quinta-feira, 19 de junho de 2014

Uma tragédia anunciada



Na passada segunda-feira o país futebolístico acordou de um conto de fadas de única forma que podia acordar: Com estrondo!

A equipa que conta nas suas fileiras com o melhor jogador do mundo e um dos dois melhores da sua história, foi copiosamente goleada por uma das mais fortes candidatas à vitória neste mundial, obtendo assim o seu pior resultado de sempre em fases finais de Mundiais.

Procuram-se agora causas para esta hecatombe, desde a convocatória elaborada, passando pela forma de preparação para esta competição e acabando na arbitragem. Tudo é colocado em causa, tudo é motivo de crítica, servindo tudo de abstracção do essencial desta derrota: A diferença de qualidade abissal entre os dois conjuntos.

Nesta diferença de qualidade entra o handicap qualitativo de cada um dos 23 eleitos por cada seleccionador, mas sobretudo a incomparável base de recrutamento ao dispor de cada treinador.

Sim, há jogadores que ficaram de fora desta lista final que justificariam a ida ao Brasil, mas pergunto: Com Adrien, Quaresma, Antunes ou outro qualquer a história desta partida havia sido muito diferente? Não. Não, porque simplesmente não é comparável a qualidade ao dispor de Paulo Bento e de Joachim Low.

Após o Euro 2000 e aquela derrota humilhante da Alemanha frente às segundas linhas Portuguesas, o futebol Alemão iniciou um processo de reinvenção que passou pela aposta clara nos jovens futebolistas que militam no futebol alemão, culminando em gerações sucessivas de jogadores de qualidade indubitável.

Desde então que também o futebol Alemão ao nível de clubes sofreu uma grande transformação, suportada na necessidade de revitalizar a selecção e na oportunidade de renovação de infra-estruturas que ofereceu o Mundial 2006.

Em sentido inverso, desde o Euro 2000 que Portugal não voltou a apresentar uma convocatória tão rica quanto a desse Europeu, sendo esta falta de qualidade atenuada pelo FCP de Mourinho que, em contraciclo, montou uma equipa constituída por diversos jogadores nacionais de qualidade e até ali escondidos nas profundezas do futebol nacional.

Desde então fomos vivendo à sombra dessa geração e de um ou outro sucedâneo como Ronaldo, Moutinho e Nani, bem como da naturalização de jogadores Brasileiros como Deco ou Pepe (escuso-me a referir Liedson) e uma tentativa recente e frustrada de naturalização de Fernando.

Ou seja, desde a geração de ouro que a selecção nacional vive de fogachos pouco ou nada sustentados e que, mais dia, menos dia, teria o seu epílogo final.

A FPF, afundada em jogos cosméticos e de poder, demitiu-se da sua principal função: Defender os interesses do futebol nacional. A Federação, uma vez provada pouca vontade dos clubes nacionais em apostar no jovem futebolista Português, deve regulamentar nesse sentido. Se os clubes, erradamente, não têm essa vocação natural, então cabe à entidade reguladora – leia-se FPF – “obrigar” a que assim seja, pois os jogadores também deveriam ser parte representada pela Federação.

Mas em vez disso, a FPF parece mais interessada em explorar ao máximo a imagem de Cristiano Ronaldo, esquecendo-se que nada fez para que o jogador surgisse e muito menos para que outros lhe sucedam.

E não me apresentem o exemplo do Sporting como excepção à regra, porque é falso! É verdade que o clube leonino tem sido o que mais tem apostado no jovem futebolista Português formado nas suas fileiras, mas tem-no feito por necessidade e não por opção. Exemplo disso foi o “reinado” de Godinho Lopes à frente do clube que, tendo dinheiro da banca, não se inibiu de comprar muito, mal e caro no estrangeiro, escondendo assim um qualquer William Carvalho que pudesse aparecer.

Neste aspecto Benfica e Porto têm sido os que mais têm contribuído para a ruina da selecção. Há quantos anos não tem o Benfica um jogador que se afirme como titular da selecção e que seja formado no clube, à excepção de João Pereira? E não me falem de falta de qualidade na nossa formação, porque terei de perguntar quantas vezes tiveram de errar Emerson ou Cortez para que JJ desistisse deles, enquanto o clube dispensava Luís Martins? Luís Martins é um lateral de topo? Não, pelo menos por agora. Mas em que é inferior a estes dois exemplos?

E como este exemplo, outros e como no Benfica também no Porto. No futebol nacional está instituído o compadrio e os interesses dos agentes dos jogadores. No futebol nacional mais do que se tentar valorizar os jogadores formados nos clubes e assim rentabilizar os milhões que se gastam por ano nos elefantes brancos que são os centros de estágio, tenta-se oferecer o melhor negócio possível aos agentes, sendo que a FPF compactua com este regime podre, esquecendo-se que os empresários não se importam com o sucesso ou insucesso desportivo de ninguém, mas tão só com o lucro próprio.

Parabéns! Temos o que tanto procuramos.

9 comentários:

Frank disse...

Jose Moreira nao podia estar mais de acordo consigo quanto a nossa Seleccao actual e futuro sem duvidas que o Benfica e FCP sao os grandes culpados que a nossa seleccao seje assim tao fraca por muito que goste do Benfica nao deixo de o culpar pelo enfraquecimento da nossa seleccao mas culpo mais ainda o FCP a explicacao e simples terminado o ciclo africano do Benfica o Benfica para acompanhar o fcp nesses trinta anos de corrupccao comecou a contratar jogadores estrangeiros para nao descolar deles,nao apostou na formacao gastou rios de dinheiro de nada servindo pra acompanhar a pedalada do Fcp porque aqui vigorou sempre a mentira ressentindo-se disso a Seleccao eu vejo as coisas neste prisma a seleccao foi a bgrande vitima.

Uncle P disse...

O Godinho e a excepcao . Tens razao. Ele e a excepcao a regra de o Sporting jogar com, pelo menos, 4 jogadores da sua forma ha mais de 15 anos. Diga la outro presidente do Sporting que tenha comprado Tantos estrangeiros? Apresentas um exemplo para justificares a regra?

José Moreira disse...

Uncle P

Godinho é a excepção no dinheiro que teve ao dispor, os outros não tiveram esse dinheiro, logo, não tiveram outra hipotese que não apostar no que havia. Daí eu dizer que não é uma questão de opção, mas sim de obrigação.

RuiG disse...

Na mouche!

Anónimo disse...

A responsabilidade dos dirigentes do Benfica ou outros é a de Tomar as melhores decisões em prol do seu clube ou em prol da selecção?Vieira é presidente do Benfica ou da selecção de Portugal?Vamos deixar de procurar Salvios ou Gaitains ou Di Marias para apostar em jogadores inferiores só porque são portugueses e como tal elegíveis para a selecção?Achar que num clube com a dimensão do Benfica e com os objetivos tanto a nivel interno como em competições europeias dos quais nós adeptos nunca abdicaremos se pode ter uma aposta em massa na formação é pura ingenuidade.Poderemos ter um ou outro jogador na nossa formação com qualidade para o nosso plantel principal, e temos mas nenhum clube no mundo consegue sequer aproveitar um, dois jogadores por ano e continuar a competir ao mais alto nível, excepto clubes como o Barcelona que vai apostando na formação mas ao mesmo tempó investe por exemplo quase 90 milhões de euros em jogadores como Fábregas, Song ou Mascherano para o papel de suplentes de luxo(Mascherano só assume a titularidade no Barça jogando a Central).E é esta capacidade financeira,que nenhum clube português tem que permite colmatar a qualidade de jogadores como Tello,Bartra ou Montoya,que vão permanecendo no plantel mesmo não tendo a qualidade exigivel para assumirem um papel mais preponderante.Mais,em clubes com capacidade para manterem os seus jogadores por muitos anos é possível manter grandes jogadores,mais experiente na equipa que para além do seu rendimento desportivo,ao manterem-se por várias épocas na equipa permitem o amadurecimento no plantel dos jogadores mais jovens.Esta realidade é bem diferente em Portugal,onde um jogador de topo dificilmente permanece no seu clube por mais do que duas,três épocas no máximo o que leva a uma maior dificuldade de integração e maturação dos jovens pois os nossos planteis infelizmente estão em constante rebuliço e por isso me parece manifestamente irrealista que se possa apostar todos os anos em jovens da formação mas sim que se faça uma aposta equilibrada num ou noutro jogador que seguramente irão aparecer de forma esporádica e faseada e nunca sistemática.A não ser que baixamos o nosso grau de exigência e passemos a fazer o mesmo que adeptos de clubes campeões da formação mas que a nível sénior, não ganhando nada se têm que consolar com o número de jogadores da formação no seu plantel ou como "trabalho" que fazem a favor da selecção.Como adepto do Benfica recuso-me a fazê-lo,o Benfica tem que trabalhar para si e apenas para si e é por isso que penso ser a nossa política desportiva muito mais correcta e adequada à nossa realidade, esperando que com tempo seja possível,e estou convicto que assim será, que possamos ver de forma sistemática no nosso plantel 2 ou 3 jogadores da nossa formação.Mais do que isso parece-me irrealista... Cumprimentos benfiquistas!!!

José Moreira disse...

Caro Anónimo

Admito que não seja leitor assiduo do "Ontem" (nem tem que o ser), por isso compreendo o seu comentário. Caso fosse leitor assiduo do blogue teria lido uma opinião minha sobre a aposta na formação no Benfica. Defendo-a e considero ser o nosso futuro. Porém, defender a aposta na formação não implica que se feche a porta a talento vindo do exterior, pelo contrário. Como diz, e bem, clube nenhum do mundo se sustenta desportivamente apenas com a sua formação, terá sempre de ser uma aposta acompanhada de talento externo.

O que se coloca em casua não são os "di marias" "Gaitans" desta vida, são sim os "Cortez", "robertos", "Emersons", "Jaras" e tantos outros, quando há soluções de qualidade no clube. Apoiar e defender a formação e, por consequencia, a selecção nacional, não é sinónimo de se abominar o talento externo.

O futebol, como tudo na vida, não é apenas a preto e branco ;)

Cumprimentos benfiquistas.

Uncle P disse...

Entao a desculpa e: os outros nao compraram pq nao tveram dinheiro. Essa e mesmo boa.Assumes entao que os presidentes do Sporting que antecederam o Godinho nao gastaram rios de dinheiro pq nao o tinham!? O Sporting de Roquette, Franco e Dias da Cunha nao gastaram mta massa e, mesmo assim tinha 4 ou mais jogadores da formacao. Sejamos coerentes e pq nao honestos.

Anónimo disse...

Caro José Moreira, Obviamente que no que diz respeito aos Robertos ou aos Emersons estamos em plena sintonia.A.questão é saber se à altura deveríamos ter apostado em jovens da formação em detrimento desses jogadores(será que à época teríamos um lateral esquerdo e um guarda redes na formação capazes de assumir um papel preponderante no plantel principal?Duvido),ou será que. deveríamos isso sim ter apostado na contratação de outros jogadores, de qualidade superior? Se de cada vez que falhassemos uma contratação(e embora me pareça que a política de contratações do Benfica tenha vindo a melhorar significativamente,é inevitável a existência de algumas contratações menos felizes como em todos os clubes) nos limitassemos a dispensar esses jogadores preenchendo esses lugares com jovens da formação,não por estes terem qualidade suficiente mas apenas porque mal por mal são preferiveis os miúdos aos Robertos deste mundo, em vez de isso sim, colmatarmos essas contratações falhadas por outras de qualidade inegável,não estaríamos a diminuir gradualmente a qualidade do nosso plantel e consequentemente a dificultar ainda mais a afirmação dos nossos jovens devido a perca de competitividade da nossa equipa? P.s. Embora não assiduamente vou seguindo com alguma atenção este Blog. Não duvido que possamos discordar nalgumas tematicas mas noutras estaremos seguramente de acordo.Mais uma vez cumprimentos benfiquistas!!!

José Moreira disse...

Uncle P

Obvio que não gastaram por não terem o que teve Godinho para gastar, ou vai dizer que todos eles tiveram a mesma abertura por parte da banca?

Anónimo

Dei esses exemplos como poderia dar muitos outros de contratações falhadas e que retiraram oportunidades a miudos que, no minimo, tinham valor equivalente, a diferença é que não dariam dinheiro a ganhar a ninguém. Mas isto não é situação exclusiva do Benfica, é algo que acontece um pouco (ou muito) por todos os clubes nacionais.

Naturalmente que é compreensivel que não se acerte em todos os jogadores contratados, ainda assim no nosso caso há demasiado "lixo" no meio dos diamantes, sendo que muitos desses falhanços eram absolutamente previsiveis. Reforço, apostar na formação não é pedir a um miudo saido da B ou dos juniores que assuma um lugar na equipa titular, é sim deixa-lo fazer parte do plantel durante, pelo menos, um ano e ir dando oportunidades. Naturalmente que nem tudo o que vem da formação merece essa oportunidade, mas são muitos mais do que os que a tiveram até hoje.

Saudações ;)