Desde sempre, e não me perguntem porquê, fui um
defensor da formação do Benfica. Desde pequeno que espero por ver mais um Rui
Costa surgir no Benfica. Não, não procuro clones técnicos, antes desejo ver nascer
e crescer um novo jogador que se possa dizer, “este é dos nossos, é benfiquista
até às entranhas”. Acreditem, adoraria voltar a ver “um dos nossos” a alcançar
o topo do clube e do futebol internacional. Ver “um dos nossos” ser idolatrado
e ser referência para tantos miúdos como Rui Costa havia sido para mim. Ver “um
dos nossos” ajudar a criar Benfiquistas como Toni e Rui Costa fizeram comigo.
Já foram muitos os “meninos” de quem esperei ver
encarnado (em todas as vertentes) o tal. Mas de tantos, foram outras tantas
desilusões.
Primeiro foi Moreira (que até era José e gr como eu):
Fiquei triste quando Enke decidiu deixar o clube. Era um gr enorme, com tudo
para ser um ídolo da nação Gloriosa, mas o Barcelona e a falta de qualidade de
quem o acompanhava fê-lo trocar um papel de “deus” num clube por um subalterno
noutro. Mas a sua saída deu oportunidade a Moreira. Com uma equipa toda ela
fraquinha, mais uma vez, era o gr que sobressaia. Tão jovem e tão valoroso,
pensei eu. “É este, este é um dos nossos” sorria. Mas o encanto foi-se
dissipando à medida que mediocridade que o acompanhava nos sucessivos planteis
foi diminuindo. Afinal não era assim tão fantástico. Afinal não era o Casillas
do Benfica. Afinal não ia ser o novo Rui Costa.
De seguida, ainda que com um espaço de tempo considerável
de intervalo, surgiram João Pereira e Manuel Fernandes. Do primeiro, sou
sincero, nunca esperei muito. Tinha aquela garra que tanto gostamos de ver da
bancada, mas pouca temperança e ainda menos entendimento colectivo do jogo. Não
obstante fiquei triste quando saiu, até porque o que veio não lhe era superior.
Do segundo sim, de Manuel Fernandes esperava muito, esperava tudo. E não há
quem me convença do contrário, fosse ele mais paciente, fosse o Benfica mais
organizado, e podíamos ter, depois de Rui Costa, o primeiro jogador formado no
Benfica a jogar ao mais alto nível internacional. Mas foi mais um que se perdeu
não se sabe bem onde ou porquê.
Miguel Vitor. Sim, este também foi um de quem esperei
algo. Não, não acreditava que pudesse atingir o patamar mais alto do futebol
internacional, mas lá está, “era um dos nossos” e tinha caracter de capitão.
Não, nunca foi o melhor central dos planteis de que fez parte, mas também nunca
foi o pior. Vi nele sempre uma hipótese para 3º central do plantel e, com o
tempo, poderia tornar-se uma referência para os miúdos que fossem chegando ao
patamar sénior do clube. Mas JJ lá achou que ele nem para 10º central do clube
servia e que Jardel, ou até mesmo Sidnei, eram melhores… Enfim, mais um que
acabou.
Veio Miguel Rosa. Numa altura em que não tinha acesso
aos jogos das camadas jovens do clube, nem haviam transmissões regulares dos
jogos da 2ª liga, ia lendo nos jornais que Miguel Rosa era, de longe, o melhor
jogador daquele escalão. “Será este?” Perguntei a mim mesmo. Vivi algum tempo
com essa esperança… até ao dia em que me foi possível vê-lo jogar com
regularidade. “Não, ainda não é este” desabafei. Miguel Rosa estava longe de
ter a classe do tal “novo Rui Costa” que eu esperava. Mas “era outro dos nossos”.
Lutava até não poder mais e, embora não tivesse a tal classe dos maiores, era
dotado tecnicamente. Muitas vezes dei por mim a descreve-lo, a quem não o
conhecia, como o “Nolito da formação”. E até por aqui pensei que Jorge Jesus
lhe reservasse um lugar na primeira equipa ou, pelo menos, lhe fosse dando uma
ou outra oportunidade. Mas nada. Depressa percebi que ver Miguel Rosa de
vermelho e branco vestido e Jorge Jesus no seu comando era coisa impossível.
Mundial sub20 e aparece Nelson Oliveira. Já sabia dele
e já o acompanhava na medida que me era possível. Mas nunca o tinha visto como
naquela competição. Forte fisicamente, rápido, bom tecnicamente, remate fácil
com ambos os pés e… Golo! “Sim, vai ser este”. No mesmo torneio havia Rodrigo,
que também acompanhei, mas o Nelson foi-lhe muito superior. Sim, não havia
engano, o Nelson vai ser “o gajo”. Ambos ficaram no plantel. Ambos se estrearam
no mesmo dia, mas só um marcou nesse jogo… Rodrigo. Temi que aquele golo fosse
factor decisivo para a preferência de Jorge Jesus. Não, não foi. Ambos foram
jogando ao longo da época, sendo que Rodrigo mais e com maior sucesso. Ficava
triste por ver demorar a explosão do Nelson (sim, às vezes tenho demasiada
pressa). Até que surge o jogo com o Zenit, na Luz e a contar para os 1/8 de
final da Liga dos Campeões: Bola nas costas do central, Nelson surge em
diagonal e… GOLO! GOLO! GOLO! Do miúdo! “Sim, é desta. É desta que aparece um
dos nossos”. Sol de pouca dura. Fase seguinte da mesma prova. Jogo em Londres.
O Benfica precisa de um golo e Nelson Oliveira, qual ponta-de-lança, prefere o
remate em vez da assistência e… falha. Resultado: desaparece das opções do
treinador e acaba sucessivamente emprestado.
Nelson tinha, ou melhor, tem qualidades inegáveis,
quem não o reconhecer ou não sabe ver futebol ou nunca o viu jogar. Sempre se
disse nas conversas de café que “tinha a mania que era estrela” e que assim JJ
não apostava nele. Pois, não sei. Seja por isso ou pelo lance em Londres, sei é
que não será ele o “novo Rui Costa”, apesar de já terem passado pelo clube
tantos com tão menos talento como Jara, Funes Mori, Rodrigo Mora, Eder Luís e
tantos outros.
Num destes últimos verões, em que o futebol quase
desaparece, soube da participação da selecção sub19 de então no Europeu da
categoria. Sem muito para fazer naquele meu período de férias, fui espreitar os
jogos.
“Quem é aquele?”, “Deve ser do Sporting”. Quando o
jornalista da Eurosport diz “André Gomes, jogador do Benfica”, confesso,
apaixonei-me. “Sim, pode ser este”. Até na mesma posição do Maestro jogava. Que
classe, que toque, que qualidade de passe. “Sim, vai ser este”. Puro erro.
Primeiro porque não era “um dos nossos”. Portista de criação e formação primeira,
chegou ao Benfica já em fase final de formação. “Não, não é um dos nossos, mas
joga tanto”. Sim, desde sempre lhe notei a tal falta de intensidade que todos
lhe apontam, é um facto. Mas também sempre achei que Jorge Jesus seria capaz de
dar a volta a isso, caso tivesse… vontade. Ainda em choque com as saídas de
Witsel e Javi, pensei “agora não há desculpa, vai ter mesmo de colocar o miúdo a
jogar”. E assim foi. E que bem respondeu. Sim, muitos erros em zonas que não os
podia cometer, mas era/é um jovem, ainda estava/está a aprender. Sempre fiquei
com a ideia que JJ não gostava de André Gomes. Também era daqueles que nos
cafés se dizia ter “a mania da estrela”, que “a fama lhe subira à cabeça”.
Talvez, não sei. Não tenho esse grau de proximidade com a intimidade do clube.
Em Janeiro é noticiada a venda do seu passe,
juntamente com o de Rodrigo, por 45M€, estando o seu avaliado em 15M€. Sim, financeiramente
era/é um negócio das arábias, mas a imponência dos valores não me conseguiram
convencer. Esperava vê-lo titular do Benfica antes de rumar a outras paragens,
mas não ia ser assim. Quando ele faz aquele golo ao FCP… Foi indiscritível o
que senti. Imaginem: Sentado no meu café habitual em Marco de Canaveses. Eu, e
outra miúda, eramos uma ilha rodeados de portistas por todos os lados. Foi
naquele mesmo local, rodeado daquelas mesmas pessoas que vi o golo desse predestinado
da bola que é o Kelvin, e André Gomes (o menino de quem eu gostava, e gosto,
tanto) decide pegar na bola e fazer… aquilo! Fiquei sem voz.
Ao mesmo tempo, ia surgindo um tal de Bernardo Tsubasa
Silva. “Sim, era este!”. Não havia erro, tinha/tem magia naquele pé esquerdo e
não era apenas “um dos nossos”, mas sim “um dos melhores dos nossos” e tinha o
que tanto diziam faltar a Nelson Oliveira e André Gomes: humildade, pés no
chão. Em campo corria como um 6, fintava como um extremo, decidia como um 10 e
marcava como um 9. “Sim, era este!”. Tinha tudo, não havia como Jorge Jesus
dispensar este talento.
Inicia-se a época 2014/2015 e acontece a debandada que
se adivinhava e conhece. A juntar a isto, os que entram são… fracotes. “Sim,
desta não passa”. Não havia como Jorge Jesus dizer “não” a Bernardo Silva.
07/08/2014 – Bernardo Silva é emprestado… ao Mónaco.
Se nem numa época em que o talento é tão escasso há vontade de dar uma
oportunidade a quem tem tanto para dar… Sim acabou o sonho.
Sinceramente, gostaria quem alguém me explicasse o
porquê desta dificuldade toda em dar oportunidade a quem as merece, seja por
talento, por esforço ou por ambos os predicados juntos como é o caso de
Bernardo Silva. E porque não Bernardo Silva, o maior talento saído em largos
anos da nossa formação? É por ser um jogador da posição 10 e JJ não jogar
assim? É por ser baixo? A sorte que tiveram o Xavi, Iniesta, Moutinho, Scholes
ou Messi de não serem treinados pelo mestre.