Maio de 2005. O Benfica está à beira da se sagrar campeão nacional pela primeira vez um mais de dez anos. Para mim, como para tantos outros benfiquistas da minha geração, nascidos no final dos anos 80 e no princípio dos anos 90, o momento é único. É a primeira vez que podemos testemunhar tal acontecimento. Benfica campeão. Sobrevivemos ao penta do Porto. Ao Mário Jardel. Ao rival de Lisboa a celebrar por duas vezes em três anos. Ao sexto lugar. Ao ficar de fora das provas europeias. E ao ver um clube sem história como o Boavista ganhar o campeonato e ser sistematicamente melhor que nós.
14 de Maio de 2005. Como é possível esquecer a data? Onze anos depois de João Vieira Pinto ter espalhado magia em Alvalade, o Benfica recebia o Sporting naquele que já era apelidado de "O Jogo da Década". Ainda que a matemática não o afirmasse taxativamente, todos sabiam que quem vencesse sagrar-se-ia campeão. Eu não estava no Estádio da Luz. Duas semanas antes tinha esbarrado com o nariz num papel que dizia "bilhetes esgotados", afixado na janela da bilheteira da Praça Cosme Damião, em dia de jogo frente ao Belenenses. Perante a desilusão, o meu pai ainda me tentou consolar dizendo que compraria dois bilhetes para assistir ao Benfica x Sporting, mas o preço dos ingressos e a impossibilidade de ir com o meu pai, companheiro de sempre nas idas à Luz, travou o desejo. E assim foi. Acabei por ficar em casa com a minha irmã mais nova a ouvir o derby com o eterno rival pela rádio. Não havia SportTV nem streams manhosos. E à medida que os minutos iam passando, a esperança em vencer o jogo e em ser campeão ia morrendo lentamente. Livre para o Benfica. Ricardo Rocha fora rasteirado por Pinilla. Já não era Jorge Perestrelo quem relatava o jogo, mas a emoção de ouvir o Benfica na TSF mantinha-se intacta. Lembrei-me das palavras da Ivone, a nossa empregada de sempre: "Menino, se for preciso, para dar sorte, faça como o Eusébio e enrole uma toalha à volta da mão!". Era o momento. Corri para a cozinha, peguei numa toalha, coloquei-a à volta do punho esquerdo e o resto é história. Naquele momento, senti que aquele título também era meu, graças à Ivone e ao Eusébio. Como podia uma toalha ter marcado um golo? Ainda hoje não sei.
Todos nós, à nossa maneira, somos ou fomos Eusébio da Silva Ferreira. Quando vencemos e nos sentimos no topo do mundo, quando perdemos e saímos do campo em lágrimas. Quando queremos algo mais que os outros, quando lutamos com lealdade para conseguir o nosso objectivo, quando estendemos a mão ao rival e o cumprimentamos. Tudo isto foi Eusébio. Tudo isto será Eusébio. O Rei não morre, pelo menos enquanto houver memória. Cabe-nos mantê-lo vivo e alimentar a lenda.
Bonita homenagem. Este nó na garganta demorará a passar...
ResponderEliminar...:(
ResponderEliminarBenfica Todos Tempos.
Até pode ter havido alguém que jogasse melhor futebol que o Eusébio, mas jamais haverá alguém capaz de empolgar os adeptos com o festejo de um simples golo como o King. Contagiante. Como diz o Chalana «Festejar os golos à Eusébio», assim, nem mais, à Benfica.
ResponderEliminarVamos ter alguém lá em cima, no Céu, a zelar pelos nossos desejos desportivos. Não tenham dúvidas, ela sempre foi capaz de fazer coisas impossíveis. Foi o melhor de todos nós benfiquistas.
(Emocionei-me com as palavras do Sr. Coluna, um Monstro, um Líder).