Depois de assistir a mais uma manifestação de
violência em Braga, lembrei-me do texto que escrevi aquando da 2ª mão
das meias-finais da Liga Europa, dia em que voltei ao Minho para descobrir uma
nova cidade: a cidade corrompida por Pinto da Costa. Fica aqui o texto:
À entrada de Braga há um túnel. Não o mundialmente conhecido pelos pontapés de Vandinho mas outro, mais perto da estação de comboios, por onde passam carros, ciclomotores, animais e, de vez em quando, um ou outro bezano que se perdeu na noite.
Naquela tarde cheguei ao túnel faltavam 3 horas para começar o jogo e o trânsito parecia uma procissão religiosa, uma língua de carros em filinha pirilau, muito deles com bandeirinhas e cachecóis dos dois clubes. Mais do Braga, naturalmente, não por serem em maior número mas porque os benfiquistas de há uns tempos a esta parte decidiram não dar muito nas vistas para cima de Coimbra não vá o diabo tecê-las. Ainda assim, na amálgama lenta da procissão, estavam duas bravas viaturas que exibiam o seu clubismo desbragado - nenhuma delas a do vosso escriba (sempre gostei de manter os vidros incólumes) -, que rapidamente foram alvo dos fervorosos adeptos do Braga que se encontravam numa espécie de ponto alto estilo ponte de viaduto. Pareciam animais raivosos,
Ó filha da puta, tira-me essa merda daí, caralho!
Essa merda era um cachecol do Benfica no vidro traseiro do carro. Perto de um destes senhores, encontrava-se uma criança, supostamente filha do quadrúpede, que olhava não para o cachecol alvo da ira dos fanáticos mas para cima, para o suposto Pai, com um olhar entre a incredulidade e a incompreensão. O Pai não desarmava, empoleirava-se no varão, quase caía, aos gestos, aos cuspos, aos insultos e o pequeno bípede a pensar se a divindade genética lhe teria pregado alguma partida de mau gosto.
Volta para a tua terra, mouro do caralho!
E o malandro do benfiquista sem retirar o cachecol, a afrontar os escandinavos portugueses numa quezília que lembrou guerras antigas, na altura em que os bárbaros decidiram descer as escadas da Europa e vociferar contra esse conceito de Sul que a muitos ofende e discrimina. A este excelso animal, outros se juntaram enquanto os carros lentamente entravam na cidade. Não houve feridos, que se saiba. Mortos, muito menos. Na mistura das ruelas bracarenses, todos se diluíram. O jogo estava próximo. Havia que beber.
Parei o carro numa praça. Lembro-me vagamente de passear com o meu Pai por aquelas pedras minhotas já lá vão dois milénios. As pedras mantêm-se, oculto mistério que nem a ciência das estruturas consegue entender. Já a hospitalidade mudou uns continentes desde que há 10 anos por ali andei a fingir estudar. Perguntei a um velhote se devia deixar o carro ali ou levá-lo para mais perto da Pedreira. Os anos avisados do senhor deram-me a resposta esperada
Você vem de Lisboa, não vem? (tudo o que não seja gente com sotaque do Norte, vem de Lisboa)
Não, mas se quiser posso vir.
Então vem de onde? (é importante termos registos sobre a proveniência das pessoas, antes de darmos algum conselho)
Do Porto.
Ah está a estudar no Porto? (é fundamental, antes de darmos algum conselho, sabermos onde estuda a pessoa)
Não, mas estudei em Guimarães.
Em Guimarães? Ó amigo, você devia era ter estudado aqui.
Pois, pois devia. Mas é a mesma Universidade.
A Universidade do Minho é em Braga. Em Guimarães é só um pólo pequeno. É uma filial. (e fez-me aquele olhar malandro, de quem sabe ser dono do Mundo)
Gosto de Guimarães, é mais pequeno, lembra-me a minha cidade.
Então mas você não é do Porto?
Não bem, sou mais da província. (Abrantes pode ser considerada província do Porto, numa análise mais complexa da geografia)
De onde? (este lado pidesco dos portugueses é deveras interessante)
Olhe, estou com pressa. Deixo o carro aqui?
É melhor. Até porque você como benfiquista é capaz de vir a ter problemas à saída do estádio. (touché!)
Obrigadinho, caro velhote bracarense. Além de um conselho útil, pude confessar-me. Um dois em um que nos tempos que correm vale ouro.
Carro largado, hora de beber. Meto-me pela rua que vai dar à estação e entro no primeiro café. A sede era muita. Fico ao balcão, como convém a quem está sozinho e quer dois cérebros de conversa. Ou meio, vá, que não podemos ser exigentes.
É uma imperial fresquinha, se faz favor.
Não temos fino (fino, claro).
Venha média.
Sagres ou Bock? (aquele primeiro degrau que tudo explica)
(confundo-lhe as voltas) Super!
(silêncio com o som da cerveja a despejar em diagonal para o copo)
Você é de Lisboa, não é? (a pergunta mais ouvida em Braga naquele dia, importante para os arquivos dos arcebispos)
Sou.
Vem ver o jogo?
Venho. Entre outras coisas.
Que coisas? (assim, como um familiar. Ou como um pide. Mais pide, pelo subversivo do tom)
Venho ver um amigo. Aliás, ele já deve estar a chegar.
É de Braga o seu amigo?
Não, mas trabalha cá.
É de onde?
De perto do Porto. (mais uma vez, Abrantes como Ermesinde)
Ah… (um olhar desconfiado)
Então e o amigo? Não me diga que é de Olhão!
Hoje está um boa dia para o futebol (faz muito bem em não responder, então agora temos de falar destas coisas com estranhos?)
Está bom para beber. O jogo ainda não pensei nele.
O Braga vai ganhar.
Pode ser. Espero que não.
Ah é do Benfica? (com um ar falsamente surpreendido)
Sou. E você é do Braga, presumo.
Sou. Vocês antes tinham muita gente aqui do Benfica. Agora já ninguém é.
É, é. Estão é mais escondidos. E há aqueles que de repente deixaram de ser. O que é estranho.
Estranho? Não, deixámos de ser dos clubes de Lisboa para ser do da cidade.
Acho bem. Mas o amigo tem alguma preferência além do Braga?
Sou do Sporting. Desde pequenino.
Ah…
Mas agora com o Braga a ganhar sou do Braga.
Pensava que o clubismo não se mudava.
Então não muda! E também sou do Porto, às vezes. Do Benfica é que nunca.
Porquê?
Porque quando o Braga era amigo do Benfica, nunca ganhava. Agora com o Salvador o Porto ajuda-nos.
Ajuda como?
Dá-nos jogadores, somos respeitados pelos árbitros.
Ah…
Agora odiamos o Benfica.
Mais uma média, se faz favor. Odeiam? Porquê?
Porque são do Sul e nós somos do Norte!
Então mas você não é sportinguista?
Ah mas o Sporting não faz mal a ninguém.
E o Benfica faz?
Faz. Odiamos o Benfica.
Está certo. Olhe, eu não odeio o Braga. É uma boa equipa.
O ano passado íamos sendo campeões! Se não fossem os árbitros.
Aquela bola fora de campo que deu golo e a arbitragem contra o Guimarães não dizem muito isso.
O quê? Contra os espanhóis? Foi uma roubalheira.
Pois foi. A favor do Braga.
Ó amigo, quer mais uma?
Quero. Olhe, que seja um bom jogo de futebol. Sem pedras.
Quando é com o Benfica, não podemos garantir.
Porquê? É só um jogo.
Mas é o Benfica. Odiamos o Benfica.
(nisto chega o empregado do café, benfiquista, que faz um reparo)
Aqui o meu chefe é daqueles que era do Sporting mas que agora é mais portista que os portistas-
Então mas não era do Sporting?
Ele é de quem ganha.
Ah, então percebe-se que não seja do Sporting.
E odeia o Benfica.
Pois, o seu chefe já me disse. Mas fiquei sem perceber porquê.
Nem ele sabe bem. O que está a passar em Braga nos últimos anos é um fenómeno inexplicável. Eu já não posso ir a café nenhum. Se sabem que sou do Benfica, insultam-me, não me deixam quieto.
Mas há muitos benfiquistas como tu aqui.
Há, mas não se assumem. Têm medo. Olha, aqui ao lado há o café Benfica.
Ah, então esse deve ser um bom sítio.
Bom sítio? Aquilo é um lugar de ódio. Têm cachecóis do Braga por todo o lado e não deixam os benfiquistas irem lá.
Hmmm? Mais uma média.
Era de um benfiquista. Agora se vais lá ver um jogo, eles passam o tempo a dizer mal e a insultar.
Não deve ser fácil viver com esta realidade.
(um olhar perdido, triste) Nada. O ano passado passei o ano a ouvi-los, fui agredido.
Pelo menos fomos campeões (uma tentativa desesperada de optimismo da minha parte).
Fomos, mas nem pudemos festejar. Quando estávamos nas ruas, vieram uns gajos da claque do Braga e outros, muitos, Superdragões que começaram a agredir e a insultar.
E a polícia?
Não fez nada. Tivemos de sair dali.
(viro-me para o chefe, que estava a ouvir a conversa) Isto não está bem, ó chefe. Então o rapaz não pode festejar?
Eles que vão festejar para o caralho!
(o empregado para mim) É isto que vivemos aqui, desde que o Salvador chegou.
(nisto chega o meu amigo) Ricardo, tu vê lá o que dizes, que ainda acabas numa confusão de primeira.
Calma, estamos só na conversa.
Sabes o que me aconteceu (o meu amigo o ano passado foi agredido por 8 (!) gajos da claque do Braga porque estava a comemorar o campeonato de… basquetebol)
Sei. Vamos beber e fumar um cigarro lá para fora.
(fomos, eu, o meu amigo e o empregado fumar um cigarro cá para fora e o empregado) Vocês têm sorte em viver lá em baixo. Não fazem ideia do que é isto, aqui. Gente agredida, outros que já nem saem para ver jogos nos cafés, outros que já nem dizem que são benfiquistas. Estes gajos são uns fanáticos. E a mesma gente que antes tinha uma atitude de respeito. Alguns deles até eram do Benfica.
Mas o que é que mudou?
O Salvador. Desde que chegou, tem imposto uma cultura de ódio ao Benfica. O mais estúpido é que as pessoas não pensam por elas. Vão todas em rebanho.
Mas isto não pode ser só gente de Braga.
Claro que não. Há portistas que vão ver os jogos do Benfica para os cafés só para arrumarem confusão. Os superdragões vêm sempre que o Benfica joga na Pedreira. Este ano muitos dos que fizeram aquela confusão toda foram gajos do Porto. O ano passado vieram para evitar que os benfiquistas de Braga festejassem.
E os bracarenses não se insurgem contra isso?
Claro que não. O clube está patrocinado pelo Porto, vai ganhando mais vezes. Isto aqui é pior que no Porto.
(entrámos no café. Bebemos mais umas e fomos para o estádio. À despedida, o sportinguista que é do Braga, às vezes do Porto e nunca do Benfica)
Vejam lá, tenham cuidado!
O resto foi estádio. Um jogo de futebol. Que correu mal para o Benfica, apesar de ter sido muito melhor. No fim, à saída do Estádio e apesar de terem ganho, umas centenas de adeptos bracarenses esperavam a saída dos benfiquistas. Uma corrente de polícia a segurar os cães com raiva e eu a ver aquilo muito mal parado. Crianças, mulheres, velhotas pelas ruas de Braga a chamar nomes a quem levava o cachecol do Benfica. Gente que educa os filhos, que paga os impostos, que compra o pirilampo mágico. Gente. A mesma que, toldada pelo sucesso do Braga, se esquece de que vive em sociedade e, potenciada pelos métodos portistas de décadas, faz de Braga uma filial nojenta do Porto. O mesmo ódio naquelas caras, a mesma raiva, os mesmos animais.
Tenho um grande amigo, o Sérgio, deste mesmo blogue, que me diz que temos (clube) culpa de nos odiarem. Pela petulância e arrogância com que os nossos dirigentes falam e que os adeptos, alguns, seguem. Discordo. Há, é verdade, uma mania de grandeza por vezes estupidificante entre os benfiquistas mas nada, NADA, justifica estes comportamentos desta gente de cidades fantásticas como Braga e Porto. Nada, NADA, justifica este estado de espírito, esta venda dos princípios morais. Por muito que se ganhe. Por pouco que se ganhe. Quem perde é o país. Perdemos todos.
À entrada de Braga há um túnel. Não o mundialmente conhecido pelos pontapés de Vandinho mas outro, mais perto da estação de comboios, por onde passam carros, ciclomotores, animais e, de vez em quando, um ou outro bezano que se perdeu na noite.
Naquela tarde cheguei ao túnel faltavam 3 horas para começar o jogo e o trânsito parecia uma procissão religiosa, uma língua de carros em filinha pirilau, muito deles com bandeirinhas e cachecóis dos dois clubes. Mais do Braga, naturalmente, não por serem em maior número mas porque os benfiquistas de há uns tempos a esta parte decidiram não dar muito nas vistas para cima de Coimbra não vá o diabo tecê-las. Ainda assim, na amálgama lenta da procissão, estavam duas bravas viaturas que exibiam o seu clubismo desbragado - nenhuma delas a do vosso escriba (sempre gostei de manter os vidros incólumes) -, que rapidamente foram alvo dos fervorosos adeptos do Braga que se encontravam numa espécie de ponto alto estilo ponte de viaduto. Pareciam animais raivosos,
Ó filha da puta, tira-me essa merda daí, caralho!
Essa merda era um cachecol do Benfica no vidro traseiro do carro. Perto de um destes senhores, encontrava-se uma criança, supostamente filha do quadrúpede, que olhava não para o cachecol alvo da ira dos fanáticos mas para cima, para o suposto Pai, com um olhar entre a incredulidade e a incompreensão. O Pai não desarmava, empoleirava-se no varão, quase caía, aos gestos, aos cuspos, aos insultos e o pequeno bípede a pensar se a divindade genética lhe teria pregado alguma partida de mau gosto.
Volta para a tua terra, mouro do caralho!
E o malandro do benfiquista sem retirar o cachecol, a afrontar os escandinavos portugueses numa quezília que lembrou guerras antigas, na altura em que os bárbaros decidiram descer as escadas da Europa e vociferar contra esse conceito de Sul que a muitos ofende e discrimina. A este excelso animal, outros se juntaram enquanto os carros lentamente entravam na cidade. Não houve feridos, que se saiba. Mortos, muito menos. Na mistura das ruelas bracarenses, todos se diluíram. O jogo estava próximo. Havia que beber.
Parei o carro numa praça. Lembro-me vagamente de passear com o meu Pai por aquelas pedras minhotas já lá vão dois milénios. As pedras mantêm-se, oculto mistério que nem a ciência das estruturas consegue entender. Já a hospitalidade mudou uns continentes desde que há 10 anos por ali andei a fingir estudar. Perguntei a um velhote se devia deixar o carro ali ou levá-lo para mais perto da Pedreira. Os anos avisados do senhor deram-me a resposta esperada
Você vem de Lisboa, não vem? (tudo o que não seja gente com sotaque do Norte, vem de Lisboa)
Não, mas se quiser posso vir.
Então vem de onde? (é importante termos registos sobre a proveniência das pessoas, antes de darmos algum conselho)
Do Porto.
Ah está a estudar no Porto? (é fundamental, antes de darmos algum conselho, sabermos onde estuda a pessoa)
Não, mas estudei em Guimarães.
Em Guimarães? Ó amigo, você devia era ter estudado aqui.
Pois, pois devia. Mas é a mesma Universidade.
A Universidade do Minho é em Braga. Em Guimarães é só um pólo pequeno. É uma filial. (e fez-me aquele olhar malandro, de quem sabe ser dono do Mundo)
Gosto de Guimarães, é mais pequeno, lembra-me a minha cidade.
Então mas você não é do Porto?
Não bem, sou mais da província. (Abrantes pode ser considerada província do Porto, numa análise mais complexa da geografia)
De onde? (este lado pidesco dos portugueses é deveras interessante)
Olhe, estou com pressa. Deixo o carro aqui?
É melhor. Até porque você como benfiquista é capaz de vir a ter problemas à saída do estádio. (touché!)
Obrigadinho, caro velhote bracarense. Além de um conselho útil, pude confessar-me. Um dois em um que nos tempos que correm vale ouro.
Carro largado, hora de beber. Meto-me pela rua que vai dar à estação e entro no primeiro café. A sede era muita. Fico ao balcão, como convém a quem está sozinho e quer dois cérebros de conversa. Ou meio, vá, que não podemos ser exigentes.
É uma imperial fresquinha, se faz favor.
Não temos fino (fino, claro).
Venha média.
Sagres ou Bock? (aquele primeiro degrau que tudo explica)
(confundo-lhe as voltas) Super!
(silêncio com o som da cerveja a despejar em diagonal para o copo)
Você é de Lisboa, não é? (a pergunta mais ouvida em Braga naquele dia, importante para os arquivos dos arcebispos)
Sou.
Vem ver o jogo?
Venho. Entre outras coisas.
Que coisas? (assim, como um familiar. Ou como um pide. Mais pide, pelo subversivo do tom)
Venho ver um amigo. Aliás, ele já deve estar a chegar.
É de Braga o seu amigo?
Não, mas trabalha cá.
É de onde?
De perto do Porto. (mais uma vez, Abrantes como Ermesinde)
Ah… (um olhar desconfiado)
Então e o amigo? Não me diga que é de Olhão!
Hoje está um boa dia para o futebol (faz muito bem em não responder, então agora temos de falar destas coisas com estranhos?)
Está bom para beber. O jogo ainda não pensei nele.
O Braga vai ganhar.
Pode ser. Espero que não.
Ah é do Benfica? (com um ar falsamente surpreendido)
Sou. E você é do Braga, presumo.
Sou. Vocês antes tinham muita gente aqui do Benfica. Agora já ninguém é.
É, é. Estão é mais escondidos. E há aqueles que de repente deixaram de ser. O que é estranho.
Estranho? Não, deixámos de ser dos clubes de Lisboa para ser do da cidade.
Acho bem. Mas o amigo tem alguma preferência além do Braga?
Sou do Sporting. Desde pequenino.
Ah…
Mas agora com o Braga a ganhar sou do Braga.
Pensava que o clubismo não se mudava.
Então não muda! E também sou do Porto, às vezes. Do Benfica é que nunca.
Porquê?
Porque quando o Braga era amigo do Benfica, nunca ganhava. Agora com o Salvador o Porto ajuda-nos.
Ajuda como?
Dá-nos jogadores, somos respeitados pelos árbitros.
Ah…
Agora odiamos o Benfica.
Mais uma média, se faz favor. Odeiam? Porquê?
Porque são do Sul e nós somos do Norte!
Então mas você não é sportinguista?
Ah mas o Sporting não faz mal a ninguém.
E o Benfica faz?
Faz. Odiamos o Benfica.
Está certo. Olhe, eu não odeio o Braga. É uma boa equipa.
O ano passado íamos sendo campeões! Se não fossem os árbitros.
Aquela bola fora de campo que deu golo e a arbitragem contra o Guimarães não dizem muito isso.
O quê? Contra os espanhóis? Foi uma roubalheira.
Pois foi. A favor do Braga.
Ó amigo, quer mais uma?
Quero. Olhe, que seja um bom jogo de futebol. Sem pedras.
Quando é com o Benfica, não podemos garantir.
Porquê? É só um jogo.
Mas é o Benfica. Odiamos o Benfica.
(nisto chega o empregado do café, benfiquista, que faz um reparo)
Aqui o meu chefe é daqueles que era do Sporting mas que agora é mais portista que os portistas-
Então mas não era do Sporting?
Ele é de quem ganha.
Ah, então percebe-se que não seja do Sporting.
E odeia o Benfica.
Pois, o seu chefe já me disse. Mas fiquei sem perceber porquê.
Nem ele sabe bem. O que está a passar em Braga nos últimos anos é um fenómeno inexplicável. Eu já não posso ir a café nenhum. Se sabem que sou do Benfica, insultam-me, não me deixam quieto.
Mas há muitos benfiquistas como tu aqui.
Há, mas não se assumem. Têm medo. Olha, aqui ao lado há o café Benfica.
Ah, então esse deve ser um bom sítio.
Bom sítio? Aquilo é um lugar de ódio. Têm cachecóis do Braga por todo o lado e não deixam os benfiquistas irem lá.
Hmmm? Mais uma média.
Era de um benfiquista. Agora se vais lá ver um jogo, eles passam o tempo a dizer mal e a insultar.
Não deve ser fácil viver com esta realidade.
(um olhar perdido, triste) Nada. O ano passado passei o ano a ouvi-los, fui agredido.
Pelo menos fomos campeões (uma tentativa desesperada de optimismo da minha parte).
Fomos, mas nem pudemos festejar. Quando estávamos nas ruas, vieram uns gajos da claque do Braga e outros, muitos, Superdragões que começaram a agredir e a insultar.
E a polícia?
Não fez nada. Tivemos de sair dali.
(viro-me para o chefe, que estava a ouvir a conversa) Isto não está bem, ó chefe. Então o rapaz não pode festejar?
Eles que vão festejar para o caralho!
(o empregado para mim) É isto que vivemos aqui, desde que o Salvador chegou.
(nisto chega o meu amigo) Ricardo, tu vê lá o que dizes, que ainda acabas numa confusão de primeira.
Calma, estamos só na conversa.
Sabes o que me aconteceu (o meu amigo o ano passado foi agredido por 8 (!) gajos da claque do Braga porque estava a comemorar o campeonato de… basquetebol)
Sei. Vamos beber e fumar um cigarro lá para fora.
(fomos, eu, o meu amigo e o empregado fumar um cigarro cá para fora e o empregado) Vocês têm sorte em viver lá em baixo. Não fazem ideia do que é isto, aqui. Gente agredida, outros que já nem saem para ver jogos nos cafés, outros que já nem dizem que são benfiquistas. Estes gajos são uns fanáticos. E a mesma gente que antes tinha uma atitude de respeito. Alguns deles até eram do Benfica.
Mas o que é que mudou?
O Salvador. Desde que chegou, tem imposto uma cultura de ódio ao Benfica. O mais estúpido é que as pessoas não pensam por elas. Vão todas em rebanho.
Mas isto não pode ser só gente de Braga.
Claro que não. Há portistas que vão ver os jogos do Benfica para os cafés só para arrumarem confusão. Os superdragões vêm sempre que o Benfica joga na Pedreira. Este ano muitos dos que fizeram aquela confusão toda foram gajos do Porto. O ano passado vieram para evitar que os benfiquistas de Braga festejassem.
E os bracarenses não se insurgem contra isso?
Claro que não. O clube está patrocinado pelo Porto, vai ganhando mais vezes. Isto aqui é pior que no Porto.
(entrámos no café. Bebemos mais umas e fomos para o estádio. À despedida, o sportinguista que é do Braga, às vezes do Porto e nunca do Benfica)
Vejam lá, tenham cuidado!
O resto foi estádio. Um jogo de futebol. Que correu mal para o Benfica, apesar de ter sido muito melhor. No fim, à saída do Estádio e apesar de terem ganho, umas centenas de adeptos bracarenses esperavam a saída dos benfiquistas. Uma corrente de polícia a segurar os cães com raiva e eu a ver aquilo muito mal parado. Crianças, mulheres, velhotas pelas ruas de Braga a chamar nomes a quem levava o cachecol do Benfica. Gente que educa os filhos, que paga os impostos, que compra o pirilampo mágico. Gente. A mesma que, toldada pelo sucesso do Braga, se esquece de que vive em sociedade e, potenciada pelos métodos portistas de décadas, faz de Braga uma filial nojenta do Porto. O mesmo ódio naquelas caras, a mesma raiva, os mesmos animais.
Tenho um grande amigo, o Sérgio, deste mesmo blogue, que me diz que temos (clube) culpa de nos odiarem. Pela petulância e arrogância com que os nossos dirigentes falam e que os adeptos, alguns, seguem. Discordo. Há, é verdade, uma mania de grandeza por vezes estupidificante entre os benfiquistas mas nada, NADA, justifica estes comportamentos desta gente de cidades fantásticas como Braga e Porto. Nada, NADA, justifica este estado de espírito, esta venda dos princípios morais. Por muito que se ganhe. Por pouco que se ganhe. Quem perde é o país. Perdemos todos.
5 comentários:
Li na altura e comentei. E faço-o novamente.
O título diz tudo. Eu também já fui a Braga. E nesse mesmo jogo.
Eu moro em Braga e digo-te que não há assim tanta hostilidade como tu dizes. A maioria é gente normal. Eu vou ver os jogos do SLB a um cafezito (inclusive SLB-BRAGA) e nunca tive nenhum stress.
Mas quando foi do título é verdade que o pessoal não pôde festejar.
eu também moro em BRAGA CIDADE de onde sou natural e não e bem assim como diz o Count Zaccone anda muita besta azul e verde no meio dos bracarenses para destabilizar e reinar por essa de o porto empresta mas o scbraga ganhou taças e foi roubado na taça de portugal nas antas e eram muitos jogadores do sporting e do benfica do porto era raro vir um crack era tudo refugio de gr ou escumalha ate levavam e levam os juniores ..
desde q o mosquito foi picado na fpf o salvador que e afilhado do pinto da costa passou ao poleiro e pimba tudo contra o glorioso ...
mas temos ainda muitos BENFIQUISTAS como eu q não temos medo de nada ...
outra coisa a sporktv deu uma ajudinha ao SCBRAGA como acionista
e assim a mafia vai de vento em popa no minho ate um dia ....
desde q o continente e uns supermercados mandaram para braga uma seita de energúmenos e troca tintas fazem de braga uma cidade de selvagens ..
basta ver e ler os jogos do scbraga para se perceber que o mosquito e o salvador mais três ou quatro empreiteiros fortes q xulam na camara de braga e vivem a fartazana com todas as obras a serem feitas ou pela Britalar ou pela A+ B+B ,ou pelo J.GOMES o tal ex presidente q deu um autocarro ao braga e o rui costa foi castigado por causa dele ..
e ainda uma seita de ciganos q nada fazem e comem a custa [conta] da câmara de braga ,pois tudo que pedem e lhes dado .
do resto temos alguns bracarenses homens e mulheres sérios q não querem nada disto.
cumpds
e BENFICA SEMPRE
Muito se poderia dizer, a começar pela minha tristeza de comportamentos animalescos de certos ditos "adeptos".
Ainda assim, o que me sai a propósito é que, passados tantos meses, LFV e AS continuam "bons amigos" naquilo que os trouxe para o futebol - negócios.
PS. Se fosse para relembrar a prosa, até te perdoava, agora para acicatar ódios... Voltamos ao mesmo - estás a considerar a parte (ínfima, ainda que sempre condenável) pelo todo!
Percebo os critérios 'jornalísticos' do blogue, mas os leitores (má língua, sendo benfas, deve ser a maioria!) nem têm a tua sapiência...
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