Acordou sozinho, nesse Domingo de Páscoa.
Era a primeira celebração da Ressurreição de Cristo que havia de passar fora do
seu Caramulo. A primeira celebração que havia de passar longe da família. Acordou
com a boca seca e o sabor a saudade. Correu, fugindo aos cânticos alegres que
entoavam na Igreja em frente, para o mar, para esse Atlântico
purificador que banha a Ilha, esse mar que, a cada ano, recua derrotado pela
Babel que é hoje Luanda. Cumprido o ritual matinal de Domingo, é hora de regresso a São
Paulo. Pelo caminho, camisolas vermelhas a lembrar que também ali há Portugal,
a lembrar-lhe essa outra festa prometida para mais tarde, essa outra celebração
que, para ele, soava desta vez mais a Via Sacra do que a Ressurreição.
Luísa, sua filha, aguardava esse mesmo
jogo. Mas longe, demasiado longe. Luisa, sua filha, era sua companheira de
mesas de café onde, juntos, vibravam com as camisolas berrantes, onde, juntos,
discutiam substituições, penalties e foras-de-jogo. Sem isenção, sem
parcimónia, mas com cumplicidade. Nunca esperara que o futebol se tornasse esse
forte elo entre eles, entre pai e filha. Nunca esperara, nunca o procurara,
nunca precisara dele. Mas o certo é que ali estava ele, o jogo que os fazia
abraçarem-se em bancadas de Estádios, comemorando golos de Cardozo, Martins,
Lima ou André Gomes. Que os fazia rir vitórias ou chorar derrotas. Ou traumas
recentes que não serão lembrados hoje quando, mais logo ele sair para a
Vouzelense pensando na Luisa. E mais ainda quando, no calor de Luanda, sair com
um cachecol vermelho. Tão inapropriado como a distância que o destino entendeu
colocar entre ele e Luisa, sua filha. No dia de Ressurreição de Jesus. No dia
do 33º título do Campeão dos Campeões. Hão-de comemorar juntos sim. Faltará, em
todo o caso, esse abraço que hoje, mais do que qualquer outra coisa,
desejava...
1 comentário:
Em Viana está outro que, preferindo o recolhimento, nem ao Mussulo quis ir hoje.
O Glorioso merece tudo!
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