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domingo, 28 de outubro de 2012

O mito da boa gestão


Durante muitos anos ouvimos falar sobre a excelente gestão de Pinto da Costa. O responsável pela afirmação do Porto como maior potência do futebol nacional e expert máximo em gestão desportiva, em especial a fazer grandes negócios que permitem que o Porto continue a contratar craques que mantenham essa hegemonia. Não quero negar o sucesso desportivo do Porto, especialmente quando comparamos com o Benfica, especialmente na última década, quer em termos nacionais quer em termos europeus. Cá no burgo, a fruta de dormir e o cafézinho com leite ensombram as conquistas, por muito que os seus apaniguados façam de conta que essas realidades não se conhecem.

Casos como o de Rolando não eram comuns no Porto, como também não costumava acontecer o que se passou com o Guarín ou Álvaro Pereira que forçaram a saída. Mas se a má gestão desses casos é conhecida, pior será aquela que não sendo conhecida da maioria dos adeptos de futebol é comunicada À CMVM e aprovada por adeptos que aprovariam qualquer coisa. Só na época que passou o resultado foram 33,469 Milhões de euros de resultado líquido negativo e conseguindo pela primeira vez ter capitais próprios negativos de mais de 10 Milhões de euros e tudo isto aprovado por unanimidade.

No entanto, assegura o Porto que com as vendas de Hulk e Álvaro Pereira voltarão aos capitais próprios positivos já no 1.º trimestre da época 2012/13 - onde é que já ouvimos isto antes ? Mas então como será possível que alguém que venda mais de 500 milhões de euros em jogadores tenha esses resultados ?

A verdade é que na ânsia de "roubar" jogadores ao Benfica o Porto tem feito investimentos pouco justificados, como sejam os casos de Danilo e Alex Sandro, onde o valor pago em comissões inflacionou os passes para valores pouco justificados, respectivamente 17,839 e 10,3 Milhões de euros.

Mas não só, o famoso negócio Falcão com o Atlético de Madrid por 40 milhões e não 45 (ver a página 15 ou 53 do R&C de 2011/12), tão aplaudido pelos media nacionais foi subsequente a uma renovação que custou cerca de 6,585 Milhões de euros. Além dessa renegociação, a Gestifute e a Orel BV receberam 3,705 Milhões de euros em custos de agenciamento, o Porto teve ainda que suportar os custos do mecanismo de solidariedade no valor de 2 Milhões de euros, pagar a parcela correspondente ao fundo Natland no valor de  1,805 Milhões de euros. A contabilização do diferimento do pagamento ascende a 1,69 Milhões de euros e o passe está registado nos balanços por 10,629 Milhões de euros. Em resumo, apesar de a Porto SAD apresentar como mais-valia 20,170 Milhões de euros, na verdade esta apenas ascendeu a 13,585 Milhões de euros. E assim se vai atirando areia para os olhos dos adeptos e alimentando o mito do excelso negociador.

Sobre Hulk haveria muito que dizer e estranho que a CMVM esteja calada. No R&C de 2009, o Porto declara ter adquirido 50% do passe de Hulk e portanto ter em balanço, a 30 de Junho de 2009, 50% do passe de Hulk. Curiosamente no R&C de 2010, indica que a 30 de Junho de 2010 já só tem 45%, mas pior que isso e sim motivo para intervenção da CMVM, que a 30 de Junho de 2009 só tinha  45%, quando um ano antes declarara ter 50%. Espantados ? Desde que foi adquirido, Hulk teve renegociações anuais de contrato com os consequentes aumentos de salário e pagamento de custos de renegociação, também conhecidos como luvas - 1,724 Milhões de euros na época 2011/12 e 4,236 Milhões de euros em 2010/11. Daqui a um ano veremos no R&C o fantabulástico negócio de 65 Milhões de euros e perceberemos porque o Porto tem cada vez mais problemas de tesouraria.

Falámos de Falcão e Hulk, mas poderíamos ter falado de Moutinho que entre mudanças de fundos, o Porto perdeu 1,525 Milhões de euros, sem que daí obtivesse qualquer vantagem. Ou dos negócios com os Fundos que envolveram os Belgas a preços inferiores ao preço de custo.

Para quem contesta a afirmação dos problemas de tesouraria, aconselho a ler o R&C com atenção e em especial na página 75 e perceber que o Porto teve que antecipar o recebimento das receitas de direitos de transmissão televisiva relativamente às épocas 2012/13 a 2014/15, bem como antecipar 8 Milhões de facturação relativamente aos direitos de transmissão televisiva que respeitam às épocas 2014/15 a 2017/18 para evitar que o prejuízo fosse tão elevado este ano. Mas mais, a 30 de Junho de 2012 o Porto devia a alguns dos seus atletas as remunerações de Maio, Junho e o Subsídio de Férias além de dever Prémios a Atletas isto tudo num montante de 6,4 Milhões de euros, entretanto regularizado, demonstrando um acréscimo de dificuldades, pois a 30 de Junho de 2011 apenas estava em dívida o mês de Junho.

O Porto está a fazer de tudo para se manter no topo, adiantando receitas futuras, fazendo aquisições a preços faraónicos, vendas fantabulásticas que afinal se forem bem analisadas, não deixam de ser boas vendas, mas nada têm a ver com o que passa para a imprensa, manutenção de jogadores através de faustosas renovações, negócios ruinosos com fundos de investimento e todo um conjunto de más práticas de gestão que vão sendo mascaradas com uma prospecção de sul-americanos como Lucho, Lizandro, Falcão, Álvaro Pereira, James Rodriguez - jogadores descobertos pela prospecção do Benfica -, bem como Guarín, Hulk e Jackson que asseguraram e vão assegurar mais uns quantos milhões de euros em transferências. Claro que contam também com os negócios vantajosos que fazem com o Sporting, no qual Moutinho é um caso paradigmático.

Acima de tudo, o Porto mantém-se porque a figura tutelar que é a cabeça do polvo ainda mexe, mas qual castelo de cartas se esboroará após o seu fim, como aconteceu com tantos outros exemplos. Os campeonatos vão mascarando a má gestão, isso aconteceu com o Benfica no início da década de 90 e sofremos com isso durante muito tempo. Infelizmente, parece que ainda não conseguimos perceber as nossas fraquezas para que possamos assumir a hegemonia do futebol nacional. Se soubermos corrigir os nossos defeitos - nomeadamente através de uma pobre gestão de recursos humanos, não tão ruinosa como a do Porto ou do Sporting, mas bastante fraca quando comparada com a do Braga -, poderemos preparar-nos para dominar o futebol nacional nos próximos 15 a 20 anos. Não basta esperar que o Porto caia de maduro, é preciso agitar ou arejar a árvore e antecipar essa queda, pois outros há que já se vão posicionando, e o Braga é o melhor exemplo.