Na sequência do post sobre Vítor Baptista, o leitor Conde do Vimioso enviou-nos uma história pessoal sobre o Maradona de Setúbal e outro jogador do Benfica, Barros. Aí está ela:
«O VÍTOR BAPTISTA E... O OUTRO
O outro é o Barros, também jogador do Benfica na altura embora tenha chegado ao Benfica um ano antes do Victor.
Conheci-os aos dois no ano de 1971 na Policia
Militar em Lisboa onde eram geralmente colocados os jogadores dos dois
grandes clubes de Lisboa por aqui havia mais facilidades de serem
dispensados mas também aí se continuava a sentir a rivalidade.
Quando o oficial de dia era do Sporting ia a
procuras dos desenfiados do Benfica e o contrário também acontecia
embora menos enfâse já que na verdade andava lá um oficial que era um
lagartoide fanático e os jogadores do Benfica era avisados para que no
dia em que aquele indigente estava de serviço deveriam aparecer pelo
menos à formatura da manhã.
Castigados entre os jogadores também havia e foi de
castigo que eu conheci em um fim de semana, na piscina do quartel aquele
que viria a ser (((embora já fosse, mas menos conhecido))) um jogador
fora de série e um ser humano que só fazia o que lhe apetecia, sendo que
nada planeava.
Estivemos nesse dia, Maio ou Junho, ainda ele era
jogador do Vitória de Setúbal mas já contratado pelo Benfica. Acresce
como facto curioso que nesse dia o Benfica jogava em Setúbal para o
campeonato e ganhou como era normal nessa época.
Para o Victor era a normalidade absoluta, nada o perturbava, nem demonstrava o sentimento para o qual pendia o seu coração.
Como
acima referi o Barros até fazia parte do meu pelotão e dormia (((nunca o
ouvi ressonar porque devia dormir mas nunca dormiu))) na cama por cima
da minha e então quando o dito oficial lagartoide estava de serviço era
certinho o Barros aparecer pela manhãzinha e dizer-me:
Mano empresta aí a gillete (((não se sabia ainda
dessa doença terrível))) que tenho que me ir apresentar ao lagarto e
assim por muitas vezes.
Entretanto fui
mobilsado para o Ultramar e o Barros também mas ele não foi pois pagou
25 contos a um veterano PM já com dois anos de serviço em Lisboa.
Este homem do mundo e dele desprotegido levava o
serviço de PM ao extremo do rigor e muitas vezes criava embaraços mesmo a
nós graduados.
Entretanto chega a S.Tomé uma
revista editada em Angola que relatava as peripécias do barros na noite.
Lá se dizia que ele tinha queimado com a ponta do cigarro uma corista
dos Parque Mayer com quem andaria de amores.
Claro que a minha aproximação com o barros foi maior
do que com o próprio Victor mas, alguns anos mais tarde foram os dois
contratados pelo Boavista onde o Victor seria figura de proa como foi
sempre toda a vida e aí surgiu nova aproximação.
Pensem o que quiserem mais o Victor tinha a coragem
dos inteligentes (((possivelmente demais))) e era genuíno tanto dentro
como fora do campo, andando sempre a frente no tempo.
Ele já usava brinco, calças de ganga rotas, barba de oito dias ou de
meses, cabelo enorme e desalinhado e por isso o Victor não era
indiferente para ninguém.
Uma noite
apareceram-me no café onde para. O Victor com o aspecto de sempre mas de
socos o que me deixou meio embasbacado perante os amigos, o barros que
ao contrário do Victor era oriundo da classe média usava também o cabelo
e barba grandes mas vertia com distinção.
A pergunta que fiz ao Victor tinha vindo publicada em um jornal algum tempo antes:
OH Victor, então agora vais a cavalo para os treinos???
Com a sua habitual descontracção respondeu-me:
Uns vão a pé, outros de carro e eu vou de cavalo,
qual o problema e depois até tem vantagens pois não preciso de andar à
procura de estacionamento.
A árvore está lá sempre e o cavalo enquanto espera preso por mim ainda se vai alimentado.
Fiquei desarmado.
Aquele era o Victor.
Claro
que soube de outras peripécias dele que muita gente também saberá, como
aquela de um jogo que o Benfica ia fazer à Rússia para as competições
europeias, era Mortimore o treinador que deu ordens para que tudo
aparecesse no aeroporto de fato e gravata, mas:
O Victor apareceu com a suas jeans rotas e aí o Mortimore deixou-o em terra.
Como
já referi o Victor teve o condão de viver sempre como quis, fazer o que
quis e isso não é para qualquer um mas para mim era demasiado
inteligente , um génio que viveu uma vida de génio e morreu como os
génios.
Em tempos de Eusébio apreguou aos quatro ventos:
"EU SOU O MAIOR"»
9 comentários:
Gosto disso! Vitor como eu mas seguramente nunca lhe chegarei aos pés... essa da barba acontece frequentemente!
Naquela tarde de Inverno em 79 (seria 80, ou 81?, peço desculpa mas já não me recordo), eu estava na Catedral e vi o Vítor parar a bola no peito e desferir um remate indefensável, de fora da área, que bateu o guarda-redes do Sporting (creio que era o Botelho). Foi um dos melhores golos que vi, pela força e colocação do remate. Na euforia da celebração que se seguiu, só me lembro de alguns jogadores à volta dele, mas claro que não me apercebi do que se passou. Só no dia seguinte, n' "A Bola", na foto que vinha na capa (Toni e Humberto sorridentes a confortarem o Vítor Baptista que, com as mãos na cabeça, desesperava por não encontrar o seu famoso brinco...), soube o que se tinha passado...
E infelizmente estava na Catedral quando o Vítor Baptista, já no Boavista, marca um golo (já não sei se os dois...) que deu a vitória ao Boavista nesse jogo. Era lixado, o Vítor... mas deu para compreender, e lembro-me que ninguém lhe levou a mal - o jogo nem era decisivo :)
Muito obrigado ao Conde do Vimioso por nos ter contado estas histórias sobre "O Maior".
Abraço.
E a gilette ainda deve ter sofrido, que para arrancar aquela barba toda do Barros... vai lá vai.
bons jogadores em portugal so eu e o eusebio os outros sao razoaveis.
essa de ele ficar em terra tb aconteceu com a seleçao se nao me engano num jogo com o chipre era o juca o treinador.
todas as genios tem um pouco de louco
abraço
joaquim pereira
Já sabem da nova irmãos benfiquistas ?
Quem vai substituir o Julio Machado Vaz no trio de ataque (programa desportivo na RTPinformação) ?
É: JOÃO GOBERN
ATÉ VÃO SALTAR AGORA
Também lá estava no estadio quando o MAIOR andou à procura do brinco...
Que saudades!!!
Conde de Vimioso é gente fina. Um dos benfiquistas mais distintos que já tive o prazer de conhecer.
Estive Lá nessa tarde e calçava praì o 32, contam-me.
Uma das pessoas de quem sou amigo e que nos delicia a contar histórias do Benfica é o Grande Toni que agora sofreu um susto lá com o terramoto do Irão.
O João Aves ((Luvas Pretas)) também é um emérito contador.
Mas, eles fizeram parte da História, eu não, embora tenha vivido, durante muitos anos, de forma muito intensa e bem por dentro o Meu Benfica de modo que histórias com Presidentes, Dirigentes, Treinadores e Jogadores são como castanhas.
Escrevia uma Biblia.
Obrigado a todos porque isto para mim, escrever sobre o Meu Benfica e ler o que Outros escrevem é para mim um balsâmo.
Abraço
Conde, todas as histórias que tiver e quiser ver publicadas, envie-nos, se quiser. Queremos saber essas peripécias todas. Abraço e obrigado por ter partilhado connosco este episódio. Abraço.
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