segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Opinião

«A ideia de começar a utilizar o vídeo como meio de prova para castigar ações dissimuladas de jogadores em Portugal só caçou um prevaricador. 


Chamava-se Rui Águas e jogava no Benfica, no começo dos anos 90. 

Algum tempo depois, a regra passou do papel para uma pedra de gelo porque era escandalosa a desproporcional idade, em termos de cobertura mediática, entre os seus jogos e os dos adversários. 

Mais de vinte anos depois, a desproporção mantém-se sem que o Benfica, por culpa de uma visão diletante das estratégias de comunicação, consiga prevenir ou reagir aos ataques que, ciclicamente, lhe bloqueiam as figuras. 

Só nos últimos seis meses, ficou privado de Aimar, Jorge Jesus e Luisão em processos sem paralelo e à revelia da jurisprudência. 

Primeiro, porque os profissionais se puseram a jeito e, depois, porque o clube não dispunha de qualquer plano de contingência, ficando à mercê da criatividade de órgãos disciplinares que ajudou a eleger. 

Deslumbrado com a sua grandiosidade, o Benfica é trucidado sistematicamente nos meandros decisórios e, como no célebre caso Calabote, ainda permite fazerem-no passar por beneficiado. 

O Benfica desprevenido pela perda de três jogadores basilares como Javi García, Witsel e Luisão é o mesmo que aceita passivamente estas aplicações seletivas do regulamento disciplinar. 

O mesmo que quis boicotar os outros estádios da Liga e a seguir elegeu um pajem de Pinto da Costa para a Federação. 

O mesmo que criou um canal de televisão, mas, praticamente, deixou de se fazer ouvir. 

O mesmo que foi à Alemanha de baraço ao pescoço, assumindo culpas, numa estratégia do aliado manhoso, e que agora se diz surpreendido pelo castigo tacitamente aceite. 

É um Benfica ingénuo, errático e em perigo de perder a identidade.»


João Querido Manha

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