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quinta-feira, 29 de junho de 2017

9 letras para Iniesta



Tantas voltas dadas, tanto texto a tentar fixar o que é Iniesta num poema. Será porventura a única forma de agradecimento, esta vontade de devolver através de palavras o tudo que tem sido recebido na última década. É tão impossível a vida, a frase não sai, parece sempre que é pouco mesmo quando conseguimos retratar o herói de alguma forma que não o desconsidera, que o eleva acima da mera linha de água. E, no entanto, parco. Limitado. Curto. Frágil. Incompleto. Até ler, numa entrevista de 2013 feita a Perarnau, uma daqueles mágicas descobertas. O escritor usa apenas uma palavra, não mais do que isso: 9 letras a pintar o quadro que Andrés Iniesta é quando joga.

Ingrávido.

Leu bem. Ingrávido. Apenas isto: ingrávido. Vamos ajudar o leitor menos atento, vamos abrir o dicionário

"adj. Liviano, ligero. Que no se halla sometido a un campo de gravedad:
en el espacio los astronautas se vuelven ingrávidos."

Andrés Ingrávido Iniesta. Andrés Ingriesta. Andrés Inigrávido. Ingrávido. Assim, simples. Como um astronauta sem campo de gravidade.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Os feios nunca falham um penálti


Um jogo tão bonito rodeado de gente tão feia. Gente que festeja com ódio o penálti falhado de Cristiano, depois outra gente que regozija com o pontapé de Messi para o planeta de onde ele veio - são pessoas diferentes mas a boçalidade é a mesma.

Gente que não gosta de futebol, que não sabe nada de futebol, que só sabe falar em estatísticas e números e títulos ganhos e perdidos - como se o jogo ou a qualidade de extraordinários jogadores como Maradona, como Messi, como Ronaldo, como Iniesta, como Rui Costa pudessem ser postos num gráfico com setinhas para cima e para baixo e estúpidas médias de passes acertados ou dos quilómetros percorridos. Gente que usa o futebol para libertar a sua pobreza de espírito, as inseguranças, as raivazinhas quotidianas, a mais visceral ignorância.

É gente que vai à bola mas só olha para a bola. Gente que não sabe bola. Que não vai à bola com o árbitro, com o colega, com o adversário, com o jornalista, com o dirigente. Gente que não vai à bola com o mundo porque o mundo conspira contra o seu clube. Infelizes patetas que vão votando em Presidentes populistas e vão criando nas suas casas maus exemplos de devoção a gente que fomenta a cultura de guerrilha por não terem cultura nenhuma. Os filhos serão iguais a eles, novos mentecaptos que arrancarão cadeiras em estádios, insultarão o árbitro só por este entrar em campo, dirão que o jornalista x é "avençado" e ficarão muito felizes, estupidamente felizes, quando virem um fantástico jogador ter um momento de erro e tristeza.

O jogo é bonito; pena os milhões de feios que o comentam.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Leonel Sergio Andrés

A Bola d'Ouro é um prémio que não faz sentido. Individualizar num desporto que é visceralmente colectivo é negar-lhe a sua essência: um jogo que é um equilíbrio constante entre bola, espaço, colegas e adversários.  Esta dança, esta procura constante pela melhor decisão,  este engano de puxar continuamente a bola para terrenos que favoreçam a progressão, isto, o bom futebol, não é quantificável num único jogador.

O craque não é contabilizável. Não são os títulos que a sua equipa ganha, a quantidade de golos que marca, as assistências que faz que o definem como craque. O craque é aquele que faz da sua técnica individual apenas um veículo de transmissão directa do que lhe diz o cérebro. O craque conhece e reconhece a movimentação dos outros a uma velocidade tal que o que faz tem sempre coordenadas definidas não por um qualquer computador ou um treinador mais científico mas pela sua própria interpretação da geografia. É esse farol, essa bússola mágica,  que lhe define o génio.

Não são números num quadro, gráficos para cima e para baixo, estatísticas. Isso são consequências daquilo que faz em campo mas isso não é o que ele é. Porque o que ele é pode, a certo momento e por razões várias, não gerar nas calculadoras mundiais números estratosféricos. Mas o que ele é persiste acontecendo no relvado. A sua capacidade de antecipar, de surpreender, de criar, de gerar a possibilidade do golo - atente-se: a "possibilidade do golo", nem sempre o golo em si -, é isso que o faz craque. É essa a razão pela qual deslumbra e faz sentido.

Não havendo forma de acabar com o espectáculo feérico que é hoje a entrega do prémio ao "Melhor jogador do Mundo", proporia que ao menos se começassem a premiar as parcerias dentro de uma equipa. Em vez de dar prémios individuais, passarmos a dar prémios aos melhores trios do Mundo. Por isso este ano a minha Bola d'Ouro vai para o Leonel Sergio Andrés.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

7

1) Esquecendo a peça humorística dos jornais sobre uma suposta vontade por parte do Anzhi de dar 25 milhões de euros pelo Gaitán, é fundamental que se definam, de forma escrupulosa, os jogadores que podem sair em Janeiro como solução de compensar as asneiras que andamos há anos a cometer. A sair alguém, terá de ser sempre um ou dois jogadores que não deixem o plantel desequilibrado e/ou fragilizado. Nesse sentido, ponho logo de parte: Luisão, Garay, Enzo, Nolito, Salvio, Aimar, Rodrigo e Cardozo. A venda de um ou mais deste lote será um erro monumental. No resto, e olhando para quem ainda tem valor de mercado suficiente para um encaixe simpático, temos Gaitán na linha da frente e depois talvez Jardel, Bruno César ou Sidnei. Os três menos do que o primeiro, que é quem eu venderia de pronto: por ter sido um activo totalmente desvalorizado por Jorge Jesus (sim, também existe o fenómeno contrário ao que é apregoado), porque neste momento a sua saída não teria qualquer peso nos objectivos da época e porque, pelo talento que tem, ainda tem valor de mercado. Acima de 15 milhões de euros, punha-lhe um lacinho.

2) Fala-se em Diego Reyes como possível contratação para Janeiro. Desconheço o valor do jogador, das informações que tirei junto de quem conhece a fundo o atleta fiquei com a ideia de que é mesmo um talento puro, com qualidade para jogar ao mais alto nível. Agrada-me a possibilidade de compra de um central/médio defensivo, aliás defendi em Agosto a necessidade de dotar o plantel de mais um central e de mais um médio de características defensivas. Se o Diego é 2 em 1, melhor: menos gasto na compra e menos sobrecarregar nos ordenados. Só espero que esta contratação, a acontecer, seja por haver uma estratégia definida de equilibrar o plantel e preparar o jogador para o futuro e não por ser um remendo à saída de Garay. Se for esse o caso, será mais um tiro nos pés.

3) «Há momentos em que o silêncio é de ouro» - Luís Filipe Vieira.

Como há uns meses, quando o Benfica tinha uma vantagem de 5 pontos e tu foste todo vaidoso para a televisão dizer que não havia problema nenhum com a arbitragem em Portugal? É raro, mas desta vez concordamos, Luís. Por mim manténs o ouro silencioso até 2016.

4) No Benfica-Olhanense estiveram 24.104 espectadores, a pior assistência da época até agora. É um problema real, sobre o qual escrevi há uns dias, que não tem sido abordado por parte desta Direcção com a inteligência e sensibilidade que ele merece. Já o disse: um clube como o Benfica tem de ter SEMPRE pelo menos 50.000 adeptos no estádio. Compete a quem governa criar as condições para que isso aconteça. Se não se preocupam com o lado humano e de apoio, vejam a coisa pelo lado financeiro, que tanto apreciam. E resolvam lá isso.

5) Está prevista uma romaria em grande escala a Alvalade. Seremos uns bons milhares a acreditar que o Benfica pode fazer um grande jogo contra o Sporting e trazer de lá não só uma vitória como uma exibição concludente neste que continua a ser sempre um jogo mais do que especial. Peço aos senhores que nos dirigem que se calem, a sério, ponham um açaime ou agrafem a boca. Depois dos espectáculos oligofrénicos dos oligofrénicos Sílvio Cervan e Rui Gomes da Silva, espera-seque não venha mais nenhum membro da Direcção ou dela próximo dar trunfos e motivação aos nossos adversários. O Benfica nasceu do trabalho e da humildade, de valores solidários e simples; nunca foi um clube de dirigentes emproados armados em papagaios que desvalorizam os outros clubes, achando que as vitórias vêm por decreto antes de entrarmos em campo. Competência, seriedade, organização, estratégia: bastarão estes valores para irmos a Alvalade lutar pelo jogo. E a palavra é essa: lutar. Não subvalorizar.

6) Ronaldo, Messi e Iniesta nomeados para o Melhor jogador do Mundo; Guardiola, Mourinho e Del Bosque para o Melhor treinador do Mundo. Há uns anos que mantenho os mesmos votos: Iniesta e Guardiola. 

7) Scolari a Seleccionador brasileiro. De rir. Se chegar aos quartos-de-final será uma sorte.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Futebol sem bola

Com decepção, tenho ouvido Pedro Ribeiro comentar os jogos do Euro. Não sei muito bem se foi ele que mudou ou se fui eu, mas houve um tempo em que não desgostava dos seus comentários aos jogos ingleses na Sport TV. Hoje noto que a questão central da minha admiração passava pelas horas e dias em que os jogos davam: geralmente de manhã ou início da tarde, aos Sábados e Domingos, horas que estão cientificamente patenteadas como veículos progressivos de uma cura de ressaca. Pode ser que a cabeça me latejasse em demasia, pode ser, e que tudo me parecesse de uma qualidade que não tinha.

Ontem foi quase insuportável ter de ouvir tanto disparate. Desde as infinitas loas a Ronaldo passando pelo desprezo a vários outros jogadores, foi um bocadinho repugnante. No golo da Holanda, no entanto, não se abordou o jogador Ronaldo, vá lá saber-se porquê. E no golo de Portugal, o primeiro, demorou-se algum tempo a compreender o passe fantástico de João Pereira. E mesmo quando se lhe reconheceu a mestria, foi com frases descabidas pelo meio, tanto que na segunda parte, quando o jovem Pereira avançou destemido pela área holandesa, surgiu a pérola: "bem, se ele assiste e marca neste jogo é o fim do mundo!".

Ora bem, João Pereira é um jogador medíocre - penso que é consensual. Mas é-o, acima de tudo, por não saber defender. A atacar, tem qualidades que extravasam em muito a média geral do campeonato português e até - imagine-se - de alguns chamados génios e fenómenos da natureza. Aquele passe, por exemplo, não é raro em João Pereira - e aquele passe demonstra muitas coisas. 

Coisas que Ronaldo, nosso líder, herói e capitão, raramente faz. Quantas vezes vimos Cristiano rasgar uma defesa com um passe daqueles? É que por mais que se treine e se crie uma máquina de jogar (e Ronaldo é uma máquina incrível), há lados do cérebro, da imaginação e da visão espacial que o madeirense não tem. Há coisas que não se treinam. Se se treinassem, Ronaldo seria uma besta extraordinária, o melhor de todos os tempos. Assim, é um jogador fabuloso, por aquilo que une características físicas e técnicas. Mas não mentais. E é por isso que Iniesta é o melhor de todos os tempos.

Mas a histeria de Ribeiro em relação a uns e o desprezo por outros, no caso do jogo de Portugal, não se aceitando, compreende-se. Falava o coração, além de outras coisas. Já o abordado no jogo da Espanha não deixa grandes dúvidas sobre a incompreensão que persiste sobre o Barcelona e sua forma de jogar. O lance era este: Piqué entra no meio-campo, avança uns metros, tem Xavi à direita, Iniesta em frente e Silva bem aberto junto à linha lateral. Toda a equipa da Espanha se condensava em poucos metros, excluindo Silva que abria o espaço e criava uma falsa ideia de passe óbvio. Ribeiro exalta-se: "já devia ter passado!". Mas Piquet não passou. Manteve-se no jogo interior, a bola rodou entre vários jogadores no meio e acabou numa jogada qualquer de que já nem sequer me lembro bem. Mas o mal estava feito. 

Piquet não "devia ter passado" coisa nenhuma. Não devia porque não era a melhor opção - passando, deixava Silva entregue a si próprio, sem apoios nem possibilidade de progressão -, e muito menos devia só porque era o gajo que estava sozinho. Mas o maior problema disto tudo é vermos um comentador - a quem já ouvi enormes elogios ao Barcelona (como não?) - dizer isto e não entender que afinal o que ele gosta no jogo da equipa catalã não é aquilo que a distingue de todas as outras. E isso, não sendo raro (quase todos os que comentam o demonstram), é bastante triste.