O estado eufórico da comunidade
Benfiquista e do futebol em geral com os primeiros jogos (e que jogos!) do
Benfica de Bruno Lage tem sido retumbante. Eu, claro está, incluo-me nesse
grupo de pessoas que se deleita ao ver o melhor plantel em Portugal a jogar sob
o desígnio de uma ideia e de um jogo coletivo, finalmente!
Mais do que os resultados (e são
excelentes, mesmo com a derrota frente ao FC Porto), o que tem impressionado,
tem sido a rapidez com que Bruno Lage tem transformado uma porção de terreno
terraplanado, num belo parque de diversões, em menos de dois meses e a jogar,
consecutivamente, duas vezes por semana.
E esta relação entre o tempo para
treinar e a qualidade coletiva que a equipa apresenta, jamais pode ser ignorado,
seja qual for o prisma de análise a este Benfica. De facto, o contexto com que Bruno
Lage se deparou não podia ser pior: Equipa em crise de resultados, sem o mínimo
de identidade, com zero hábitos de bom treino e, pior que tudo, sem tempo
sequer para respirar, quanto mais treinar e implementar uma ideia.
Contudo, e apesar de parecer um
presente envenenado, Bruno Lage nunca apresentou qualquer sinal de descrença ou
enfado pelo que o destino lhe tinha reservado, não! Pegou no que tinha, no que
queria e foi a jogo. Arriscou, continua a arriscar (o onze de ontem é um bom
exemplo) e sem nunca se escudar em contextos, tem apresentado qualidade de
trabalho (não falo de resultados), contando ainda com alguma felicidade, diga-se
(e aqui sim, já falo de resultados), que também é necessária num contexto tão difícil.
Aqui chegados, e feita a ressalva
sobre o enorme mérito de Bruno Lage, importa-me procurar perceber o que Bruno
Lage quer do jogo e para o jogo, isto é, que tipo de ideia tem do jogar da sua
equipa e o quanto faz depender essa ideia do adversário que terá pela frente a
cada jogo.
Tendo em conta as palavras de
Bruno Lage ao longo do tempo, seria de esperar uma equipa que procurasse jogar
o mais tempo possível em organização ofensiva e em posse, porém não tem sido bem
isso que a equipa nos tem dito no relvado.
Se nos primeiros jogos me parecia
natural atribuir essa falta de congruência entre o jogo e as palavras do
treinador à escassez de tempo para implementar algo, porque, de facto, jogar de
forma coletiva e competente em organização ofensiva e em posse de bola leva o
seu tempo, o que o jogo de ontem nos trouxe (bem como boa parte do jogo na Luz
frente ao Sporting), não foi bem um Benfica de posse de bola e ataque
organizado, muito pelo contrário, ontem vimos uma equipa recolhida no seu
meio-campo em organização defensiva e a procurar saídas rápidas para o ataque,
isto é, a absoluta antítese da ideia que ficava pelas palavras de Bruno Lage.
Sublinho: Não estou a falar da constituição
do 11 (com a qual apenas discordo de Salvio e Cervi, que eu nunca escolheria
para coisa nenhuma), estou a falar da ideia coletiva que ontem foi levada a
jogo.
Naturalmente que mesmo em
organização defensiva se notou a colossal diferença entre o que existe face ao
que existia, mas ontem não achei que se Rui Vitória ainda fosse o treinador, a
ideia tivesse sido diferente daquela. A qualidade dos comportamentos coletivos
subiu absurdamente, mas a ideia… foi um fiasco, para mim. Não gostei, não gosto
nem nunca gostarei de equipas que se guardem e escondam do jogo, deixando o seu
destino entregue à competência de quem tem a bola. Felizmente, tal como já
havia sido visto frente ao FC Porto, este Galatasaray deixa muito a desejar no
que diz respeito à qualidade, caso contrário, caso houvesse um médio defensivo
diferente de Fernando, por exemplo, dificilmente o jogo teria sido a
tranquilidade que foi. Podemos achar e dizer que fosse esse o caso, não fosse
Fernando o jogador limitado ofensivamente que é, Bruno Lage teria uma abordagem
diferente ao jogo neste aspeto específico. Ok, até posso aceitar como justificação
verdadeira, porém o que mais me importa saber é se, enquanto coletivo, esta
ideia passiva do jogo é para manter nas partidas deste perfil ou se, de facto, é
para sermos a equipa ofensiva e de posse que Bruno Lage “prometeu”.
Em suma, há duas ideias a reter,
mais pela verificação do que pelo que já se sabia de antemão: Tendo Rui
Vitória, qualquer escolha (e sublinho o “qualquer”) representaria uma evolução
enorme. Porém, face ao contexto, Bruno Lage demonstra que não é apenas o “qualquer”.
Não, quer mais do que isso, falta saber o quê exatamente.
A resposta será dada pela equipa
daqui até final da época, mas não deixaria de ser engraçado que os jornalistas,
quem têm tido Bruno Lage à disposição a uma média de 4 vezes a cada 7 dias,
colocassem este tipo de questão ao treinador, em vez das habituais, boçais,
patéticas e já cansativas questões redondas e sobre temas laterais que não são controláveis
pelo treinador.