quarta-feira, 27 de junho de 2012

Possíveis caminhos para a vitória

- Há, nas análises que se fazem a esta selecção, uma ideia generalizada de que a Espanha joga como o Barcelona. Não joga. Tem pormenores que se assemelham, muito por culpa do trio de meio-campo (Busquets, Xavi e Iniesta) - que privilegia o passe curto, a constante troca de bola em busca de espaços, a dinâmica posicional, aversão ao passe longo -, mas, como tem no seu seio jogadores com características totalmente diferentes do jogo do Barça - Xabi Alonso é o exemplo claro de um jogador que, apesar de ter qualidades, estraga o que podia ser esta Espanha; Arbeloa não compreende os movimentos dos médios; Alba, que tem potencial, não sabe compensar a subida da equipa; Torres não entende o que procuram os médios atrás de si - a equipa não raras vezes acaba partida e sem soluções. Claro que um colectivo que usufrui da dinâmica entre os jogadores do Barcelona e da qualidade dos outros, é sempre perigosíssima. Mas não se confundam conceitos. Esta equipa não é nem joga como os catalães.

- Pode parecer um paradoxo, mas uma das zonas mais interessantes para serem exploradas por Portugal é precisamente o meio-campo. Não nos espaços mais ofensivos dos espanhóis, mas no terreno pisado por Busquets e Xabi Alonso. Isto porque desta dupla resulta uma constante confusão de conceitos e estratégias a executar. Busquets está habituado a jogar sozinho, tem os movimentos típicos de quem domina toda a área em frente à defesa e procura envolver-se na troca de bola dos restantes médios; Xabi Alonso é um jogador posicional, prefere o passe longo, não está confortável com bola nos pés - disto resulta uma sobreposição de funções e muitas vezes um desequilíbrio posicional, fruto da confusão que um e outro sentem com o jogar do colega. Em situação defensiva, colocar Nelson Oliveira entre os dois, com um dos médios (Meireles ou Moutinho) pronto a entrar naquele espaço, na recuperação de bola, pode servir para gerar um distúrbio posicional de toda a equipa espanhola e posteriormente soltar os nossos homens da frente. 

- Jordi Alba. Ofensivamente, de grande qualidade, mesmo que ainda não entenda totalmente os movimentos de Iniesta. Defensivamente, bastante limitado. Nem entende a linha defensiva espanhola nem se preocupa com as compensações ao meio. Tanto Nani como um dos médios podem ocupar o espaço entre o lateral e o central e assim ganhar vantagem e espaço para um passe de ruptura, remate ou situação de desequilíbrio. Por outro lado, João Pereira deve fazer o que sabe bem: aparecer para a vantagem numérica ou apenas para criar um falso isco. 

- Do nosso lado, e sabendo que jogaremos mais em contenção à espera de um momento certo para lançar as transições rápidas (estratégia com a qual não concordo, mas que parece evidente vir a ser a adoptada por Paulo Bento), não percebo a opção por Almeida. Faria mais sentido jogar com Nelson Oliveira - que é, pelas características que tem, muito mais apto a sair rápido e dar apoios aos extremos e médios que apareçam no meio-campo espanhol. Almeida garantirá um apoio frontal, mas só isso e nem sempre bem, visto que muitas vezes perde as bolas. Nelson sabe receber, guardar a bola, apoiar, dar atrás ou abrir na ala. Sabe criar espaços em transição. É mais rápido, mais forte nas bolas divididas. Tem um problema: nem sempre decide bem em situação de definição, perto da área adversária. Mas isso também Almeida.

- Ronaldo não pode ter tanta liberdade para não apoiar defensivamente. Um Ronaldo autista do processo defensivo como temos tido é suicídio. Não é necessário recuar sempre, mas tem de estar atento aos movimentos de subida do Arbeloa e tem de saber compreender a movimentação dos espanhóis quando - e vão fazê-lo - quiserem criar situações de vantagem numérica no lado esquerdo da nossa defesa. Mesmo com o apoio do médio, convém que Ronaldo apoie. Até porque, recuando, sobe Arbeloa com mais frequência e isso pode gerar momentos de recuperação de bola propícios aos nossos movimentos de transição e criação de desequilíbrios.

- Miguel Veloso é a peça que mais me preocupa. Tem feito um bom Europeu mas ainda não foi verdadeiramente testado contra um meio-campo que saiba explorar as suas debilidades. A principal a sua falta de agressividade no momento de estancar um passe de ruptura (que, nos espanhóis, são usuais). Não pode dar tanto espaço em contenção. Basta que para isso ajuste a forma como acompanha o jogador que cai no seu espaço - mais do que ficar a 3 metros à espera do que o adversário possa fazer, convém que consiga, primeiro, estar mais perto do jogador e, depois, ler a movimentação do adversário e do que se está a passar à sua volta. Não me espantaria se Bento optasse por Pepe para a posição.

- Moutinho. Passa muito por Moutinho a possibilidade de uma vitória. Se mantiver o nível a que tem jogado, podemos estar descansados. A forma como pressiona, condicionando o espaço e as opções do portador da bola, a qualidade na posse - seja em passe curto, longo -, ocupação de espaços e o entendimento que tem do movimento dos extremos a que pode recorrer fazem-no o nosso falso 10. Defensivamente, contamos com ele - mais do que com Meireles - para evitar os passes desconcertantes de Xavi e Iniesta. E, sabendo que não é forte no momento do remate, talvez hoje seja o dia para aplicar um das seus raras bombas certeiras. 

- Nani terá um papel fundamental. Com Ronaldo entregue a uma marcação, individual e colectiva, fortíssima (como Del Bosque já admitiu), é ao jogador do Manchester que se pede que desequilibre a defensiva espanhola. Até porque terá à sua frente o defesa menos apto dos 4 da Espanha. Aproveitar o espaço atrás de Alba e criar diagonais para o espaço entre Alba e o central terão de ser movimentos estudados em Nani. O resto ele fará, porque tem qualidade mais que suficiente para isso. Remate, rasgo, visão, qualidade no passe, desmarcação, passe de ruptura - tudo isto Nani tem. E, se começar a ser, logo de início, uma constante afronta ao jogar espanhol, condicioná-los-á e até poderá soltar Ronaldo da marcação fortíssima a que estará sujeito. Ah e convém que seja mais inteligente se acontecer lance genial de Ronaldo. Como este:





7 comentários:

Anónimo disse...

patriarca disse:

Que portugal jogue melhor e desejo-lhe tudo de Bom, mas no final do jogo GANHE A ESPANHA.

Anónimo disse...

Excelente análise e concordo em absoluto com a critica ao meio campo espanhol com busquets e alonso à cabeça, causa-me imensa confusão aqueles dois a jogarem juntos, não funciona.

Comentário idiota do patriarca que não percebo, mas adiante.
Seria extraordinário ganhar e estar presenta na final, que tudo corra bem.

Unknown disse...

é isso Ricardo, a outra questão é saber se queremos ter a bola ou se vamos resumir-nos às transições, se isso fôr assim dificilmente teremos hipóteses.

Eu até acho que seria positivo o Ronaldo fugir da ala e deixá-la para o coentrão, pois na ala Ronaldo só pode passar ao meio em Almeida ou atrás no Coentrão, rnuanto se derivar para o meio, pode combinar à direita com Nani, à frente com Almeida, à esquerda com Coentrão e atrás com Moutinho e Meireles, dificultando a marcação dos espanhóis - o Ribery encostado à linha frequentemente tinha 3 espanhóis no encalço

Unknown disse...

*muanto=enquanto

BENFICAHEXACAMPEÃO disse...

aceito o resultado... boa atitude!

Anónimo disse...

Bom,o Alba é limitado a defender...Viu-se...

O Nélson Oliveira provou,mais uma vez,que é apenas e só,neste momento,opção unicamente na mente delirante dos benfiquistas.Não é opção a curto prazo.Posto isto,volta Postiga que estás perdoado.

Quanto ao resto,concordo.

JP

BENFICAHEXACAMPEÃO disse...

Eh pá o Nelson parecia estar todo atrofiado... mas penso que tem tudo a ver com falta de experiência... é urgente dar-lhe muitos minutos em todas as competições...