Um dos grandes mistérios da humanidade reside
no entendimento da noção de idolatria por parte das massas em redor de
um indivíduo. São vários os exemplos do passado a iluminar esta realidade
e, embora os mais atentos estejam cientes dos constantes sinais de
despotismo que os tiranos, desde muito cedo, alimentam, nem por isso a
história se reescreve com novos capítulos nem com diferentes percepções
dos indícios que perigosamente adivinham o futuro.
É-me difícil assistir
à cegueira generalizada das massas em função do seu líder tirano sem
que, de dentro de mim, avancem aos tropeções cães raivosos em busca de
um motivo, um só motivo que me faça explicar e entender a razão pela
qual as pessoas, com ou sem olhos, sofrem de miopia no cérebro.
Assistindo
ao discurso formatado de Vieira, na tomada de posse de mais um mandato
no trono benfiquista, lembrei-me de um tal de Jim Jones, o homem que
levou ao suicídio colectivo, em delírio e de livre vontade, um milhar de
pessoas. Pessoas como nós, crentes e descrentes no mundo, pais, filhos,
primos como nós, uns aos outros atirados, gente. O cerebelo engaiolado
de milhares de pessoas na ideia de um homem e das suas loucuras.
Jim Jones convenceu o povo de que o caminho era ele que o conhecia e, com isso, permitiu-se todos os delírios que o mundo ainda estava
para adivinhar: violência mental, violação física, humilhação,
aniquilamento, desprezo e homicídio - tudo de forma perfeitamente
natural e quase sem contestação
(alguns, no fim da crença, desconfiaram do homem mas já seria demasiado
tarde). Gente como nós. Pessoas como nós, que religiosamente seguiram
aquele homem até à própria morte, desterrados na Guiana, entregues ao
cultivo dos alimentos e ao desaparecimento da consciência e do
pensamento próprio. No fim, devotados à causa, devotaram-se à morte e
entregaram-se-lhe livres, inteiros e preenchidos por, com aquele gesto,
seguirem viagem para o lado de lá com o seu líder. Entender isto? Não sei. Explicá-lo? Menos ainda. Só a certeza da incompreensão por tamanho delírio colectivo.
Ao
ver o pavilhão da Luz repleto de benfiquistas em louca e desenfreada
euforia, gritando "O Benfica é nosso até morrer", idolatrando em êxtase o
tirano, não pude, não consegui,
deixar de ver naqueles que gritavam a mesma alma de pedra daqueles que
um dia foram ao encontro da sua própria demência, cruzando o canal do Panamá.
Ontem,
91,7 por cento dos benfiquistas votantes entregaram o Benfica a quem o
desprezou, o humilhou e o desrespeitou. Ofereceram ao líder, de livre e
espontânea vontade, a crença na obra feita - a obra dos terceiros e
quartos lugares no campeonato (haverá tetra para a medalha de bronze?), a
obra da mentira, do enxovalho, da contradição, da falsidade, da
injustiça, da desvalorização do que é, ou do que foi?, este clube.
E o líder subiu ao palanque. Não riu porque os líderes não riem, não precisam.
Leu o texto que o súbdito lhe escreveu e, ditas as banalidades que o
povo queria ouvir, abandonou o local em ombros (mas cuidado com as
intimidades), seguro de si e do seu próprio ego. Estava concluída a sessão.
* passaram 3 anos desde que este texto foi escrito - 3 ANOS. Está tudo tão miseravelmente igual que destrói o coração de qualquer benfiquista. Chamo a atenção para a discussão na caixa de comentários, em que Joseph Lemos (que eu julgava nunca aqui ter comentado) entra na discussão, como tantos que hoje saltitam em defesa de Vieira, sem dar um único argumento, uma única ideia - apenas insultos, preconceitos, parvoíce, armado em maior benfiquista que os outros. Sim, este Lemos que cria blogues para dizer mal dos benfiquistas, inventar estórias sobre eles e falar com ele próprio, entre dois nicks. Um must do vieirismo demencial.
1 comentário:
Estou surpreendido com a data do texto. Asseguro-te que não estive lá a bater palmas, mas na altura achava tudo tão normal, que hoje ... me estranho, como estranho tanta outra coisa em mim... alguns sábios dirão que entretanto entrei na luz... eu se não me conhecesse diria que andei ultimamente a fumar umas ganzas ou a beber loiras desmedidamente... e não é que não....nada... limito-me a ter os olhitos mais abertos... só isso!
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