a realidade actual, parece-me que a votação se baseia, mais do que na desilusão de vermos duas competições fugirem-nos, na bipolaridade, esquizofrenia e, muitas vezes, numa acentuada teimosia que Quique Flores demonstra ter nas opções que faz. O espanhol não parece querer abdicar da sua busca incessante por rotinar o 442 (que é, na prática, um 424), não vendo (ou não querendo ver) que, seguindo esse caminho, estará sempre mais perto do insucesso. Por altura desse texto, Quique emendou a mão e procurou dar solidez ao sistema, tornando-o num não-sistema. Quando se coloca Amorim à direita, dificilmente poderemos chamar aquilo de 442 clássico pelo simples facto de que aquilo não é um 442 clássico. Esta opção, elogiada por todos nós e, antes, pedida à exaustão por todos nós, deu frutos e tornou a equipa mais sólida, menos permissiva às ofensivas adversárias mas, e aqui está tudo na mesma, muito pouco capaz de desequilibrar nas áreas contrárias. Quando as duas únicas soluções do Benfica são o passe longo do Luisão para os avançados ou o passe para o Reyes e ele que se desemerde, constatamos facilmente que ao Benfica, muito mais do que um treinador, bons jogadores ou árbitros competentes, falta uma ideia. Ela simplesmente não existe, não se vêem jogadas recorrentes, movimentações repetidas, espaços procurados, triangulações ensaiadas, rotinas, dinâmicas - aquilo a que, nos anos 90, o Toni chamava de "automatismos". Não há automatismos nesta equipa, Toni. Em 9-1, 8-1-1, 7-2-1, 1-9, 1-1-8, 1-2-7 ou 442 clássico, é preciso ter automatismos.
Não é, no entanto, impossível que eles apareçam. Não sei se esta época, que está mais direccionada para um contínuo sofrimento e necessidade de títulos, mas nas próximas. Esquecendo por uns segundos a questão da importância ou não de sermos campeões, é importante, a meu ver, que não esqueçamos o passado recente e que não entremos (como a votação perigosamente parece anunciar) mais uma vez na espiral louca da mudança de treinador. Dar ao espanhol o benefício da dúvida e esperar pelo final da época parecem-me opções bastante mais razoáveis do que, de repente, pormos tudo em causa e, então aí sim, definitivamente perdermos a hipótese (que é muito real) de renovarmos o título de 2005.
No texto de Novembro pedia que o 80 não se tornasse em 8. Ainda não se tornou. Mas temo que.
Bom post amigo Ricardo
ResponderEliminarConcordo com o que dizes do Quique, mas não nos podemos esquecer que luta contra dois projectos estaveis.
Tanto o porto como o sporting tem o mesmo treinador ha pelo menos dois anos e como se sabe o Quique chegou ha pouco mais de 7 meses.
Se ele tivesse ca ha dois anos e jogasse assim era complicado.
Mas não deixo de discordar de algumas das suas opções.
Ninguem é perfeito, nem aqueles que ganham para aí 100 mil€ por mês. Ou mais quem sabe...
Abraço Benfiquista
O Benfiquista sempre foi assim, do 8 ao 80 em menos de nada. Quique qd ganhar domingo será novamente o maior...
ResponderEliminar"não nos podemos esquecer que luta contra dois projectos estaveis.
ResponderEliminarTanto o porto como o sporting tem o mesmo treinador ha pelo menos dois anos e como se sabe o Quique chegou ha pouco mais de 7 meses.
Se ele tivesse ca ha dois anos e jogasse assim era complicado."
Nem mais, Maestro.
É preciso termos isso em conta antes de atirarmos críticas.
Não defendo de forma absoluta o Quique (acho que tem cometido vários erros), mas também não acho justas certas opiniões que tenho lido que defendem a sua saída como caminho para um Benfica melhor. São os mesmos que, daqui a dois meses, estariam a pedir a demissão do novo treinador.
E o circo continuava ininterruptamente.
Será que não se aprendeu nada na última década e meia?
Abraço
Pedro,
ResponderEliminarEusébio te oiça.
Amigo Ricardo
ResponderEliminarPenso que a prova disso, e provavelmente o meu amigo concordará comigo, é que acabou a epoca de transferencias e o Benfica não contratou um unico jogador.
Já não me lembrava de tal coisa...
O Ruizinho está no bom caminho.
Abraço Benfiquista
Diga não ao Mercado de Inverno. At last.
ResponderEliminarBom post Ricardo. Com mais tempo, comento mais profundamente...
Abraço.
Para caso estranho a recente impopularidade do Quique.
ResponderEliminarHouve muitas desilusões mas não é isso normal no mundo do futebol?
Este ano, só os adeptos do Man Utd e do Barça é que ainda não sentiram frustrações.
Vamos lá ter paciência que as contas fazem-se em Maio.
Aqui discordo um pouco, não acho que a estabilidade dada a Quique para além desta época seja fundamental para o Benfica. Para mim fundamental, e já o disse vezes sem conta, é haver uma política deposrtiva traçada, com um rumo fixo, e com grande estabilidade nos jogadores. Se isso acontecer, até trocando de treiandor, como se provou em 2004/2005, pode-se ganhar títulos.
ResponderEliminarSobre Quique julgarei-o no fim da época, pelos reusltados, para ser objectivo. Pelo seu trabalho até hoje, e pela qualidade do futebol e trabalho demonstrado, tem até agora um valente chumbo, sem direito a um 2º ano. Se conseguir o que me parece pouco provável, ou seja ser campeão, aí naturalmente merece continuar.
"Diga não ao Mercado de Inverno. At last."
ResponderEliminarRicardo,
Elogio Rui Costa por não ter ido atrás de negócios duvidosos, com pouca qualidade e interesse para o Benfica.
Por outro lado, parece-me que no plantel há falhas que deveriam ser colmatadas (as laterais e um extremo direito) que não o serão por:
- o Quique achar que não quer ninguém agora (o que duvido);
- o Rui Costa ter dito ao Quique que não há dinheirinho para loucuras.
Se é a segunda, que é a mais provável, tenho de dizer que as opções erradas do princípio de época condicionaram a possibilidade de retocarmos o plantel em Janeiro. Com a falha mais evidente nos 4 milhões gastos no Balboa.
E, ao contrário da ideia recorrente, acho que o mercado de Inverno pode fazer diferença e ajudar uma equipa a tornar-se mais sólida colectivamente.
No ano do título de 2005, por exemplo, o jeitão que o Assis deu...
Abraço
John,
ResponderEliminarcomo digo no texto: mais do que as desilusões de termos sido eliminados de duas competições antes de Dezembro, acho que aquilo que os adeptos do Benfica não estão a perdoar em Quique é a teimosia nas opções sobre a equipa de futebol. As escolhas que faz, muitas vezes teimosas e erradas, a vontade que tem de demonstrar que o seu sistema pode resultar, mesmo quando a realidade lhe nega essa visão.
Claro que termos perdido a hipótese de disputarmos duas competições tão cedo também não ajuda mas acho que os adeptos até estariam dispostos a compreender esse facto, caso Quique não fosse tão teimoso nas suas opções.
Americano,
ResponderEliminar"Aqui discordo um pouco, não acho que a estabilidade dada a Quique para além desta época seja fundamental para o Benfica."
Não falei noutras épocas, falei em dar estabilidade nesta. Apoiar nesta. Não deixar que a desilusão se apodere e que cheguemos a Março já sem hipóteses de ganharmos nada.
No final da época, é natural e lógico que haja um balanço.
Eu sempre defendi que, mesmo que não fôssemos campeões, se eu visse uma evolução na equipa, daria ao espanhol a possibilidade de uma segunda época. Neste momento, estamos com boas hipóteses de renovarmos o título mas não vejo à equipa grande evolução. Até Maio teremos todos oportunidade de tirarmos as nossas conclusões. O que peço é que até lá estejamos todos no mesmo barco.
Caro Ricaro, de facto ao Benfica falta uma ideia, é uma equipa com evidentes lacunas, principalmente revelando uma enorme incapacidade de assumir o jogo e ter o seu domínio. Julgo que este plantel é talhado para um 433 e não para um 442, as carcateristicas dos jogaores de meio-campo e os mais adiantados assim o dizem.
ResponderEliminarTemo um pouco pelo jogo com o Porto, pois esta equipa não oferece confiança, nem tem confiança em si. Julgo mesmo que nãoé muito aceitável que já na 2ª volta da liga, o Benfica não defina um sistema de jogo coerente e não estabilize de uma vez por todas um onze base, de modo a criarfortes rotinas de jogo.
Jotas,
ResponderEliminar"Julgo que este plantel é talhado para um 433 e não para um 442, as carcateristicas dos jogaores de meio-campo e os mais adiantados assim o dizem."
Nem mais. Acho o mesmo.
"Julgo que este plantel é talhado para um 433 e não para um 442, as carcateristicas dos jogaores de meio-campo e os mais adiantados assim o dizem."
Será um jogo difícil, isso é claro. Mas não temo. Primeiro, porque o Porto está longe de ser uma equipa que meta medo; depois, porque esta época o melhor Benfica apareceu precisamente nos jogos em que a equipa adversária procurou atacar consistentemente (como o Porto, é de crer, fará no Dragão) e nós aproveitámos os espaços nas costas dos médios para fazer estragos. Quase de certeza que o Quique vai optar por homens rápidos na frente de ataque no Domingo. Não me espantava que o que se viu frente ao Vitória, na Quarta, tenha sido um ensaio para o jogo do Dragão. Nesse caso, não nos espantemos todos se quem jogar na frente for Suazo e... Di Maria.
Abraço!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar* o segundo parágrafo, Jotas, era em relação à frase:
ResponderEliminar"Temo um pouco pelo jogo com o Porto, pois esta equipa não oferece confiança, nem tem confiança em si."
e não à que acabei por pôr.