quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Se eu te fizer um broche, afagas-me a carequinha?

Se há coisa que não aceito de ânimo leve é a displicência pouco profissional dos jornalistas e quejandos bípedes relacionados à imprensa escrita. Em Portugal, é um açoite sempre que se compra um jornal. 

A pessoa, imaginemos, situa-se no jardim do Campo Grande, sentada num banco de madeira, olhando as árvores, os fumos, as cadeiras-de-rodas e a rotunda de Entrecampos. Passa-lhe pela cabeça abrir o jornal que tem no colo, nem que seja como escape pelo facto de estar farto de olhar para coisas mortas. Enche-se de brios, abre a primeira página e logo avança pelo esófago aquele refluxo próprio de quem andou na noite anterior em difusas e alcoólicas experimentações. 

É isto que ocorre sempre que um homem decide ler as crónicas dos especialistas - uns, profissionais do ofício, dissertam em modo poético-paulocoelhiano sobre as mesmas metáforas que há 50 anos fizeram as alegrias dos gajos que ainda viam Lisboa pelo cano de escape do cu de um burro; outros, mais néscio-sábios, alvitram conhecimentos científicos sobre coisa nenhuma, embora haja quem os idolatre como uma donzela de Oeiras idolatra o Bacalhau com Natas. "É uma delícia", dizem, e o mundo todo se encolhe e mirra ao passar da estupidez ao desespero sem boca. Sim, esta é do O´Neill, mas esse fica no reino dos deuses para que se não confunda no cheiro desta avenida de pútridos, pífios, cheiros tóxicos.

E estamos nisto: um homem abre o jornal, vomita, limpa o ranho, a baba e o resto de feijão verde à manga do casaco e volta a ler para ter a certeza de que leu mal.

Entretanto, no Bairro Alto, na Conde Valbom ou na Cedofeita, homens de calças-bege e ténis moderníssimos, escrevem tratados de jornalismo que fazem Cláudio Ramos corar de júbilo e bater duas punhetas seguidas em frente ao televisor que por esta altura está a passar o "Project Runaway".

É muito isto e não é nada disto: o jornalismo desportivo em Portugal existe, sim, mas na careca encardida de Alexandre Pais, homem de tal forma sublime que, de entre dois candidatos, fez o seu jornal acertar no errado, embora tenha passado a noite no twitter em louvores ao erro crucial. Sim, o jornalismo português louva o erro como nutella: cremoso e achocolatado. Com, dizem, laivos de nozes. Melhor faria Pais se enchesse o brilho da carcaça saliente com o dito produto. E pronto, ficava tudo bem ali, ao som de matraquilhos numa noite de aldeia. GOLO! E afinal a bola tinha ido ter ao colo da Dona Gertrudes que fazia mais um casaco de inverno para os netos que têm 40 anos.

Vai nisto e temos os franceses. Chegam de mansinho com Roqueforts e acabam em Bries, Camemberts e Moelleux du Revards. Ninguém percebe. Inventam coisas estranhas: desde uma corrida em bicicleta pelo país, em que participam os maiores génios drogados que este mundo já viu, até jornais desportivos. Alexandre Pais, quando soube que existia um tal de "L´equipe", enviou especiais enviados ao país das gordas professoras de "La grande bouffe" e de psicadélicos animais de Godard, e ficou na sua casa de Marvila a fumar cigarros electrónicos porque a saúde, a saudinha, é uma coisa muito preciosa.

De lá vieram, incrédulos, os energúmenos com queixas altamente legítimas: parece que por lá, pelas Franças, se fazia uma espécie de jornalismo decadente: dizia-se a verdade. "Horrível", exclamou Pais, entre lentilhas e um Kebab delicioso que havia comprado, porque é pela universalidade da espécie, num pequeno poiso nos Anjos, enquanto lia trechos de Olímpio Bento e dissertava sobre a beleza da escrita deste que foi surripiado pelo jornal concorrente: "Este Olímpio é que era, pá, precisamos de lamber mais os túbaros dos porcos!" e ria-se de forma bizarra, enquanto coçava os próprios num gesto que, na volta, trazia cheiros fétidos de noites passadas a ver as TeleVendas.

Dos franceses, diz a História, Pais e Serpa não gostam. São pouco dados à ficção. Melhor seria que se aventurassem pelos mundos apocalípticos das quezílias-quintenhinhas lusitanas. E portanto Pais e Serpa (e os outros que andam ainda a lamber os túbaros uns dos outros) não gostaram nada da lista que os franceses avançaram nos dias que correm sobre os maiores clubes europeus:

1. Real Madrid. 483 pontos
2. Milan, 330
3. Bayern, 288
4. Barcelona, 250
5. Liverpool, 237
6. Manchester United, 229
7. Ajax, 220
8. Benfica, 217
9. Juventus , 215
10. Inter, 184
(...)
11. FC Porto, 138
48. Sporting, 39

Dizem, muito legitimamente, que o estudo estará mal construído, que peca por ausência de credibilidade e informação, que as Supertaças nacionais e os títulos conquistados a troco de familiares e matrimoniais aconselhamentos deveriam, claro, construir a pirâmide que elege os que, de facto, constroem coisas pelo país.

Eu concordo: acho ultrajante não ter em conta a extraordinária competência na arte do putedo ou os milhares de consagrados 20ºs lugares em estafetas de Telepizza.

Estes franceses são uns snobes do caralho.





7 comentários:

LDP disse...

Eu um dia tenho de te pagar um copo, xaval.

Saudosismo jamé! disse...

Por outro lado, os Franceses, outrora invasores pedantes, com o Rei (Sol) na barriga, que acreditaram que conseguiam invadir a Mãe Rússia (tal como os outros, cujo trono de pedantismo - e patetice - só não partilham, pois há uns tais do outro lado do Oceano que não os deixam), partilham da lamúria nacional-miopista, cujas façanhas "pontuadas" são os "quase-chegámos-à-final", "chegámos-à-final-e-quase-ganhámos" tão em voga nestes países que partilham o chauvinismo e o saudosismo do "quase-tivemos-o-mundo-nas-mãos-mas-caralho-lá-vieram-uns-filhos-da-puta-quaisquer-e-no-lo-levaram"...

Por este andar, até o Portugal do Queiroz era 3º ou 4º do mundo, com a "final-que-íamos-ganhando-à-Grécia" e as "meias-finais-que-os-cabrões-dos-franceses-nos-roubaram"...

A cantiga é a mesma, a lamúria crescente e o saudosismo eterno! Daí, sim, o Benfica ser o reflexo do país que temos... Aquele cujo olho do cú está tão esburacado que nem para aguentar um cagalhãozito já dá!

Mas que escreves bem, caralho, se escreves!

Zé d'Alfama disse...

Parabéns Ricardo!
Mais um texto magnífico.

Dylan disse...

O "Saudosista Jamé" também queria invadir a Rússia mas levou uma mijadela!...
Há tipos que se esquecem que a o ADN de uma equipa, a sua grandiosidade, se mede pelo passado, pelo presente e sobretudo pelo futuro. Renegam esses valores porque a sua pequenez é sinónimo de se porem em bicos de pé, berrando, porque ninguém lhes dá valor, por mais advogados suiços que contratem, por mais sabão azul que usem para branquear os seus actos. Esses franceses topam-nos à distância...

Pedro disse...

Ricardo,

Descobri faz uns dias este espaço de escrita a propósito do teu magnífico texto da viagem à Barquinha, fiquei deslubrado e com muitas saudades desses tempos idos! Confesso que a princípio não liguei o autor com a tua pessoa e foi já em amena cavaqueira com outro dos ocupantes da famosa carrinha que cheguei à tua identidade!
Desde aí que sigo este espaço e posso dizer que não desiludes, mais uma vez excelente!

Um grande abraço e até um dia destes no café Portugal
Pedro

Constantino disse...

caro Ricardo,

Não dispiciendo, (palavra cujo significado não domino na totalidade mas aprecio a fonética), a qualidade da semântica gramatical do teu post, permite-me que te diga: colocar na mesma frase "Pais" e "lentilhas" é o equivalente ortográfico a "puta que pariu". Avançar para um almoço de lentilhas é pactuar com a corrupção do sistema digestivo, é abraçar a irritação estomacal, beijar nas fuças, mesmo ali entre o buço e o inicio do lábio, a descompensação intestinal. Ao ler isto alguém pode dizer "porra, mas isso é o que eu sinto ao ler o careca". E pumbas, neste momento, num assumo de meio-alzheimer e meia-curiosidade pensa de si para si... onde catano li algo que define isto? Logo faz marcha atras à retaguarda (diferente da marcha atras à dianteira praticada financeiramente pelos lagartos) por umas linhas e re-lê "puta que pariu". Num ápice faz-se Luz na sua cabecinha mágica (não ricardo, estou a falar daquela generosamente colocada acima do pescoço) e o pensamento sai imediato: estou há 3 minutos a ler este texto e escapou-me o mais importante... o Glorioso Sport Lisboa e Benfica é um dos maiores da Europa..... e isso provoca uma azia do camandro a muita gente...portanto, lá voltamos à merda dos efeitos do consumo de lentilhas.

Abraço.

Viriato de Viseu disse...

soberbo !!!!!