Hoje apetece-me escrever sobre o Sporting, até porque pelo
que tenho ouvido mais ninguém está interessado em falar do que se passa no
relvado sportinguista.
Esta semana ouvi um senhor na Sic Noticias a falar sobre esta crise de
resultados e exibições.
O que ele disse não é muito diferente daquilo que todos os outros dizem (nunca
é).
O Sporting perde e joga mal devido à sua estratégia de comunicação, à montagem
da sua estrutura do futebol porque o André Geraldes é muito novo e devido aos
baixos rendimentos dos seus jogadores.
Por sua vez os baixos rendimentos dos seus jogadores são consequência de
motivos alheios ao jogo: o Bryan foi pai, o Gelson está a negociar o contrato e
o William e o Adrien querem sair.
Isto é o Rui Santos a falar de futebol.
Acho isto muito pobre.
Quando queremos analisar o rendimento de uma equipa devemos começar por olhar
para o comportamento tático e colectivo desta.
Acima de tudo o Sporting joga mal por responsabilidade do seu treinador. A
construção do plantel foi deficiente, a aposta nos jogadores é indecifrável, a
construção táctica da equipa é inexplicável, a leitura do jogo é
incompreensível e o rendimento dos jogadores é um reflexo do trabalho nos
treinos e do seu posicionamento em campo.
O grande problema do futebol do Sporting é a incapacidade do Jorge Jesus em ler
o jogo e de não inventar.
O Jorge Jesus é um grande treinador, um péssimo manager, um mau líder e um
egocêntrico insuportável. Tem as suas ideias e não sabe adaptar-se nem aceitar
os seus erros. Por isto não evolui.
Gosta de trabalhar as suas equipas para ataques rápidos e
constantes. Muita gente à frente e pouca gente atrás. Abdica do controlo, do
equilíbrio, do domínio no meio-campo e da segurança. Por isto o seu maior
sucesso sempre foi no saber colocar uma equipa a defender com poucos.
É um treinador de 4-2-4 com laterais ofensivos e um médio de
chegada à área. Neste seu estilo de jogo não pode viver sem um médio defensivo
capaz de fazer todas as compensações, não consegue viver com um ponta de lança
de área e não funciona sem um segundo avançado móvel capaz de fazer a ligação
de todos os sectores no meio-campo ofensivo.
Na época anterior o Sporting não correspondia às ideias do seu treinador mas o
desta época é exactamente um espelho destas.
O ano passado, com o plantel que lhe foi dado, o Jorge Jesus
adaptou os melhores jogadores às suas ideias. Foi nesse contexto que o João
Mário foi encostado à direita.
O que é que vimos nesse Sporting?
Um ponta de lança móvel com capacidade de ir às alas, pressionar os defesas e
aproximar as linhas – Slimani. Um segundo avançado a fazer o papel ofensivo de
um 10. E um João Mário, portanto um extremo direito que na verdade era um médio,
a jogar mais encostado à direita.
João Mário e Slimani potenciavam um jogo mais curto e apoiado no Sporting. Os
jogadores actuavam mais próximos e com isso defendiam melhor, pressionavam melhor,
corriam menos e multiplicavam as linhas de passe.
Esta não era uma equipa à Jorge Jesus mas era muito o reflexo daquilo que o
treinador fazia os jogadores renderem nos treinos.
Nesta segunda época já preparou uma equipa à sua imagem, num
4-2-4 puro.
Contudo começou logo por falhar em 3 momentos:
- Construção do plantel. Foram vários os jogadores
contratados sem qualidade, o que acaba com a profundidade da equipa levando ao
desgaste físico e emocional em várias posições.
- Qualidade do treino. Alguma coisa aqui está a falhar pois
não era expectável que o Jorge Jesus não conseguisse tirar qualquer rendimento
de jogadores como o Markovic e Joel. Aliás, também do próprio Bryan.
- A dupla ofensiva. Para mim aqui mora a falha fatal do
futebol do Sporting. Não só o Jorge Jesus ainda não conseguiu definir um
jogador para a posição chave de todo o seu processo ofensivo, a de segundo
avançado, como anda a jogar com um excelente ponta de lança cujo o estilo não
se enquadra no Futebol do treinador. Por algum motivo o JJ não se cansa de
demonstrar a sua insatisfação com o Bas Dost e não consegue sequer perceber a
sua importância além golos.
Haveria um quarto ponto que seria o impulso para a invenção,
principalmente na lateral esquerda. Bruno César a jogar ali é um erro enorme.
Não só a equipa fica com um péssimo defesa esquerdo como perde um bom/útil
segundo avançado.
A avaliação ao desempenho dos jogadores nunca pode ser
independente do desempenho da equipa, e vice-versa obviamente.
Com isto quero dizer que jogadores que rendiam muito, como o Gelson e o Adrien,
só podem baixar o seu rendimento com o acentuar do mau momento desportivo da
equipa. É uma questão mental e também física. Além disso, andam a exigir a um
miúdo de 21 anos que seja a solução de todos os problemas da equipa.
Depois também não podemos dissociar o desempenho dos
jogadores do posicionalmento táctico da equipa.
O Bryan não é um jogador de sprints. O Bryan é um jogador de classe, de futebol
apoiado e de construção. Nunca de correrias.
Hoje temos um Sporting a jogar muito mais largo. O avançado joga mais subido e
central e o extremo direito joga mais aberto e vertical. Isto afasta os
jogadores do Sporting, reduz os apoios e as linhas de passe.
Isto obriga a que o Bryan jogue mais para trás, corra mais e recorra mais ao
passe longo. E depois com um Bruno César a lateral e um meio-campo menos
apoiado, o costa-riquenho tem também de andar a desgastar-se mais
defensivamente.
E não muito diferente é aquilo que se passa com o William. Não nos enganemos, o
William Carvalho é um grande médio defensivo. Não é é um trinco. Está longe de
ser um Fejsa.
O William não é rápido com a bola no pé mas sabe jogar, sabe avançar no
terreno, sabe impor o físico, ler o jogo e combinar com os colegas.
Neste Sporting a exigência sobre o William é a de ser mais defensivo e
solitário. Assim é mais pressionado quando tem bola, tem menos apoio e perde os
momentos do jogo para fazer aquilo que sabe.
Se à partida as coisas estão mal construídas é normal que o
desempenho dos jogadores não seja o melhor. Depois é ir somando o peso dos maus
resultados e o acumular do cansaço.
Então no meio-campo é gritante a falta de cobertura tanto ao Adrien quando ao
William.
Tudo isto pode melhorar com duas pequenas
mudanças.
Jorge Jesus tem de parar de querer provar que transforma
caca em ouro e começar a apostar nos melhores jogadores. Aqui tenho de
concordar com o Bruno de Carvalho. O Sporting precisa de se livrar dos
jogadores de menor qualidade, mesmo contra a vontade do treinador.
O Bruno César tem de ser colocado atrás do Bas Dost.
Como lateral é péssimo e todos os jogos são erros atrás de erros. Como segundo
avançado nunca será um grande jogador mas as suas características podem servir
muito a equipa, aumentando simultaneamente o rendimento colectivo e individual
de todos os jogadores.
Ele consegue fazer a ligação entre os vários sectores do ataque, criando assim
mais apoios ao Bas Dost, ao Bryan Ruiz e aos médios leoninos. Aproxima as
linhas, elevando a capacidade de pressão e o número de linhas de passe, e
liberta os médios para o momento ofensivo. Além disso é um médio com boa
capacidade de meia distância o que iria logo proporcionar outras opções de
finalização à equipa, obrigando os defesas adversários a dar mais liberdade ao
holandês.
Agora, digam de vossa justiça.