O Futebol moderno caminha cada vez mais para o vazio
emotivo.
São poucos os que ainda se permitem a comentar este desporto
sem a superficialidade de visão de um Clube enquanto Empresa.
Clubes não são empresas.
Já basta termos os dirigentes, os empresários, os fundos e
muitos outros profissionais a ver o Futebol como um fenómeno empresarial, os
adeptos como clientes e os jogadores como activos.
Agora também os adeptos caiem nesta superficialidade. Cada
vez mais parece não ser permitido ao adepto sentir e são os próprios que impões
esta proibição, inspirados numa cultura que vem dos porta vozes de outros
interesses.
Hoje um adepto não pode sentir uma derrota ou um mau jogo do
seu clube. Não pode ficar irritado e vociferar aquilo que o chateou. Não. Hoje
o adepto tem de apoiar. Tem de se controlar e apoiar. Tem de confiar no
trabalho dos profissionais do Clube. Ser uma voz de descontentamento e protesto
é prejudicar o clube, os dirigentes, treinadores e jogadores.
Aliás, hoje a sua equipa não joga bem ou mal. Hoje a sua equipa joga com nota artística ou de forma pragmática.
Aliás, hoje a sua equipa não joga bem ou mal. Hoje a sua equipa joga com nota artística ou de forma pragmática.
Hoje um adepto não se pode sentir traído por saídas de
treinadores ou jogadores. Muito menos se forem para clubes rivais. O adepto não
se pode revoltar com essas situações. Por vários motivos: porque isto é o
Futebol (é?), porque o clube é maior que qualquer um (ou que todos juntos) e porque
só interessa quem cá fica.
Até pode ser tudo verdade mas e o sentimento? E a emoção?
Hoje um adepto não pode idolatrar jogadores, não pode
valorizar aqueles minutos futuros em que irá ver certos craques a envergar o
manto sagrado do seu clube. Hoje o que importa são os milhões. Hoje não se pode
idolatrar ao ponto de se afirmar "Nem por todo o dinheiro do mundo!”. Não.
Hoje é tudo à base dos valores de Mercado.
Uma proposta milionário por um jogador de 31 anos? A ordem é
para se vender.
Onde está a paixão? Onde está a Mística? Onde está a magia
de ver aquele craque brilhar com a bola envergando o nosso manto na nossa casa?
Quem sabe quantificar o valor de tudo isto? Quem consegue ignorar estes
valores?
Milhões, milhões e milhões.
Nem vou discutir o modo como esses milhões entram no clube.
Nem vou discutir a percentagem que entra no clube. Nem vou discutir o como 10M
hoje não são o que eram há 10 anos.
Quero sim discutir outros valores, os valores desportivos e
emocionais.
Não temos de aceitar nem de gostar de qualquer venda que o
valor, muitas vezes ligeiramente, a justifique.
Um jovem jogador que praticamente não jogou na equipa
principal é vendido por 15M. Bons números. E o resto? Além do potencial de
valorização, há o desaproveitamento desportivo, há a o prazer que nos é negado
de ver tal jogador evoluir no nosso clube até chegar ao Estádio da Luz e
brilhar perante e para todos nós.
Um experiente jogador chega ao clube e quase imediatamente
se torna ídolo das bancadas. Pela sua personalidade, pela sua classe, pela sua
qualidade e pelos seus golos.
Como é que podemos chegar ao final da época e aplaudir uma
possível venda fosse por 10 ou por 15M?
Só interessam os milhões?
Nunca fui fã do Jorge Jesus. Apesar disso a sua saída para o
Sporting incomodou-me. Foi uma facada nos muitos milhares de benfiquistas que o
idolatravam e cantavam o seu nome. Não era seu admirador mas sou benfiquista e
portanto também eu senti esta facada dada a milhares.
Nenhum jogador está acima do clube. Poucos são os que se
imortalizam no Benfica. Mesmo assim, se for confirmada a ida do Maxi para o
Porto, irei sentir mais esta facada. E esta bem mais funda.
20 Milhões pelo Jonas é imenso. Apesar disso cito os meus
colegas de blog: “Por favor não vendam o Jonas”.
Sentir e sofrer fazem parte do crescimento e fortalecimento.
Andar feito barata tonta a evitar a mágoa e a mudar de opinião conforme sopra o
vento, é uma futilidade que não me interessa.
O Futebol é o que é devido ao sentimento dos adeptos. Muitos
dirigentes querem superficializar o Futebol. Muitos dirigentes querem ignorar a
importância deste sentimento.
O adepto não pode ir nessa cantiga.
Deixem-me sentir e... Sintam porra!