Sou pouco dado a superstições - exceptuando o facto de andar constantemente de barba até que um objectivo do Benfica acabe ou rapar o cabelo quando o Benfica é campeão ou achar que se o copo estiver exactamente a meio entre o prato de presunto e o do pão, o Benfica tem mais hipóteses de marcar golos ou... - mas ontem, refastelado a ver a final da Libertadores, não pude deixar de pensar que este ano vamos ser campeões europeus. O motivo é simples: defrontraram-se Peñarol e Santos, os adversários nas duas Intercontinentais da nossa História. Mais: o Santos, 48 anos depois do último título americano, venceu, o que me leva logo para a evidente conclusão de que o Benfica, 50 anos depois de se ter sagrado bi-campeão europeu, não tem outro destino que não seja o de no final da próxima época andar a festejar mais um troféu na Europa - pode ser a Liga Europa, vá, que em tempos de vacas magras toda a carne que se arranjar, mesmo que próxima do osso (a mais saborosa), será ganho inquestionável. Podem, por isso, preparar os vossos corpinhos e as vossas mentes: daqui a um ano seremos campeões europeus. E, se o não formos, nunca mais acreditarei em superstições; o mesmo é dizer: deixarei o cabelo crescer até voltar a acreditar nelas. Foi um jogo emotivo, dinâmico, nem sempre brilhante mas competitivo e interessante de ver. Desiludiu-me o jogo uruguaio, muito na retranca, especialmente após o golo de Neymar, em que o Peñarol podia e devia ter arriscado mais. Arriscou mais tarde, depois do segundo golo, quando já era tarde. Ainda marcou porque os brasileiros quiseram dar mais alma ao jogo, marcando na própria baliza, mas a festa, 48 anos depois, era do Peixe, de Pelé, de Milton Neves e de todos os santistas na casa do rival do São Paulo. Depois foi o festival sul-americano: batatada de ferver. Pontapés, murros, correrias desenfreadas uns atrás de outros, a polícia pelo meio, seguranças, adeptos, jornalistas, todos no caldeirão branco do Pacaembu até que os jogadores do Santos decidiram que se calhar seria mais interessante festejar o terceiro título americano da história do clube. Pelé, claro, armou-se em protagonista e só não foi levantar o troféu porque o Dracena não achou graça à sede de protagonista do semi-Rei e atirou-o para um canto. Léo, esse, foi o maior entre os maiores e prometeu que quando sair dos relvados sairá directamente para a Presidência do clube. Assim, sem passos intermédios. Viva a América do Sul. No que nos interessa, ex-Benfica, futuro-Benfica ou esteve-para-ser-Benfica-mas-não-foi, há algumas considerações: Danilo desta vez jogou na lateral direita. Mais sóbrio do que o lateral do lado esquerdo, Léo, foi ainda assim eficaz defensivamente. Posiciona-se bem, compreende os momentos em que deve apoiar mais o meio-campo e ataque (ainda marcou um golo, numa boa jogada) ou recuar e dar apoios à zona defensiva, tem alguns problemas no passe e, apesar de ter talento e potencial, parece-me uma aposta de risco. Por mim, se é para contratar um médio de qualidade inegável e de pouco risco, ia buscar o Arouca, um jogador de grande qualidade, consistência e rasgo. Do outro lado do campo, passava-se o filme Léo. Como dizer? Quase perfeito. Excelente a defender (após a sua saída, o corredor esquerdo do Santos ficou tipo passador), oferece opções constantes ao meio-campo, sobe quase sempre em drible e tabelinha, drible e tabelinha, com uma garra do tamanho do Santos. É muito grande, este Léo, apesar de ser pequeno. E, 4 anos depois de ter saído de forma estranha do Benfica, continua a ser uma opção que, se cá estivesse, seria de primeiro nível. Depois há... Durval, um que esteve para vir e, se não me falha a memória, ainda sentou a bunda nas cadeiras do Estádio da Luz. Felizmente foi só isso que aconteceu, pois Durval servirá mais para assentar tijolo do que jogar futebol. Uma espécie de Paredão, mas em pior. Do outro lado, tínhamos Urreta, que entrou a 25 minutos do fim. Esticou o jogo, deu alma ao Peñarol, nem sempre bem, nem sempre lúcido mas importante naquela última tentativa desesperada dos uruguaios em fazer algo do jogo. Procurou zonas mais interiores e, por isso, foi menos eficaz, embora tenha qualidade de passe e visão de jogo. Um jogador que gostaria de ver regressar em definitivo ao Benfica. Como notas adicionais, falar nas estrelas do Santos: Ganso e Neymar. Como se sabe - ou se não sabem, deviam saber -, os brasileiros são os Estados Unidos da América do Sul: adoram protagonismo, são um "bocadinho" ignorantes em relação aos outros países e culturas e acham que são os melhores do mundo por razão divina e espiritual. Dá-se o caso de que na actualidade os melhores do Mundo são de várias nacionalidades mas nenhuma do Brasil. Entre argentinos, espanhóis, portugueses, holandeses, não sobra ceptro para nenhum canarinho. E isso dói-lhes um bocadinho na alma. Então inventam heróis, o último é Neymar, um puto com qualidades sem dúvida extraordinárias mas ainda meio-jogador, sem fibra nem capacidade para chegar a um gigante europeu e explodir. O seu futebol precisa de espaços e de defesas moles, na Europa, se quer brilhar, terá de aprender alguns princípios com o pequenino da lateral esquerda, esse mesmo, Léo, o jogador-Presidente. Antes disso, nunca será melhor do Mundo nem sequer melhor da América do Sul nem do Brasil, sequer. Porque o melhor do Brasil, esse sim, está no seu próprio clube: Ganso. Provavelmente o melhor jogador que o mundo já viu, depois de Zidane, nos passes de ruptura, na visão que tem de todos os centímentros de campo, na técnica de passe assombrosa. Não o vão buscar rapidamente, não, que o Jesus já anda de olho nele.
14 comentários:
o arouca e um jogador de outro mundo. grande craque. pode ser que venha para o lugar do fernando no fcporto
O Arouca é bom jogador sem dúvida e ouvi que o Mano já devia ter-lhe dado uma oportunidade.
Quanto ao Benfica, ele joga numa posição em que estamos bem servidos no momento.
O Neymar precisa primeiro ganhar corpo porque a técnica e velocidade não bastam no futebol europeu.
O Ganso, mesmo jogando a passo por falta de ritmo tem uns pés e uns olhos de sonho, futebolisticamente falando.
O Danilo acusou a mudança de posição pois há muito tempo vem jogando no meio-campo, mas garanto que é craque e vai crescer ainda muito mais.
Amigo Ricardo, este é um dos poucos blogues benfiquistas com quem não tenho parceria. Vamos a isso?
Diga alguma coisa!
Abraço.
Desculpa lá, mas exatamente o que o sr pensa dos brasileiros que se acham os melhores do mundo por divindade, aqui em portugal lembra muito o seu clube.
Quanto ao jogo, os uruguaios foram com 3 missões : parar o time do santos fosse como fosse, tentar amarelar ou expulsar algum santista e fazer um golo em contrataque ou fortuitamente.
Só conseguiram a 3ª missão, e quiseram estragar a festa, envergonhando o país deles.
A respeito dos melhores do mundo por divindade, posso citar uma estatística.
Na Argentina, nos 50's, houve Di Stéfano, depois nos 80's houve Maradona e depois messi.
Na Françã nos 50's houve o marroquino Fontaine, depois só nos 80's houve michel platinado e depois zidane.
Cá, houve o moçambicano Eusébio, depois figo e depois ronaldo.
No Brasil, fazendo um resumo só de jogadores de TOP como se chama hoje em dia, desde os 60's houve Pelé, garrincha, nilton santos, carlos alberto torres, didi, zagallo, gérson, rivelino, zico, sócrates, falcão, ricardo gomes, mozer, valdo, careca, romário, bebeto, rivaldo, adriano, ronaldo, ronaldinho gaúcho, kaká, taffarel, julio césar, daniel alves, maicon, lúcio, luisão, ramires, robinho...e provavelmente haverão hulk, ganso, neymar, danilo e muitos outros.
já agora, deixo a pergunta : o sr sabe quais são os 12 grandes clubes do Brasil?
Bom feriado.
Manuel, não me parece que o Benfica esteja bem servido para essa posição: tirando o Amorim e o Matic (mais na esquerda), o Benfica não tem esse tipo de jogador. Arouca seria uma excelente contratação.
O Danilo, talvez. Mas é um risco. E chega de riscos.
Quanto à parceria, aqui a filosofia é um bocadinho diferente: não colocamos todos os blogues do Benfica; apenas os que gostamos de ler e com os quais nos identificamos. Confesso que não conheço o seu, mas fica prometida uma visita ao seu tasco e se for do nosso agrado colocá-lo-emos nos "Eusébios".
Espero que não leve a mal. É só uma questão de escolha. Caso contrário, tínhamos 10.000 blogues do Benfica na lista. Alguns dos quais não nos dizem nada. Seremos petulantes? Prefiro pensar nisto como uma casa onde só recebemos os amigos. Aceite a sinceridade como um bem e não como um entrave. Como seria mais bonito um mundo feito de sinceridade, não acha? Não é mais bonito termos, todos os bloggers, os blogues com os quais nos identificamos e gostamos de ler do que uma infinita lista de blogues a que não vamos e com os quais discordamos em muito? Fica a ideia. E a promessa de o visitarmos. Espero que tenha cerveja fresca e gin.
Anónimo "brasileiro",
"Desculpa lá", mas é a minha opinião. Sem mais do que isso. Amo o Brasil. Assim mesmo: AMO o Brasil. Desde a música às pessoas, caminhando pelos lugares, a cultura, a fusão e a dança de raças, nomes, gostos. Isso não me impede, no entanto, de ver-lhe defeitos.
Constato que o "preto e branco" nas pessoas é algo muito recorrente. Que tal verem as outras cores? Seremos todos ou todos perfeitos ou todos execráveis?
Não vou entrar pela análise aos jogadores mundiais que dá, mas digo-lhe muito curiosa a sua lista dos melhores do mundo. E nada suspeita.
OK Ricardo, sem problemas!
Blog do Manuel
Abraço.
Ricardo, desculpa lá utlizar o teu blogue para responder ao anónimo.
Metes aí "bebeto, rivaldo, adriano, taffarel, julio césar, daniel alves, maicon, lúcio, luisão, ramires, robinho...e provavelmente haverão hulk, ganso, neymar, danilo e muitos outros" e deixas de fora mitos como o Beckenbauer ou o Cruyff?
E já nem falo do Maldini, do Baggio, do Van Basten, Gullit, dos campeões do Mundo e da Europa espanhóis, do Rui Costa e tantos outros...
Em relação ao Neymar, só digo isso:
Mourinho, não sejas burro! Traz o Aguero!!
Não excluí baggio, van basten e outros, apenas quis exemplificar que, enquanto em outros países nasce um ou outro jogador de top a cada 10 ou 20 anos(ou até mais), no brasil nascem todos os anos,e vem uma carrada deles para as mais diversas divisões dos campeonatos europeus, desde a premier league até a liga dos últimos da rtpn.
Apenas isso.
"enquanto em outros países nasce um ou outro jogador de top a cada 10 ou 20 anos(ou até mais), no brasil nascem todos os anos"
Acho que o anónimo "brasileiro" só está a exemplificar o típico brasileiro tal como vem descrito no post.
Messi, CR7, Iniesta, Xavi, Casillas...
Diz-me só um jogador brasileiro, nos últimos 10 anos que se aproxime em qualidade. Só um.
Penso que o amigo qua podia citar outro país nos últimos 50 anos, que deu tantos jogadores de top para o planeta futebol em quantidade e qualidade.
E já agora, conte quantos Valdos, Ricardos Gomes ou Aldaires passaram pelo seu clube ( sem contar os que jogaram no Porto e no Sporting ) em relação a argentinos ( tão em moda no momento ), por exemplo.
Não se trata de soberba, trata-se de números e estatísticas.
Falta-nos é um treinador tipo Guardiola, que consegue como ninguém, unir rigor tático sem prejudicar o talento individual.
Mas cresci ouvindo dizer que o Brasil do meio-campo para a frente era de sonho, e do meio-campo para trás não valia nada e que os guarda-redes eram fraquinhos, mas isto já mudou e muito.
Quem sabe com os treinadores também?
Embora este Man(c)o Menezes prefira levar os inoperantes, sempre lesionados e com tiques de vedeta robinho e pato do que levar um hulk cheio de saúde e vontade de mostrar o que vale, e que nunca está lesionado.
O teu problema é que qualquer bom jogador brasileiro é logo considerado de topo.
Mas numa coisa concordo contigo, não há nenhum país no Mundo que produz tanto jogadores de qualidade como o Brasil.
Na quantidade, vocês não tem rival. Na qualidade não são melhores que os outros.
Fora de contexto, considerava muito ofensivo o azul nas camisolas, é o problema dos patrocínios, de não poder viver sem eles, e quando o ideológico não está presente, a coisa descamba para a pornografia. Está resolvido, cumprimentos aos que contribuíram para extirpar a nódoa, embora tenha que confessar que o assunto não fazia parte do topo da lista de preocupações.
E vou aceitar o desafio, apresentar a minha visão de como chegámos ao presente. E não te esqueças, os textos “O triunfo da Política ou a Baía dos Porcos” e “Eles já lá estão, nós vamos a caminho”, devem ser considerados anexos. Trata-se de ideias, não se pode passar por elas como cão por vinha vindimada.
Um abraço.
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