sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Benfica 3-3 Shakhtar - Queda Europeia

Quero falar sobre o jogo de ontem. Quero falar sobre o jogo de ontem porque me deu diversas e distintas sensações. Aliás, discutindo em outros grupos percebi ao intervalo que o meu estado de espirito era bastante diferente do dos outros com quem debatia o jogo. Quero falar sobre o jogo porque para mim foi bem mais que uma simples falta de garra, ou más escolhas de titulares, ou más substituições ou até má exibição. Houve muita coisa a acontecer naquele relvado da Luz.

Começo por dizer que gostei do 11 escolhido. Contudo pensei que Lage daria continuidade à aposta no Samaris e considero que, estando em condições físicas, este jogo era para o Vinicius e não para o Dyego Sousa.

Fiquei satisfeito com a forma como a equipa entrou em campo. Pressão alta colectiva, boa reacção à perda de bola e tentativa de jogar apoiado, com muita bola e pelo chão. Um Benfica com iniciativa, com vontade de se impor na sua casa e na eliminatória. Bastante procura do jogo interior, do futebol entrelinhas, com Taarabt, Pizzi e Chiquinho a surgirem bastante nesse espaço. E um Grimaldo mais soltinho, mais liberto de amarras tolas e com espaço e liberdade para subir, para fletir para o centro e incorporar as jogadas de ataque - aquele lateral 10 que tanto nos encantou na primeira metade da época.

Provou-se que se pressionamos mais e melhor, se temos mais bola e se temos a iniciativa do jogo, provou-se que se formos uma equipa activa e não uma equipa de futebol passivo e expectante, as nossas lacunas defensivas - que existem e precisam urgentemente de ser trabalhadas - são menos evidentes porque estão menos expostas. Se somos nós quem tem bola, quem ataca, quem pressiona e quem condiciona, então o adversário irá ter menos e piores oportunidades para fazer tremer o nosso processo defensivo.

Gostei dos primeiros 45 minutos. Fui com boas sensações para o intervalo. Vi no colectivo da equipa coisas que ainda não tinha visto e que tanto reclamava para ver. Sim, houve um período pior logo depois ao 1-0. Não me refiro ao empate mas sim à reacção ao empate. Foram uns 10 minutos em que a equipa quebrou e voltou a expor-se ao recuar e dar a bola ao adversário. Mas voltámos a assumir o jogo e acabamos claramente por cima.

Individualmente estava bastante agradado com a exibição do Pizzi, com o talento explosivo do Taarabt e com o novo velho Grimaldo. Rafa bastante limitado no momento de decisão e o Dyego a corresponder ao que o jogo lhe pedia - sem brilhar mas a cumprir.

O pós intervalo foi ainda melhor. Com a eliminatória empatada voltámos a querer ser donos do jogo e da bola. Pressão alta, condicionamento da primeira fase de construção do adversário e como consequência o 3-1, a passagem para a frente da eliminatória, uma finalização soberba do Rafa e uma decisão fantástica do Dyego.

Foi até ao 3-1 que vi o Benfica que quero, que vi o potencial desta equipa. Foi até ao 3-1 que finalmente me senti bem a ver um jogo do Benfica. 
O problema foi o pós 3-1. E mais uma vez nem falo do golo sofrido. Falo da reacção a esse golo. Fica comprovado que este Benfica não sabe lidar com alterações no marcador. Impressionante como golos marcados ou sofridos alteram tão drasticamente o futebol desta equipa.

A partir do 3-2, a partir do minuto 49, foi tudo muito mau - à excepção de algumas individualidades. A partir desse momento voltámos a ter o Benfica que se tem arrastado por toda esta época. Fraco, fraquinho. Uma dor. Uma queda abruta na realidade que é o futebol desta equipa.

Vou enumerar o que me ficou da segunda-parte:

- Esta equipa não está fisicamente preparada para um jogo de pressing e rápida reacção à perda de bola. Fizemo-lo durante 30 minutos e não conseguimos mais. Quanto menos temos bola mais temos de correr atrás dela - ou então ficar na expectativa. Mostrámos não ter condições para jogar daquele modo de forma constante.

- O processo defensivo é fraco. Sim o Tavares é júnior. Sim o Dias tem abordagens ridículas aos lances. Sim o Ferro está uma nódoa. Sim o Grimaldo deixa espaço nas costas. Mas estas fragilidades ficam ainda mais evidentes quando o colectivo defende mal. Um exemplo do quanto mal trabalhado é o nosso processo defensivo é a nossa linha de fora-de-jogo. Desorganizada e totalmente descoordenada. Durante o jogo foi ouvir o Pedro Henriques, e depois do jogo muitos outros, culpar o Rafa pelo primeiro golo dos ucranianos. O argumento é que o Rafa como ala teria de correr atrás do lateral fosse como fosse, o argumento é que ali tem de jogar o Cervi porque ele o faz. Vejam a repetição e vão perceber porque o Rafa não acompanhou o jogador. Quem define a linha de fora-de-jogo é o Dias. O Rafa travou a corrida quando chegou a essa linha. O resto da defesa estava fora da linha. Com isso o adversário ficou milimetricamente em jogo. Vamos culpar o Rafa por ter feito defensivamente aquilo que os restantes defesas parecem incapazes de fazer?

- O posicionamento do Chiquinho e do Weigl são inexplicáveis. Tens jogadores de qualidade e retiras-lhes todos seus atributos para os condicionares posicionalmente a ideias sem grande sentido. E assim temos os adeptos a questionar a qualidade e utilidade dos jogadores.

Comecemos pelo português. Principalmente na segunda parte irritou-me o papel do Chiquinho. Um médio criativo, forte nos apoios, no jogo entrelinhas e na chegada à área, andou a jogar como ponta de lança. Quantas vezes o Taarabt recebia a bola no centro ou o Tavares na direita e não havia uma única linha de passe para o centro? E eu via isto e perguntava-me como era possível, onde andava o Chiquinho. Procurando-o fui constantemente encontrá-lo junto ao Dyego no meio dos centrais. Então no nosso suposto médio organizador/segundo avançado andava preso às zonas de finalização. Não fica fácil para o Tavares. O miúdo ainda não tem tomates para acelerar o jogo com bola, para partir para cima do adversário, e assim quando recebe a bola resta-lhe travar e passar para trás ou travar e bombear para a área onde estão todos à espera.  
Mas se o médio ofensivo dos apoios está preso entre os centrais adversários, o médio defensivo dos apoios está preso entre os centrais da própria equipa. Percebo o médio defensivo vir aos centrais buscar jogo mas não entendo que em posse se posicione entre estes e ali fique. Depois queixamo-nos que só passa para trás e para o lado? A alternativa é bombear na frente. Para mim o Weigl tem jogo para ser um Busquets - jogador durante antes incompreendido por quase todos. Mas para isso tem de se posicionar no meio da acção e não fora dela. O Weigl tem de jogar sempre entrelinhas e a dar apoios. Recebe e toca, tabela, desmarca sempre a dar linha de passe na construção entre a pressão adversária. Essa é a qualidade dele - decidir, passar e dar linhas sobre pressão. Estamos a desperdiçar um jogador talentoso porque queremos que seja o Fejsa.

Bruno Lage pode ter Chiquinho e Weigl a dar linhas ao Taarabt, ao Tavares, ao Grimaldo, ao Pizzi e ao Rafa, mas opta por os afastar da zona de construção e obrigar o Taarabt a fazer raides de magia por todo aquele terreno.

Perdemos a eliminatória em casa por dois golos, num jogo que empatámos e que estivemos bem mais próximos de perder do que de ganhar.

Uma palavra para Pizzi e Taarabt. O marroquino foi simplesmente magistral e quanto mais joga mais se percebe a confiança que ganha e coloca nas suas acções. O 21 voltou a mostrar que do que depender dele terá sempre boas exibições seja em que jogo for - o colectivo tem de ajudar pois Pizzi é bom mas não é Jonas. Duas excelentes exibições.



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Necessidades Exibicionais do Benfica de Lage

Boavista 1-4 Benfica
Benfica 3-0 Zenit
Benfica 4-0 Famalicão

O que têm estes jogos em comum entre si e de tão divergente relativamente a praticamente todas as outras 23 vitórias da época?

A exibição da equipa.

Porto 3-2 Benfica

Famalicão 1-1 Benfica
Benfica 0-1 Braga
Shakhtar 2-1 Benfica

O que têm estes jogos em comum com praticamente todas as outras 23 vitórias da época?

A exibição da equipa.

Aquelas três vitórias consecutivas de Dezembro fizeram-nos acreditar que Bruno Lage finalmente tinha estabilizado uma equipa, uma filosofia e uma rotina de treino. Finalmente parecia que o individual estava a ser optimamente explorado pelo colectivo. Foram excelentes exibições a culminar – naturalmente – em excelente resultados.


Até aí íamos jogando pouco apesar de vencendo quase sempre. A partir daí voltámos a jogar pouco, apesar de vencermos quase sempre – pelo menos até Fevereiro.

Não terá Bruno Lage percebido o que se fez bem naquelas 3 vitórias  consecutivas de Dezembro? Terá o treinador caído na esparrela da teoria que “em equipa que ganha não se mexe”? Os facilitismos do campeonato português iludiram tanto Bruno Lage como aos jogadores?

Pelo discurso parece já ter percebido que há um problema no processo defensivo da equipa. Mas quanto mais tempo necessita para o treinar e melhorar? A ideia passa por meter mais jogadores a defender? É assim que Bruno Lage quer compensar o fraco processo defensivo? É colocando os médios e extremos com maior preocupação defensiva?

Uma coisa é certa. Quanta mais tempo passamos a defender, menos tempo passamos a atacar. Quanto mais os jogadores se preocupam com o momento defensivo, mais cansados chegam ao momento de definição. Quanto mais recuados jogamos, mais demoramos e mais nos cansamos para chegar à baliza adversária.

Haverá assim tanta incapacidade de trabalhar defensivamente que torne necessária a aniquilação da nossa qualidade ofensiva? Em prol de um processo defensivo falido temos perdido criatividade e dinamitas ofensivas. Em prol de uma compensação defensiva estamos cada vez mais previsíveis no ataque. Menos jogadores, menos linhas de passe, menos apoios, menos movimentos e mais e mais profundidade e bolas pelo ar.

Estamos numa fase critica da época. Fora da Champions e com meio pé fora da Liga Europa logo na primeira eliminatória. Ficámos fora da Final-4 da Taça da Liga. Estamos no Jamor apesar de pouco termos feito para isso nas meias-finais com o Famalicão. E de sete pontos de vantagem, estamos agora com três pontos de desvantagem (sim com menos um jogo).

Próximos jogos:

Gil Vicente – Benfica
Benfica – Shakhtar
Benfica – Moreirense
Setúbal – Benfica
Benfica – Tondela

São cinco jogos para cinco vitórias. Apuramento na Europa e quatro vitórias no campeonato para aí depois se voltarem a fazer contas.

Começando já hoje com o Gil em Barcelos.

Mas estas 5 vitórias consecutivas não vão cair do céu. Não é o não ter medo de ganhar ou o que raio for que vai elevar o futebol da equipa.


É começar a jogar mais já hoje. Sem teorias de pragmatismo. Bola no pé, assumir jogo, subir linhas e desfrutar do futebol.

Ganhar a jogar bem é um excelente lançamento para os próximos jogos e restante época.

Ganhar a jogar mal é um adiar do problema.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Ética, Honestidade, Respeito, Solidariedade, Desportivismo – Valores Fundadores sem “mas”

Não quero me prolongar ao longo da semana a falar sobre o assunto. Mas hoje, só hoje, terei de voltar a ele.
Um jogador de futebol abandonou o relvado no decorrer de um jogo. Um episódio triste que trouxe consigo muitos outros que não consigo que me sejam indiferentes.

O Futebol em Portugal já há muito tempo que não é paixão. Aqueles valores de desportivismo, solidariedade e até de rivalidade são cada vez mais raros neste desporto cada vez mais movido a ódios.
Perante um ódio racial, algo impensável numa sociedade como a nossa e mais especificamente no contexto desportivo, o que vemos são vozes de outros ódios levantarem-se. São ódios combatidos e alimentados por mais ódios e ódios e mais ódios.
E enquanto cidadão, enquanto amante do Jogo e enquanto benfiquista, não posso não dizer nada enquanto vejo outros falharem constantemente com o seu dever de cidadãos.

Quem temos a relativizar o caso são, na sua minoria, adeptos do Vitória Sport Clube – os prevaricadores – e, na sua maioria, adeptos do Sport Lisboa Benfica – porque a vítima foi um jogador equipado com a camisola do Futebol Clube do Porto. E ao contrário seria igual. 
Mas atenção, isto não é demonstração do que são os adeptos benfiquistas. Não. Isto é demonstração do que são os adeptos do nosso futebol. Vivem de guerras.

Como é possível que tanta mas tanta gente se tenha apressado a transformar este incidente num Benfica-Porto? Como?

Um atleta abandou um jogo, uma competição, enquanto este decorria devido a insultos racistas. Já aconteceu lá fora e cá dentro a crítica foi unanime. Agora acontece cá dentro e é o que vemos.
Relativiza-se o caso, desvaloriza-se a situação, porque outros jogadores – das suas cores clubísticas – foram também em tempos alvos de insultos racistas. Desvaloriza-se porque adeptos rivais insultam os das nossas cores clubísticas. “No pasa nada” porque adeptos de azul e branco já foram multados por racismo.
E isto é só mesquinho. O que esta gente não entende é que não está em causa o Porto, não está em causa o resultado desportivo, não está em causa os adeptos e dirigentes portistas. Está em causa sim um atleta que sentiu necessidade de abandonar o terreno do jogo.

O Vitória Sport Clube não é um clube racista. Os seus dirigentes não se cansam de o dizer. O facto de um conjunto de idiotas terem tido um comportamento racista isso não personaliza o próprio clube. O que vincula o clube são as suas acções e o Vitória Sport Clube como um clube não racista, como clube interessado no combate ao racismo, só terá um caminho: Ajudar as autoridades a identificar os prevaricadores e agir disciplinarmente contra os mesmos. Quando os adeptos falham aos valores do clube cabe também ao clube agir em conformidade.

Agora quatro pontos que me sinto obrigado a responder depois de tudo o que vi escrito:

1. Prévios comportamentos de ódio e violência: Infelizmente o futebol vive disso. Os constantes insultos aos árbitros. Os constantes insultos aos jogadores. Os constantes insultos aos adeptos adversários. Uma cultura que está enraizada no adepto de futebol. É a cultura do “Filho da Puta” quando um guarda-redes bate um pontapé de baliza. É tudo condenável mas ninguém quer saber. Como ainda mais condenável são os actos de violência que todas as semanas acontecem ao redor dos jogos. Tudo isto deve ser condenado no momento e nunca mais esquecido. Agora, nada disto deve servir como desculpa nem como arma de arremesso para casos futuros. A bola de neve da ignorância não pode rolar infinitamente num “o que vem deles é condenável e o que é nosso é desculpável”.
Por mais chocante que seja a imagem do adepto do Benfica a sangrar no autocarro, alguém me consegue explicar porque tem essa imagem de andar a ser atirada contra este caso Marega? Uma pessoa foi violentamente agredida. Outra pessoa foi alvo de insultos racistas. Uma coisa justifica a outra? Uma coisa suaviza a outra? Um idiota de um adepto portista atirou uma pedra contra um adepto benfiquista. Um atleta do Porto foi insultado, com base na cor da sua pele, por adeptos do Vitória de Guimarães. Onde está a relação dos dois casos? Uns idiotas da claque do Porto fizeram um cântico deplorável sobre o avião da Chapecoense. Que tem o atleta Marega a ver com isso? Que tem a cor da sua pela a ver com isso?
Não há ódios bons e ódios maus. Não há espaço para irresponsabilidades. E todos aqueles que desvalorizam este caso, tal como todos aqueles que vão sempre desvalorizando tudo o que é feito pelos da sua cor clubística, são uns irresponsáveis incapazes de assumir os seus deveres cívicos. 
Repito. Isto não é sobre o FCP. Não é sobre o Pinto da Costa. Nem sobre o Jota Marques. Não é sobre os Superdragões e não é sobre o Sérgio Conceição. Isto nada tem a ver com as pessoas que vivem e gravitam naquele clube. Isto nada tem a ver com aqueles que sistematicamente atacam o Benfica. Nada. Vocês estão a fazê-lo ser, mas não é. Isto é sobre um jogador que teve de abandonar o relvado no decorrer de um jogo. Nada tem a ver com o vosso inimigo nem com as vossa guerras.

2. Política e hipocrisia: Sim há muita hipocrisia no Futebol e na política. De todos os clubes e políticos que se manifestaram quantos não o fizeram só para ficar bem na fotografia? Quantos irão realmente fazer algo sério para mudar o estado lastimável em que está o futebol português? Poucos ou nenhum. Sim é verdade. Mas hipocrisia também é alguém auto-intitular-se contra o racismo e contra a violência mas depois fazer as suas condenações variar consoante a cor clubística.

3. Reacção do Sport Lisboa e Benfica: Este foi um dos temas que também surgiu em debate. Como aconteceu com um atleta do Porto, então o Sport Lisboa e Benfica nem tinha de se pronunciar. Na verdade, foi o longo silêncio do clube que levou a esta teoria. Quem achou que o clube não tinha de se pronunciar fê-lo porque o clube simplesmente ainda não tinha reagido. É a regra simples da clubite - tudo o que é feito no nosso clube é de apoiar. Cada posição invertida e contraditória é de concordar.
Claro que o Sport Lisboa e Benfica ia e tinha de reagir. Há o lado político e há a imagem do clube. Um acontecimento de racismo no campeonato português, com todos os canais e jornais a falar do assunto, com os media internacionais e os políticos portugueses a abordar a situação, como poderia o maior e mais representativo clube de Portugal não dizer nada? Ainda para mais até os silêncios comunicam e a mensagem que esse passaria era de uma enorme falta de cultura desportiva e social.

Portanto sim o clube tinha de reagir e reagiu. E sim o clube tinha de condenar os acontecimentos no Afonso Henriques e... não o fez.
Faltou decência a quem lidera o Sport Lisboa e Benfica para fugir ao estúpido Benfica-Porto já criado por vários dos seus adeptos e até por produtos da sua comunicação - Hugo Gil e Boaventura por exemplo. Um vídeo genérico, reciclado e nem uma palavra sobre os acontecimentos em questão. Nem uma palavra de solidariedade para com o atleta. 
E foi nisto que estes dirigentes transformaram o Sport Lisboa e Benfica. Estes dirigentes que trouxeram para o clube hábitos e culturas de outros tempos e de outros clubes e que fortemente as têm enraizado dentro do benfiquismo.

“O Sport Lisboa e Benfica repudia veementemente os actos de racismo verificados hoje no jogo do Vitória SC – FC Porto. O clube solidariza-se com o atleta Moussa Marega e disponibiliza-se para de uma vez por todas se tomarem medidas que permitam criar um futebol saudável para todos, independe da sua cor clubística e principalmente da sua cor de pele.” 
Tão tão simples.

4. Ser benfiquista: Claro que depois também surgiram as normais acusações de falta de benfiquismo. É o “ou estás contra eles ou estás contra nós”. Para estas pessoas ser benfiquista é odiar tudo o que tenha a ver com o Porto ou com o Sporting. Ser benfiquista é querer que a equipa ganhe seja por que meios for. Ser benfiquista é defender os criminosos de vermelho e branco e atacar qualquer um, criminoso ou não, de azul ou verde.
A todos vocês que fazem do benfiquismo algo tão perverso só vos posso dizer que isso não é benfiquismo, isso é pura idiotice.
Não entro em medições de benfiquismo. A própria definição de “ser benfiquista” é muito ampla. Para mim tem bases que não podem nunca ser abaladas. Para mim benfiquismo é algo que está alicerçado em duas vertentes: Vitória e Valores. Assim vejo o benfiquismo como um querer que o clube vença sempre mas sempre e somente sendo fiel aos seus valores fundadores.
Ontem li gente defender que o Benfica tem é de ganhar jogos e não se preocupar com questões sociais. Li gente dizer que o Benfica tem de ganhar seja como for e porque meios for. 
Era eu bem mais novo quando via Pinto da Costa criar uma máfia de poder para beneficiar o FCP garantindo-lhes vitórias com muito jogo sujo. Para meu espanto, perante tão evidente conspurcação da competição, via os adeptos portistas assobiarem para o lado. Só lhes interessava ganhar. E para meu orgulho via os adeptos benfiquistas recusarem algum dia ganhar daquela forma. “Somos diferentes” dizíamos todos. Poucos anos depois percebi o quanto eram frágeis essas convicções. E hoje em dia é vermos a quantidade de benfiquistas que defendem que importante é ganhar, não importa como.
Ignorar os valores que criaram e fizeram crescer este clube para mim nunca será benfiquismo. Lutar constantemente contra quem coloca os valores do clube em causa, sejam rivais ou dirigentes do próprio clube, é para mim, e sempre será, a obrigação de qualquer benfiquista.

Portugal não é um país racista. Contudo isso não significa que não exista racismo em Portugal. Existe. É histórico e arrasta-se por gerações.

Hoje em dia podemos até debater sobre o que é racismo e se só existe num sentido. Muito do que a sociedade vê como sendo racismo não o é. São exageros, são hipocrisias, são posturas de u, politicamente correcto. O que não invalida a sua existência e o seu histórico. Nós das novas gerações não vivemos os piores momentos deste flagelo. Nós deste país à beira mar plantado não temos total noção das repercussões do racismo. Nós caucasianos deste Portugal percebemos a sociedade actual mas não entendemos a dor que muitos de outra cor e de outra nacionalidade trazem consigo. Não entendemos e muitos de nós nem tentamos respeitar.

Existe racismo nos dois sentidos? Existe. Contudo são de gravidades diferentes. E isso não há como negar. Não é possível apagar o histórico, a dor e a selvajaria que tanto marcou a humanidade. Não ver isso é querer ser cego em proveito próprio.

É verdade que tal como muitos têm repetido, o que se sucedeu ao Marega não é um caso único. Não é um caso único em Portugal. Não é um caso único num estádio de futebol. Mas apesar de muitos agirem como se isso desvalorizasse o sucedido, a verdade é que só lhe dá ainda mais importância. É por não ser único que urge ainda mais agir. É por não ser único que não podemos continuar todos a assobiar para o lado. O vosso argumento, mesmo que se recusem a o admitir, é somente baseado em clubite. Esqueçam isso. Sejam melhores.

A arte do insulto é uma constante no mundo do futebol. Todos os jogadores e adeptos estão sujeitos e habituados ao insulto. Infelizmente é verdade. Chama-se filho da puta a um jogador e corrupto a um árbitro como se diz olá a um conhecido. É inadmissível mas é verdade. Contudo esta verdade em nada se contextualiza no mundo do preconceito pela cor da pele. Não misturem coisas que não podem ser misturadas. Há insultos gerais, insultos para todos. E depois há os insultos que só visam aqueles de raça negra. E se um caso é pura falta de educação o outro é já descriminação. Determinadas ofensas e determinados ruídos só se fazem na direcção dos jogadores negros. E é neles que vivem essas memórias que despoletam dores do passado, vergonhas de uma história não há muito tempo escrita. E isso tem de ser totalmente irradiado.

Moussa Marega resolveu abandonar o terreno de jogo. Isto é o que torna esta situação diferente. É um mote. Um mote que deve ser seguido. Este exemplo deverá ser seguido por todos os jogadores que sofrerem insultos racistas durante um jogo de futebol. E quando todos começarem a seguir o exemplo de Moussa Marega, quando colegas e adversários tomarem a mesma atitude, aí finalmente teremos políticos e dirigentes, aí finalmente teremos todos vocês odiadores, a mudar drasticamente a sua passividade e a melhorar o desporto e a sociedade nacional.

Há valores que ou temos ou não temos. Não existe meio termo. Existe fingir que temos. Isso existe. Não podemos ser pessoas dignas às vezes. Não podemos ser honrados mas só quando dá jeito. Não podemos ser éticos mas só quando saímos beneficiados. 
Aqueles valores que todos aparecem a defender são valores que se vivem e não que se repetem em frases ocas. Ser absolutamente contra o racismo é ser absolutamente contra o racismo. Não é dizer que se é e depois colocar um “mas” à frente. Não há “mas”. É no “mas” que vocês se perdem.

Existe racismo em Portugal. Existe racismo no desporto. Existe preconceito à cor da pele. E neste futebol podre, de dirigismo podre e de adeptos que nada gostam do jogo, existe um enorme racismo clubístico. 

Agora deixo a palavra para os nossos políticos, para os nossos dirigentes e para os nossos ministros. 

Façam acontecer.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Dyego Sousa Para o Ataque ao Campeonato e Liga Europa

É Dyego Sousa o jogador que o Benfica precisava neste final de mercado de inverno? 

Até é. 

Era sabido que não viria um titular nem para o centro nem para a direita da defesa, o médio já tinha sido contratado e como tal as necessidades do plantel prendiam-se num avançado e num guarda-redes com qualidade para substituir e competir com o Odysseas. 

Com a saída do Raul de Tomás ficou evidente a necessidade de se contratar um terceiro avançado.
Vejamos: 

- Tal como Vieira já referiu, não há avançados no Seixal para serem lançados na equipa principal. 

- Só Vinícius e Seferovic é curto para o ataque ao resto de uma época que ainda pode ser muito longa. A lesão ou suspensão de um levam à ausência de qualquer avançado no banco de suplentes. 

- As possibilidades de abordagem a um jogo, ou a parte do jogo, em 4-4-2 ficariam bastante limitadas com as opções presentes. Não só não haveria um substituto aos dois em campo como ainda a única dupla possível seria a de dois avançados puros, sem a presença daquele 9,5 mais criativo capaz de ligar todos os sectores de ataque, pensar o jogo e distribuir a bola pelos espaços do ataque. 

Sim precisávamos de um avançado. E sim, o Dyego Sousa é um bom jogador e é um bom ponta de lança. 
Não é um nome que faça balançar o coração encarnado e aí as expectativas saíram furadas. É uma escolha mais pragmática e com objectivos de curto prazo em vista. 

Preferia uma terceira opção de ataque com maior potencial de futuro no clube. Preferia um avançado que nos desse outras opções ofensivas - o tal 9,5. Mas Dyego Sousa foi a opção possível, vem preencher parte das lacunas ofensivas do plantel e acredito que até vem para encostar o Seferovic que está a fazer uma época lastimável. 

Vem é um pouco contra a maré. É ver o que Rui Costa e Bruno Lage disseram de ego cheio antes e perceber que esta contratação os contraria. Sai muito mal Bruno Lage nas declarações que fez sobre o Gáitan. 
A opção pelo Dyego Souza também traz um sinal alarmante para aquilo que temos visto Bruno Lage pedir à sua equipa. Fica a ideia que se considerou importante ter mais um avançado paro o chuveirinho. E não é disso que o Benfica precisa.  

Esta equipa irá evoluir quando tiver menos potencializadores de bombos e mais entusiastas de bolinha no pé. 

Um remendo no plantel com um jogador de qualidade e que será muito útil. Não me entusiasma mas não desgosto. 

Bom avançado, boa relação com a bola, cabeça levantada, boa capacidade de finalização.