Quando tomei conhecimento do sorteio da fase de grupos
da Liga dos campeões, confesso, fiquei apreensivo. Os nomes causaram-me um
certo calafrio. O grupo, acontecesse o que acontecesse, seria sempre
equilibrado. Naquela altura parecia-me tão natural que qualquer das 4 equipas
fosse 1º ou 4º no final dos 6 jogos.
Como é óbvio, aquela primeira sensação de dificuldade
decorria de factores essencialmente teóricos, ainda não tinha visto qualquer
jogo daquelas equipas durante esta época. Procurei arranjar tempo para ver
algo, mas só este fim-de-semana me foi possível faze-lo e só vi o Mónaco e o
Leverkusen. Vistos o jogos, cheguei ao final de ambos com melhores perspectivas
do que antes.
Mónaco: Organiza-se no 4x3x3 habitual de Leonardo
Jardim, procurando apresentar uma ideia de jogo positiva, baseada na qualidade
de posse de bola e de ataque organizado. Porém, no plano ofensivo, falta-lhe um
verdadeiro organizador de jogo e condutor de bola no sector intermédio. Nenhum
dos seus médios habitualmente titulares tem essas características, diria até
que os 3 (Moutinho, Kondogbia e Toulalan) são jogadores com características muito
similares entre si, ou seja, todos são os designados jogadores da posição 8 e
nenhum deles me parece ser o 10 ou sequer o 6 que um meio-campo a 3 necessita.
Neste sector é Toulalan quem assume o papel mais defensivo e posicional,
estando os restantes 2 mais libertos para tarefas ofensivas e mais responsáveis
por uma linha de pressão mais alta. O problema é que Toulalan – que já se
encontra na fase descendente da sua carreira – não demonstra capacidade para
assumir o papel de médio de equilíbrio de forma segura e capaz, pelo contrário.
Este parece-me ser o grande calcanhar de Aquiles da equipa. Toulalan não
assegura um posicionamento defensivo capaz (algo que me parece decorrer de
alguma incapacidade física) abrindo um espaço muito grande entre ele e a dupla
formada por Moutinho e Kondogbia. Sem qualidade táctica neste espaço do terreno
o Mónaco expõe os seus centrais às entradas dos médios adversários que aparecem
desde trás em posse ou em desmarcação, sendo por aqui que a equipa Monegasca mais
sofre. O seu sector mais recuado também não parece ser de extrema qualidade.
Aqui há a destacar Ricardo Carvalho e o seu lateral esquerdo Kurzawa como elementos
de melhor qualidade. Qualquer que seja o parceiro do central Português (Raggi e
Abdennour têm sido os mais utilizados), parece ficar aquém do nível que se seria
de esperar. Na lateral direita o mais utilizado é Fabinho, que penso ter um
potencial interessante, mas por impossibilidade deste, foi Dirar o utilizado e
não acho que seja melhor que o Brasileiro. O tridente ofensivo é, normalmente,
formado por Berbatov (ao centro), Ocampos e Ferreira Carrasco (nas alas). Os
dois jovens extremos parecem-me muito semelhantes, ou seja, bons tecnicamente,
rápidos e irreverentes, mas com um fraco entendimento colectivo do jogo e má
capacidade de decisão. Quando são pressionados e obrigados a decidir
rapidamente, normalmente falham. Ainda assim, ambos revelam boa capacidade para
chegarem a zonas de finalização, normalmente quando a bola parte do flanco
oposto ao seu.
Em suma, neste o memento, o Benfica é claramente
superior a este Mónaco. Aliás, a equipa francesa parece-me ser a equipa mais
fraca do grupo e qualquer outro resultado que não passe pelo 4º lugar,
deixar-me-á surpreendido.
Leverkusen: Organiza-se no 4x2x3x1 habitualmente
utilizado pelas equipas Alemãs e apresenta uma ideia de jogo muito sustentada
na sua capacidade ofensiva. Do meio-campo para a frente são temíveis, mas
também são débeis na capacidade defensiva. Fazem lembrar o Benfica de Jorge
Jesus dos primeiros 4 anos, ou seja, podem golear com a mesma facilidade com
que podem ser goleados. Conseguem momentos de avalanche ofensiva absolutamente
impressionantes, mas ao mesmo tempo abrem buracos, não menos admiráveis, na sua
defensiva. O guarda-redes (Leno) parece-me ser o melhor elemento do sector mais
recuado, sendo que a dupla de centrais (Toprak e Spahic) não parecem “casar”
bem um com o outro e são muito débeis a guardar o muito espaço que deixam livre
nas suas costas. Curiosamente o melhor central parece-me ser Tim Jedvaj que tem
sido adaptado à lateral direita. Mas não se pense que o jovem Croata não ataca,
porque é um erro. Ataca e fá-lo com qualidade, ainda que o não faça com extrema
quantidade. Na esquerda surge Boenish que, confesso, não consegui avaliar com a
profundidade necessária. No sector intermédio surgem as melhores unidades. Um
duplo pivô composto por Castro e Bender, dois médios de alta intensidade e boa
capacidade de construção, sendo que é Castro quem tem mais liberdade para se
chegar a zonas de finalização. Na posição 10 aparece o dono de todos os lances
de bola parada (e fá-lo com qualidade) de nome Hakan Calhanoglu. É por este
jovem Turco que passam os lances de maior perigo da formação Alemã. Dono de uma
boa meia-distancia e de uma capacidade de progressão com bola e bom
entendimento do espaço e do tempo. Não me parece que seja possível estancar o
ataque Alemão sem controlar eficazmente este jogador. Nas alas surgem Oztunali
e Bellarabi, dois jogadores com uma rapidez assinalável e boa capacidade para
chegarem a zonas de finalização com qualidade. Para as alas há ainda a
considerara o Sul-Coreano Heung-Min Son que me parece ser o melhor destes 3.
Rápido, remate fácil, excelente capacidade técnica e, como é habitual nos
jogadores asiáticos, grande capacidade de sacrifício para o trabalho colectivo.
Na frente surge o mortífero Kiessling. Um ponta-de-lança, literalmente, da
cabeça aos pés. Um avançado que respira como ninguém entre os centrais, seja no
choque, seja na velocidade e no espaço.
Em suma, será sempre um adversário complicado, mas
parece-me ao nosso alcance. Sem ver o Zenit e tomando-os como principais
favoritos ao apuramento, penso que o Leverkusen poderá ser o nosso principal
adversário na luta pela outra vaga de apuramento.
Se quisermos ter hipóteses de apuramento para a
próxima fase é essencial que consigamos vencer os dois jogos com o Mónaco (algo
que me parece perfeitamente alcançável) e vencer o jogo que temos em casa com
os alemães. Frente ao Zenit em casa e ao Leverkusen fora é imperioso, pelo
menos, não perder. Se não formos capazes de fazer isto, então não somos mesmo
equipa de Liga dos Campeões.