As premissas fundamentais para um Benfica simultaneamente vencedor e virado para a paixão e comunhão entre adeptos, funcionários e dirigentes terão de ser sempre as mesmas: benfiquismo e competência.
É a partir delas que o Benfica terá de se reconstruir de base, eliminando agentes nocivos à primeira, mesmo que aptos na segunda ou - e também isto muito importante - abdicando de elementos que, apesar de sentirem muito o clube, sejam, do ponto de vista da competência e do rigor, pessoas que não garantem o caminho do sucesso sustentado e orientado para a organização.
Não quero com isto dizer que devamos abdicar desses elementos noutras áreas – podem e devem ser orientados para zonas do clube, para acções de divulgação, em que o clubismo “tradicional”, tal qual o conhecemos, será defendido e exponenciado ao máximo junto dos adeptos e potenciais futuros sócios; defendo apenas que, em termos estruturais, devemos exigir a quem nos represente não só paixão e fervor clubísticos como também o talento e a capacidade de trabalho suficientes à profissionalização de um clube que, além da paixão, vive de resultados, sejam eles desportivos, financeiros ou publicitários.
Estes três elementos fundamentais – sucesso desportivo, rigor financeiro e expansão da marca Benfica – não devem conviver isolados uns dos outros; pelo contrário: deverão estar interligados e dependentes da organização em cada um deles para que o todo, o clube, sobressaia como marca e como instituição de cariz ganhador e de saúde económico-financeira.
Tendo como base para a admissão na estrutura do Benfica pessoas que preencham as premissas supracitadas - benfiquismo e competência – dividamos a organização do clube, a Direcção, nas seguintes sub-estruturas: Gestão Financeira, Futebol, Comunicação, Marketing, Modalidades, Futebol de Formação e Sócios e Adeptos.
Seis pontos cardeais, para cada uma delas um Vice-Presidente, sem necessidade de inventar mais porque para cada uma corresponde o espaço necessário a que outras sub-estruturas tenham o devido destaque, sendo que entre elas terá de haver uma íntima ligação, especialmente entre o Futebol e o Futebol de Formação e entre a Comunicação e o Marketing; a Gestão Financeira e as Modalidades, embora funcionando de forma autónoma, reportarão, como é lógico, ao número 1 do clube, o Presidente.
Farei uma dissertação sobre as várias áreas e aquilo que defendo para cada uma, dando nomes que me parecem ter perfil para os cargos; o mais importante será o perfil, os nomes deverão ser tidos com alguma relatividade, porque certamente haverá mais do que um benfiquista competente para cada uma das sub-estruturas.
Gestão Financeira
É a vertente do clube que menor ligação tem com os adeptos, por duas razões principais: a ignorância de grande parte dos benfiquistas em relação a questões de ordem financeira - por desconhecerem a forma como se organiza e equilibra uma instituição de tamanha dimensão; e porque ao adepto comum, mais do que estudar orçamentos, informar-se sobre empréstimos obrigacionistas ou analisar criteriosamente as contas semestrais, interessa o pontapé na bola e as contratações sonantes – e a pouco clara política de Comunicação (cá está a necessidade de as sub-estruturas funcionarem em uníssono e não viradas para dentro), que, de tão pobre e parca de informação, afasta os sócios e adeptos da compreensão integral do que se vai fazendo nesta área.
A política de comunicação tem, por isso, um desafio importante: servir de farol aos benfiquistas, iluminar-lhes o caminho para o entendimento claro sobre as várias áreas do clube, especialmente, e porque é dela que nos debruçamos, sobre a Gestão Financeira. Com uma informação acessível e clara, os benfiquistas poderiam não só conhecer mais do que se vai fazendo como provavelmente muitas das críticas infundadas não existiriam porque, com conhecimento e explicação, só quem desse novas ideias poderia ter motivos de crítica. Assim, no lamaçal que é a política comunicacional do clube, todos os empréstimos absurdos (serão?), todas as políticas financeiras presumivelmente danosas para o Benfica (serão?), todas as megalomanias incongruentes em discursos demasiadamente optimistas, são alvos fáceis da crítica, mesmo da crítica acéfala e nada sustentada.
Em termos puramente financeiros, recuso-me a fazer observações profundas porque sou um ignorante na área (já agora, aproveito para chamar o Americano a sair das catacumbas em que entrou e a pronunciar-se sobre esta e outras áreas que sinta poder debater com bases sólidas, como nesta pode). Exijo apenas, e é muito, o que me parece nem sempre existir: rigor, organização, planeamento, antecipação de resultados (positivos e negativos) e, claro, voltando ao mesmo, que é a base que deve sustentar qualquer clube organizado, uma comunicação que nos informe em vez da desinformação existente actualmente.
Nome para Vice-Presidente: Bagão Felix.
Futebol
Esta é uma área que mexe com os sentimentos mais íntimos dos benfiquistas e a que mais estará sob o escrutínio e avaliação de todos, por ser a que mais facilmente é acompanhada e interpretada por aqueles que seguem o clube.
Na área “Futebol”, não há quem não dê opinião, mesmo que muitas vezes tão válida como a que dá sobre “Gestão Financeira”. Mas no futebol há esta ilusão: achamos que, por não serem números, temos capacidade para ir além, opinarmos, julgarmos, darmos as nossas próprias ideias. A filosofia reinante é a de que em termos futebolísticos não será necessário “saber académico”, uma noção que obviamente incorre numa falácia tremenda mas que, na génese, tem uma verdade: todos nós, mal ou bem, lidámos e lidamos com questões ligadas ao fenómeno. Que isso faça de nós “académicos”, puro engano; mas sem dúvida estamos mais preparados para avaliar o trabalho nesta área, porque ele também nos aparece de forma mais clara e directa, do que, por exemplo, na área anterior.
Os princípios que devem nortear esta sub-estrutura são simples na teoria mas complexos quando os (não) vemos aplicados: uma excelente área de prospecção, uma relação íntima com a formação e seu departamento, identificação e interpretação assertiva nas contratações, seja para técnicos ou jogadores, que deverão corresponder não só à qualidade exigida para servirem o Benfica mas, e talvez ainda mais importante, que aliem essa qualidade ao perfil do que se pretende.
Um exemplo: não basta contratar um treinador de grande qualidade, com um passado com resultados que dão mostras de poder ter sucesso no Benfica; tem de haver um identificação do perfil: conhecer-lhe as ideias a fundo, interpretar se essas mesmas ideias se adequarão à ideia geral do clube e se o próprio técnico tem condições para trazer a qualidade exigida juntamente com a comunhão com a idiossincrasia do Benfica. Isto é fundamental, para que se não desperdice talento e qualidade. O mesmo serve para os jogadores. Neste prisma, importa estabelecer uma ideia fundamental: um sistema e modelo de jogo que nortearão toda a estrutura do futebol, desde os mais novos até à equipa principal.
É uma ideia que não é nova mas que tarda em aparecer no Benfica. É lógico que haverá lugar a uma flexibilidade táctica e às ideias do técnico mas importa estabelecer esse princípio, para que o trabalho feito na formação não desague num mar de equívocos quando os jogadores chegam à idade de poderem alimentar o plantel principal. Por isso é tão importante que as áreas “Futebol” e “Futebol de Formação” estejam intimamente relacionadas e que, não raras vezes, os treinadores, também eles em formação, das bases possam pontualmente subir na hierarquia e treinarem o plantel principal. Não é uma utopia nem uma visão demasiadamente romântica; é o que faz mais sentido, tanto do ponto de vista desportivo quanto financeiro. Uma aposta clara na formação de jogadores e treinadores, aliando a isso uma ideia geral de um sistema e modelo de jogo, será não só garantir uma redução drástica nos custos como a valorização da marca Benfica e do benfiquismo.
Obviamente não defendo a ausência de contratações de jogadores de outros campeonatos; também servem o clube de forma importante e valorizam os que vêm da formação. Mas com rigor, com critério, não esta aventura infinita por compras ao desbarato, sem qualquer planeamento, que só aumentam o orçamento e nada ou pouco trazem de ganhos desportivos ao clube. Daí a importância de uma prospecção de excelência, que identifique e acompanhe os jogadores desde muito novos, que lhes conheça não só o valor futebolístico mas outras características igualmente importante, como a cultura desportiva, a personalidade, o conhecimento que têm do clube.
Defendo uma mescla equilibrada entre os nossos jovens e jogadores mais experientes de qualidade inegável, aptos a entrarem na equipa sem períodos de adaptação ou empréstimos anos a fio. O Benfica, embora actualmente pareça, não é uma empresa de jogadores; é um clube de futebol. Contratar não deverá ser para pôr a rodar noutros campeonatos ou outras equipas do nosso, na esperança de que um dia venham a render financeiramente. A melhor forma de valorizar os passes dos jogadores contratados será sempre englobando-os num plantel com uma ideia tão bem definida que lhes dará o espaço necessário para mostrarem talento e valorizarem o próprio passe e o clube que representam. Este terá de ser o caminho: prospecção de excelência, relação íntima com a formação e critério ideológico nas contratações. Passa por aqui o sucesso desportivo e o equilíbrio das contas do clube.
Nome para Vice-Presidentes: Rui Costa