quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Veloso de Parabéns e o Jamor de bigode

O Capitão Veloso celebra hoje 56 anos.
Para além de lhe desejarmos muitos e longos anos de vida, agradecemos esta magnífica contribuição fotográfica do exemplar para promover o bigode no Jamor





quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Há 30 anos, na época 82/83, o Benfica deslocou-se a Paços de Ferreira, num jogo a contar para a Taça de Portugal (!/16 avos) e venceu por 5-1.
Foi uma das estapas para a conquista da Taça nessa época.
Hoje o Paços volta a estar no nosso caminho. Que a história se repita!






terça-feira, 29 de janeiro de 2013

És muito fraquito, ó Nolito

Época de estreia: 2097 minutos (cerca de 23 jogos completos) = 15 golos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Acção e consequência


No passado dia 25 de Janeiro do corrente, a FPF anunciou a abertura de um processo disciplinar ao F.C. Porto por violação do artº 13 do regulamento de Competições da LPFP que prevê:

“qualquer jogador apenas poderá ser utilizado pela equipa principal ou equipa B decorridas que sejam 72 horas após o final do jogo em que tenha representado qualquer uma das equipas, contadas entre o final do primeiro jogo e o início do segundo.”

O F.C.Porto infringiu o citado regulamento, ao fazer alinhar na equipa que defrontou o Vitória de Setubal para a Taça da Liga, no dia 9 de Janeiro, não um mas 3 jogadores que já haviam sido utilizados pela equipa B contra a Naval 71h45m antes (considerando o final deste jogo e o início do da Taça da Liga): Fabiano, Abdoulaye e Seba.


A penalização prevista no artigo 78.º do Regulamento Disciplinar da LPFP nestes casos é “a sanção da derrota e de subtração de pontos (dois a cinco)”.
De acordo com o artº 44 º deste mesmo regulamento, “a sanção da derrota prevê a perda dos pontos correspondentes ao jogo em causa e a sua atribuição ao adversário.”

O prazo limite para decisão desta questão são 5 dias a contar da data de abertura do processo. Dia 30 portanto, já deverá estar tomada a decisão da Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga e consequente castigo a ser imposto pelo CD da FPF.

Para uma simples leiga como eu, analisando o caso, o seu enquadramento e a respectiva legislação, a conclusão é simples, é como 2 + 2 serem 4: ao F.C.Porto são retirados 3 pontos, assume o 2º lugar do Grupo, por troca com o Vitória de Setubal, ficando excluído da Taça da Liga. 
Não conhecendo ainda a defesa do clube para este processo coloco-me numa posição de expectativa quanto ao seu desfecho, muito condicionada pelo sentido de justiça – ou falta dele - a que nos habituaram os organismos que por ela deviam zelar e fazer aplicar. 
Posso especular, e apenas especular, sobre os argumentos de defesa que por aí poderão vir: qualidade de relógios, birras e argumentação de que o jogo não foi adiado não por vontade do clube em causa mas por questões de transmissão televisiva, etc e tal. Para além de qualquer especulação posso concluir que, se houver tomates por parte daqueles que decidem, não há teoria que lhes valha. Os regulamentos são claros como a água e o Sporting de Braga B, na passada semana, é prova provada disso mesmo já que, numa situação em tudo idêntica, viu-lhe serem subtraídos 3 pontos na II Liga, por decisão do mesmo organismo responsável pela decisão do caso aqui abordado.


Não pude deixar de ficar algo surpreendida por ter sido a FPF a tomar a iniciativa de instaurar um processo que estaria, à 1ª vista, no âmbito da acção da LPFP, já que a competição em que incorreu a irregularidade está sob a sua alçada.. 
No fim o que conta é que seja aplicada a lei, mas fica o registo.


São muitas as teorias que tentam explicar este “percalço” de uma estrutura que muitos argumentam ser “perfeita” e onde parece ser difícil encaixar a “incompetência” ou “falha” na actuação.
A que mais me complica o sistema é a que defende que os portistas agiram propositadamente para serem excluídos desta competição que sempre minorizaram e depreciaram, com o intuito de se “pouparem” para as restantes competições em que se encontram a disputar, ditas mais importantes. E são-no, mas não invalidam, anulam ou substituem outras. 
Pessoalmente não concordo, de todo! E só quem não conhecer a mentalidade azul e branca pode defender esta “tese”. Este Clube, ainda que com sentido de menosprezo, quanto mais não seja porque ainda não ganharam nenhuma Taça da Liga, em qualquer competição que entre é para ganhar. Sobretudo se o Benfica lá estiver. Não deixa de ser um troféu, não deixa de existir dinheiro envolvido, não deixa de ter sido uma prova aceite, aprovada e ratificada pelos Clubes, entre os quais o F.C.Porto.

Por muito competente que se possa ser, nada nem ninguém é infalível e, se não há qualquer entrave em reconhecer mérito por competência, deverá existir a mesma consciência para apontar o erro ou a falha quando ela possa acontecer e neste caso, o que existiu foi incompetência por parte da organização do F.C. Porto. Facilitismo talvez, que decorreu num erro que deverá ter as suas consequências, previstas e regulamentadas para todos.

Sem saber qual a decisão que será tomada, existe outro factor que me parece dever ser abordado que, directa ou indirectamente, se vai fazer sentir e no qual que eles são peritos: o aproveitamento deste caso em benefício próprio, independentemente de serem ou não excluídos da prova.  Neste sentido, o discurso externo tornar-se-á (ainda) mais duro, assumirão a tradicional posição de “coitadinhos” e de justiceiros contra o poder centralizado. Internamente servirá para um discurso motivacional dos seus elementos, o também mais do que conhecido “contra tudo e contra todos”, “só na secretaria é que nos derrotam, porque dentro das 4 linhas somos mais fortes”. 

O argumento de que foi propositado  - sobretudo por parte dos adeptos que jamais assumirão uma falha deste calibre numa super estrutura – vai com toda a certeza fazer parte do reportório, condizente com a importância e desdém com que se referem à Taça da Liga, à semelhança do discurso institucional. O caricato é mesmo o facto do treinador jogar com os titulares habituais noutras provas consideradas relevantes demonstrando, para quem tiver 2 dedos de testa, a contraproducência de tal discurso aplicado para a “Taça da Cerveja”.
Funcionam como um bloco, o discurso é como uma moeda, tem 2 faces: a unificadora, das e para as hostes,  e a dizimadora, para terceiros. 

Já conheço as oratórias de cor e salteado, já sei que funcionam e já sei que, passados estes anos todos, ainda não se antecipa e prepara devidamente a acção para as mesmas. Pior, não se prepara para as suas consequências, corre-se atrás delas.
Volto a frisar: seja qual fôr a decisão, estes factores vão-se verificar, fazer-se ouvir e sentir e serão tanto mais fortes quanto maior fôr o prejuízo. Já não devia ser preciso ao fim deste tempo todo mas eu, e muitos como eu, não se cansam de alertar.


A alegria dos golos o louvar do carácter


No jogo de ontem frente ao Braga, Lima marcou o 2º golo do Benfica e, numa atitude de grande respeito pelo Clube adversário, o qual representou durante 2 anos, não festejou o tento que acabaria por nos dar a vitória.

Não há nada como celebrar os golos do nosso Benfica, mas há pouco como louvar atitudes de carácter como a de Lima, sobretudo se considerarmos que são cada vez mais tão difíceis de assistir.




domingo, 27 de janeiro de 2013

Mais um Open Australiano para o sérvio Benfiquista


O "nosso" sérvio Benfiquista, Novak Djokovic, conquistou hoje, pela 3ª vez consecutiva, o Open da Austrália, batendo na final Andy Murray em 4 sets.







Extraordinários adeptos

JJ já a prestou. Com muita humildade, honra e orgulho eu deixo a minha homenagem a esta extraordinária massa associativa que, contra todas as adversidades, se desloca onde fôr para apoiar o Benfica.
A nossa coragem vem do amor que temos a este Símbolo, a este que é mais do que um Clube.
Nunca caminharás sózinho BENFICA!
Encontramo-nos na capital do móvel, a caminho do Jamor.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Antes de pedir a conta

Resultado fantástico. (No final, apenas fomos mais eficazes, nada mais)

A perda de intensidade é fatal nestes jogos e parece-me que a entrada do André Almeida é estrategicamente errada.

Acima de tudo, o Benfica tem que aprender a controlar um jogo, o Benfica tem que saber gerir um jogo contra este tipo de adversários. Voltamos ao Carlos Daniel, nesta segunda parte o Benfica não quis fazer de cada bola um ataque e...ficou sem saber o que fazer!
Temos que aprender a controlar.

BENFICA! BENFICA! BENFICA!!

Ao intervalo

É esta a táctica!
É esta a atitude!
Um bocadinho mais de controlo emocional e identidade e ficamos uma equipa a sério. Vá Jesus, anda lá que ainda acredito em ti!

Só mais uma coisa:
LIMA LIMA LIMA! Há quantos anos sonhava com um avançado assim...

Benfiquemos, senhores.

Será que é hoje que Jesus largará a sua Cruz? Braga tem revelado um Mau Jesus. O catedrático não se dá bem no Arcebispado. Água mole em Pedreira dura tanto bate até que fura.

Debitadas as minhas alexandrepaisinas do dia, meus senhores, gloriosamente benfiquemos.

O pornográfico benfiquismo

Escrever num blogue é uma merda muito desgastante. Não propriamente pela cadência de textos - cada qual escreve como quer, se quer e quando quer. E é tão fácil: blogger.com, um registozinho às três pancadas, umas chatices, volta-se atrás porque falta alguma informação fundamental, aparece-nos a vermelho o erro, e aquilo, com maior ou menor paciência, acaba por estar tratado. Escolhe-se uma imagem que revele todo o nosso extremamente fabuloso benfiquismo, metem-se uns links para os outros, põe-se uma opção de "seguidores". Se o blogger for ambicioso, há-de colocar na barra lateral umas imagens, talvez até uns vídeos sonantes com músicas e voos de águias. Se estiver desempregado ou gostar muito de uns cobres, umas publicidades (nunca se sabe o futuro). O blogger evolui para um patamar de texto, já é alguém, pode dizer coisas, tem opinião.

Há bloggers de todas as raças. O informativo - debita notícias de jornais; o analista - faz resumos dos jogos; o conspirador - informa os outros das falácias luso-patéticas; o genuíno - em cada post pede "apoio ao Benfica!"; o tecnocrata - estuda as contas do clube; o marialva - diz umas graçolas; o latifundiário - o universo é do Benfica; o romântico - desenvolve poesias sobre o clube; o politicamente correcto - só diz bem dos dirigentes e técnicos; o bajulador - só diz bem dos dirigentes e técnicos com um objectivo para o futuro; o situacionista - o que interessa é defender quem está no poder; o vira-casacas - opina consoante o que lhe oferecem; o resultadista - vai na maré dos resultados da equipa; o crítico - desenvolve teorias sobre as coisas; o independente - afasta-se da opinião comum; o subversivo - finge que diz que não, defendendo que sim.

Todos os gajos que abrem um blogue sobre o Benfica, tirando miseráveis excepções humanas, só pensam em ajudar o seu clube. Uns pelo apoio, outros pela crítica, uns pela divulgação das farsas dos adversários, outros pelos motes de defesa do clube. O que é normal, numa pessoa que dedica tempo a pensar e escrever sobre o Benfica, é que esteja - enganado, certo, mais ou menos certo, mais ou menos errado - com boas intenções. Este é um conceito que parece simples - e tem tudo para sê-lo -, mas infelizmente nem sempre é assim assimilado. Por falta de educação, má-formação, interesses, conspirações, loucuras, devaneios, parvoíces ou apenas burrice, há gente que consegue ver na opinião alheia uma conspurcada motivação. É gente que sofre, acima de tudo, de uma extrema arrogância e de um auto-cagar que, se fosse filtrado e recambiado pelo ângulo certo, lhe desabaria no topo da cabeça, lhe subiria ao cérebro, lhe encadearia os olhos e lhe calaria as barbaridades que fomenta. Gente sem grande merda na cabeça apesar de estar toda inteira de estrume.

É gente que tem o desplante de dizer que outra gente "afia facas" pela derrota do Benfica. Paremos aqui um instante, a ver se estamos todos entendidos: há gente que acha que outra gente deseja a derrota do Benfica só "para ter razão". Mas falamos de gente que fala de gente de outros clubes? Não, falamos de gente que fala de gente do seu clube. No topo do mundo da imbecilidade, há gente que acha que há outra gente do mesmo clube a desejar que o Benfica perca. Estamos, de facto, perante um verdadeiro exemplo excremental. E o pior é que estes juízos de valor que esta gente faz de outra gente que - pasmemo-nos - também é do Benfica não são o seu maior pecado, apenas consequências de outros pecados-dejectos que tudo iniciam e lhe dão corpo.

Então de onde vêm estas monstruosas teorias? Que bases constroem estes patéticos preconceitos que esta gente desenvolve achando-se num patamar de benfiquismo mais alto, oh altíssimo, do que os outros? Três ideias essenciais que explicam o extremo despautério: imbecilidade, ignorância sobre o jogo, erro de análise. Desenvolvamos os sub-temas da burrice crónica:


Imbecilidade - não há nada a fazer quanto a isto, há pessoas que são imbecis, pura e simplesmente. Os paizinhos não lhes deram educação, pouco leite, provavelmente maus-tratos. Sobretudo, grunhice. O gajo que não compreende que outro adepto do Benfica possa pensar, viver e escrever sobre o clube com uma base diferente é um gajo sem grandes qualidades intelectuais. Quando, sem o compreender, a isso acrescenta a ausência de capacidade de aceitação atinge o épico pico da idiotice. Para este ser, os benfiquistas têm de pensar todos da forma como ele pensa; se não pensam, "afiam facas".

Este é um ser muito curioso porque defende que defender o Benfica é defender o Benfica na internet - seja lá o que isso for (para ele, é dizer que sim a tudo). Não sabe se o ser que critica defende o Benfica indo ao estádio, indo ver o Benfica a outros estádios, indo ao estrangeiro, indo às modalidades, se gasta dinheiro pelo Benfica, se faz coisas pelo Benfica que realmente defendem o clube, se projecta o Benfica em várias acções, se desenvolve movimentos de projecção e valorização do clube. Não, este ser acha que se o outro ser não passa o tempo a fazer textos enfadonhos de "apoio" ao Benfica então é porque está a "afiar facas" à espera de uma derrota do Benfica. Não lhe tendo sido ensinado na escola, mas muito em casa e muito pelo próprio coração deformado, este ser é um imbecil. Um idiota com as doses certas de prepotência para debitar alarves opiniões sobre os outros.

Ignorância sobre o jogo - o ser não sabe grande coisa do jogo, repara nos golos e em quem passou. Com esforço, no estádio tenta perceber quem é que na defesa faz uns cortes de cabeça e no meio-campo quem é que consegue fazer umas fintas ou correr muito. O ser adora estatísticas. Anda apaixonado pelos dados recentes da Champions, nos quais pode ver a quilometragem dos jogadores - o ser adora estudar a quilometragem dos jogadores. O ser percebe pouco, quase nada, do que é futebol mas, como ouviu umas coisas, leu outras, perguntou a uns jogadores históricos questões pertinentes sobre o formato da bola de há umas décadas atrás, acha que já sabe tudo sobre futebol. À noite, vê uns jogos na RTP Memória, tem uns vídeos em casa, cadernetas, cromos, até tem 8 cachecóis e três bandeiras do Benfica. O ser acha que conhece.

Conhecendo, o ser analisa fases da época por resultados. O ser pensa: "ora então estamos na liderança, ganhámos este número x de jogos, não perdemos nenhum, empatámos este número y de jogos, ainda estamos nestas x competições, fomos eliminados desta y competição mas gloriosamente passámos para a z competição - isto tudo somado dá: estamos fortíssimos e os gajos que vêem de outra forma afiam facas!". O ser é estúpido. Mas é mais do que isso: o ser não pensa, não tem capacidade de analisar nada, limita-se a ver números - os bons, ele aceita; os maus, ele não vê. O ser não compreende que há mais do que números. Não percebe que pode haver indícios de derrocada nas coisas, porque o ser não compreende um cu de futebol. Derrocada? Mas como, se vamos na liderança? E não se limita a achar que não há sinais preocupantes; estende os seus tentáculos para a crítica a quem acha que nem tudo está bem e que há muito que está mal. Porque o ser sabe e "defende o Benfica".

Este é o mesmo ser que - quando os seres de quem ele agora fala como "afiadores de facas" escreviam que Jesus era uma boa solução para o Benfica (porque viam para além dos discursos tontos do Jorginho; viam futebol) - dizia, por ser um grande benfiquista, que não aceitava o Jesus no Benfica por ter dito coisas muito melindrosas contra o clube! O ser é assim: defende o clube, sempre! O ser é estúpido que nem uma porta. O ser ainda não olhou para o calendário, não percebeu que o técnico tem dificuldades crónicas contra as principais equipas, o ser adora ver goleadas e grandes jogadas contra o Moreirense; o ser não sabe compreender que o Benfica tem de ter outra consistência e que os campeonatos se ganham pela capacidade de sustentar princípios de jogo contra os principais adversários. O ser come tudo o que o Presidente lhe diz e digere com gosto. O ser queixa-se dos corruptos e a seguir vai votar no gajo que apoia corruptos. O ser adora dar desculpas no final da época; o ser detesta que lhe digam que podia não ter dado desculpas. Mas do que o ser gosta mesmo é de culpar os outros seres do seu clube por não "defenderem o Benfica", seja lá o que isso for, que nem o ser sabe já o que isso é. Acha,  tem uma ideia, pressupõe. O ser sabe lá. Debita merda da cabeça como lhe foi debitado antes. O ser escreve crónicas com frases-feitas sobre os jogos do Benfica ou disserta sobre a política do clube, insultando outros seres do mesmo clube nas televisões e jornais do clube. Porque lhe deram esse espaço para ele escrever e ser muito, totalmente, ser.

Erro de análise - O ser se o Benfica não ganhar vai culpar os árbitros. O ser já disse que, se não ganharmos, será porque seremos prejudicados pela arbitragem. O ser tem razão numa coisa: é um futebolzinho sujo. O que o ser ainda não compreendeu, nem há-de compreender enquanto se mantiver neste registo de atrasado mental, é que o Presidente que ele apoia ainda não abriu a boca sobre os árbitros. Ainda não compreendeu que o Presidente que ele apoia só fala nos árbitros quando os campeonatos estão perdidos. O ser ainda não se questionou sobre o facto de o seu Presidente apoiar inequivocamente outro ser que é um dos responsáveis pelo futebol português estar sujeito a erros dos árbitros. O ser não diz isto porque o ser "defende o Benfica". O ser vê outro ser atacar o Benfica - um ser que é Presidente de um clube que tem estado constantemente em guerra com o Benfica - e não se pergunta sobre a razão que leva a que o seu Presidente não venha defender o clube do ser. O ser não sabe ou não quer saber que o seu Presidente tem negócios com o outro ser que ofendeu e mentiu sobre a História do Benfica. O ser quer lá saber se o seu Presidente é sócio do Porto e do Sporting. O ser só quer saber de escrever umas crónicas muito broncas "defendendo o Benfica". E, não satisfeito, o ser ainda gosta de insultar os outros seres que não pensam como ele. O ser tem o Benfica que merece.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Fernando Gomes indigna-se (ao de leve) com Pinto da Costa


«O FC Porto corre o risco de ser punido com derrota e, nesse cenário, será o Vitória de Setúbal a defrontar o Rio Ave, nas meias-finais da Taça da Liga.»


A ver se entendo: há um clube presidido por um senhor que, apanhado ao telefone com árbitros, empresários, superiores dos árbitros, magnatas da comunicação social, observadores de árbitros e tantos outros agentes desportivos, revelou corromper todo o sistema futebolístico português desde que há 30 anos se cansou de olhar para os sticks e se decidiu a ir mandar mocadas na verdade e ética desportivas.

Perante os FACTOS provados e comprovados que as escutas denunciam, a Justiça Portuguesa - por possuir essa extraordinária capacidade ilusória consubstanciada na fórmula: "eu vi, eu ouvi, eu sei, é verdade, é factual, não há dúvidas, mas não posso fazer nada porque é extremamente ilegal prender um suspeito que é comprovadamente culpado" - agiu em conformidade: retirou 6 pontos ao clube presidido pelo "suspeito comprovadamente culpado embora nada possamos fazer sobre o caso", num ano em que esse clube tinha uns pontos de que podia abDicar e ainda assim ser campeão - assim como quem diz a um pedófilo: "Olha, nós vamos dar-te um puxãozinho de orelhas, mas para a próxima já sabes: não comes o pequeno-almoço e, se te portares mesmo mesmo muito mal, ficas a tarde toda de castigo".

Ora, é a este tipo de país e Justiça que agora querem pedir uma eficaz resolução de uma ilegal utilização de jogadores por parte do clube do senhor que todos sabem ser corrupto dos pés à cabeça mas que diz coisas muito giras e finas e irónicas? Com sorte, e já estamos no imaginário surrealista, leva um telefonema mais agressivo por parte do outro senhor que passava facturas (mas que também não é culpado, muito menos corrupto, porque na escuta havia alguns problemas de som e a voz parecia, dizem, ser uma imitação da original), e que é hoje o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (o que ser-se íntegro não vale!): "Ó Jorge Nuno, apre, só me dás chatices."

Venham mais 3 iguais

Que grande jogo na Rod Laver Arena! Murray venceu o primeiro set por 6-4, Federer respondeu com vitória no segundo, depois de um tie-break rasgadinho, por 7-6 (7-5).

Temos espectáculo.

Já lá vão 71

Predestinado a ser proclamado Rei, guiado pelo seu amor a uma bola, nunca perdeu a simplicidade e humildade próprias da infância. Uma infância que não chegou a viver. Talvez por isso mantenha o mesmo sorriso de menino, um sorriso apaixonado por uma bola e encantado com a magia das coisas mais simples, própria das crianças. Já lá vão 71 anos. E que venham muitos mais porque afinal, a imortalidade, já a conquistaste "Deusébio"!

Um dia pleno de emoções fortes este..

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Miguelito de la Rosa ou Michael Rose

Pessoal da prospecção, Vieira e Jesus: anda um rapazinho na Liga de Honra que podíamos valorizar e que dava muito jeito ao meio-campo esfrangalhado do plantel principal. Pode cair nas alas ou fazer de 10, mas, bem potenciado, o que está ali é um 8 de grande qualidade. É português, fez agora 24 aninhos, conhece o clube, viria a custo zero e, apesar de não ser avançado, já leva 12 golos marcados - para além de costumar fazer exibições sempre a um nível alto. É bom, o rapaz. E nós até precisamos de médios para o resto da época. Vejam lá isso. (Se quiserem, chamemos-lhe Michael Rose ou Miguelito de la Rosa, tudo bem)



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A trágica história de Lúcio Caparinha

Eram exactamente 15:21 quando Lúcio Caparinha acordou no terreiro central de Borba. A poeira circulava pelo ar vinda de vários ângulos, corria as árvores, levantava-se sobre os carros esquecidos e alimentava-lhe os lábios de uma cor e sabor a terra. Parecia morto, Lúcio, entregue a uma sombra que, por sorte, se mantinha sobre a sua cabeça. Era uma imagem de fim do mundo aquela que Lúcio viu quando finalmente abriu os olhos: um céu azul-mágoa, nuvens construindo formas estranhas - umas parecendo aviões, outras semelhantes a bolas disformes que apetece rematar para golo. Os braços abertos, fazendo ponteiros no chão, as pernas juntas como se, por defesa, Lúcio tivesse adormecido com medo do futuro. Caíam da árvore longas folhas de Outono, algumas esquecidas no corpo, outras voando e esvoaçando e voando e esvoaçando a cortar a visão do céu. Dez segundos depois de ter aberto os olhos, Lúcio percebeu: estava bêbado.

Levantou-se devagarinho para não assustar os pássaros. O corpo subia entre a horizontal do sono e a vertical da vida. Diagonal, Lúcio cambaleou, numas vezes caiu e noutras pôs-se de pé. Olhou a paisagem: tudo era Sol, Sul, cal e dores no pescoço. Tinha o pensamento debaixo de água, submerso na realidade. Afastou a terra da ganga com um gesto repentino, ajeitou o cabelo, pôs os dedos aos lábios para limpar o pó da noite e riu-se. Não havia propriamente uma razão para rir, apenas o mundo e pessoas ao fundo. 


Lembrou-se de excertos de memórias da noite anterior, acendeu um cigarro e voltou a rir-se. Farto de luz, Lúcio foi sentar o corpo macerado junto ao tronco de uma árvore, para fumar direito e pensar - era preciso organizar as ideias. Relembrou, no que era possível, os passos dados do dia anterior até ter acabado ali deitado, no terreiro onde há largadas de touros, mercado e circo, dependendo das épocas de festividade. Viu uma orelha de uma vaca no chão, dois narizes de palhaço e o que parecia ser um pedaço de pano provavelmente ali largado depois de uma guerra de regateios e mãos e braços que acabaram por levar a camisola desinteira.

Com a cabeça aos solavancos e o corpo em jeito desintegrado, o coração aos pulos por dentro e uns pulmões em sprints de cansaço, Lúcio Caparinha achou que tinha de beber. Olhou o território, estudou as directrizes, reflectiu. Em frente, o "Botequim", bar antigo que àquela hora já recebia imberbes estudantes à procura da absolvição de desamores inventados ou reais, borbulhas e processos socio-imaginativos. Cumpriu o ritual: levou-se até um uísque, devagar para não levantar suspeitas e falsas acusações. Todos os 120 metros que Lúcio percorreu foram de prestidigitação: fazia que se preocupava com um joelho, parava a fingir que via mensagens no telemóvel, interessava-se por flores inexistentes. A custo, chegou à estrada, caminhou sobre a passadeira como se fosse uma ponte para o inferno, viu o toldo do bar, baixou os olhos e entrou pela porta com um olhar de vergonha e a vontade de beber para voltar a estar bêbado.

Pediu uma imperial. Não sabemos a razão da escolha, podemos apenas imaginar que Lúcio não terá sentido que o momento era de absolvição definitiva de um uísque que o levasse, assim tão de repente, para o outro lugar da vida. Sentou-se no balcão, à espera de uma conversa. Ficou a olhar a prateleira de bebidas, posters e estranhos bonecos que anunciavam um bar dedicado à decoração festiva. Riu-se para dentro, com conclusões definitivas que retirou das pessoas que observava. 


Depois achou que não devia concluir tão definitivamente sobre as pessoas e essa conclusão, ainda não sabemos porquê, levou-o a memória de infância, coisas de que se recordava de há anos atrás, de dívidas, momentos - todos os tempos reflectidos na língua, onde saboreava cevada aguada e viagens no tempo. Pediu o "A BOLA " ao dono, por estar farto de ideias, e viu que o Benfica estava quase a entrar em campo. O cérebro em câmara-lenta orientou-o: vais até Vila Viçosa ver o jogo. A informação chegou-lhe ao nariz sem formas, quase parecendo uma farsa, mas abraçou-a como se disso dependesse a vida. Vou a Vila Viçosa ver o Benfica, está decidido.

Sabemos como é frágil um coração bêbado - até a ideia mais absurda ganha laivos de inevitabilidade se os elementos se encontrarem todos astralmente sintonizados. Foi assim que Lúcio, após um uísque (doping de caminhada), decidiu abrir-se para a estrada. Foi devagar porque o Sol não tinha pressa e as pedras do caminho surpreendentemente mantinham coerência, estáticas e etenas no vento da caminhada. Bi-bêbado, Lúcio admirou-se com o Sol. Passavam os anos, quase todos trágicos, e a mesma incredulidade ao Sol e à luz quente que o queimava, beijando-o. Naquele caminho surreal, entre Borba e Vila Viçosa, no meio de montes de mármore, fantásticas máquinas e poeira, o que se mantinha e elevava o coração de Lúcio era aquele Sol que aconchegava as coisas: almofada de luz sobre o mundo. Avançava sobre as pedras e as passagens de carros com a tranquilidade de um cérebro em diagonais pelo mundo. Ria-se, ria-se muito, ria-se tudo.


 Lembrava-se das coisas mais absurdas, fazia pequenos jogos cerebrais consigo próprio, rememorava-se todo. Enquanto os pés seguiam, passo a passo, Caparinha lembrava-se de amigos antigos, de outros novos, de gente que estava em fotografias nas salas das casas dos outros, nas salas da sua própria casa. Quem era aquela gente, que vivia com dentes e sorrisos e cabelos e gestos felizes num álbum deixado dentro de um armário carcomido por lesmas e traças? Seriam capazes de percorrer Borba-Vila Viçosa numa absolvição de oliveiras e cheiro a coentros?

Estraçalhado, Lúcio Caparinha viu o Palácio à direita. Surpreende sempre o seu coração sensível. Mas os tempos eram de fuga e estava quase na hora de ver o Benfica. Percorreu a Florbela Espanca à procura do sítio perfeito: restaurantes cheios de gente, bares desertos à procura dos primeiros bêbedos, cafés já sem café, grupos recreativos com velhos a jogar às cartas. Nada disto agradou ao nosso protagonista. Num repente anti-social, decidiu ir fazer arroz para casa e ouvir os relatos dos golos do Benfica encostado à janela a descobrir novos talentos.

A Gestão de LFV 3


Há a tentação de muitos "gestores" de analisarem os clubes de futebol / SADs e mesmo empresas em geral olhando apenas para o EBITDA. A verdade é que o EBITDA - Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization ("Ganhos" antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), é um indicador popularizado para avaliar o cash-flow libertado pela actividade operacional de um clube, mas na verdade pouca informação revela sobre a actividade desse mesmo clube.



Ao olhar para estes valores poderíamos pensar que a Benfica SAD libertava muitos fundos e como tal não teria grandes problemas com a sua gestão de tesouraria. Então qual a justificação para o crescente endividamento baseado na necessidade de investimento em jogadores, conforme vem indicado nos relatórios da Benfica SAD ?


Conforme verificámos anteriormente, de 2008-09 para 2011-12, o passivo oneroso do Benfica (seja a SAD ou o Grupo) aumentou significativamente apesar do EBITDA indicar que existe consistentemente uma libertação de fundos gerada pela actividade em especial  nas duas últimas épocas. Qual a razão então deste aparente contra-senso ?

O Resultado Operacional excluindo operações com jogadores, corresponde à diferença entre as receitas operacionais, aquelas que estão directamente ligadas com a actividade da SAD (bilheteira, quotização, transmissões televisivas, prémios desportivos (UEFA), publicidade, patrocínios e merchandising, etc.) e as despesas operacionais (custos com pessoal, fornecimento de serviços externos tipo segurança, viagens, seguros, despesas de publicidade e marketing, combustíveis, etc. amortização de equipamentos, etc.), ou seja, é aquilo que a empresa gera com a sua actividade normal.


Para passarmos do Resultado Operacional excluindo operações com jogadores, ou seja, o valor que é gerado pela actividade normal, ao EBITDA, vamos somar as mais-valias das vendas dos passes dos jogadores e diminuir as amortizações com o equipamento e as provisões para dívidas incobráveis, ao ROeop.
EBITDA = ROeop + Mais-valias de vendas de jogadores - Amortizações - Provisões.

Na verdade, juntam-se as receitas com as alienações dos passes dos jogadores, enquanto que os valores gastos com aquisições de jogadores não são considerados, por isso até mesmo quanto à libertação de fundos da actividade operacional o indicador pode enviesar significativamente a apreciação, ou seja, apenas contabiliza as vendas em cima da actividade do dia-a-dia e omite as saídas de dinheiro necessárias para se adquirirem jogadores.

Mas não omite só as saídas de dinheiro com aquisições, esquece ainda os encargos financeiros, que são muito importantes na estrutura de custos dos clubes/SADs e são um dos exfluxos mais relevantes em termos de tesouraria com que um clube/SAD se depara, tanto mais que muitos dos empréstimos são "permanentes", tantas as vezes que o revolving das operações são feitas.

Para percebermos o peso crescente da estrutura de financiamento, olhemos primeiro para o crescimento dos custos financeiros líquidos, ou seja a diferença entre custos financeiros e proveitos financeiros.


Como é fácil de compreender, o valor dos custos de financiamento da Benfica SAD tem vindo a subir constantemente ao longo dos anos.

Mas mais importante que olhar apenas para os valores dos custos financeiros é perceber como tem variado o peso face às receitas. Neste caso, convém explicar que os dados utilizados dizem respeito aos valores da Benfica SAD consolidados, tanto em termos de receitas como de custos financeiros sendo que as receitas incluem as transferências de jogadores.


Novamente convém referir que enquanto as barras representam os valores absolutos (milhões de euros), a linha deve ser lida no eixo dos valores relativos (%) visto tratar-se da relação entre as duas ordens de grandeza. Para quem pensa que se os valores seriam significativamente diferentes se fossem utilizados os valores individuais da SAD estão enganados, pois em termos percentuais as linhas praticamente se sobrepõem sendo que apenas em 2009-10 há uma diferença de um ponto percentual.

Isto quer dizer que apesar das receitas crescerem, a verdade é que a taxa de crescimento dos encargos financeiros foi mais elevada, o que leva a que hoje em dia o peso dos custos de financiamento nas receitas tenha aumentado sensivelmente.

Convém referir que a opção pela inclusão das transferências de jogadores, tem na sua base o facto de as transferências assumirem cada vez mais um carácter permanente e não um carácter extraordinário e com o facto de o endividamento estar associado ao grande investimento efectuado no plantel pela Benfica SAD nos últimos anos.


A análise ao passivo oneroso do Benfica, mostra que o passivo está cada vez mais concentrado a menos de um ano, passivo corrente, ou seja, existe uma exigibilidade maior em relação a este passivo o que pode constituir um risco para a tesouraria, mas mais que isso, retirará ao Benfica capacidade de decisão. A contratação de jogadores, mesmo sendo cada vez mais diferidos os prazos de pagamento pelas transferências, estará limitada não pelos novos compromissos a assumir, mas antes pelos compromissos já assumidos que exigem que a aplicação da tesouraria seja desviada para amortização de dívidas.

Mas pagar as dívidas e diminuir o passivo oneroso não é bom ? É bom e desejável, mas o problema estará na limitação dos graus de decisão. Imaginemos que faltará um jogador para completar o plantel, seja ele para titular, seja para jogador de rotação, tipo um central, ou um lateral direito ou esquerdo, ou mesmo um médio de características mais defensivas ou de transição. Estas são as posições que normalmente são referidas pelos adeptos.

Imaginemos até que o Jorge Jesus informa a Administração da SAD que necessita desse jogador para conquistar o título. O facto de os recursos estarem todos direccionados para a amortização do passivo oneroso implicará que a Administração da SAD por muito que queira ou reconheça essa mesma necessidade, não a poderá satisfazer. É claro que isto são cenários hipotéticos, mas o que não é hipotético é a limitação com que a SAD se vê devido à necessidade de reembolsar 90 milhões de euros em empréstimos obrigacionistas durante a época 2012-13, nomeadamente 50 em Dezembro de 2012 (já aconteceu) e mais 40 em Abril de 2013.

Em resumo, poderemos dizer que as receitas da actividade operacional e as vendas não têm chegado para as despesas operacionais mais os encargos financeiros e os investimentos na equipa, pelo que tem sido necessário recorrer ao financiamento bancário (passivo oneroso) para manter o funcionamento. Mais ainda, as opções de investimento na equipa de futebol durante as épocas de 2008-09 a 2011-12 originaram que em 2012-13 a Benfica SAD esteja condicionada para levar a cabo um desinvestimento no plantel de futebol e para a amortização do passivo oneroso.

Nos próximos posts abordarei a temática das receitas, as opções estratégicas e as grandes decisões que têm que ser tomadas até ao final desta época.

«O Benfica nunca perde; às vezes não ganha»

Além de ser o responsável pela frase do título, Artur Semedo foi uma figura central da cultura portuguesa e um apaixonado (mais do que apaixonado, doente) pelo Benfica.

Certo dia, apanhado fora do estádio antes de um Benfica-Sporting, tendo o rival um director-desportivo chamado José Bonetti, quando lhe perguntaram por um prognóstico, respondeu à sua maneira: "Vão apanhar Bonettis!". E levaram. Dois bonitos bonettis.

(aqui com Mário Viegas em... Fátima.)




terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O relvado e o golo do Benfica





 
Ninguém quer saber do relvado para nada. Fica para ali atirado verde fluorescente - excepcionalmente, no caso do Sporting, areal da praia de Carcavelos misturada com a erva do Parque dos Poetas – para uma solidão de espera e queimaduras de holofotes. Ninguém quer saber se o relvado tomou os medicamentos, se se alimentou decentemente durante o dia, se fez a sua corridinha matinal, se viu os filhos, se foi ao ioga.

As pessoas entram no estádio já todas com muita pressa e pouco tempo. Aquela luz que incide directamente no corpo da relva será saudável ou, oncologicamente, estaremos perante mais um assédio e agressão? Se não fossem os tratadores e os atletas que a meio do jogo, num lance mais emotivo, compõem tartes relvadas que se desorientaram, alguém alguma vez se preocupa em obsequiar um toque prostático ao relvado?

E, no entanto, reluz, rebrilha, reacende-se. Lembro-me disto: percorrer, do carro até entrar nas bancadas, dois a três quilómetros de benfiquismo aos socalcos: ficávamos por ali, avançávamos, recuávamos, abrigávamo-nos nas esteiras de tascas inventadas de bancos de madeira e nódoas circulares de copos de vinho que se iam acumulando fazendo símbolos enviesados dos Jogos Olímpicos. Tudo era Benfica e, mesmo com Trina de Laranja, embriagava-me.



Havia muitos fumos libertados por fogueiras, charutos e febras; odores de coisas ao lume, de perfumes baratos, de esperança. Ouviam-se vozes, tantas e todas em cima umas das outras, de gente feliz ou quase feliz ou ainda assim feliz que compensava mágoas na visão das luzes de um estádio que crepitava lá ao fundo. Pediam-se doses industriais de comida, bebia-se muito, conversava-se mais e ainda não havia rulotes nem televisões em rulotes que explorassem os ângulos analíticos do pré-jogo. Era mais do sangue e do vinho e de uma família sentada ao longo de um banco corrido, ensinando o Benfica a uns e outros.

Houve um tempo em que as repetições só existiam no final do jogo e nunca onde comíamos; víamos os lances polémicos através dos vidros dos autocarros dos que vinham de longe: Régua, Porto, Coimbra, Chaves, Évora, Beja, Figueira da Foz, Portimão, Cadaval, Viana do Castelo, Torres Novas, Portalegre, Castelo Branco, Santarém, Boticas, Guimarães, Elvas, Mértola e tantos outros sítios condensados por aldeias que se transportavam até às cidades.

Terá sido penálti? Não discutíamos foras-de-jogo. Interessava mais o golo ou os vários golos que o jogo tinha dado. E então, de entremeada e orgulho e beleza nas mãos, pedíamos aos que estavam dentro dos autocarros que se baixassem para vermos se de facto aquilo tinha sido um golo tão bom quanto nos pareceu. E era ainda melhor. Aumentávamos o golo ao seu expoente máximo: eram dois golos! E depois três golos! E eram golos que nunca mais acabavam, naquela lama de onde saltávamos agarrados ao autocarro a bater com os pés e com as cabeças e com os litros de vinho todos a saltarem com os adeptos que, lá dentro, festejavam com cigarros e cachecóis ao rubro a baterem nas luzinhas e nos ares-condicionados.





O golo existia dentro do estádio e propagava-se por nós e entre nós por mais umas horas: falávamos dele, moldávamos-lhe as faces até ao momento em que, por mais repetições, já ninguém sabia se o golo tinha sido do Magnusson ou se tínhamos sido nós que, num acesso de demência, acabámos em frente à baliza e finalizámos. Era assim, junto às paredes dos autocarros que diziam nomes estranhos de empresas regionais de viação: a gente espreitava o golo por entre cabeças de mães de família que procuravam recato dentro da viatura, abria-se uma cratera de esperança de que o golo viesse a ser diferente – algo que mudasse desde o apito final até àquele momento, queríamos novidade -, baixávamos o corpo, a espinha flectia-se, os joelhos flectiam-se, os pés enterravam-se nos baixios da lama, o Gabriel Alves, o Rui Tovar, o Miguel Prates, o Mário Zambujal, o Ribeiro Cristóvão, um deles, já não sei qual nem interessa, começava o resumido relato e nós ali, num silêncio sepulcral mirando as televisões de autocarros à espera de mais um golo que já tinha acontecido.



E a sensação – maravilhosa sensação de ver coisas a passarem na televisão que vimos ao vivo e a cores e a cheiros e sons e nomes e vidas – de estar quase a chegar aquele impulso supremo. O golo vinha, o golo estava quase a vir, e depois o grito, os abraços, os beijos, as entremeadas e as cervejas no ar, tudo doido com um golo em repetição, de dentro do autocarro batiam com força nos vidros, beijavam os cachecóis, levavam os fiozinhos de ouro à mão, agradeciam aos céus por uma fresta em diagonal que se abria lá dentro e cá fora a mesma coisa: gente batendo com força nos pneus e nas letras mal pintadas e mal coladas a dizer TorrExpresso ou alguma coisa parecida com esta que não se pode prometer, visto que o molho das bifanas cortou metade das tintas e colas e adereços.



O golo, aquele golo e aquele momento, que apesar de serem tantos são sempre únicos e nunca se repetem, aconteceram tantas vezes naquele relvado que víamos descendo rampas e depois escadas ou subindo escadas e rampas. O coração acalmava quando os olhos viam o relvado a esperar, sempre a esperar, a entrada dos artistas e as emoções que estavam quase a acontecer. Um golo do Benfica. Um golo do Benfica. Um golo do Benfica. Não há relvado que resista a um golo do Benfica.

O Bosão de Aimar


Enquanto o champanhe inundava os óculos de cientistas meticulosamente geniais num lugar distante, a mãe de Pablo sorria em frente a um álbum de fotografias que abria com os olhos grandes e as mãos como pinças, não fosse sujar aquele ouro das memórias. Estava descoberto e comprovado e analisado e festejado o Bosão de Higgs - massa-matéria que vinha corroborar o que a mãe de Pablo já conhecia: o universo fazia algum sentido. 

Pablo em cima de uma bicicleta, Pablo com perna estendida e uma bola no ar, Pablo a sorrir, o sinal de Pablo, o cabelo desgrenhado de Pablo e Pablo feliz, com amigos. A vizinha que tinha vindo aos soluços pela rua, com cuidado para não ferir mais aquela dor das costas que a lançava no desvario das noites em claro, chegando à casa da mãe de Pablo pediu pimentos e, se possível - não fosse o exagero -, algumas batatas para o almoço, cinco dedos de conversa e alhos e algum conforto - um "está bem? tenha cuidado com essa dor", algo que a apaziguasse e a enchesse de um sentimento de não andar no mundo sem explicação nem gente que se lembrasse das suas insónias.

A mãe de Pablo tinha uma panela fumegante ao lume, esquecida, crematória, quando abriu a porta e disse para a vizinha entrar. O álbum de Pablo aberto e virado ao contrário sobre uma mesa - os dentes de Pablo contra uma mesa de madeira, um sorriso estancado no vapor dos legumes. A mãe chamou a vizinha para um descanso, pôs-lhe a mão nos joelhos macerados e disse-lhe: "este é Pablo, há muitos anos". E mostrou-lhe Pablo com perna estendida e uma bola no ar, Pablo a sorrir, o sinal de Pablo, Pablo em cima de uma bicicleta, e sorriu e gargalhou da mesma forma com que tinha gargalhado e sorrido cinco minutos antes, na altura em que os dentes de Pablito não estavam assim, daquela forma quase violenta, contra um muro de madeira, à espera que a sopa e a vizinha se alargassem para o mundo. 

A mãe fazia comentários sobre as fotografias do filho. Contava histórias, lembrava-se de outras que não estavam naquelas imagens paradas, punha vezes sem conta a mão nos joelhos e nas mãos da vizinha e ninguém - nem os cientistas que bebiam champanhe de óculos embaciados - podia adivinhar o aperto que lhe subia ao coração e à boca, à garganta, o orgulho misturado com sede de tempo. Comentava: "está em Portugal, tenho aqui um vídeo" e a vizinha forçada a permanecer de joelhos sem pimentos nem batatas e o marido à espera ali a três ou quatro casas destas imagens:



A mãe apertava as pernas da vizinha enquanto cantava "Pablo, Pablito Aimar..." e a vizinha fechava-se numa dor que estava quase a rebentar os joelhos para um respeito sem mácula, devoção, pedaços de imagens de Pablo a fazer aquilo nas ruas, em casa, na cozinha com e sem pimentos, batatas que tinham servido há muitos almoços e jantares atrás para uma sopa que esperou Pablo aos chutões tempo demasiado e arrefeceu. Que batatas e pimentos eram aqueles? O que seria feito deles, desceram pelos corpos e saíram do outro lado da horta e voltaram a crescer e a ser pimentos e batatas e sopas atrás de sopas, todos à espera de mais um golo de Pablo numas balizas de mochilas da escola?
 
A mãe de Pablo desconhece o Bosão de Higgs. Se lhe falassem disso, enrolaria os olhos, diria que trabalha desde criança e que essas coisas são feitas para os homens do mundo. A vizinha inventaria algo e até arriscaria uma muito pertinente questão: esses bosões dão para meter no tacho? e depois iria à sua vida, de joelhos cheios de dores e um saco de pimentos e batatas que a mãe de Pablo lhe oferecera enquanto via o sinal na cara do filho e pensava sobre essas coisas profundas de levarmos na cara e no corpo e no coração marcas iguais de criança a homem, de menino a estrela. Sinais de deus.

20 anos de equívocos

«Trata-se de uma investigação sobre Inocêncio Calabote, o árbitro que foi recebido pelo presidente do Benfica em sua casa na véspera de um jogo. Não, desculpem. Enganei-me. É o árbitro a quem o Benfica pagou uma viagem ao Brasil, assim é que é. Peço desculpa, voltei a equivocar-me. O livro é sobre um árbitro que terá recebido quinhentinhos de um vice-presidente do Benfica. Perdão, ainda não é isto. É um árbitro ao qual o presidente do Benfica mandou oferecer fruta para dormir, conforme comprovado por uma escuta. Apre! Não acerto. Bom, parece que se trata de um árbitro ao qual o Benfica não ofereceu nada e que, em troca, terá beneficiado o clube a ponto de fazer com que o Porto ganhasse o campeonato. Enfim, um daqueles escândalos que nem 50 anos de silêncio conseguem apagar. Mas, reconheça-se, um escândalo que se mantém actual: um árbitro que acabou castigado pela justiça desportiva num ano em que o campeonato foi ganho pelo Porto. Realmente, soa-me a familiar.», Ricardo Araújo Pereira


Não é difícil gerar uma estrutura forte. Basta contratar os melhores. Competência e benfiquismo. Dois valores que elevariam o Benfica a um patamar estrutural que há 20 anos não tem por estar inundado de incompetentes e não-benfiquistas.

E que tal vender os médios todos?


Quando até o Jesus já não consegue manter-se calado sobre as opções absurdas por parte da Direcção, acho que estamos conversados. Depois do desbaste de Agosto, aí está em marcha novo desbaste de Janeiro. Ficará tudo no plano divino: que Jesus faça milagres.

E assim se fazem campeões... mais a Norte.

O êxito internacional

«Só no tempo do Calabote é que se usavam arbitragens destas, no futebol atual, no futebol moderno e credível, não pode haver.»


domingo, 20 de janeiro de 2013

Impressões sobre o CAN 2013 - II - O festejo de Kidiaba

No Gana-Congo (2-2), o melhor jogo do CAN até agora - incluindo este Mali-Níger que está no intervalo -, o guarda-redes Kidiaba, após Dieumerci ("Deus, obrigado", nome dado ao rebento por uma mãe cansada de esperar por um filho) Mbokani ter marcado um penálti exemplar, presenteou-nos com a sua habitual dança de cu no chão. Primeiros lamirés do CAN.



Um dos melhores jogos de sempre.

O Ténis é um desporto fabuloso. Dos que requer mais estratégia, instinto, técnica, capacidade mental. É, com o snooker, o xadrez e o futebol, um dos meus desportos de eleição. E é, tal como os outros três, muito mais do que uma soma de características físicas e técnicas. Para além da beleza e complexidade, é um desporto seguido por gente na sua maioria verdadeiramente desportista, sem facciosismos bizarros nem ódios e guerras que tantas vezes vemos sujarem o futebol. Talvez sejam essas as grandes diferenças entre a generalidade dos adeptos do ténis e a generalidade dos adeptos do futebol - paixão pelo desporto, conhecimento profundo do jogo, respeito pelo adversário, educação. A paixão por um desporto não quer dizer ódio nem parcialidade desmesurada. O Ténis comprova que pode haver intensa paixão e profundo amor pelo jogo sem cair na boçalidade mais primitiva. É ainda, neste país, um desporto completamente desvalorizado. E é pena, porque poucos conseguem dar-nos tanta emoção como o Ténis.

Foram 5 horas e tal de um jogo fabuloso. A melhor esquerda do circuito (Wawrinka) contra o melhor defensor do mundo (Djokovic). Nunca se perdeu qualidade e intensidade, foram 5 sets sempre a um nível estratosférico. No fim, pendeu para o sérvio, que nos momentos decisivos costuma fazer a diferença. Mas o suíço demonstrou toda a qualidade que tem. Se mantiver este nível, pode facilmente disputar outros troféus do Grand Slam. Obrigado por um dos melhores 5 jogos que vi na vida.

1-7-6-6(5)-12

6-5-4-7(7)-10



sábado, 19 de janeiro de 2013

Impressões sobre o CAN 2013 - I - Cabo Verde

Podia ter começado pior o CAN 2013? É pouco provável. Teríamos de alinhar vários astros, rezar muito aos santinhos e exercer diversas e variadas macumbas para o resultado final ser um dia futebolístico mais confrangedor do que este que foi o primeiro da competição africana de selecções. A crescente europeização do futebol africano, ao contrário do que no passado era difundido como uma mais-valia que trouxesse método ao talento em estado puro, não só não está a trazer benefícios como está a aniquilar os "males" - leia-se: alguma indisciplina táctica, rasgo, desequilíbrios, futebol de rua - que os doutores do futebol mundial viam nas grandes selecções africanas de há 10 ou 20 anos.

É muito cedo para tecer considerações definitivas sobre esta mudança conceptual numa fase tão prematura da competição, mas o começo, esse, de facto não é prometedor. Os dois 0-0 a que assisti podiam ter sido grandes jogos, independentemente da sempre tristonha ausência de golos - podia ter havido muita qualidade individual, outra tanta colectiva, podia ter acontecido que só o azar não tivesse permitido que as várias situações de perigo não tivessem originado golos. Mas pouco ou nada disso existiu. Um número demasiado elevado de jogadores de nível fraco nos 50 e tal que hoje entraram em campo; equipas tacticamente esquizofrénicas, parecendo perdidas entre a cultura táctica que os seus treinadores exigem e o instinto natural dos atletas; medo do risco ofensivo; medo da falha defensiva; pouco público; pouca cor; zero golos. Estarão a fazer de África o novo laboratório do futebol cinzentão?

Há, valha-nos isso, excepções. Jogadores que se destacaram, fases do jogo das equipas que prometeram um lugar de destaque na aparente apatia generalizada em campo, ideias de jogo, a espaços, que surpreenderam. Olhemos mais a fundo 1 das 4 equipas que hoje jogaram, até por interessar mais aos biliões de leitores que temos em Cabo-Verde.

Num jogo histórico para os cabo-verdianos, há que elogiar primeiro Lúcio Antunes, o seleccionador. Após a notável conquista de poder disputar o CAN, neste primeiro jogo, frente ao anfitrião, a equipa de Cabo-Verde esteve sempre mais próxima da vitória, mesmo que tenha revelado pouco poder de fogo e alguma incapacidade para dar sequência ao trabalho de um meio-campo surpreendentemente competente e talentoso.

A equipa de Lúcio Antunes é bem organizada defensivamente - não só pelos 4 defesas mas por toda a equipa. Mantém-se coesa, posicionalmente coerente, não pressiona a saída de bola do adversário mas espera por ele mais atrás, onde então lança intensidade pelos avançados e médios, fechando o corredor central, orientando a posse adversária para as alas, para depois estancar a posse adversária e procurar a recuperação. Tem falhas, é evidente; principalmente pelo desposicionamento constante dos laterais que, demasiado sôfregos, muitas vezes sobem sem critério deixando as costas com espaço - quando isso acontece, forçam os médios - sobretudo Marco Soares e Babanco - a uma compensação que, apesar de terem cumprido com qualidade, desequilibra a equipa. Há, no entanto, trabalho óbvio de Lúcio Antunes nesta estrutura bem organizada com alguns jogadores a um nível demasiado baixo - Carlitos, Nando e Toni Varela denotam grandes dificuldades.

Quando se exige à equipa uma transição defesa-ataque de qualidade, a equipa responde quase sempre mal, por preferir manter a posse em vez da vertigem. Por isso é na construção ponderada que Cabo-Verde dá boas indicações, permitindo revelar a qualidade fantástca (para mim, uma surpresa total) de Babanco, um médio que é claramente de outro campeonato. Atrás, Marco Soares, forte no desarme, posicionalmente cumpridor e que mantém a equipa no possível equilíbrio. O maior elogio a esta equipa passa precisamente pelo meio-campo, onde consegue juntar um médio mais posicional (Soares), outro forte no transporte, visão de jogo e passes de ruptura (Babanco) e, claro, a estrela da companhia Ryan Mendes que, apesar de no papel aparecer mais avançado, vem atrás ligar o jogo, receber de costas ou procurando a transição mais rápida - aqui, como foi dito atrás, sem grande sucesso porque a equipa não está preparada para galgar terreno rapidamente.

É um meio-campo que não faz o óbvio e é essa a sua maior virtude. Procura passes verticais, tenta explorar o miolo sempre em apoio, através de combinações curtas, sem esticar demasiado o jogo. Faltam-lhe bom alas e um avançado com outro tipo de características - Heldon deambula pela frente de ataque, mais no centro ou caindo sobre as alas, mas é insuficiente para chegar recorrentemente com perigo à baliza adversária. Há trabalho nas bolas paradas defensivas, criando uma zona de "saltinhos" (à Jorge Jesus de há uns tempos) e os centrais, sobretudo Varela, sabem compensar bem as falhas dos laterais, quando em desequilíbrio posicional.

No fundo, e com os jogadores que tem à sua disposição, Lúcio Antunes revela que tem qualidade. Veremos até que patamar poderá chegar nesta competição, sabendo que só pelo facto de estar em prova e ter feito um primeiro jogo contra a África do sul com um bom empate e qualidade colectiva já merece todos os elogios.


DESTAQUES


VARELA - O ex-junior do Sporting e Estoril, que em Portugal jogou no Trofense e Feirense e que hoje se passeia pelos romenos do Vaslui, foi uma boa surpresa. Bom porte atlético, excelente sentido posicional, antecipa facilmente os lances e no jogo aéreo frontal revelou ser quase intransponível - no lateral, tem mais dificuldades, também pela fraca capacidade do seu companheiro da defesa, que parece deixar Varela sem saber se deve preocupar-se unicamente com o seu espaço ou antecipar o espaço do outro. Tranquilo a sair a jogar, no passe curto é eficaz. Não deve, no entanto, exagerar no passe longo, em que revela pouca competência. Tem 25 anos, talvez mereça uma oportunidade melhor do que aquelas que teve até agora em Portugal.

MARCO SOARES - Depois de passagens pelo Barreirense, Leiria, Pandurii e actualmente no Omonia do Chipre, aos 28 anos Marco Soares é um jogador que tem qualidades evidentes para a posição que ocupa: entende o que tem a fazer, sem se atirar a funções que não domina. Pressiona a orientar o adversário, sem se desposicionar (só o faz em compensações aos laterais, e fá-lo bem); tem razoável toque de bola, cumpre bem como apoio à saída de bola, antecipa normalmente os lances, por vezes avança no terreno para explorar o bom remate. Entende o jogo, o que é logo uma grande vantagem. É a cola que liga os centrais ao resto da equipa.

BABANCO - Uma maravilha, o jogo de Babanco. Cresceu no Sporting da Praia, passou pelo Boavista da Praia, andou no Arouca, hoje está no Olhanense. Aos 27 anos, tem tudo para ir parar a um Braga, se Peseiro quiser. Passe curto, médio, longo, escolham a mira que ele deixa lá a bola. Tem uma decisão muito acima da média, escolhendo quase sempre o toque em progressão, a melhor forma de ir subindo sem perda. Os passes que falhou não falhou: foram os colegas que não perceberam. Tem uma visão de jogo que supera em muito a média da equipa e isso pode nem sempre ser entendido. Transporta bem a bola, não é um tecnicista de excelência mas compensa o facto com inteligência em campo, posicionamento, entrega, intensidade, noção do espaço. Pela própria ideia de jogo da equipa, é muitas vezes forçado a compensar as subidas dos laterais e extremos, mas parece-me que seria bem mais interessante usá-lo uns metros à frente. Talvez seja essa mudança de que a equipa precisa para poder criar mais perigo no jogo ofensivo.

RYAN MENDES - Passeia-se pelo campo sem lugar definido. Tanto aparece como elemento mais avançado como vem ao miolo pedir a bola como se desloca para as alas para criar desequilíbrios. É muito forte no 1-para-1, tem um remate espontâneo e de mira afinada, tem instinto de jogador - pensa mais rápido e desenvolve a equação dos movimentos alheios de forma mais fácil -, decide bem, é voluntarioso, quer criar. Não sabe, no entanto, pressionar - exerce uma pressão individual, estranha muitas vezes ao movimento colectivo da equipa. É um jogador com mais talento do que os colegas. Aos 23 anos, tendo passado por Le Havre e hoje no Lille, seria uma opção de valor para as principais equipas portuguesas.

A minha Camisola do Benfica

Depois de cada jogo que a envergo, a minha Camisola do Benfica é mergulhada no mais macio dos amaciadores e afagada pelas minhas festas. Jamais caiu na força centrifugadora de uma máquina, jamais foi exposta directamente aos raios do sol enquanto seca, jamais foi marcada por molas. É como uma espécie de descanso do guerreiro com as mordomias próprias de quem travou uma batalha.
A  etiqueta da minha Camisola do Benfica diz que é composta por raça, querer e ambição, made in Sport Lisboa e Benfica.
Não conheço o paraíso mas, pelo cheiro da minha camisola, sei que ele existe e só pode ter o mesmo aroma.

A minha Camisola do Benfica já enxugou as minhas lagrimas, já contemplou o meu sorriso, já amparou a minha angustia, já  pautou as batidas do meu coração.
Já abraçou e foi abraçada, já acolheu afectos e prostrou invejas.

A minha Camisola do Benfica já foi fustigada pela chuva e pelo sol, pelo vento e pelo granizo. Já desafiou alertas vermelhos, já contemplou o ar trespassado por 1001 objectos, já escutou impropérios, já foi elevada pelo hino e enaltecida pela devoção de milhares.

A minha Camisola do Benfica faz de mim uma pessoa mais altiva, mais confiante, mais corajosa e destemida, mais orgulhosa, sem me demarcar da humildade e respeito que a camisola do Benfica do meu Pai me ensinou.
Torna-me mais forte, mais afoita, mais aguerrida de "batalha" em "batalha",sempre de olhos nos olhos.
Faz sobressair o melhor que há em mim, instiga-me a contrariar e a lutar ferozmente contra o pior que a rodeia.

A minha Camisola do Benfica já atravessou o oceano, já subiu ao céu e desceu ao inferno desafiando certezas e arrasando duvidas, sempre com o mesmo brio e o mesmo brilho que encadeiam e fazem corar de inveja o próprio sol.
Já viu suas semelhantes vestir nobreza e povo de um hemisfério ao outro, tornando-nos "UNUM".
É um majestoso mar vermelho beijado por pequenas ondulações brancas, iluminado pela Luz de um símbolo vivo que nos guia.

A minha Camisola do Benfica é um diário de partilha, que guarda os pedacinhos mais valiosos da minha entrega a este Clube que faz parte de mim e da minha vida.
É minha e  não a dou a ninguém mas com ela aspiro a que todas as que são envergadas por esse mundo fora guardem as suas historias com o mesmo amor que eu guardo as minhas e sejam honradas como eu honro a minha. Que sejam testemunhos das historias vividas por cada um carregando o maior símbolo, passados e transmitidos a gerações futuras que os eternizem enquanto forem escrevendo a sua própria historia com as suas camisolas do Benfica vestidas.

A minha Camisola do Benfica é o Manto Sagrado e é tratada enquanto tal.
Foi abençoada por todos os deuses que possam existir e até eles, solenemente, lhe fazem uma delicada e respeitosa vénia, porque nem os próprios, alguma vez, esperaram criar uma obra tão perfeita em tudo que ela encerra.