Anda para aí uma vozearia entre os benfiquistas com a contratação do Djaló que já assumiu, em certos casos, a demência. É um dos principais problemas da análise parcial: o todo fica de fora, deixando lugar à crítica do imediato e ao esquecimento da ideologia. De repente, muitos dos que defendem essa ideia visionária que subsiste na expressão "confio em quem dirige o Benfica, eles é que estão lá dentro" puseram a cartilha de lado e começaram a malhar a torto e a direito na escolha dos nossos dirigentes e equipa técnica. Por duas premissas essenciais, uma bastante estúpida, a outra - podendo estar errada - mais compreensível: o terem gozado a uma escala planetária com o Djaló enquanto jogador sportinguista (1) e o valor intrínseco do atleta-jogador (2).
A primeira remete-nos para uma dimensão quase surreal: o escriba não gosta da contratação não porque tenha argumentos para tal mas porque, chegando Djaló ao Benfica, perde todo o manancial de orgulho e seguidores que foi conquistando aquando dos vários "LOL" e piadas altamente inteligentes que foi debitando no passado. O escriba deprime, não sabe o que há-de fazer e acaba escolhendo o caminho mais fácil: despreza a contratação, chama nomes a quem a executou (mesmo que tenha passado os últimos 10 anos a pulular pela blogosfera insultando quem punha em causa quaisquer acções dos dirigentes) e conclui brilhantemente: "assim não pode ser". Não pode, de facto. É hipocrisia a mais.
Já a segunda, correndo riscos de ser desmentida no futuro pela prestação do jogador, tem legitimidade e acaba por convergir com aquela que é, apesar de muitos ainda não o terem entendido (quase todos os da primeira premissa), a mais básica e honesta função de um gajo que escreve sobre bola num blogue: atirar bitates. Qual é a formação de um escriba, ao nível do treino, da percepção do jogo, da prospecção, da capacidade de antecipar um futuro a um jogador? Zero, ou perto disso. E, mesmo os que saem do zero, e ficam no perto disso, muito dificilmente conseguiriam sair da 3º divisão distrital se um dia algum maluco decidisse entregar-lhes uma equipa de bandeja. É, portanto, fundamental remeter isto para o plano que interessa: um blogger é um treinador de bancada, um espertalhaço, um visionário. Claro, tudo nas linhas virtuais e sem ter de provar nada a ninguém.
Há, porém, bloggers e bloggers. Há os que vivem os dias fazendo longas dissertações sobre o ocorrido - fenómeno tremendamente mais fácil e apaziguador das almas hesitantes - e os que, no imediato, forçam a sua opinião a uma ideia que, certa ou errada, foi o caminho que escolheram. Como é óbvio, gosto mais dos segundos. Porque não têm medo de ter opinião - mesmo que uma pateticamente estúpida - nem temem que o futuro os desminta e os faça revelar toda a sua incompetência na arte de analisar futebol. É preciso coragem para não ir apenas atrás dos factos mas projectar o que está por dentro deles. E é nessa perspectiva que me merecem infinitamente mais respeito os que seguem o seu trajecto pela própria cabeça, sem limitações ao nível ideológico, estrutural ou político.
Dá-se, no entanto, neste caso específico da compra de Djaló - que tem provocado suicídios em massa a muito boa gente -, um fenómeno ainda mais curioso: os que antes deixavam nas mãos da Direcção a responsabilidade das acções (e as defendiam até quase ao absurdo, vide Roberto e, agora, Emerson) decidiram deixar o altruísmo de lado e começar a cantar cantigas de escárnio e maldizer. De repente, não mais do que de repente, afinal Vieira e Jesus não sabem tudo nem têm o direito de, apesar de "eles é que estão lá dentro, eles é que sabem", constituir família sem dar explicações aos gajos dos bitates. Interessante, sem dúvida, toda esta hipocrisia. Terá, ao menos, o condão de abrir as almas destes pobres coitados, e se calhar, com jeitinho, dar-lhes a lucidez necessária para que entendam que o futebol é mesmo isto: eternas conversas e dissertações, quase sempre - da parte de quem está "de fora" - erradas e sem grandes fundamentos. Caso contrário, abram um blogue sobre formigas africanas.
Da minha parte, e vocês sabem o quanto já malhei esta gente que anda pelos corredores do Estádio, tinha aqui matéria para um enxovalho de grande nível. E seria tão fácil. Mas como tento que a minha opinião não ande conspurcada por questões políticas nem ideológicas, como quero que ela seja fiel ao meu pensamento e à minha análise mais sincera, não vejo nesta contratação motivos para uma crítica a quem a achou do interesse do clube. Apesar das limitações que atribuo a Jesus ao nível da gestão do plantel e da incapacidade de abdicar da teimosia das suas ideias, reconheço-lhe um enorme talento para valorizar jogadores que tenham potencial. E Djaló, quer queiram quer não queiram, tem-no. Ficará agora por saber de que modo Jesus fará Lucy e todos os sportinguistas chorarem as enormes prestações desportivas que o rapaz vai começar a ter com o manto sagrado vestido. E como, se calhar já no Verão, de uma contratação a custo zero, vamos encher os cofres com uns milhões. Podem contar com o meu apoio. Sou Djaló desde pequenino.
PS - A questão Amorim e outras novelas ficarão para depois do fecho de mercado. Mas vai sair morteirada. É só para que fiquem avisados.