Há alguns anos atrás comecei a seguir pontualmente os vários
programas “desportivos” que passavam na televisão.
Havia menos canais, havia menos programas e havia mais futebol.
Durou pouco tempo essa minha assiduidade. Rapidamente me
fartei. O número de programas aumentou (já eram uns 5!) e a desonestidade
intelectual, a clubite aguda e as arbitragens tomaram conta do tempo de antena.
Tomei uma decisão. Chega! Não ia mais dar àquele peditório nem continuar a
permitir que certas pessoas criassem curto-circuitos no meu cérebro com as suas
desargumentações.
Seleccionei 2 programas de televisão e um de rádio e passou
a ser somente essa minha rotina semanal. Longe de polémicas inventadas e mais
próximo da bola.
O tempo passou, a polémica aumentou, mais casos e casinhos
assaltaram o Futebol português e o jogo começou cada vez mais a disputar-se nos
canais televisivos.
Principalmente nos últimos 3 anos houve uma grande mudança de
paradigma no futebol português. As exibições passaram para segundo plano. Os
resultados dos jogos passaram a servir somente como pedras de arremesso e auxiliares
de argumentação.
A impressão que passa é que o verdadeiro campeonato é disputado por
comentadores, cartilheiros, directores de comunicação e funcionários das
televisões dos clubes.
Ao ter sido convidado a escrever neste espaço, senti um
crescer da responsabilidade de saber tudo sobre tudo o que se ia falando à
volta do fenómeno do futebol.
A minha consciência obriga-me a estar totalmente informado para poder opinar
com autoridade sobre qualquer assunto.
Nesse sentido, para poder responder aos que me procuram e
aos que aqui comentam, desatei a ver diariamente todos (ou praticamente todos)
os programas “desportivos”.
E assim tem sido.
Sei que ter o conhecimento é muito diferente de participar
no circo mediático. Oiço mas não falo. Dou a minha opinião quando me perguntam
mas não entro em polémicas nem em prostituições intelectuais.
Sei que não sou um participante activo neste clima mas está
na hora de também não ser um participante passivo.
As estações de televisão perderam a vergonha. Permitem que
os clubes definam quem eles contratam. Ignoram a importância do serviço
público. Só se importam com as audiências.
Portanto decidi fazer a minha parte e não mais ser um
incremento desse indicador.
Já o tinha decidido fazer, e comunicado ao meu circulo de
discussão, no inicio da semana passada. O pós-clássico só veio acelerar a
concretização.
Quem quer uma mudança e uma limpeza no futebol português não
se pode ficar pelas palavras. Pelas palavras ficam os dirigentes dos nossos
clubes.
Temos de fazer a nossa parte e isso não se resume à nossa postura perante o
jogo. Temos de reduzir os programas televisivos ao que têm sido – lixo.
Apelo à greve dos telespectadores. Ignorem todos os programas
que sejam apenas uma arena de interesses e um divulgador sensacionalista de
pequenas podridões.
Os portistas terão sempre um filtro azul. Os sportinguistas
um filtro verde. Os benfiquistas um filtro vermelho. Esse nunca será o problema.
Hoje vai é tudo muito além disto.
Eu vou fazer a minha parte. Cada um que faça aquilo que
sentir na consciência dever fazer.
Voltarei a remeter-me a 2 ou 3 programas semanais, todos
escolhidos a dedo. Quero mais Futebol. Quero menos curtos circuitos. Quero
sentir o cheiro da relva enquanto vejo televisão. Quero parar de deixar que me
tentem fazer de idiota.
Quero programas a falar de bola. E apelo a que os
apaixonados pelo jogo acordem pois há muito mais a discutir do que os 3
grandes.
A massa associativa do Guimarães não merecerá que se fale
mais no seu clube?
O crescimento do Braga nos último 10 anos não terá direito a um maior espaço
mediático?
O que o Rio Ave tem conseguido com bom futebol, ano após ano, não merecerá
maior discussão?
A segunda liga irá continuar a não existir para o telespectador?
Quando se começar a discutir menos as polémicas, quando se
cortar o tempo de antena às mentiras e aos mentirosos, irá sobrar tempo para
trazer o Jogo ao comentário.
Começarei a minha nova rotina esta Quinta com o exemplar
Grande Área.