Mostrar mensagens com a etiqueta Sorteio Oitavos-de-final CL 2011/2012. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sorteio Oitavos-de-final CL 2011/2012. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ó sócio, olha que isto não é a Liga Europa!


O benfiquista é um ser muito estranho. A última moda do benfiquista é a de querer o Milan como adversário nestes oitavos-de-final da Champions. Não se sabe bem porquê nem de onde lhe veio tal ideia - ele próprio hesita, reflecte sobre a afirmação, tende a negar o que diz, mas no fim afirma convicto: "se é para jogar com os maiores, venham eles!", pleno de grandiosidade e superação. O que o benfiquista esquece é que o primeiro lugar do grupo foi tão querido e tão apetecido precisamente para evitar que os "maiores" nos aparecessem pela frente logo à primeira ronda a eliminar. Temos tempo, caro benfiquista, se não for nesta será na próxima, não se preocupe tanto com isso - é que isto não é a Liga Europa, não sei se está a ver.

Depois também se esquece o benfiquista de que, em tempos de crise, os milhões aveludados que cheguem aos nossos cofres são injecções vitais de possíveis grandes contratações lá para o final de época - sem esses cifrões, não dará para trazer um ou dois artistas que decidem títulos. Não sei se está a compreender a ideia, meu caro benfiquista. Se pudermos passar esta eliminatória e amealhar dinheirinho do bom, deixemos a maluqueira de lado e pensemos mais pão pão queijo queijo. Que, se chegarmos aos quartos, já será um caríssimo, daqueles enormes, curado anos a fio em caves nebulosas e bolorentas. Temos tempo, que isto não é a Liga Europa.
 
Esquece o louco benfiquista ainda de outro pormenor, que não é nada de menor: a diferença emocional e psicológica entre ser eliminado nos oitavos ou ultrapassar essa barreira não só injecta, no caso de passagem na eliminatória, um coice de mula na equipa para uma possível grandiosa campanha europeia (e que falta faz uma campanha épica na maior prova de clubes ao Benfica) como inunda para a luta pelo campeonato nacional. O mesmo é dizer: Benfica nos quartos-de-final da Liga dos Campeões será sempre um Benfica mais forte a nível interno. É que isto é a maior prova de clubes do mundo, caro companheiro. Não é a Liga Europa. Acho que já começa a ver.

Prestígio, dinheiro, possibilidade de sucesso numa prova que faz parte do adn do clube, recuperação da imagem de um Benfica entre os seus pares, alavanca para o sucesso interno - tudo premissas que nos devem fazer querer encontrar logo ao final da manhã um adversário o "menos difícil" possível. Objectivo complexo, já que, entre Milan, Nápoles, Leverkusen, Marselha, Lyon, CSKA e Zenit, não há nenhum adversário que seja, à partida, substancialmente inferior ao Benfica. Há 1 relativamente inferior - o CSKA -, 4 do mesmo nível - o alemão, os franceses e o Zenit - e 2 claramente superiores - os italianos. Digamos que não será o mesmo do que esperar por um de entre Rubin Kazan, Hannover, Legia Varsóvia, Stoke City, Salzburgo, Steaua de Bucareste, Wisla Cracóvia, Lolomotiv de Moscovo, Ajax, Trabzonspor, Udinese, Alkmar ou Viktoria Plzen. O Domingos discorda de mim - acha que era só mudar os logótipos das competições e tudo parecia o mesmo. Mas o Domingos é desonesto e essencialmente muito parvo.

Por isso, meu querido benfiquista, vamos todos concentrar forças num primeiro objectivo: evitar os italianos - não só porque têm excelentes equipas mas porque - é sagrado - o Benfica geralmente não costuma dar-se bem com os ares transalpinos. Segundo objectivo: evitar franceses - não porque sejam melhores do que nós mas porque há coisas estranhas que poderão ocorrer, não sei se está a ver bem o filme. O Ajax sabe do que estou a falar. Por esta altura, já eu daria saltos de contentamento mas, se não fosse pedir muito, e tendo em conta a festiva época por que passamos, se o criador nos retirasse o Leverkusen do caminho eu ficaria muito agradecido e rezaria um Pai-Nosso e uma Avé-Maria com os olhos em regozijo. E depois, já no abuso total de crença, se nos desse de presente o CSKA de Moscovo era como se eu nunca tivesse abdicado daquele dia em que, pronto a prestar vassalagem ao deus maior em forma de Comunhão Solene, decidi não participar da festança dos abutres. Foi bom, porque passei a ver as igrejas como museus e isso, de certa forma, revolucionou a minha visão da arte - tudo tem o seu ângulo óptimo, é preciso é encontrar as coordenadas certas. E os russos - tinham de ser os russos - comem criancinhas ao pequeno-almoço, como é sobejamente conhecido.

Não veja, no entanto, meu querido e sempre fiel companheiro benfiquista, neste meu pedido uma ideia de facilitismo. Nada disso. Recorde o que lhe disse atrás: isto não é a Liga Europa. Mesmo os bêbados dos moscovitas far-nos-ão a cabeça em água. Mas, como por essa altura, o rio vai ser de gelo, conto com os nossos aprumados patins para deslizarmos Champions League adentro até à margem dos quartos-de-final.